quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

FESTIVAL FEIRA MÚSICA BRASIL 2009


O Brasil é um País com uma diversidade cultural impressionante, sem paralelo no mundo, talvez por suas dimensões continentais, a miscigenação dos povos, o que provocou o surgimento de diferentes culturas, a música, talvez seja, dentre todas as artes, a de maior apelo popular, a maior aglutinadora de pessoas. Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, pode-se dizer que sejam os Estados com os maiores expoentes da música feita neste País, é só ouvir Luiz Gonzaga, Dorival Caymmi e Tom Jobim, para se ter certeza disto, isto sem falar nos incontáveis grandes artistas que povoam este País.

O prefácio acima é para mostrar a importância que foi a Feira de Música Brasil 2009, ocorrida aqui em Recife entre 9 e 13 de dezembro, sediada no Armazem 12, um armazem todo reformado no Porto do Recife, ao lado do "marco zero" local considerado como o de início da cidade. Além dos stands de gravadoras e produtoras, muitas rodadas de negócios, debates e conferências marcaram a feira deste ano, nestes locais, mais voltados para os profissionais da música, se conseguia alguns cds de cortesia, o que fazia a alegria dos não profissionais e apenas admiradores desta cultura que faz bem aos ouvidos, como o que aqui vos escreve, mas não era só isso, muitos, mas muitos shows fizeram a festa de todos os amantes da música.

Infelizmente por compromissos fora do Estado, só pude ir aos shows do Marco Zero nos dois últimos dias, no sábado, China abriu os shows substituindo a Zabé da Loca que por motivos de saúde não pôde se apresentar, China é um cantor compositor Pernambucano que fazia performances elétricas num palco, mas que ultimamente tem se apresentado de maneira mais "light", sem interferir, nem diminuir a intensidade e força de suas performances. Angariado de última hora para a grade do festival, ele e sua banda se apresentaram para uma ainda tímida e pequena plateia, num show competente e agradável, meio bossa, meio rock, meio mangue beat, como é peculiar ao som feito no Recife, uma mistura que transforma-se num som próprio. China foi muito bem. A próxima atração é um dos símbolos da música de raiz de Pernambuco, Aurinha do Coco, com seu compasso bem marcado e letras sempre bem humoradas, Aurinha desfilou canções de seu novo cd, lançado este ano, com músicas mais antigas, todas recheadas de uma pernambucanidade impressionante, a marcação do som com os pés é de contagiar qualquer espectador, o figurino alegre das pastoras, com suas bonitas vozes, que a acompanham, embelezam mais ainda a apresentação. Infelizmente depois deste show, por causa de outros compromissos, não assisti ao restante, se bem que tinha uma tal de Fresno, que me poupe.

No domingo, cheguei com a apresentação do "Duo Gisbranco" já começada, duo composto pelas pianistas, Claudia Castelo Branco e Bianca Gismonti (filha de peixe, peixinho é), para um show ao ar livre, um palco enorme e a plateia em pé, foi estranho a inclusão delas neste evento, um show intimista requer um teatro fechado, necessita-se de mais concentração, tanto para o artista quanto para o espectador, mas as meninas não fizeram feio, apesar da enormidade do local e o contratempo da chegada dos pianos minutos antes do início, conforme elas disseram. Bastantes competentes e integradas a situação, elas desfilaram perólas do cancioneiro popular para piano ou não, explorando ao máximo a sonoridade do piano na fronteira entre a música popular e erudita, mesclando material étnico diverso e estruturas complexas, bem recebidas pelo, infelizmente, pequeno público, aliaram segurança ao interpretar com um bom repertório. Perto do final, chamaram ao palco o cantor e compositor Paraibano Chico César, que além de mostrar sua competência como músico, se mostra também bastante competente como produtor capilar, cada aparição do Chico vem com uma surpresa no seu visual, fez sucesso, com sua malemolência e ótimas músicas, Chico acompanhado de violão e das meninas, roubou a cena, animando a plateia, fechando o show com chave de ouro.

Luiz Gonzaga é um daqueles artistas completo na concepção da palavra, criador de um estilo musical, o Baião, isto por si só, já o definiria como um dos mais respeitáveis músicos deste País, mas como se isto não bastasse, ele era um ótimo interprete, dando personalidade as músicas que interpretava, transformando uma penca delas em verdadeiros clássicos da MPB, dificil não se emocionar ouvindo Luiz cantar. Citado entre onze de dez artistas nacionais como referência, nada mais justo que no dia de aniversário de seu nascimento a Feira Música Brasil o homenageasse, principalmente em seu Estado natal Pernambuco. Bastante querido e admirado pelos Pernambucanos, Luiz Gonzaga ainda desfruta, apesar da concorrência do terível forró estilizado, de uma certa popularidade, percebido no aumento da plateia para este show de homenagem a ele. Com uma banda formada por músicos oriundos do movimento Mangue Beat, o show consistia na apresentação de diversos artistas cantando com arranjos próprios músicas imortalizadas pelo Rei do Baião. Iniciou-se com a apresentação emocionada do sanfoneiro Camarão, contemporâneo de Luiz, e tão bom quanto ele, logo seguido por Siba, ex-Mestre Ambrósio, quando tocaram juntos, a pernambucanidade do Siba cai como uma luva em suas interpretações, ficando-se a impressão que para cantar forró e baião, precisa-se do sangue nordestino, constatado nas apresentações dos outros pernambucanos, Junio Barreto, Isaar (num bonito duo com Vitor Araújo), Lirinha com sua legião de fãs e Otto fizeram as apresentações mais elétricas, a alegria por estar ali no palco contagiou a já numerosa plateia que respondia com uma felicidade estampada no rosto e cantando e dançando a maioria das músicas. Marina de La Riva, competente cantora da nova geração, escorregou um pouco em sua apresentação, faltou-lhe a nordestinidade e sobrou cubanidade. Vocês podem se perguntar o que fazia Arnaldo Antunes, um artista totalmente comprometido com a vanguarda paulistana, em um show em homenagem a Luiz Gonzaga? nada a ver, correto? enganaram-se, quando um artista é verdadeiramente talentoso, é bom em qualquer lugar, se lembram da questão da nordestinidade, que precisa ter no sangue? pois é, o Arnaldo fez cair toda esta teoria e ele simplesmente arrasou, cantou com um alto astral, demonstrando uma felicidade por estar ali no palco que contagiou o público que o ovacionou, perfeito, um grande artista. Já o mesmo não se pode dizer de Seu Jorge, o músico que tem a essência do samba no sangue derrapou na interpretação do forró, mesmo assim, agradou a plateia. Para fechar a noite todos se reuniram no palco e com um alto astral pra lá das nuvens, comandados pelo elétrico Otto, cantaram o "Pagode Russo", acompanhados pela efusiante e feliz plateia.

Show digno do artista homenageado, que deve ter acompanhado tudo lá de cima com a mesma felicidade vista nos artistas e grande público. Noite histórica.

domingo, 13 de dezembro de 2009

LP Lou Reed Live - Lou Reed


Disco com o complemento da gravação do histórico show realizado no Howard Stein's Academy of Music em Nova York em 21 de dezembro de 1973 (há exatos trinta e seis anos) que resultou inicialmente no extraordinário e antológico álbum "Rock'n'roll Animal", considerado hoje como um dos melhores shows da carreira de Lou Reed e como o disco anterior é extraordinário, por consequência este também é, por se tratar do mesmo show. O interessante é que este LP não fez tanto sucesso e nem teve o mesmo estardalhaço no seu lançamento quanto o anterior, talvez ao fato de a capa deste LP não ter o mesmo apelo figurativo da capa do outro, o que o torna hoje um disco pouco conhecido, pior para quem não o conhece.

Com músicas que não foram incluídas no "Rock'n'roll animal", verifica-se o mesmo vigor e peso do seu predecessor, o álbum inicia com a clássica "Vicious" numa agressiva versão de seis minutos onde Reed parece querer expulsar seus demônios através da voz e guitarra, puro deleite. Segue-se com "Satellite of love" com uma introdução de guitarra de arrepiar os pêlos, Lou e grupo estavam inspiradíssimos neste show, com destaque para o ótimo guitarrista Dick Wagner.

"Walk on the Wild Side" outro clássico, onde Lou vomita sobre a plateia o lado selvagem das ruas de Nova York, com uma raiva como se estivesse querendo extirpar toda a crueldade do cotidiano da maior metrópole do mundo, o lado sombrio de uma cidade quase nunca mostrado e que ele tão bem sabe registrar.

O lado 2 do LP, também com apenas três músicas, começa com "I'm waiting for the man" com uma interpretação pra lá de vigorosa, Lou e músicos num peso total, "Oh Jim" um pertardo musical de mais de dez minutos onde sobressai-se a guitarra de Dick em solos magistrais, ao fundo a bateria quebrando tudo, por fim "Sad song" em mais uma versão extendida, começa bem tranquila com um órgão ao fundo, para depois mostrar toda a sua força numa interpretação bem equilibrada, mais uma vez a guitarra arrasa.

Mestre em versões extendidas de suas músicas em shows, Lou Reed improvisa como poucos o que faz com que seus shows sejam sempre uma celebração musical de grande criatividade, especificamente esta noite teve uma magia própria, tão bem registrado nos dois discos.

Ano de lançamento: 1975

Ano de aquisição: 1976

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

LP POP GIANTS Vol. 13 - Lou Reed


Mais uma coletânea para suprir a necessidade à época de se conhecer algo mais dos artistas, como já disse aqui, naquela época era quase impossível se conseguir discos antigos dos artistas, as lojas de discos só trabalhavam basicamente com os lançamentos e os hoje tradicionais "sebos" não existiam, então era apelar para as coletâneas. Não sei se por causa da qualidade dos artistas, mas as coleções eram bem legais, as capas eram um terror e ficaram bem datadas, com o tempo conseguiram um certo charme, talvez devido a mudança de conceito ou simplesmente pelo costume de vê-las. Com um repertório bem escolhido o que dava uma certa unidade ao disco, recheados de sucessos, era garantia de boa música, valendo cada moeda (não me lembro qual era a da época, já foram tantas) gasta.

Elaborar uma coletânea de Lou Reed, pode ser uma tarefa bem fácil, ou se tornar bastante difícil, tamanha a quantidade de boas e excelentes músicas que o poeta das ruas já nos brindou, fácil porque ele tem uma enormidade de canções o que torna-se difícil é escolher apenas doze. Pertardos sonoros como "Sister Ray" com quase quinze minutos de guitarras distorcidas e microfonias, fazem Jesus & Mary Chain parecer aprendizes, Lou destila em seus versos o amor, paixão desenfreada, solidão, relacionamentos desgastados, drogas, violência urbana, retratados sob o olhar crítico vindo da convivência diária dos seus pares.

"Heroin", "Sunday morning", "White Light/White Heat" e "Femme Fatale" são exemplos da genialidade deste músico que sempre viveu a margem do sucesso, talvez para não pagar o preço da perda da liberdade criativa e criatividade e excelência é o que não lhe falta até hoje.

Ano de lançamento: 1974

Ano de aquisição: 1976

domingo, 6 de dezembro de 2009

LP A Arte de Chico Buarque



Quando descobri Chico Buarque, aos quinze anos, já perto dos dezesseis, foi logo na sequência da descoberta dos Beatles, artistas de tamanho quilate foram primordiais na minha formação musical, no sentido de acostumar os ouvidos com músicas de qualidade, confesso que escutar estes discos à exaustão, analisando todas as suas nuances, foi um exercício dos mais prazerosos, fui identificando a qualidade sonora de cada nota, aprimorando o gosto a fina música. Mas o que artistas tão dispares como Chico Buarque e Beatles podem ter em comum? a genialidade musical, cada qual em seu estilo mostraram a amplitude que se pode chegar com a junção de notas musicais, para tal é necessário apenas o talento.

Este LP duplo, coletânea dos seus maiores sucessos do início de carreira, era uma maneira naquela época, como já disse aqui, de conhecer o trabalho anterior dos artistas, tendo em vista que era quase impossível se conseguir os discos oficiais, pois estavam quase todos fora de catálogo, o máximo que se encontrava nas prateleiras das lojas eram os lançamentos ou os discos do ano anterior. Esta coleção denominada "A Arte de" se diferenciou das demais pela qualidade do repertório escolhido que compunha os seus discos. Em coletâneas, a escolha das músicas é algo fundamental para o sucesso do projeto, e neste funcionou muito bem, tanto é que até hoje esta coleção sobrevive, sempre sendo relançada.

O melhor de Chico Buarque está aqui presente, "Construção", "Bom Conselho", "Fado Tropical", "Deus Lhe Pague", "Cotidiano", "Sinal Fechado", um pouco de cada fase, deste que é sem dúvida o melhor letrista que este País já teve, seus versos tocam profundamente a alma de quem o escuta, outro ponto alto é a qualidade instrumental de suas composições, Chico é um ótimo melodista, o rebuscamento de seus arranjos destacam mais ainda a excelência de suas letras, num casamento perfeito, o que nos faz deixar de lado o sofrível cantor que ele é, mas com tanta música boa a gente se acostuma.

Ano de lançamento: 1975

Ano de aquisição: 1976

sábado, 5 de dezembro de 2009

LP OS REIS DO IÉ, IÉ, IÉ - The Beatles


"A Hard day's night" é um dos poucos discos dos Beatles onde a quantidade de músicas que ficaram na história é mínima, apesar de o filme homônimo ter sido um estrondoso sucesso, além da faixa título, "I Should have know better", "If I Feel", "And I love her" e "Can't buy me love" é que ficaram no imaginário popular e são facilmente assobiáveis, o que convenhamos em se tratando de Beatles é inacreditável.

Comentar sobre músicas que já estão impregnadas no seu subconsciente é tarefa das mais fáceis, incontáveis já foram as críticas e estudos sobre elas, portanto me ative a analisar as músicas que por algum motivo não foram sucessos, como é o caso de "I'm Happy just to dance with you" mais uma das alegres canções com estrutura melódica características dos rapazes de Liverpool, porque não fez sucesso é um mistério, "Tell me why" apesar de um pouco mais conhecida, é uma típica música facilmente creditada a John Lennon, mais vibrante e vigorosa.

O engraçado é que praticamente todo o lado 2 do LP, ficou meio esquecido do grande público, talvez por não fazerem parte do filme, mas é onde mais brilha o talento genial dos Fab Four, que apesar do crédito como compositores se dado a dupla mais famosa do mundo, fica evidente as características musicais de cada um, exercício este que acompanha Beatlemaníacos pelo mundo afora até hoje, descobrir com quem mais se parecia as músicas. John com seu estilo vibrante e mais inovador, dá vida a músicas como "Any time at all", "I'll cry instead" que deveriam figurar entre os grandes sucessos dos Beatles. Paul McCartney, com seu estilo musical rebuscado é o responsável por pérolas praticamente desconhecidas do grande público e principalmente da turma mais jovem, como "Things we said today", John mais uma vez se destaca em "When I get home" delicioso rocker dançante.

Surpreendentemente o quase desconhecido lado 2 deste disco, quando analisado com imparcialidade, mostra que a qualidade sonora faz jus ao grande talento dos rapazes, músicas que conseguiram ficar incólumes ao tempo, justificam mais ainda o prestígio que os Beatles desfrutam até hoje.

Ano de relançamento: 1974
Ano de aquisição: 1976

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

OS DEZ MELHORES DE 1975 - NACIONAL


No post anterior foi a lista dos dez melhores internacionais, esta é dos dez melhores LPs Nacionais do ano de 1975, não necessariamente lançados no ano e sim os adquiridos no ano, vamos lá, sempre com controvérsias.

1º - Minas - Milton Nascimento - Simbiose perfeita entre músicos, composição, arranjo, letras e voz, evolução de um movimento batendo quase a perfeição.

2º - Fruto Proibido - Rita Lee - Base para tudo que foi feito no rock nacional até hoje.

3º - Matogrosso - Ney Matogrosso - Virada musical de um cantor, experimentações musicais como prenúncio de uma evolução.

4º - Krig-ha, Bandolo - Raul Seixas - Inovador, polêmico, irreverente, quebrando barreiras da sistemática métrica musical, plantando raízes indissolúveis no rock nacional.

5º - Molhado de suor - Alceu Valença - Precursor da mistura de ritmos do rock nordestino, inovador da sonoridade de raízes.

6º - Novo Aeon - Raul Seixas - Disco fundamental para a continuidade do rock nacional, irreverência e inovação como princípios básicos.

7º - 1990 - Projeto Salva Terra - Erasmo Carlos - Sem a sombra do Rei, Erasmo mostra que sabe fazer rock dos bons.

8º - Milagre dos Peixes ao vivo - Milton Nascimento - Celebração do Clube da Esquina em duas noites mágicas com instrumentação e voz numa integração absolutamente bela.

9º - Snegs - Som Nosso de Cada Dia - Rock progressivo nacional rivalizando em qualidade com o feito lá fora.

10º - A Arte de - Caetano Veloso - As melhores músicas do poeta baiano, as melhores músicas do cancioneiro nacional.

OS DEZ MELHORES DE 1975 - INTERNACIONAL


Como já falei, todo colecionador tem um fascínio sobre lista dos melhores e como estas listas dão um trabalhão danado para elaborar, resolvi fazer uma para cada ano, não inclui necessariamente os discos lançados só em 1975 e sim os discos adquiridos no ano, então vamos lá, apesar das controvérsias.

1º - Physical Graffiti - Led Zeppelin - Músicos excepcionais, o rock pesado elevado ao status de arte. Disco histórico.

2º - Close to the Edge - Yes - Músicos excepcionais, o rock progressivo elevado ao status de arte. Disco histórico.

3º - Blood on the Tracks - Bob Dylan - Lamento, melancolia, sentido de adeus inevitável, humor malicioso, raiva e alegria em versos inteligentes emoldurados por voz e música emblemáticos.

4º - Quadrophenia - The Who - Ópera-rock sobre rebeldia, depressão e frustação com som furios e vigoroso.

5º - It's Only Rock'n'roll - The Rolling Stones - É apenas rock and roll (com a melhor banda do mundo), mas eu gosto.

6º - Young Americans - David Bowie - Branquelo inglês cantando soul como negro americano, supimpa.

7º - Sally Can't Dance - Lou Reed - O poeta das ruas em sua fase mais pop.

8º - Venus and Mars - Paul McCartney - Linha melódica de um famoso grupo, repleto de baladas elegantérrimas, classe total.

9º - Out of our Heads - The Rolling Stones - O frescor da juventude da maior banda de rock do mundo. Satisfação total.

10º - The Myths and Legends of King Arthur ant the Knights of the round Table - Rick Wakeman - O Rei Arthur através do virtuosismo do Mago dos teclados, sinfonia do rock.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

LP Beatles Again - The Beatles


Segundo LP dos Beatles lançado pela Odeon nacional trazia músicas dos discos ingleses "Please Please Me" e "With The Beatles", assim como algumas músicas de compactos ingleses. Acho que até hoje não se consegue entender porque a subsidiária brasileira da Odeon lançava discos dos Beatles sem a capa original e com as músicas correspondentes, será que não acreditavam no potencial do grupo? este LP foi lançado originalmente em 1964 e a versão que tenho foi em 1974, ou seja dez anos depois eles ainda não lançavam os discos originais, será que a intenção era transformá-los em raridade?

Não se tem muito o que falar dos Beatles, que eles foram os melhores, ninguém discute mais, só posso dizer que nesta minha empreitada inicial de colecionador, nunca um grupo me encantou tanto quanto os Beatles, sua descoberta abriu um horizonte em meu gosto musical que tem reflexos até hoje, as vezes quando encho um pouco o saco de ouvir as novidades musicais, são eles que mostram o sentido da música, independentemente da fase, que se tratando de Beatles, são bem específicas, a deste disco mostra o frescor e juventude do início de carreira, alegria estampada não só na música como em seus rostos, tudo era festa, como deveria ser, o momento vivido com a intensidade que deveria ser vivida, foi a base necessária para o desabrochar do talento de cada um verificado num crescendo nos discos posteriores.

O disco, uma miscelândia de outros dois, tem uma das músicas mais vibrantes e que considero uma das melhores interpretações deles, a versão de "Twist and shout" que até hoje não foi suplantada, para os incautos poderia ser de autoria da dupla mundialmente mais famosa, tanta a força interpretativa. Além dela, outros clássicos, quase todas, "Please please me", "From me to you", "All my loving", "Love me do", "Can't buy me love", simplesmente irresistível.

Este LP virou raridade por ter uma capa diferente dos lançamentos oficiais, afinal, para Beatlemaníaco, tudo refernte a eles é motivo de adoração. Executivos visionários.

Ano de lançamento: 1964
Ano de relançamento: 1974
Ano de aquisição: 1976

domingo, 29 de novembro de 2009

Festival JAZZ PORTO 2009 - 27/11/09




O segundo dia do JAZZ PORTO 2009, começou com uma presença maior de público do que na noite anterior, não como merecia o festival, afinal shows gratuitos, em um local aprazível, era para ter mais gente, a noite mais uma vez estrelada, com aquela brisa agradável, começou com a apresentação do Trombonada (foto), grupo de música instrumental formado por um quinteto de trombones acompanhado por base harmônica e rítmica (guitarra, baixo, teclado e bateria) que surgiu em 2005, com a proposta de difundir a música para o trombone e popularizar o mesmo. O repertório apresentado foi totalmente voltado para a música de Pernambuco com influências e fusões com vários ritmos (rock, pop, jazz, jazz latino, funk, samba etc), o resultado deste caldeirão sonoro é uma música contagiante, vibrante, totalmente balançada e que agradou em cheio o público presente, a quantidade de cds comprados durante o show comprovava a aceitação do grupo. Cinco ótimos trombonistas que se revezavam nos solos e numa interação perfeita entre eles, alegria ao tocar juntos, esta foi a tônica da apresentação. Com os pé fincados na música pernambucana e os olhos e ouvidos voltados para outras culturas musicais, a Trombonada prova que é possível ser regional dialogando com o mundo. E como não poderia deixar de ser, finalizaram o show tocando um frevo que levantou a já animada e feliz plateia, com todo mundo continuando a dançar, bela apresentação.


A outra atração da noite foi o guitarrista argentino Danny Vincent, e como a rivalidade Brasil - Argentina é só no esporte, principalmente futebol, ele foi bem recebido, apesar de algumas gracinhas que pelo visto ele tirou de letra. Com um estilo mais elétrico e com nítidas e velada influência do extraordinário Carlos Santana, Danny começou o show já elétrico tentando animar a um pouco mais numerosa plateia, sem muito sucesso, alguns poucos já acima do teor etílico é que se dispuseram a acompanhá-lo em sua agitação. Com músicas próprias pouco conhecidas, apesar do seu virtuosismo e de ótimos acompanhantes, ele não conseguia empolgar a plateia, mesmo quando tocou Santana, foi preciso a entrada do peso pesado Big Joe Manfra para agitar a plateia, mas ele parecia não estar numa noite muito inspirada, deu o seu recado, tocou duas músicas, empolgou, e foi embora, para o seu tamanho foi uma apresentação relampago.


Quando a apresentação seguia morna, Danny com seus solos de guitarra, sem entusiasmar muito, ele caiu na besteira (besteira pra ele, claro) de chamar ao palco o Karl Dixon, é, aquele negão, opsss, afro decendente que arrasou na noite anterior, subiu ao palco com sua roupa branca e hoje com o mesmo chapéu estiloso só que na cor roxa e óclinhos escuro combinando com o chapéu, com um figurino deste e com sua malemolência, o resultado não poderia ser outro, foi só soltar a voz que a plateia caiu em delírio e literalmente não deixou o negão sair mais do palco, o coitado do Danny ficou em segundo plano, só dava Karl, quando ele atacou de "I Feel Good", a festa foi geral, ninguém ficou parado, engatou com "Happy Days" e a celebração foi total, se a noite anterior ficou na história, esta ultrapassou, o Karl comandando tudo, subiu todo mundo no palco a dançar, a galera embaixo extasiada com aquele som todo, Karl e companhia voltaram duas vezes ao palco, exigência do público, ninguém queria que terminasse o show, Porto de Galinhas viveu um momento único, uma noite mágica, quem presenciou se deleitou, aqueles que ficaram nos chiques resorts acumulando calorias, novamente perderam uma oportunidade de celebração da vida, através da música.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Festival JAZZ PORTO 2009 - 26/11/2009




Realizar um festival de Jazz em uma das mais badaladas e visitadas praias do litoral Pernambucano, em pleno começo do verão, hotéis lotados, resorts idem, turistas a dar no pau, noite estrelada, palco montado quase a beira mar, no meio do agito, brisa agradável, esta conjunção de fatores leva a crer que o público lotaria a praça para os shows gratuitos, certo? nada, errado, turista quer mesmo é passear durante o dia nas belas praias e a noite se enclausurar nos restaurantes chiques dos chiques resorts e acumular calorias. Isto, é o que pode-se deduzir do reduzido público que compareceu ao 1º dia do 3º Festival de Jazz e Blues de Porto de Galinhas, aberto pelo veterano grupo de Jazz Pernambucano Contrabanda (foto), que vem se destacando no cenário musical recifense desde o seu início em 1987, apresentando em seu trabalho uma mistura de clássicos do jazz, bossa-nova, MPB e canções originais.


Em seu show, neste JAZZ PORTO 2009, a "Contrabanda" utilizou como sempre a linguagem jazzística, imprimindo um forte conteúdo emocional que, aliado à constante improvisação, levou o pequeno público a aventuras musicais inusitadas e excitantes. Comandados pelo excelente maestro e saxofonista Edson Rodrigues, figura das mais expressivas no meio musical do Recife e com ajuda dos ótimos integrantes do grupo, desfilaram desde composições próprias até standards dos mestres do jazz como Duke Ellington, foi uma apresentação bastante competente que agradou em cheio a plateia ali presente e como não poderia deixar de ser, como um bom conjunto pernambucano, encerrou sua apresentação com um frevo que botou todo mundo para dançar.

A outra atração da noite foi o blueseiro e gaitista Flávio Guimarães, já reconhecido nacionalmente e com uma carreira consolidada, um dos fundadores do ótimo "Blues Etílico", Flávio não decepcionou, com uma banda enxuta, baixo, guitarra e bateria, desde a primeira música ele ganhou a plateia, seu show, calcado num repertório do blues tradicional, mostrou todo seu virtuosismo com suas inúmeras gaitas, quando a levada era mais para o blues elétrico a empolgação era geral, principalmente quando convidou a subir ao palco os integrantes da Contrabanda o saxofonista Edson Rodrigues e o trompetista Fábinho Costa que simplesmente arrasaram com seus solos de improviso arrancando aplausos entusiasmados do infelizmente pequeno público, a satisfação estampada no rosto do Flávio, demonstrava que ele estava curtindo muito estar ali tocando em Porto de Galinhas.


Logo após subiu ao palco, como convidada, a cantora e também blueseira Taryn Szpilman, com sua figura exótica, encantou a todos com sua performance no palco, sua bela e envolvente voz, moldada para o estilo blues, agitou a galera, principalmente a masculina, pena que ela cantou só uma música.

A apresentação continuava num estilo informal, pequeno público junto ao palco, transformava aquela apresentação quase num encontro de amigos, sem formalidade nenhuma, todos totalmente leves, soltos e contentes a música fluia agradando aos ouvidos de todos. Aí o Flávio chama para o palco um tal de Karl Dixon, levanta da mesa vizinha a minha no Budega Bar, um negão, opsss, afro decendente, que eu jurava que era mais um pai de santo do que um músico, todo vestido de branco, corpo atlético, um chápeu estiloso preto e uns óclinhos escuros a la Lennon, sobe ao palco com a malemolência dos baianos, apesar de ser de Nova York, amigos, quando este negão soltou a voz, não teve mais pra ninguém, acho que o cara era espírita, uma hora via o James Brown, outra o Wilson Picket, enfim, o cara simplesmente arrasou, botou todo mundo pra dançar, pular, cantar junto, transformando a Praça das piscinas naturais, numa verdadeira celebração da boa música. Para terminar, subiram todos ao palco em uma Jam Session para ficar na história daquele lugar, um transe total, um momento único que aqueles que acumulavam calorias nos chiques restaurantes perderam, pior pra eles.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

LP e CD Minas - Milton Nascimento


Minas, sempre foi um berço muito pródigo em artistas, de tempos em tempos surgem levas deles que ganham projeção nacional, um dos maiores exemplos são o pessoal do Clube da Esquina, grupo de músicos que apareceram no final dos anos 60 e início dos anos 70, para dar uma renovada na MPB, nada mais justo que o maior expoente deste grupo lançasse um disco, homenageando no seu título o seu Estado, mesmo que a intenção fosse a junção das primeiras letras de seu nome, nada mais amplo para exprimir a grandiosidade deste disco. Muito se fala do "Clube da Esquina" disco seminal e um verdadeiro divisor de águas na sonolenta MPB da época, mas na minha modesta opinião, o disco mais completo de Milton Nascimento é este, se no Clube ele plantou sementes da evolução de sua música, com "Minas" ele bateu a porta da perfeição, numa demonstração da capacidade dele e de sua turma em se aperfeiçoar, se aprimorar, nenhum disco, depois deste, nem os de nosso maestro maior Tom Jobim, nestes últimos trinta e cinco anos, conseguiram uma simbiose tão perfeita entre músicos, composição, arranjo, letras, voz, resultando numa força de interpretação e sensibilidade de deixar atônitos a quem o escuta.

O disco começa de maneira surpreendente em sua faixa título com um coral de crianças e um vocalise de Milton e o violão de Nadim Othemicson, é de quase fazer você chorar de tão bonito. A incerteza do início de carreira nos versos da excelente "Travessia", "Solto a voz nas estradas, já não quero parar, meu caminho é de pedras, como posso sonhar......vou fechar o meu pranto, vou querer me matar", deu lugar a certeza de que a travessia deu certo, nos versos de "Fé cega, faca amolada", "agora não pergunto mais aonde vai a estrada, agora não espero mais aquela madrugada" cantada em duo com o ainda pouco conhecido integrante do Clube da Esquina Beto Guedes e pontuada pelo sax de Nivaldo Ornelas, brilha que nem uma faca amolada.

"Beijo partido" de Toninho Horta, outro integrante do Clube, talvez seja a música onde há o mais perfeito casamento entre a voz de Milton e arranjo, muitos cantores e cantoras tentaram cantar esta música, mas nenhum conseguiu chegar perto desta belíssima interpretação, com seu andamento mais lento, consegue-se sentir todas suas nuances, mais uma vez brilha o sax de Nivaldo Ornelas para complementar a voz de Milton. "Saudades dos aviões da Panair" é uma daquelas músicas com uma força que ao escutá-la, dá uma saudade danada de alguma coisa, ela é tão envolvente, tão agradável que me lembro que ao ouvi-la, sentia uma saudade dos aviões da Panair, mesmo sem nunca ter voado neles, aliás nem sabia de sua existência, ainda dizem que não há magia na música.

Segundo o próprio Milton, o circo sempre lhe fascinou, apesar de uma arte sinônimo do popular, a refinada "Gran Circo" é a homenagem de Milton aos mestres dos picadeiros, é engraçado como uma música bastante complexa, antítese da simplicidade do popular, possa tão bem expressar aquela arte, poucos conseguiram, Chico Buarque e Edu Lobo são um exemplo. A música seguinte "Ponta de areia" é carregada de mineirice, o coral ao fundo nos remete a chegada e partida de um trem, ouvi-la é como passear num daqueles antigos vagões que cruzam matas da ferrovia entre Ouro Preto e Mariana, uma saborosa viagem aos sons da terra do "tutu", mais uma vez o excelente Nivaldo Ornelas arrasa com seu sax.

Com um ótimo time de músicos, quase todos mineiros, que o acompanha desde os tempos do Clube da Esquina, poderia se ter um resultado satisfatório na difícil "Trastevere" onde acordes atonais da orquestração de Wagner Tiso dão beleza a excelente letra de Ronaldo Bastos, logo engatada na vibrante "Idolatrada" bem mais fluída, num verdadeiro contraponto a música anterior. "Leila (Venha ser feliz)" é uma homenagem instrumental, praticamente só com vocais, a uma das mulheres brasileiras mais fascinantes que se tem notícias, Leila Diniz, um verdadeiro furacão que revolucionou o sentido de ser mulher neste País, isso em plena ditadura militar, qualquer uma, hoje em dia, é fichinha na frente dela, a justa homenagem de Milton está a altura da homenageada, uma música vibrante, alegre feliz, pra frente, como Leila.

Uma parceria entre Milton e Caetano Veloso é sinal de qualidade musical, como se vê em "Paula e Bebeto", ninguém consegue falar do amor com tanta inteligência quanto Caetano, talvez só Chico, temos a certeza disto com esta música, os seus versos ampliam o sentido do relacionamento entre duas pessoas, sejam elas quem forem, "qualquer maneira de amor vale amar, qualquer maneira de amor valerá", é isso aí. Qual músico teria coragem de terminar um disco com uma melodia lenta, principalmente após uma, belamente acelerada e totalmente assobiável? só Milton com "Simples" uma simples canção com arranjos de cordas e mais uma vez com uma força interpretativa de arrepiar, pra fechar com chave de ouro.

No cd há dois "bonus track", uma irreconhecível "Norwegian Wood" dos Beatles, com um arranjo mais rebuscado, cantada em duo novamente com Beto Guedes e mais uma vez o sax de Nivaldo Ornelas se destacando e "Caso você queira saber" também em duo com Beto Guedes.

A belíssima capa, assinada por Cafi, Noguchi e Ronaldo Bastos, com um papel laminado diferenciado era um destaque a mais deste excepcional disco, prova da maturidade de um músico que canta, nos encanta e nos emociona até hoje.

Ano de Lançamento: 1975

Ano de aquisição do LP: 1975

Ano de aquisição do CD:07/1998

Nota: Uma das maiores lembranças que tenho deste disco, remete a uma notícia que vi no programa "Sábado Som" com apresentação do Nelson Mota que já comentei aqui no blog, a notícia lida por ele, dizia que o Milton estava totalmente falido antes do lançamento deste disco, por problemas com seu empresário à época, felizmente não seguiu a linha de Simonal. Fiquei bastante sensibilizado com a notícia e fui correndo comprar o LP para assim poder ajudá-lo, estava começando a descobrir a grandeza do Milton. Não sei se fui responsável pela recuperação financeira do Milton, só sei que adquiri um excepcional disco, isto, devo ao Nelson.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

LP e CD Novo Aeon - Raul Seixas


Ainda sob a égide da Sociedade Alternativa, Raul Seixas lança seu terceiro álbum solo, já com projeção nacional, conseguida pela música "Ouro de Tolo" e pelo disco anterior "Gita", com isso a espera e cobrança com o novo lançamento aumentaram e Raulzito não decepcionou. Na época a MPB passava por uma fase ruim, poucos lançamentos expressivos, salvavam-se Ney Matogrosso e Milton Nascimento, o pop rock nacional ainda não havia decolado, engatinhava tropeçando nas suas próprias fraldas, coube a Rita Lee e o próprio Raul com suas músicas darem alento para que saíssem do fraldário, foram fundamentais para isso.

Continuando sua parceria com o hoje místico e escritor platinado Paulo Coelho, que nos brindou com grandes pérolas do nosso cancioneiro, inventivas que oxigenaram a letrada letargia por que passavam os compositores nacionais, principalmente no pop rock, é impensável acreditar que ele tenha ficado assustadoramente conservador, o dinheiro fala mais alto.

O disco começa com a ótima "Tente outra vez" que virou nos dias de hoje "hino de tudo", só que na época não foi assim, passou meio que despercebida, provando que Raul estava a frente de seu tempo, a letra é um primor, merece o sucesso que tem hoje. "O Diabo é o pai do rock" já diria ele em "Rock do Diabo", alguém duvida? um rock meio anos sessenta, em plena ditadura e conservadorismo falar abertamente sobre o diabo, haja coragem. Raul era daqueles que batiam e assopravam, é o que se vê logo após na açucarada balada "A Maçã" uma bela e rasgada canção de amor, haja ecletismo, e novamente a letra se sobressai "Amor só dura em liberdade, o ciúme é só vaidade" este é o Raul romântico, só que logo depois ele se considera egoísta em "Eu sou egoísta" com direito a referência a Caetano Veloso. E tome mistura de baião e embolada em "Caminhos" quando isto era impensável.

É em "Tu és o MDC da minha vida" que a dupla mostra toda a verve e visão da sociedade da época, espécie de continuação de "Ouro de Tolo" só que num ritmo mais balançado, talvez o prenúcio do tecno brega, eles descrevem de maneira perspicaz acontecimentos da vida urbana citando personagens polêmicos como o o ultra conservador e radical apresentador de TV Flávio Cavalcanti, mostrando mais uma vez que estava se lixando com qualquer tipo de patrulhamento ideológico, afinal para os descolados da época era uma heresia falar deste personagem, quem conseguiria rimar bode com Pink Floyd? só Raul mesmo e tudo isto numa levada brega, demais.

Outra música que causou estranhesa foi "É fim do mês" com sua diversidade de estilos musicais, mais uma vez Raul mostra sua qualidade como letrista e cronista do dia a dia, suas letras merecem um estudo sociológico. Fechando o disco a música que lhe dá título começando com sons de uma toada, para logo cair num rock em mais um manifesto da sociedade alternativa.

Célebre por suas frases feitas e polêmicas, cito apenas duas que exprimem muito bem a faceta de Raul e mostram porque ele foi taxado de Maluco Beleza.


"A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal"

"O sonho do careta é a realidade do maluco"

Alguém aí, pode contradizê-lo?


Ano de lançamento: 1975
Ano de aquisição do LP: 1975
Ano de aquisição do CD: 04/2000

domingo, 15 de novembro de 2009

LP Milagre dos Peixes Ao Vivo - Milton Nascimento

Gravado ao vivo no fabuloso Theatro Municipal de São Paulo, nos dias 7 e 8 de maio de 1974, durante a turnê de lançamento do disco de estúdio "Milagre dos Peixes", acompanhado do excepcional "Som Imaginário" grupo seminal da música instrumental brasileira, composto apenas de feras, como Luis Alves, Robertinho, Toninho Horta, Nivaldo Ornelas e Wagner Tiso, que até hoje continuam sendo o supra sumo do instrumental feito no Brasil, além de Orquestra que contava nos seus quadros com o jovem e até então desconhecido Mauro Senise, hoje, um dos grandes nomes dos sopros no País. Como se não bastasse, as orquestrações foram fitas por Wagner Tiso, Paulo Moura e Radamés Gnatalli que considero juntamente com Heitor Villa lobos e Tom Jobim os três maiores nomes da Música Brasileira, coube a regência ao espetacular Paulo Moura.

Com a excepcionalidade destes músicos, o resultado só poderia ser um álbum duplo primoroso, Milton Nascimento já desfrutava de um certo prestígio, proveniente de um trabalho sofisticado e de alta qualidade, composições refinadas e dono de uma voz cristalina, considerada uma das mais perfeitas deste País. O disco começa com uma belíssima suite instrumental "A Matança do Porco/Xá-Mate" interpretada pelo Som Imaginário, oriunda de um dos clássicos álbuns do grupo, eles plantaram a semente da música instrumental brasileira que é feita até hoje. O disco segue com músicas que viraram clássicos e são tocadas e estudadas hoje em dia, como composições de um estilo que primam pelo bom gosto, "Milagre dos Peixes", "Outubro", Sacramento". A interpretação da música que é sinônimo de positividade "Nada será como antes" parece transparecer o alto astral do show, Milton alegre, solto e de bem com a vida e com a carreira, torna a música mais bonita do que é. Ataca de bossa nova em "Sabe você" de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, com sotaque mineiro num arranjo cheio de nuances, mostrando uma nova faceta da bossa.

Arranjos ainda mais sofisticados para as já sofisticadas músicas, fazem este álbum diferenciado, Milton optou por dar um tratamento diferenciado as suas composições, sem distorcê-las, privilegiando a parte instrumental, dando asas ao maravilhoso time que lhe acompanhava, "Viola Violar" ganhou um solo de sax que só a abrilhantou, o show vai desfilando sucessos atrás de sucessos, "Cais", "Clube da esquina", "San Vicente". Com um arranjo magistral de Radamés Gnatalli, "Tema dos Deuses" só no vocalise, ganha a erudição que precisava, tornando-a quase uma peça clássica, perfeita. O show finaliza como começou, privilegiando o lado instrumental e vigoroso de "Pablo" levando ao delírio a plateia.

Foram duas noites mágicas, como pode ser verificado pela audição de um álbum que se tornou referência de qualidade musical. Milton, um músico cantor, sempre primou pelo requinte no seu trabalho musical, nos brindando com composições elaboradas que elevaram a MPB ao status de música de primeira grandeza e isto ele estava ainda nos princípios da carreira, muita coisa boa ainda estava por vim, este show já adiantava a boa fase que ele se encontrava, que pôde ser ratificada com o próximo e extraordinário LP "MINAS"

Ano de lançamento: 1974
Ano de aquisição:1975

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Recife Jazz Festival 2009 - 08/11/09


Em seu terceiro e último dia, o Recife Jazz Festival, continuou com o intercâmbio cultural, principalmente com os franceses. Chegando atrasado, consegui assistir o último número da apresentação do clarinetista francês Jean Charles Richard, pela recepção calorosa da já numerosa plateia, acho que perdi um belo show.

A próxima atração foi um hermano Latino-americano, vindo do País Andino, o Chile, o baterista Nacho Mena e grupo, que com um português sem sotaques, segundo ele, aprendido quando morou em terras brasileiras, mostrou que não só incorporou o sotaque, mas também o ritmo e o balanço brasileiros que estão presentes em sua música, com um time de primeira linha, onde se destacava o saxofonista também chileno Paulo Guimarães, o grupo desenvolvia temas bem próximos a nós, com um balanço que lembrava o irrepreensível Milton Banana, conquistou logo a plateia com um som que fluia muito bem aos ouvidos, transmitindo toda euforia e alegria por estar ali se apresentando, um show bastante competente.

O duo de guitarras Bahiambuco, totalmente desconhecido, pelo menos por mim e acho que a grande maioria, foi a grata surpresa do dia, formado, como o próprio nome faz supor, por um bahiano e um pernambucano, que neste caso deixaram a rivalidade de lado. A primeira impressão foi de que ali estaria se apresentando uma destas horrendas duplas sertanejas, mas, como as aparências enganam, quando os dois soltaram os primeiros acordes em suas guitarras elétricas, percebeu-se que dali, sairia frutos muito bons, e a cada música a percepção ia se concretizando, com um domínio técnico excelente, uma sonoridade ímpar e um entrosamento que ia além das palhetas, eles iam desfilando composições próprias que foram conquistando a plateia, poderíamos dizer que eles beberam da fonte dos ótimos Jim Hall e Lenny Gordin, que poderiam fazer uma dupla memorável. Ao final com o público totalmente na mão, após vários improvisos, eles fecharam o show tocando um frevo, resultado, foi o único show que teve um rápido bis, grata surpresa.

Para fechar o festival, outro músico francês também clarinetista, pra lá de elétrico, Emile Parisien, num estilo FREE, com uma performance de palco que as vezes lembrava uma gazela se preparando para copular, Emile tocou um fusion jazz acelerado, mais parecendo um daqueles cabeludos guitarristas de heavy metal, tal sua performance. Tocar Free Jazz é para poucos, pois seus acordes atonais podem descambar para o irritante, mas Emile e grupo conseguiram segurar a onda, mostrando que a ousadia da produção em terminar um festival com uma música, por assim dizer, difícil, foi bem aceita pela ainda numerosa plateia, valeu a pena.

O Recife Jazz Festival 2009, com seu intercâmbio e diversidade cultural, e apoiado numa excelente escolha das atrações, mostrou mais uma vez que o formato está acertadíssimo, vida longa para o festival, os nossos ouvidos agradecem.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Recife Jazz Festival 2009 - 07/11/09


Recife tem sido generoso com os amantes da música, a quantidade de atrações que se espalham pela cidade principalmente nos finais de semana são incontáveis, nem sempre foi assim, houve épocas, há alguns anos atrás, que a vinda de uma atração nacional, era motivo de festas e uma atração internacional, esta nem pensar, só aportavam por aqui as já decadentes, que faziam show em qualquer lugar, fazia-se pouca música em Recife, como resultado, ouvia-se pouca música. Muito desta mudança deve-se ao movimento mangue beat, a agitação cultural promovida pelos caranguejos com cerébro contaminou a todos, independente de estilo.

Tem-se como resultado deste contínuo crescimento cultural, festivais de todos os estilos e sempre com sucesso de crítica e público. Em seu sexto ano o "Recife Jazz Festival" nos brindou com música da melhor qualidade, aproveitando o mote do ano França-Brasil, o festival promoveu um intercâmbio com artistas franceses, se não muito conhecidos, mas de ótima qualidade. Infelizmente não pude comparecer ao primeiro dia no Pátio de São Pedro, fui só a partir do segundo, aí já instalado, como nos anos anteriores, na Torre Malakof. A apresentação do duo francês de piano/bateria com Pierre Alain Goualch e Remi Vignolo foi recheada de improvisos só possível pelo entrosamento dos dois ótimos músicos, o que poderia soar estranho com um duo não muito comum, soou bem agradável pelas composições que privilegiavam com maestria cada instrumento, um espetáculo que bem aceito pela plateia. Outra surpresa foi o ótimo trio Finlandês Jaska Lukkakurian Trio, desconhecido por mim e pelo grande público, afinal, pensava que na Finlândia só tinha gelo e frio. O baterista Jaska Lukkakurian, com sua batida rápida e vigorosa é uma mistura de Gene Krupa, Art Blakey e Ginger Baker, não com a mesma qualidade dos mestres, mas chega próximo, fez uma apresentação competente, com belas canções, além da bateria, baixo e sax completavam o trio, ótimos músicos que desenvolviam composições de estilo tradicionais mostrando que o jazz não precisa sempre de inovações, bastante bem recebido pela calorosa plateia. Fechando a noite o grupo Uruguaio El Toque de Candombe, que apresentaria um espetáculo com o "Candombe" uma espécie de ritmo carnavalesco uruguaio, se o carnaval de lá for o reflexo deste ritmo, é melhor ficarem por aqui que é bem mais contagiante, o grupo fez uma apresentação mediana, é meio fusion, meio tradicional, nada de novo, deve ser estranho este carnaval do Uruguai.

domingo, 8 de novembro de 2009

LP A Arte de Caetano Veloso


Gerald Thomas certa vez, disse que na área cultural, só existiam dois gênios na concepção da palavra, um era o dramaturgo e escritor Irlandês, criador do teatro do absurdo, Samuel Beckett, o outro era o nosso compositor, escritor, cantor Caetano Veloso. Exageros a parte, a verdade é que analisando o conjunto de sua obra, podemos afirmar que Caetano está sim, num patamar superior em relação a grande maioria dos artistas nacionais e internacionais, evidente que não está na companhia de um só, mas está acima de muita gente.

Esta coletânea inicialmente lançada em 1975, se mantêm até hoje em relançamentos atualizados, provando que deu certo desde o início. Como já falei aqui em outros posts, naquela época era muito difícil encontrar os discos de carreira dos artistas, mesmo os consagrados, raramente se mantinham em catálogo, tínhamos que se contentar com as coletâneas.

Com um repertório muito bem escolhido, que abrangia desde o início da carreira, todas as mais importantes músicas estão presentes. Caetano já surgiu no mercado fonográfico de maneira diferenciada, composições inspiradíssimas, este baiano de Santo Amaro da Purificação tornava sua letras cheias de referências, citações e metáforas, num verdadeiro jogo de entendimento, a cada composição lançada, abria-se discussões salutares sobre ela, em "Alegria, Alegria" por diversos anos não consegui entender os versos "O sol nas bancas de revista, me enchem de alegria e preguiça quem lê tanta notícia, eu vou..." principalmente porque na mesma música ele fazia outras citações ao astro-rei, só que nessa, ele se referia a um jornal/revista "O SOL" que fez muito sucesso na época entre a turma descolada do Rio e São Paulo, que terminou sendo fechado pela ditadura, coisa realmente de gênio, para entender Caetano é ncessário estar antenado. Associado a isto a vocação para polemizar e nisto ele é mestre.

"Tropicália", "Super Bacana", "Soy Loco por ti América" e "Alegria, Alegria" refletem a excelente fase inicial de Caetano, um compositor que instigava, além da busca por novos sons. Outro destaque é a faixa denominada "Ambiente de festival" onde Caetano profere um irado discurso, no festival da Record, contra o público que vaiava quando ele apresentava a música "Proibido proibir", sobrou até para os jurados, a raiva era explícita, mesmo em época de contestação é impressionante como um artista jovem enfrenta um público desta maneira, poucos teriam a coragem que Caetano teve.

Está presente "London, London" música em inglês que muitos anos depois viria a ser um mega sucesso com o RPM, há também esquisitices como "Júlia/Moreno", mas como dizem, gênio pode tudo. Para mim este disco serviu como uma descoberta da obra de Caetano, que considero um gênio, não com a dimensão do Gerald.

Ano de lançamento: 1975
Ano de aquisição: 1975

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

FLIPORTO - Fernanda Takai

Acontece no aprazível balneário de Porto de Galinhas no litoral sul de Pernambuco, uma das praias mais visitadas por turistas no Brasil, a 5ª FLIPORTO - Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas. Em meio a palestras, lançamento de livros, discussões literárias, presenças ilustres como o escritor Uruguaio Eduardo Galeano, uma pausa na escrita e na leitura para também dar a vez a boa música, num show ao ar livre, com palco montado quase a beira mar e sob o auspício luxuoso e iluminado da lua cheia, a docinho de coco, a meiguinha, a bonequinha de porcelana Fernanda Takai de voz aveludada tanto quando canta quanto fala, desfilou o seu repertório solo, quase cool, num show intimista, devido a proximidade da pequena plateia ali presente.

Acompanhada apenas de violão, baixo e bateria, Fernanda cantou diversos estilos musicais com levada bossa novista, dando uma nova roupagem a músicas de Eurythimcs e Jorge Benjor. Um momento que emocionou a todos foi a homenagem que ela fez a Michael Jackson, cantando um dos seus primeiros sucessos "Ben" que ela deixou claro que já cantava nos seus shows muito antes da morte do artista. Outro destaque foram as duas músicas do repertório do Rei, que foram acompanhadas pela plateia, é impressionante o fascínio que as músicas de Roberto Carlos exercem sobre qualquer plateia, seja em velhos, jovens, em Porto, no Irajá ou em Ceilândia, todos cantam juntos.

Ela passou um "pito" em alguns da plateia que insistiam em gritar "Toca Pato Fu" em alusão ao "Toca Raul" ouvido em quase todos os shows de qualquer artista, só que Pato Fu não teve vez. Fernanda tem uma voz agradável, sem muita extensão, e ela sabendo disso escolhe muito bem o seu repertório, não é a toa que ela é considerada a sucessora da ótima Nara Leão, de cujo repertório ela tocou várias músicas, oriundas do seu cd em homenagem a ela, que compensava sua pouca extensão vocal com uma musicalidade inigualável, o mesmo acontecendo com a Takai.

Assistir a um show ao ar livre no "Na rua Bistrô" tomando uma ótima caipifruta de lima da pérsia, ouvindo "Insensatez" na voz de Fernanda Takai, convenhamos, é um privilégio.




QUEDA DO MURO - 20 ANOS


Comemora-se esta semana, 20 anos da passagem do último acontecimento relevante da história social mundial, do século passado, a queda do muro de Berlim. Uma barreira fruto da insanidade psíquica de alguns poucos que interferiram na vida de muitos, ceifando-as da convivência salutar entre os povos.

  • Nunca consegui entender muito o porque deste muro, nem socialmente nem fisicamente, quando tive a oportunidade de ir a Berlim um ano após a queda do muro, se fazia imperioso visitar tal aberração para poder tentar entender tudo aquilo.

Como estava de férias, o horário passa ao largo, cheguei ao Portão de Brandeburgo, um pouco antes da hora do almoço, era outubro e nesse dia fazia um calor insuportável, nada como matar a sede com uma genuina cerveja alemã, só que os vendedores insistiam em vender a cerveja na temperatura ambiente e eu com meu inglês macarrônico insistia em pedir uma cerveja estupidamente gelada, quase que provoquei um incidente diplomático e terminei me contentando em tomar quente a genuina cerveja alemã, horrível. Me senti no Brasil quando vi diversos camelôs tentando vender pedaços do muro, convenhamos, um ano depois, ainda existia gente que comprava, imagina o lucro que essa turma teve logo após a queda.

Saímos eu, minha esposa (na época, apenas namorada) e mais duas amigas no périplo pelas ruas da antiga Berlim Oriental, atrás do verdadeiro muro para que pudessemos arrancar um pedaço para levarmos como recordação. Seguindo orientações começamos a andar pela cidade e em vez de aproximarmos do muro, cada vez nos afastávamos mais dele, pois diziam que mais na frente era mais fácil de acessá-lo, com a determinação de um Leopardo atrás de sua caça, seguiamos nós pelas ruas de Berlim Oriental atrás do verdadeiro muro, só que a cada esquina uma nova descoberta, a prova de que turista só conhece o lugar quando passeia a pé, a cidade se mostrava cada vez mais pitoresca, um verdadeiro contraste com a parte Ocidental, fiquei a tergiversar sobre o quanto surpreendente foi para aquelas pessoas transpor aquele muro, a descoberta de um novo mundo, tão perto e tão longe.

A cidade de construções muito antigas, mal conservadas e uma arquitetura praticamente igual, quem não conhecesse, com certeza se atrapalharia naqueles prédios semelhantes, apenas os monumentos históricos eram de uma beleza ímpar, os carros então, eram de dar pena de tão velhos.


Me lembro que entrei em uma loja de discos que praticamente ainda só vendia cds clássicos das ótimas Orquestras do Leste Europeu, eram muitas variedades, fiquei meio abestalhado com tanta opção, mas a pressão das meninas era grande e deixei passar a oportunidade, mais a frente encontramos a praça "Berlim Alexanderplatz" que era o reflexo dos padões Orientais, uma praça enorme, muito grande, toda de lajota, sem nenhuma árvore, com apenas pouquíssimos bancos e uma estátua de Marx e Engels no meio da praça, o nada no meio do nada. Ao pisar na praça, me lembrei logo do extraordinário filme de mesmo nome da praça, com 10 horas de duração, do magnífico Fassbinder e ali andando por aquelas frias lajotas, consegui entender melhor o sentido do filme que fala justamente da época imediatamente anterior ao surgimento do Nazismo.

Só que já quase anoitecendo, em pleno centrão da Berlim Oriental, com quase seis horas initerruptas andando a pé, eis que finalmente, próximo a estação central de trem, localizamos o verdadeiro muro, o local era esquisito, a noite já caía, mas aquele esforço não poderia ser em vão, tínhamos que chegar bem próximo ao muro, tocá-lo e se possível trazer-lhe um pedaço, ao chegarmos lá, o sentido de perigo aumentou, éramos só nós ali próximo ao muro, nenhum alemão por perto, como se eles quisessem evitar aquela aberração para sempre, eis que para minha surpresa, descobri que historicamente, meus conhecimentos em relação ao muro eram mínimos, pois verifiquei que na verdade eram dois muros que separavam as duas Berlins, havendo um espaço entre eles que mesmo a noite com todo o perigo me atrevi a adentrá-lo, confesso que a sensação que senti foi terrívelmente desconfortante, como se os fantasmas que ali habitam não me deixassem ver a vergonha que era aquilo, nunca a sensação de perigo e medo foram tão afloradas em mim, cheguei a ir até o meio, mas voltei correndo.


Com a satisfação do dever cumprido e ainda de ter conhecido uma cidade totalmente desconhecida, vimos que aquelas quase sete horas batendo pernas, valeram a pena, pegamos um trem de volta e fomos direto tomar um chopp bem gelado, na fascinante, efervecente e alegre noite da Berlim Ocidental.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

LP e CD Physical Graffiti - Led Zeppelin







Para a postagem de nº 100, um disco de cotação também 100. Há discos que entram para história por algum motivo, uma bela capa ou a inspiração de seus músicos ou algumas músicas geniais ou talvez por uma polêmica. Eu diria que este disco do Led, tem pelo menos 20 motivos para entrar na história, vejamos quais, uma excelente capa, quatro músicos geniais e 15 músicas inspiradíssimas.

Falar do Led Zeppelin, um dos grupos mais consistentes do rock mundial, que serviu de inspiração para o surgimento de zilhões de conjuntos mundo a fora, chega a ser banal, assim como Beatles e Rolling Stones, qualquer adjetivo ou superlativo é puro pleonasmo. Apesar de sua curta discografia, já que a banda se desfez após a prematura morte do melhor baterista da história do rock em todos os tempos, John Bonham (seria muito difícil encontrar um a altura, em reuniões comemorativas o Led toca com dois bateristas ao mesmo tempo e não conseguem a mesma sonoridade), nunca um conjunto de discos teve tanta unidade e tanta qualidade quanto os do Led.


O primeiro LP, deste álbum duplo, começa de maneira enérgica com "Custard Pie" levando o ouvinte a entrar no clima, seu riff na introdução nos leva a crer que Jimmy e Keith foram os melhores neste departamento, transformou-se num clássico, aliás todas as músicas do LP 1 se tornaram clássicas, "Kashimir" a maior de todas, com seus toques orientais, o teclado pegajoso e inconfundível e segurando tudo a batera do Bonham (como o cara era bom). "The Rover", "Houses of the Holy" são puro peso, a guitarra, a voz, o baixo e a bateria num uníssono nunca vistos em um grupo de rock.

É impressionante como o Led consegue colocar em um caldeirão, sons mais dispares como blues, rockabily, jazz, folk americano, folk com raízes celtas e liquidificá-los, resultando no mais puro rock'n'roll, a dupla Page & Plant conseguiram a simbiose perfeita na arte musical, tendo como escudeiros John Paul Jones e John Bonham, elevaram o rock a um patamar acima do conceito já estabelecido até então.

O LP 2, mais acústico, menos pesado, mas, não menos excelente, começa com sons orientais que remetem a um passado distante e a uma cultura desconhecida, numa sensação mágica de sonho, para logo em seguida, através de Bonham nos trazer de volta a realidade, ao presente e ao futuro, que a música do Led tão bem representava. Na instrumental "Bron-Yr-Aur" Jimmy Page prova que na mão dele, solos de violão podem ser equiparados aos de guitarra. Se no LP1 eles pegavam os diversos estilos musicais e transformavam no mais autêntico rock, neste, eles retiram do caldeirão cada estilo, e numa versão própria mostram como deve ser tocado cada estilo, com resultados excelentes, o rockabily "Boogie with Stu" é o exemplo máximo, "Black Country Woman" um blues como só Janis Joplin saberia cantar, taí um encontro que seria interessante, Janis e Led tudo a ver.

Outra qualidade a parte deste álbum é sua excelente capa que se transformou junto com a do "Abbey Road" dos Beatles como as capas mais marcantes da história do Rock, sua arte grafica permitia que tivessemos pelo menos quatro diferentes capas, devido as janelas dos apartamentos do prédio serem vazadas, permitindo que ao trocarmos as capas internas aparecessem fotos do cotidiano dos integrantes do Led, como de pessoas comuns (conforme fotos), artificio este que infelizmente foi enterrado com o advento do CD.

Acreditem ou não, mas este ainda não é o melhor disco do grupo, é a pura verdade.

Ano de lançamento: 1975
Ano de aquisição LP: 1975
Ano de aquisição CD: 01/1999

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

LP Venus and Mars - Paul McCartney & Wings


Dos quatro, Paul McCartney foi o que mais manteve em carreira solo, a sonoridade dos tempos dos Beatles, por ser um dos principais compositores dos Fab Four e talvez por não ter o temperamento contestador e inovador de John Lennon, ele tenha optado por continuar um trabalho que deu muito certo.

Este é o seu sexto álbum após a separação dos Beatles, muito do que se ouvia na época dos rapazes de Liverpool, ainda se ouve aqui, a linha melódica permanece a mesma, é claro que Paul como um grande melodista que é consegue sua identidade própria nas músicas.

Repleto de baladas elegantérrimas, como só ele mesmo é capaz de fazer, o disco é um prazer aos ouvidos, Paul em plena forma, consegue dar uma sonoridade toda especial as sua músicas, nunca descambando para o vulgar ou piegas, da introdução "Venus and Mars", passando por sucessos como "Rock Show" e "Medicine Jar" o conceito musical de McCartney sempre nas alturas.

O rock "Call me back again" como o próprio título deixa transparecer, talvez seja a música que mais se aproxime do tempo dos Beatles do "Álbum Branco", Paul canta com um vigor há muito não visto. A melhor canção do disco "Listen to what the man said" também poderia ter saído de um dos maravilhosos álbuns dos Beatles, melodia primorosa que encanta os ouvidos, poucos fazem tão bem este tipo de música.

Acompanhado da excelente banda "Wings", que emoldura com competência as encantadoras canções de Paul, tem-se um disco que após escutá-lo, sai-se facilmente assobiando suas melodias com aquela sensação de prazer que só os gênios nos oferecem.

Ano de lançamento: 1975

Ano de aquisição: 1975

Nota: Este foi o primeiro LP importado que comprei, naquela época, as vezes esperavamos de três a quatro meses para que os discos lançados nos EUA chegassem em versão nacional aqui no Brasil, principalmente Recife, um amigo, João Falcão, tinha ido fazer um intercâmbio nos EUA e me trouxe este disco que tinha sido lançado na semana que ele estava voltando para o Recife, por isto teve dificuldade em comprá-lo, além do ineditismo em terras recifenses, tinha o fato de o projeto gráfico dos discos importados serem sempre de melhor qualidade do que os aqui lançados, além de capa dura, continha dois posters e alguns adesivos, eu simplesmente vibrei quando o disco chegou, principalmente por ser de um ex-Beatle.

Esta sensação de espera ansiosa, com a globalização, ficou perdida no tempo, hoje os que ainda se arriscam em lançar cds, o fazem em escala mundial, com apenas segundos de diferença, que diferença, haja tempos modernos.

domingo, 1 de novembro de 2009

LP David Live - David Bowie




Lançado após o excelente "Diamond Dogs" e antes do ótimo "Young Americans" (ambos já comentados aqui no blog), neste disco "ao vivo" a capa já denunciava mudanças, em vez do andrógino, a cara limpa montado em um terno Armani.

Primeiro disco completamente gravado ao vivo, da discografia oficial do cantor, mostrava que o lado andrógino começaria a ser enterrado e se tornaria apenas história, só artistas do quilate de David Bowie teriam a coragem de mudanças tão radicais, principalmente quando estavam no topo do estrelato e isto sem perder a qualidade musical, nunca o estigma de "Camaleão do Rock" foi tão bem colocado quanto nesta virada musical.

Com uma introdução a la "Shaft" de Isaac Hayes, tem-se início o show e disco com "1984", Bowie e grupo estão mais moderados, a punjança e o peso das canções originais são deixados de lados, optando-se por arranjos mais leves, apesar da ótima guitarra de Earl Slick detonar em algumas músicas.

Apesar das visíveis mudanças, o vigor de outrora ainda é percebido nas ótimas "Suffragette City", "Rebel Rebel" e "Diamond Dogs" (sem os uivos da versão original), afinal, mudar clássicos como estes seria uma heresia até para o mais revolucionário dos ouvintes. "Aladdin Sane" outro clássico está com uma roupagem mais pop, mais dançante, continua ótima, o piano meio dissonante fez a diferença.

"When you Rock'n'Roll with me" é uma balada de arrasar, apropriada para se cantar com um terninho Armani, o duelo de guitarra e voz é para poucos. Outro destaque do disco é a guitarra do Earl Slick que conseguiu substituir a altura o excelente Carlos Alomar que na época estava brigado com Bowie, seus solos em "Jean Genie" é de dar inveja a Jimmy Page.

O Bowie cantor está numa ótima fase e estas versões privilegiam ainda mais sua excelente voz, este álbum duplo demonstra o quanto ele tem o domínio de palco, sendo tão bom "ao vivo" quanto em estúdio, o que é corroborado quando se assiste aos inúmeros vídeos e DVDs de shows do camaleão.

Naquela época os discos "ao vivo" não tinham a qualidade técnica de gravação dos discos de hoje, portanto raramente eram lançados, compensava-se pela qualidade e vigor das apresentações, como é o caso deste LP.


Ano de lançamento: 1974

Ano de aquisção: 1975

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Filme Alô, Alô Terezinha - Nelson Hoineff



DICA DE CINEMA


Estreia hoje nos cinema um documentário que merece ser visto e revisto, pelos jovens e principalmente pelos que já passaram dos quarenta.


Filme com uma narrativa alegre, como era o Chacrinha, transcorre de uma maneira leve e solta, para se assistir se deliciando de um passado recente que deixou saudades.
Postei um comentário sobre o filme em 02/05/09, quem quiser lê-lo, é só ir lá.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

LP Autógrafos de Sucesso - Caetano, Gil e Gal

Nesta época (anos 70), o mercado fonográfico passava por turbulências, as vendas despencavam e a solução eram as coletâneas, dificilmente encontraria-se nas prateleiras das lojas, os discos de catálogo do seu artista preferido, o máximo que se encontrava era o disco anual, era se contentar com ele e se abraçar nas coletâneas para se conhecer algo a mais de cada artista.


No caso, esta coletânea abrangia três dos mais famosos artistas da Tropicália e suas músicas representativas, com um pequeno apanhado do início da carreira do trio de Baianos. De Caetano Veloso, "Alegria Alegria", "Super bacana", "Tropicália" davam a dimensão do grande artista que ele é até hoje.

Gilberto Gil aparece com as emblemáticas "Aquele abraço", "Procissão" e "Louvação" músicas que venceram o tempo e hoje se tornaram clássicos da MPB, numa demonstração de que os artistas de hoje precisam muito ouvi-los.

Bom, o que Gal Costa fez para merecer dividir a capa com a dupla de baianos mais famosa, é um mistério, pois ela só aparece dividindo a faixa "Domingo" com Caetano.

Para quem, como eu, conhecia pouco dos tropicalistas, este LP foi uma ótima introdução, percebi que aqui no Brasil, tinhamos artistas que não deixavam nada a desejar aos de lá de fora. O Rock começava a brigar com a MPB no meu gosto musical.

Ano de lançamento: 1971
Ano de aquisição: 1975

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Dança - Embodied Voodoo Game - CEna 11 Cia. de Dança


Chato, muito, mas muito chato, é o que se pode dizer deste espetáculo da CEna 11 Cia de Dança (se escreve assim) vinda de Santa Catarina, integrante do 14º Festival Internacional de Dança do Recife 2009.

A ideia era até boa, associar dança com game de computadores, tentando vincular uma coisa com a outra, inclusive acrescentando elementos cênicos, como um controle de Nintendo Wii e com a interatividade dos espectadores, mas infelizmente só ficou na ideia, eles não conseguiram transpor para o espetáculo.

O que se via no palco, nem era dança, nem tampouco Game, ficou no meio termo do nada.

É impressionante a capacidade destes curadores de ver algo em espetáculos como este, pura perda de tempo.


segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Dança - Les Possédes - Cia Toula Limnaios


Com dois ótimos espetáculos, a Cia Toula Limnaios da Alemanha, de dança moderna, foi apresentada ao público Recifense no ano de 2007, no 12º Festival Internacional de dança do Recife, com sua coreografia pra lá de moderna, figurinos e cenografia impressionantes, uma trilha sonora inspirada, gerou polêmicas e agradou muito, tanto que foi novamente convidada a se apresentar neste 14º Festival Internacional de dança do Recife, com o espetáculo "Les Possédés" baseada na descrição de diversos personagens e inspirada nas representações psicológicas de Dostoievsky do ser humano, que estreou em Paris em Junho deste ano.

Atualmente uma das mais respeitadas companhias de dança contemporânea, Toula Limnaios veio com um espetáculo desta vez mais centrado na coreografia, com um palco praticamente nu, única cenografia eram alguns panos brancos do teto ao chão, com um figurino simples de pessoas comuns, e um ótimo jogo de luzes que realçavam bem algums passos da dança. Sem o aparato cenografico dos espetáculos anteriores, Toula se perdeu em passos visivelmente já manjados e com pouca inspiração, provocando no ar, um certo "deja vú".

Com a colaboração novamente do músico Ralf R. Ollertz, o mesmo dos espetáculos anteriores, a ótima trilha sonora foi baseada no som industrial o que dava um aspecto sombrio ao espetáculo, misturada a sons tribais de atabaques, e o dodecafonismo e minimalismo (nada mais "muderno"), mesmo assim, ficou tudo muito superficial, soou falso, o que não empolgou muito a plateia do Teatro de Santa Isabel.

Infelizmente nunca li Dostoievsky, se este espetáculo representa o sentido de seus livros, ele deve ser muito chato.

sábado, 24 de outubro de 2009

LP Blood on the Tracks - Bob Dylan



Há talentos que são incontestáveis, Bob Dylan é um deles, apesar de sua sofrível voz, compensa com seu extraordinário talento para compor e escrever letras transformadas em verdadeiros poemas, seja falando da relação humana, contestando a sociedade ou simplesmente em canções de amor, tornou-se um verdadeiro ícone da cultura pop mundial, título que lhe acompanha há mais de quarenta anos. Um dos maiores poetas vivos das Américas, com seus poemas Dylan é o único que mais claramente pegou o mar turvo e colocou num copo para que possamos digerir.

"Blood on the tracks" foi lançado numa época dificil na sua vida pessoal, o que é fácil supor desde o título do LP até uma rápida análise de suas músicas. Com problemas familiares, principalmente com a esposa Sarah, ele traz o sentimento de volta ao lar, as palavras, a música, o timbre da voz, falam de lamento, melancolia, de um sentido de adeus inevitável, misturados com humor malicioso, alguma raiva e uma alegria simples, são os poemas de um sobrevivente.

O disco é simplesmente magistral, Dylan na sua melhor forma, ninguém consegue melhor interpretar Dylan do que o próprio Dylan. "Idiot wind" é um verdadeiro clássico do cancioneiro americano, é um poema duro, de sangue frio sobre a ira do sobrevivente, incrivelmente pessoal, mas mesmo assim pode figurar como um hino para todos aqueles que se sentem invadidos, abusados e embrulhados. Outro destaque é o poema de longa narrativa "Lily, Rosemary and Jack of hearts" onde canta uma canção mais fugitiva, alusiva, simbólica, cheia de imaginação e reticências.

Além de se expor publicamente, o disco mostra um Dylan musicalmente mais maduro, a sua inseparável gaita, as vezes melancólica, as vezes alegre, dá o tom certo a cada música, seu violão com sua batida folk, transforma suas baladas em verdadeiras perólas musicais, o exemplo são as belas "Tangled up in blue" e "Simple twist of fate". Uma ótima fase para o mestre do folk.

Apesar da unidade musical deste extraordinário disco, ele não figura entre os mais conhecidos de Dylan, merece uma grande atenção, mesmo trinta e cinco anos depois de ser lançado, as grandes obras são eternas.

Ano de lançamento: 1975
Ano de aquisição: 1975

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Filme Bastardos Inglórios - Quentin Tarantino


Não se consegue assistir a um filme de Quentin Tarantino, sem se remeter ao seu início de carreira com "Cães de Aluguel", primeiro, porque aquele filme feito de maneira independente mostrava que o cinema poderia ter um caminho alternativo para se renovar, em segundo, pela própria maneira como ele se lançou no mercado cinematográfico. De mero vendedor de uma video locadora para um dos mais respeitados diretores do cinema americano, uma trajetória respeitável, amparada por um sentimento inabalável de amor ao cinema, dificilmente visto entre os artistas de sua geração.

"Bastardos inglórios" é antes de tudo mais uma apaixonada incursão de Tarantino no mundo adulto da fantasia, onde seu amor a filmes B e antigos aparecem na abertura do filme e permeiam cenas até o seu final. A cena de abertura é um primor de direção de arte e de atores e é fundamental para entender a narrativa, com direito a uma homenagem belíssima a cena final do extraordinário filme "Rastros de ódio" de John Ford, mas repetir a cena pura e simplesmente seria muito pouco, Tarantino homenageia invertendo a situação da cena, mostrando que uma nova leitura pode também ser uma forma de respeito com inovação.

Mexer numa ferida de um dos episódios mais tristes da história mundial, quando tantos filmes já abordaram com diversos enfoques, não é tarefa das mais fáceis, mas o diretor e escritor optou por fantasiar este episódio, poderia ter resvalado para a vulgarização. Apesar da violência explícita, marca registrada do diretor, a estória se desenrola com um certo humor, e os personagens são apresentados como as pessoas que poderiam ter mudado esta triste história, o que nos faz torcer para que eles atinjam seu objetivo, mesmo que para isto seja necessário o uso de violência e venha a custar a vida de pessoas.

A história é contada em capítulos que se entralaçam entre si, numa narrativa dinâmica, os fatos são apresentados de uma maneira a se criar uma expectativa positiva no seu final, a cada cena surge uma surpresa, aumentando a torcida a favor dos bastardos, criando no espectador a vontade de que os fatos históricos sejam modificados.

Com o elenco encabeçado por Brad Pitt numa atuação digna de um escroque sem coração, com um sotaque e um bigodinho que são o ó (lembrando sua atuação em "Snatch - Porcos e Diamantes" de Guy Ritchie ), Tarantino continua sendo um ótimo diretor de atores, todos os bastardos estão ótimos (Eli Roth, o melhor), assim como Cristhopher Waltz com uma atuação magistral como o oficial Nazista "Caçador de Judeus", que rouba todas as cenas em que aparece, inclusive uma com Pitt.

Tendo uma narrativa leve e solta, Tarantino mostra mais uma vez que filma com a paixão dos novatos e é muito fácil de verificar isto, quando ao final do filme se percebe que tivemos mais de duas horas de puro prazer.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

LP Captain Fantastic and the Brown Dirt Cowboy - Elton John



Um dos maiores campeões de hits da história do pop-rock mundial, sempre primando pela qualidade, Elton John perdeu a conta da quantidade de baladas que encabeçaram as listas de melhores, assim como, as vezes que ocupou os primeiros lugares em vendagem e execuções com sua belas canções. Dificil não distinguir logo nos primeiros acordes uma música sua, quantos e quantos casais já não se apaixonaram ao som dele, suas canções falam direto aos corações apaixonados, independente de opção sexual, talvez por ser declaradamente homosexual, consiga transpor para suas músicas, sentimento e sensibilidade.

Apesar de todo o sucesso, Elton sempre passou por altos e baixos na sua vida pessoal, este disco é fruto de uma retomada, após turbulências pessoais quando sua carreira artística foi afetada. Já sem conseguir a inspiração necessária para fabricar novos hits, Elton fez um disco competente com belas baladas e rocks interessantes, mas que não atingiram o grande público como ele estava acostumado.

O disco na época não teve a repercussão esperada o que o deixou meio esquecido na discografia oficial do mestre das baladas, a capa deveras confusa e com certos exageros, apesar do ótimo projeto gráfico, também não contribuiu para alavancar as vendagens, resultado, o disco de belas canções não figura nem de longe como os melhores do parceiro de Bernie Taupin, responsável pelas letras deste disco.

Nenhuma das canções do LP obtiveram destaques nas paradas de sucesso da época, fazendo com que ao escutá-lo, não se indentifique nenhum hit, o que convenhamos, em se tratando de Elton John, chega a ser estranho, mesmo assim é um disco que merecia uma atenção melhor, muito baladeiro de hoje deveria pelo menos tentar chegar perto do Captain Fantastic, porque do Elton John, é quase impossível.

Ano de lançamento: 1975

Ano de aquisição: 1975

domingo, 18 de outubro de 2009

LP Ney Matogrosso - Ney Matogrosso


Integrante de maior destaque dos Secos e Molhados, grupo de estrondoso sucesso no início dos anos 70, Ney Matogrosso saiu em carreira solo depois de desentendimentos com os outros integrantes do grupo e a briga foi feia, com acusações de ambos os lados, principalmente com o João Ricardo que se achava o dono do grupo.

Com o estardalhaço feito, e uma saída nunca muito bem explicada, cresceu a expectativa diante do primeiro disco solo do cantor de falsete e figura andrógina, afinal nas trocas de farpas cada qual que quisesse tomar para si como sendo o responsável pela qualidade sonora dos S&M.

Rodeado de tantas expectativas e sendo vendido como uma novidade absoluta, o disco foi considerado na época como um tanto exagerado, a figura de Ney com sua vestimenta a la o homem de Neanderthal e a propalada utilização de um papel para a capa que exalava um cheiro de mato, não ajudou muito no sucesso do disco, não foi muito bem compreendido pelo grande público.

Incompreensão a parte, a verdade é que o disco musicalmente é excepcional, uma verdadeira rutura que Ney teve a coragem de propor ao seu público, como se quisesse mostrar que o cantor dos S&M estava definitivamente enterrado, cheio de experimentações musicais, acordes dissonantes e um tanto dificeis de se assimilar em uma primeira audição, repleto de arranjos elaboradíssimos e rebuscados era a prova de que ali não estava apenas o cantor de voz "diferente", Ney se integrava a um time de músicos de uma qualidade acima da média comandados pelo trumpetista Márcio Montarroyos.

O disco inicia com "Homem de Neanderthal" que dá o tom do que viria pela frente, com seus sons guturais e da natureza, mostra que a intenção era de fazer um disco ligado a terra, o mato, como o cheiro que realmente exalava de sua capa, pelo menos por alguns dias. A sua versão para "O Corsário" de João Bosco e Aldir Blanc, até hoje é insuperável, segue com "Açucar Candy" de Sueli Costa e Tite Lemos, com uma letra de uma sutileza que não deixava mais dúvidas quanto a opção sexual do cantor, só não entendeu quem não quiz, a turma da censura não deve ter entendido.

Sempre com arranjos rebuscados, o disco segue com músicas de alto calibre para fechar com chave de ouro com sua três últimas canções, "Barco Negro" de Piratini e Caco Velho uma espécie de guarania muito bem interpretada por Ney e com um solo de violão maravilhoso, "Cubanacan" é uma salsa dançante que se inicia com um ótimo solo de trumpete e fechando tudo "América do Sul" que se tornou o sucesso do disco, executada até hoje.

Acompanhava o LP um compacto com duas músicas do extraordinário Astor Piazzolla, gravados na Itália, onde morava, com acompanhamento do próprio, um luxo que poucos artistas conseguiram ter, principalmente quando se sabe do nível de exigência do compositor de "Adios Noninos". O compacto tinha de um lado "As Ilhas" de Carneiro e Piazzolla que simplesmente arrasa com seu bandoneon dando uma beleza diferente a voz de Ney, do outro lado "1964" de Borges e Piazzola, um tango belo e soturno como só Piazzolla sabia fazer.

Este disco pode não ter tido o sucesso que se esperava na época, mas mostrou a capacidade e excelência sonora do cantor Ney Matogrosso, provado posteriormente pelo enorme sucesso alcançado até hoje.

Ano de lançamento: 1975

Ano de aquisição: 1975

LP Rock'n'Rolling Stones - Rolling Stones



Na falta dos discos do catálogo oficial do grupo no mercado, tínhamos que nos contentar com as coletâneas que de vez em quando eram lançadas, sem muitos critérios. As vezes surgiam surpresas como esta, quando pela primeira vez apareceu em disco no Brasil a gravação do clássico "Route 66" na voz de Mick e Cia.

Esta coletânea se diferencia das demais por conter músicas menos conhecidas dos Rolling Stones, na maioria covers, com apenas uma da dupla Keith & Mick "19th Nervous breakdown" pouco conhecida, mas com a mesma qualidade das demais da dupla.

Com versões próprias das músicas dos grandes ídolos deles, o disco é uma aula do bom e velho rock'n'roll, com todo o frescor próprio do rock, com gravações entre 1965 e 1972, mostra o vigor na fase mais rock do grupo, quando ainda fazia parte o louco do Brian Jones.

O disco desfila cinco clássicos de Chuck Berry grande ídolo de Keith Richards, as mais conhecidas e geniais "Little Queenie" e "Carol" em versões "ao vivo" simplesmente fantásticas, com outras menos conhecida como "Come on", "Talkin' about you baby" e "Bye bye Johnny" (rockão vigoroso) não menos sensacionais. Outro destaque é "I Just wanna make love to you" do papa do blues Willie Dixon, numa versão que deveria transformá-los em co-autores.

Coletânea de primeira linha, para a melhor banda de rock do mundo.

Ano de lançamento: 1974

Ano de aquisição: 1975

sábado, 17 de outubro de 2009

LP The Myths and Legends of King Arthur and the Knights of the round table - Rick Wakeman


Todo artista em início de carreira (neste caso, a carreira solo) tem a síndrome do segundo disco, que é o teste para saber se o mesmo consegue seguir adiante, ou vira artista de um disco só. Quando o artista ultrapassa esta fase apresentando um disco sensacional, as cobranças em vez de diminuir, aumentam, a crítica é implacável.

Isto foi o que aconteceu com Rick Wakeman que passou com louvor, no teste do segundo disco com o excepcional "Journey to the centre of the Earth" que se tornou um marco no genêro rock progressivo, o que poderia se tornar um alívio (um ótimo segundo disco), acabou trazendo mais expectativas para o terceiro disco e foi, na época, este clima de cobrança e alta expectativa que rondou o lançamento desta, vamos dizer, ópera rock progressiva do mago dos teclados.

Depois do estrondoso sucesso de seu disco anterior, Rick Wakeman obteve toda liberdade e altos orçamentos para seu novo trabalho. A experiência de contar uma história épica foi retomada, desta vez com a lenda do Rei Arthur, o conceito musical foi seguido na mesma linha do anterior, grandiloquência, orquestras e coros, uma banda de rock de suporte e vocais, desta vez masculino e feminino, apesar de não se encontrar a mesma inspiração do anterior, o disco não decpciona, Wakeman vai construindo as músicas com muita qualidade, balanceando com muita precisão a entrada da orquestra com o som da banda e seus teclados, o que resulta num som que agrada a todos.

A opção pela continuidade do conceito musical anterior poderia descambar para a mesmice, o que não acontece aqui, para musicar a lenda do Rei Arthur era necessário esta ambiência, não se pode imaginar falar de reis e idade média apenas com rock, era necessário uma grande orquestra, os destaques do disco são a bela "Guinevere" e a mais bonita e conhecida do disco "Merlin The Magican", toda calcada no virtuosismo dos inúmeros teclados de Wakeman, uma balada de uma sonoridade exuberante, ela sempre foi pedida e tocada em seus shows.

Com este disco Rick Wakeman se consolida em sua carreira solo, apesar dos altos e baixos, entradas e saídas no grupo YES, mas ele passou bem pelo teste do segundo e terceiro disco, daí em diante, bem.......

A qualidade gráfica do LP é um destaque a parte, mesmo na edição nacional, muito bem cuidado, com capa dupla e um encarte belíssimo com gravuras que indicavam as letras das músicas, neste quesito, foi nota dez. Agora, o porque da excalibur estar dentro de uma bigorna e não de uma pedra, como reza a lenda, nunca foi explicada.


Ano de lançamento: 1975
Ano de aquisição: 1975

Nota: Um fato curioso em relação ao lançamento deste disco, pode bem ilustrar os efeitos da globalização nos dias de hoje. Os leitores mais atentos deste blog, vão se lembrar de um post (Suzi Quatro) que falei sobre uma loja de discos, onde ia nas tardes de sábado ver lançamentos e trocar ideias com outras pessoas, pois bem, me lembro, isto há mais de trinta anos, que o assunto era o lançamento deste LP e se discutia como seria a capa do disco, como as informações chegavam ao Brasil sempre com atraso e em Recife com um atraso maior, ficavamos tentando adivinhar como seria a capa e o projeto gráfico tão falado do disco, isto terminava criando uma agradável ansiedade e expectativa que nos acompanhava até o seu lançamento.

Hoje, com a globalização não se vê mais esta expectativa, aliás não se vê mais nem as capas dos discos, ficou tudo muito rápido, sem emoção, sem discussão, tudo muito banal, o que pode descambar para a banalização do banal.