sexta-feira, 30 de abril de 2010

LP Alucinação - Belchior

"Se você vier me perguntar por onde andei
no tempo em que você sonhava,
de olhos abertos lhe direi:
- Amigo, eu me desesperava"

Nove entre dez jovens adolecentes ou pós adolecentes foram influenciados por estes versos nos idos de 1976, a ditadura militar ainda imperava, apesar da já prometida abertura, mesmo que "lenta e gradual", estar a vista, o medo do recrudescimento era latente, e esta incerteza no futuro político do País, na falta de perpectiva econômica, afinal o "milagre econômico" tinha virado "pesadelo econômico", batia um certo desespero nas pessoas, na mesma música "A Palo seco", Belchior ainda era mais direto e incisivo, "Eu quero é que esse canto torto feito faca, corte a carne de vocês". Ouvir "Alucinação" e ler "As Veias abertas da América Latina" do ótimo Eduardo Galeano, era para fazer qualquer jovem ir as ruas lutar contra o establishment.

Este foi o segundo disco deste cantor e compositor cearense, que chegou como um verdadeiro vendaval, na letárgica MPB da época, se nada de novo havia nos arranjos, tudo era compensado pela qualidade extraordinária de suas composições, suas letras eram o reflexo fiel da incerta sociedade da época, medo, solidão, humilhação, segregação, violência, fantasias, delírios, costumes, juventude, certezas e incertezas, desespero, esperanças, romances, tudo passava pelo caldeirão sonoro de Belchior, sem ser piegas, contestatório ou chato, ele detonava e alertava, principalmente para os jovens, que o destino a eles pertenciam, "Mas eu não estou interessado em nenhuma teoria, em nenhuma fantasia, nem no algo mais. Longe o profeta do terror que a Laranja Mecânica anuncia! Amar e mudar as coisas me interessa mais" ensina ele na faixa título.

"Velha Roupa Colorida" e "Como nossos pais", duas das músicas mais emblemáticas deste trovador nordestino, a primeira, cheia de referências e saudosismos, tentava mostrar as mudanças pela qual a sociedade passava e a necessidade de seguir em frente com novos desafios, "Você não sente nem vê, mas eu não posso deixar de dizer meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer" (politicamente profético), para depois apontar os caminhos para o futuro "No presente a mente, o corpo é diferente e o passado é uma roupa que não nos serve mais", na segunda, o alerta para a necessidade dos jovens procurarem novos caminhos e irem a luta "Viver é melhor que sonhar", a sociedade estava meio que paralisada devido ao estrago cultural e político ocasionado pela ditadura, era preciso um grito de alerta "Porisso, cuidado, meu bem! Há perigo na esquina. Eles venceram e o sinal esta fechado para nós, que somos jovens.". Estas músicas tiveram projeção nacional devido a magistral interpretação da superlativa Elis Regina, viraram sucesso instantâneos e entraram para o rol das melhores músicas do cancioneiro popular brasileiro, até hoje a interpretação de Elis não foi superada.

Com a força dada por esta grande descobridora de talentos (que falta que ela faz), é que o restante do País pôde descobrir músicas como "Apenas um rapaz Latino Americano" que virou hino de todos os jovens que tivessem alguma preocupação com si próprio, com seu destino e o destino do País, os tempos eram dificeis e Belchior soube como ninguém expressar o sentido de vida dos jovens da sociedade da época, não tinha como não se identificar com os seus versos, assim como Chico Buarque refletia os jovens nos anos sessenta e Renato Russo nos anos oitenta, Belchior foi quem melhor expressou as aventuras e desventuras dos rapazes latino americanos no final dos anos setenta, sempre numa linguagem muito próxima, como se ali estivesse um grande amigo dando-lhe conselhos, alertas, "Mas não se preocupe, meu amigo, com os horrores que eu lhe digo. Isto é somente uma canção. A vida realmente é diferente. Quer dizer: ao vivo é muito pior."

Este disco é um verdadeiro tratado sociológico dos costumes sociais da época, um marco histórico da MPB, poucos discos mexeram tanto com os jovens quanto este, talvez só tenha paralelo apenas nos discos da Legião Urbana do já citado Renato Russo. O alvoroço causado na época do seu lançamento catapultou Belchior ao estrelato nacional, é verdade que depois deste, ele nunca mais conseguiu versos tão contundentes, apesar de lançamentos posteriores acima da média, pena que tenha literalmente desaparecido da mídia nacional.

Uma curiosidade: no enorme encarte com as letras do disco, em uma das faces, uma cópia de uma nota de dez dolares, com a foto central de Belchior e a sarcástica frase "IN GOLD WE TRUST".

Ano de lançamento: 1976
Ano de aquisição: 1976

quinta-feira, 29 de abril de 2010

SHOW LAETITIA SADIER (27/04/10)


Fundadora e vocalista do cultuado grupo Franco-Britânico "Stereolab", que está em período de recesso, Laetitia Sadier, apresentou seu projeto solo, voz e violão e guitarra, no Teatro Barreto Júnior no Recife.

Cantora de voz açucarada, ela que é responsável pelas letras intensas da banda, mostrou composições autorais para este projeto solo. Passeando pelo folk, trip hop e indie pop, ela não chegou a empolgar a plateia composta de maioria de jovens, por certo, fãs da banda que esperavam algo na linha mais agitada e dançante. A apresentação seguiu morna do início ao fim, nada muito diferente das inúmeras cantoras e cantores de barzinho que povoam todos os recantos deste imenso País, alguns até melhores do que ela.

Nada de novo a apresentar, frustou a tímida plateia presente. Com sua voz suave, ela estava mais para ninar o público que respondeu com cansadas palmas, talvez percebendo isto, ela se apressou em terminar o espetáculo, o que foi muito bem recebido por boa parte do público (incluindo o que aqui vos escreve).

Espero que ela retome logo com sua bem bacana banda.

domingo, 25 de abril de 2010

Esta Mulher é Proibida e New York, New York

Dois grandes filmes, duas histórias comoventes, dois casais de atores de primeiríssima linha com interpretações fantásticas e dois finais abolutamente tristes. Ainda não estou conformado. Alguém pode explicar isso?

Alva Starr (Natalie Wood) e Owen Legate (Robert Redford) estão em "This Property in Condemned", ou "Esta Mulher é Proibida", 1966, de Sidney Pollack, uma adaptação da peça de teatro homônima de Tennessee Williams . Eles são, respectivamente, a personificação da sensualidade e da elegância, e fizeram o diabo para estar juntos e passar por cima de tantas adversidades durante a Grande Depressão norte-americana (1930). Só não conseguiram passar por cima da maldade da mãe dela e da penumonia que atingiu a moça depois de uma chuva em New Orleans. E o que dizer da adorável Willie? Que fim terá levado aquela doçura?

Já Francine Evans (Liza Minelli) e Jimmy Doyle (Robert de Niro) estão em "New York, New York", 1977, Martin Scorcese. Eles são estrelas emergentes cumprindo o seu destino numa década de muito swing (1940), comeram o pão que o diabo amassou para chegar onde chegaram, nas estradas e nos subempregos da vida, após o Dia da Vitória norte-americano, e tinham de tudo para comemorar um dos finais mais felizes da história do cinema. Mas o botão do elevador mudou o curso da estória e o jantar no restaurante chinês deu lugar a uma caminhada solitária pela mesma chuva do outro filme.

Assistir a esses dois filmes, em dias consecutivos, alimenta a alma de qualquer cinéfilo. Mas também faz a indagação soar mais forte: afinal de contas, o que se leva de tudo isso mesmo? Haja coração...

Postado por Marcus Vinícius Midena Ramos.

LP Metamorphosis - The Rolling Stones

Depois de uma sessão de discos do movimento psicodélico, nada como voltar com um disco da maior banda de rock de todos os tempos, que terminou virando lenda, por não constar da discografia oficial dos Rolling Stones. Vendido à época como um disco contendo 16 músicas inéditas do grupo, apesar de serem sobras de estúdio que nunca tinham sido lançadas anteriormente, ficando à margem, virando peça dos aficionados dos pedras rolantes. Para se ter uma ideia de como este disco ficou escanteado, só recentemente foi lançado em CD, o que tornou por muito tempo o LP numa raridade disputada a tapas pelos fãs do grupo.

Apesar de conter sobras de estúdio, o disco é puro rock’n’roll bem ao estilo dos RS, praticamente composto por composições da dupla Mick Jagger / Keith Richard, há pelo menos uma curiosidade, a canção “I’D Much rather be with the boys” tem a assinatura de Andrew Oldham, produtor dos RS com Richard, é, Mick não permitiria ser lançado em disco oficial do grupo.

O lado 1 começa com a ótima “Out of time” com sua sessão de cordas e um balanço incrível, pura soul music, a guitarra é substituída pelo violão que se integra as cordas, uma das grandes músicas dos “rebeldes” ingleses. Segue-se “Don’t lie to me” com um piano anos cinquenta na introdução e cadência musical, homenagem aos grandes mestres fundadores do rock. “Somethings just stick in your mind” com uma introdução no violão numa levada folk, para amenizar os ânimos. “Each and everyday of the year” com ares da música cigana, com castanholas e tudo, segue num ritmo mais calmo, o trompete ao fundo reforça o ritmo cigano. “Heart of stone” é um blues como só Mick sabe cantar, bem ao estilo stoneano, uma das melhores do disco, emoção e prazer puros, em seguida a já citada “I’D Much...” sem a parceria de Jagger, lembra o estilo dos grupos vocais dos anos 60. “Sleepy city” remete a sonoridade inicial do grupo, mesmo que menos acelerada, a introdução de sons de sinos no decorrer da música é o diferencial, “We’re wastin’ time” deve ter sido sobra da sobra, não acrescenta nada, para fechar o lado 1, “Try a little harder” com o pandeiro ditando o ritmo, dando sustância a este “folk rock”.

O Lado 2 começa com uma composição de Stevie Wonder & Cia, da turma da Motown, “I don’t know why”, uma soul music para arrasar, os RS foram os branquelos com mais alma negra de que se têm notícias, os caras sabiam interpretar como ninguém, um verdadeiro petardo sonoro. “If you let me” mais um “folk rock” ao estilo “Crosby, Stills, Nash & Young”, prova que eles dominavam todos os estilos. “Jiving sister Fanny” inicia com mais um dos grandes riffs de Keith, se estivesse na discografia oficial, com certeza teria feito grande sucesso, não dá para entender como uma canção como esta, com todo o apelo pop entranhado, ficou de fora dos discos oficiais, o bom e velho Keith estraçalha com sua guitarra, a próxima é uma composição de Billy Wyman, “Downtown Suzie” um esquisito blue, levado ao violão, palmas e coro, fugindo totalmente do estilo stoneano, é compreensível que tenha ficado de fora, mas não deixa de ser interessante. “Family” uma soturna balada, também fora dos padrões dos Stones, tendo como base principal o violão e piano. “Memo from turner” com uma guitarra arrepiante do grande Keith e Mick com uma ótima interpretação, fazem este acelerado blue se juntar as melhores do disco. Para fechar com chave de ouro “I’m going down” com mais uma vez Keith dominando tudo com sua guitarra.

Mesmo sendo sobras de estúdio, é mais um grande disco da maior banda de rock’n’roll de todos os tempos. Segue abaixo, foto da contra capa do disco.




Ano de lançamento: 1975
Ano de aquisição: 1976

Nota: Lembro-me que comprei este disco como realmente sendo um lançamento oficial, ainda iniciado dos Rolling Stones, as informações à época eram escassas, não havia internet, e as gravadoras faziam de tudo para vender tudo como novidade. Confesso que por muitos anos fiquei na dúvida se era realmente um disco oficial ou não, até verificar, muito tempo depois que ele não fazia parte da discografia oficial dos Stones, talvez por isso tenha deixado de lado da minha coleção. Só vim a perceber que tinha nas mãos uma raridade, quando um amigo de um amigo meu, perguntou se eu tinha este disco, e com a maior naturalidade do mundo, respondi que sim, este cara, que era maníaco pelos Stones, fez um estardalhaço tão grande, pois há anos ele tentava descobrir alguém que possuísse esta raridade, ele estava se correspondendo, nos primórdios da internet, tentando conseguir com alguém do Japão, e eu aqui, praticamente do lado dele com o disco. Das duas uma, ou ele conhecia pouca gente, ou este disco era uma grande raridade mesmo.

sábado, 24 de abril de 2010

LP Magic People - The Paupers



Banda Canadense, formada na cidade de Toronto que conseguiu um relativo sucesso em terras americanas, antes de lançar este seu primeiro disco, excursionou pela terra de TIO SAM, abrindo shows para uma das principais bandas do rock psicodélico "The Jefferson Airplane", após o lançamento deste disco o The Paupers, sobe de patamar e faz mais uma excursão, desta vez abrindo os shows do "creme de la creme" do rock psicodélico, o extraordinário grupo CREAM. Apesar da exposição, eles gravaram apenas dois LPs, este "Magic People" lançado em 1967 e "Ellis Island" lançado no ano seguinte.

Lançado em plena era psicodélica, a sonoridade deste disco segue a linha melódica peculiar ao movimento chamado “Flower Generation” desenvolvido por uma enormidade de grupos, o diferencial é que eles procuravam uma identidade própria sem se preocupar em ser a cópia dos grupos de primeira linha, é certo que o cadenciamento musical, lembrava muito o som da época, com tendências ao “Folk Rock”. As comparações são inevitáveis nestes casos, ao escutá-los difícil não se lembrar do Jethro Tull, devido à semelhança do timbre vocal do seu vocalista Adam Mitchell, com Ian Anderson, principalmente na música que inicia o disco, a sua faixa título, os mais incautos pensariam se tratar do endiabrado flautista.

O que diferenciavam eles dos outros grupos é que não havia em suas músicas excesso de virtuosismo entre os integrantes do grupo, nada de solos intermináveis de guitarra, o som bem coeso, tinha seus arranjos bem divididos, sem muito destaque para aparições individuais, claro que a guitarra ditava o ritmo, sem excessos, acompanhada de órgão e bateria, nada mais psicodélico, o que pode ser visto na canção “It’s your mind”, final dos anos sessenta puro.

Disco honesto e despretensioso que devido à falta de excessos, seu som não ficou datado, o exemplo é “Tudor Impressions” a indefectível balada, uma constante em quase todos os discos de rock até hoje, uma folk music, que nos dias de hoje, poderia passar como uma composição saída do forno.

Ano de lançamento: 1967
Ano de aquisição: 1976

quarta-feira, 21 de abril de 2010

LP Listening - Listening

Há grupos que passam na cena musical de uma maneira meteórica, gravam poucos discos e neles mostram o grande potencial musical de seus integrantes, surgem com novas ideias lançando tendências, definem estilos, dão uma renovada no conceito musical vingente, trazem um sopro novo na arte musical, pegue-se um excelente guitarrista, um exímio baixista e um baterista que arrasa tudo, juntem todos e eles podem mostrar um novo caminho a seguir.

Não, o preâmbulo acima, não é para definir o som do grupo americano Listening de que trata este post, mas sim do extraordinário e meteórico CREAM, o melhor Power Trio que existiu até hoje, mas o que um tem haver com o outro? é que o obscuro Listening deste LP é todo calcado no estilo psicodélico do famoso trio de Eric Clapton e Cia, praticamente uma cópia do que os "cremosos" tocavam, é claro que a distâncias luz, a despeito de eles terem um ótimo guitarrista Peter Malick, que convenhamos, não chega nem perto de quem já foi chamado de GOD.

O disco lançado em 1969, portanto em plena era psicodélica, não é ruim, os caras tocavam direitinho, o problema é que eles queriam ser o "Cream" e este deve ter sido a causa da sua obscuridade, não dava pra competir com eles, tinham que ficar ofuscados, se procurassem uma identidade própria poderiam ter alçado voos maiores, a canção "9/8 Song" é uma prova disto, é quando eles se afastam do creme e tocam um Jazz meio fusion de uma ótima qualidade, bem balançada e um solo de piano digna de um Dave Brubeck, som de primeira. Eles arriscam uma rumba em "Cuando", como uma, vamos dizer, bonus track, dá pro gasto.

O resto são apenas rocks psicodélicos com muito órgão e solos de guitarra, uma ou outra música com a sonoridade próxima dos Byrds, no mais é só "Ah, como eu queria ser o CREAM", talvez por isto este disco nunca tenha sido lançado no Brasil.

Ano de lançamento:1969
Ano de aquisição: 1976

domingo, 18 de abril de 2010

Festival Abril pro Rock 2010- 17/04/10










Mais um ano (18º) do maior festival independente do Brasil, o Abril pro Rock tenta se revigorar com uma grande grade neste dia que se denominou de mais pop, apostando suas fichas no novo, no desconhecido, como era no seu início. O ponto negativo foi o retorno do festival ao Pavilhão de eventos do Centro de Convenções de Pernambuco, um local inapropriado para a música, inóspito, feio, desconfortável e com uma péssima acústica, que por mais que tentem, nunca conseguem melhorar, é quase impossível entender o que se está cantando. O Chevrolet Hall, local dos últimos dois anos, é bem melhor acusticamente falando, parece-me que houve problemas de data, houve o show do Simply Red na sexta feira, espero que no próximo ano eles consigam voltar para lá.

Como já disse a grade deste dia era extensa, estava programado quatorze shows, iniciando as 17:30h, como já não tenho vinte anos e estava curioso para assistir ao Afrika Bambaataa, que seria um dos últimos, não cheguei no início e perdi os shows de Anjo Gabriel (PE), Mini Box Lunar (AP), Plástico Lunar (SE), Bugs (RN) e Zeca Viana (PE), nomes totalmente desconhecidos para mim, gostaria de ter visto, fica para uma próxima oportunidade.

Quando cheguei, o público ainda reduzido, talvez consequência das fortes chuvas caídas no Recife durante todo o dia, já havia iniciado o show da Vendo 147, vindo da Bahia, sem tocar Axé (ainda bem), com uma formação inusitada, duas guitarras, um baixo e uma bateria com dois bateristas, isto mesmo, dois bateristas que tocam juntos uma mesma bateria, um de frente pro outro, não há revezamento, eles chamam de "clone drum" e até que funciona bem, principalmente para o som instrumental pesado que eles tocam, sem vocalista, eles investem no virtuosismo dos seus integrantes, sem serem chatos, mostram que os dominam muito bem, o som flui agradável, rock sem pretensão, sem preciosismos, uma grata surpresa, guardem este nome.

Em um sistema non-stop (haja profissionalismo), eles engataram a próxima atração, mau deu tempo de respirar, tudo bem que é necessário agilidade entre uma atração e outra, mas não precisava ser tão ágil, podia-se esperar pelo menos uns cinco minutinhos para o ouvido descansar. A atração engatada na anterior foi o Nevilton, power trio do Paraná, que não acrescentou muito, o vocalista, o tal do Nevilton, um pouco afetado, foi prejudicado pela acústica, e só se conseguiu entender o refrão "pó, pó, pó, pó, pó, pó" que ele insistia em cantar em quase todas as músicas, já que o sistema era non-stop, essa era a hora de ir no bar pegar uma cerveja. Ponto positivo: cerveja bem gelada, ponto negativo: só tinha Nova Schin e já que só tem tu, vai tu mesmo, afinal aguentar tanta barulheira totalmente sóbrio, é dose.

O Nevilton ainda esperava pelos aplausos e uma nova engatada, começa a tocar no outro palco a banda pernambucana The River Raid, que está despontando na nova geração do circuito musical pernambucano, tocando um rock competente e cantado em inglês, o que lhe trouxe oportunidade de se apresentar com relativo sucesso no circuito alternativo americano e canadense, fez uma apresentação correta, mostrando que tem um potencial muito grande, indie rock com identidade com o rock brasileiro, no telão um clipe bem legal da música "Alright" dirigido pelo cineasta pernambucano Pedro Severien, a apresentação agradou ao já mais numeroso público.

Provavelmente por problemas técnicos, o sistema non-stop foi prejudicado, nossos ouvidos agradeceram, a bexiga também, deu tempo pro xixi e pra cerveja, surge a Plastique Noir, lá das bandas do Ceará, não deixa de ser estranho uma banda com este nome, quando se está acostumado com os bizarros nomes das bandas de forró, oriundos da terra de Fagner. Com o seu som gótico com uma levada mais soturna, serviu como uma queda de pressão em relação as três atrações anteriores, e uma "viagem" aos anos oitenta, uma apresentação que se não empolgou muito, não deixou a desejar, próprio para os fãs do Depeche Mode e The Mission.

De Alagoas veio a grata surpresa do festival, Wado, com seu samba rock cheio de malemolência, destilando sua MPB roqueira, suingada e funkeada, totalmente seguro de si, com um alto astral explícito, transformou sua apresentação numa celebração do samba em palcos roqueiros, arriscando até uma batida diferente pro samba, agariando uma legião de fãs que já cantavam suas músicas de cor, resultado dos diversos shows já realizados aqui em Recife, mais um ponto positivo do festival.

Com um som refinado e delicioso, o 3 na Massa, projeto paralelo de dois integrantes da Nação Zumbi, o baterista Pupillo e o baixista Dengue, mais o programador Rica Amabis e com a ajuda da "confraria das sedutoras", ótimas cantoras, que se revezavam no palco, fizeram uma das apresentações mais elegantes da noite, a primeira sedutora a seduzir foi a sensual Marina de La Riva que fez da romântica canção dos anos 70 "Loving you" um prazer total, seguiram-se a ela, as também ótimas e sensuais Nina Becker, Lurdes da Luz e Karine Carvalho´tornando constante o alto nível sonoro, cada qual com seu estilo, mostrando a dimensão que a MPB de qualidade pode chegar, um show para ficar registrado nos anais do festival.

Depois do requinte, nada melhor que uma música animadinha para agitar a agora já numerosa plateia, e a escolha do Instituto Mexicano Del Sonido foi acertada, capitaneado pelo piradão e agitadíssimo Camilo Lara com sua mistura de eletrônica com ritmos tradicionais, até a "Macarena" entrou no meio, fez grande parte do público rebolar, aumentando novamente a "pressão" e um bom preparo para a próxima atração. O mexicano deve mesmo ter se encantado com Recife, estava animadíssimo no palco, na certa fazendo cena para a namorada recifense, a plateia entusiasmada, agradeceu.

A atração mais esperada da noite, talvez tenha sido a decepção do festival, não totalmente, claro, afinal o cara sabe o que faz, mas a espera foi tão grande, por diversas vezes cancelada, que Afrika Bambaataa tinha que ter feito melhor, entrou reclamando do som, ficou quase estático e sem muita inspiração, mostrando uma antipatia total, apelou para o funk "Tá tudo dominado" para levantar a plateia, no restante o set list não foi dos melhores, com exceção de "Stand by me" e uma pontinha ´da sempre onipresente "Sex Machine" do extraordinário James Brown, era visível o esforço que os dois MC´s faziam para não deixar a peteca cair, acho que pelo nome dele e em respeito ao festival ele deveria ter sido mais profissional, deixou muito a desejar.

Para encerrar a maratona sonora, o acerto final, Pato Fu comandada pela docinho de coco Fernanda Takai fez um show impecável, tudo deu certo, conseguiu até afastar o cansaço de mais de sete horas ininterruptas e deixando nós brasileiros de alma lavada, depois do fiasco do show anterior. Apesar de ter tocado poucos sucessos, destilando canções menos conhecidas, a empatia com o festival do qual participa pela quarta vez, deu um certo ar de intimidade ao grupo, o que transformou sua apresentação numa leveza só, a versão correta de "Ando meio desligado" teve como resposta o público cantando junto. Apresentação irrepreensível, para quem esperava tudo de Bambaataa, adorou terminar a noite com Fernandinha.......e grupo.

O Abril pro rock na sua décima oitava edição, demonstra folego para muitas outras, para isso é necessário que o público compareça em um número maior, festival sem público não existe, o local tem que ser mudado urgentemente, as atrações são sempre muito bem escolhidas.

VIDA LONGA PARA O ABRIL PRO ROCK.

sábado, 17 de abril de 2010

Carta a Macrina


Acompanho há quase um ano, um blog super legal o Vitrola Encantada (vitrolaencantada.blogspot.com) escrito pelo Luís Valcácio lá de Brasília, apesar de focado na música, ele, com sua escrita ao mesmo tempo despojada e refinada, tece comentários sobre os mais variados assuntos, sempre com uma visão própria sobre os mesmos, dentre os muitos que já li, um, me chamou mais ainda a atenção, foi o postado em 13/04/10, sob o título “Carta a Noemia“ onde ele de uma maneira sublime falava do tempo em que, ainda criança, escrevia cartas para uma empregada doméstica, assim como o personagem Dora que Fernanda Montenegro tão bem personificou no excelente filme “Central do Brasil”, pois bem, este post me trouxe recordações que nem o próprio filme me trouxe e consegui resgatar a lembrança já um pouco embaçada de uma época em que eu também tive a minha fase “Dora” de ser, foi quando ajudava a empregada, ou melhor, para ser politicamente correto, a secretária lá de casa, a senão escrever, pelo menos corrigir as cartas que mandava para o namorado. Portanto Luís, influenciado e inspirado no seu post, e como uma homenagem a você e a todas(os) as(os) Doras, é que resolvi também escrever uma carta para Macrina, a minha ex-secretária.

Querida Macrina,

com certeza você deve se lembrar de mim, sim eu sou o terceiro dos irmãos, filhos de Narly e Wilson Calado, que você ajudou a nos criar, o mais novo e mais gordinho dos três. Sei que apesar do longo tempo que separa aquela época para agora, é difícil não se lembrar da maneira dedicada e carinhosa com a qual você nos tratava, um complemento ao profundo amor demonstrado por nossos pais e que até hoje ainda é demonstrado por nossa mãe, acho que você deve estar feliz ao saber que Dona Narly ainda continua firme e forte, como sempre foi, já seu Wilson encurtou o seu caminho e hoje está no “andar de cima” fazendo muitos amigos, como era do seu feitio. Pois bem Macrina, resgato esta lembrança, daquele tempo em que você com seu arranhado português, pedia ajuda para as devidas correções para alguém, como eu, que ainda nem sabia direito qual era a diferença entre predicativo e adjetivo, só sei que naquele quarto, com você expondo os seus amores, me sentia soberano. Esta recordação puxa outras vividas com você, tinha dez, onze anos e me lembro da felicidade que era ir ao teatro do Jornal do Comércio assistir ao programa de auditório “Jorge Chau Show” comandado pela figura ímpar do carismático e performático apresentador Jorge Chau, performático para os padrões da época, início dos anos 70, plena ditadura, anos de chumbo, o pau comendo lá fora, só que para mim isto tudo passava ao largo, o Brasil tinha se sagrado Tri campeão mundial de futebol, o que era uma glória, hoje, estou pouco me lixando se ele vai ser Hexa ou não, tudo o que se passava fora da minha redoma pouco me interessava, um dos poucos fatos que me lembro bem, acho que foi em 1968, quando minha mãe foi nos buscar no colégio Marista, pois as aulas tinham sido suspensas por causa de umas bombas que tinham explodido em algum lugar, tive a mesma sensação que o menino do ótimo “Esperança e Glória” do John Badam, quando na cena final, em plena 2ª Guerra Mundial, ele numa sala de aula, acuado pela aterrorizante professora e prestes a ter que responder oralmente uma pergunta a qual não sabia a resposta e podia ser castigado, toca a sirene de alerta para que todos se dirigissem aos abrigos anti-bombas, e ele ao sair da escola em meio à correria e do alto de sua santa inocência grita a todos os pulmões “Thank you Adolph”.

Pois é, hoje vejo que a coisa foi feia, como diria o mestre Chico “Num tempo página infeliz da nossa história”, muitos dos que lutaram se perderam (Geraldo Vandré, Torquato Neto, Taiguara), outros, mais espertos, conseguiram usar em causa própria os ideais de outrora e hoje se locupletam e mamam nas tetas do governo, trocaram as armas por ótimos charutos cubanos e taças de vinho Romanné Conti ao custo de 5.000,00 dólares a garrafa, com os pés atolados no lamaçal de corrupção que virou Brasília, alguns podem até virar Presidentes, mesmo que para isso seja necessário esquecer os seus ideais, como diria Millor, “então, não era revolução e sim um investimento”.

Bom, Macrina, que papo mais careta, não?, você deve estar pensando, “e quem são todos estes? que eu me lembre nenhum deles se apresentava nas tardes de sábado no Jorge Chau Show”, Ah como eu me sentia recompensado quando você me levava quase que semanalmente ao programa, foi lá, naquele ambiente festivo, quase todo composto de secretárias, que descobri que o povo necessita de muito pouco para ser feliz, mesmo com as adversidades que a vida lhes impunha, e ainda tem gente que com muito não consegue ser feliz.

Jorge Chau era uma espécie de Chacrinha do Recife, na irreverência, pois sempre se apresentava de smoking, lá no seu programa, passavam os mais diversos artistas, todos da linha dita popular, me lembro vagamente de Fernando Mendes por causa do seu cabelo e Waldick Soriano, por causa do seu chapéu, do vozeirão e do sucesso que fazia com as moçoilas, talvez pela sua maneira máscula de ser, e por saber cantar, como ninguém, a paixão e o amor destas pessoas, nisto ele era um mestre, ele cantava o que vivia com o sentimento aflorando a pele. Frequentava também os artistas nacionalmente conhecidos, eram a atração principal a cada sábado, mesmo que estes artistas já estivessem em baixa, como os do segundo escalão da Jovem Guarda, que já definhava em seu sucesso, ver gente como Jerry Adriani, Rosemary, Martinha era uma verdadeira delícia, mas o delírio era grande quando lá aparecia Wanderley Cardoso com o seu “O Bom Rapaz” e principalmente Ronnie Von, a gritaria era geral e todos cantavam (inclusive eu) os versos de “A Praça”, a satisfação daquelas meninas era enorme, talvez fosse a compensação maior pela labuta diária que travavam.

Macrina, talvez tenha surgido daí, este meu interesse pela música, o gosto, foi refinando, elitistamente falando, mas confesso que ainda me arrepio e me emociono ao ouvir este mestre da Paixão que é o Waldick, aqueles gritos de emoção ouvidos no auditório se entranharam nos meus poros.

Foram momentos ótimos, só não entendi Macrina, até hoje, porque você nos deixou tão repentinamente, sem uma explicação, da noite para o dia, você arrumou suas coisas e foi embora, provavelmente encontrar o seu amor, para mim foi duro, afinal você nunca me mandou uma carta.

Um beijo grande, espero que esteja bem feliz.

domingo, 11 de abril de 2010

LP Future - The Seeds



A Geração Flower Power, movimento de contestação surgido nos idos de 1967 e que durou até o início dos anos 70, dizem os céticos que o movimento começou a definhar logo após o festival de Woodstock, há quem discorde. Movimento este que teve seu começo na cidade Holandesa de Amsterdã e ganhou força nos EUA em cidades como São Francisco e San Diego, principalmente quando eclodiu a Guerra do Vietnã, quando os hippies levantaram a bandeira contra esta guerra absurda. O Flower Power foi marcado, entre outras coisas, pelo figurino exótico usado por quem aderiu ao movimento e no campo da música, o destaque eram artistas ou grupos que se destacavam por executar um determinado tipo de música livre e com aspectos “viajantes”, onde os grandes expoentes foram Janis Joplin e Jimi Hendrix que misturavam figurinos exóticos a um rock pesado, cheio de referências psicodélicas. Outros grupos também foram significativos para o movimento, tais como The Byrds e The Mamas and The Papas e em determinada época o cantor de voz rascante Joe Cocker, mas, como em todo movimento muitos outros grupos aderiram e tentavam seguir a linha dos grandes expoentes, alguns com relativo sucesso (Country Joe and the Fish) e outros nem tanto, como é o caso do The Seeds.

Autoproclamado como um grupo da “Flower Generation”, eles até que tentaram um lugar a......... flores, mas o que conseguiram foi a obscuridade, liderados por um tal de Sky Saxon, vocalista e baixista, que até hoje não tenho a menor ideia de quem seja, até que tentam se enquadrar no som feito na época, este disco foi lançado em 1967, mas se perdem nesta tentativa, sem uma identidade própria, procurando seguir os voos dos Byrds, eles não conseguem decolar, o disco não é de todo ruim, salvam-se algumas músicas, como “A Thousand shadows” com um ótimo pianinho e “Flower Lady & Her Assistant” com tons orientais, em contraponto há aberrações como “Two fingers pointing on you” e “Where is the entrance way to play” (com um vocal horrendo) que nunca deveriam ter sido gravadas.

Deveriam ter ficado no compacto, talvez fizessem algum sucesso, pesquisando na internet, vejo que chegaram a gravar mais dois discos, há gosto para tudo. Neste caso o melhor a fazer é buscar o original e ter um “voo” mais tranquilo.
A "semente" plantada pelo The Seeds não germinou "Flores" e o seu "Futuro" foi bastante incerto.

Ano de lançamento: 1967
Ano de aquisição: 1976

sábado, 10 de abril de 2010

LP Laid Back - Gregg Allman


Fundador e líder junto com o irmão Duanne da lendária e até hoje cultuada banda de rock The Allman Brothers Band, em seu voo solo Gregg Allman não desaponta os fãs do grupo, sem se desvirtuar muito do estilo que encanta gerações há várias decadas, aglutinando uma legião de admiradores. Com um ritmo mais lento do que seu grupo de origem e numa levada mais blues, seguindo sua formação inicial, Gregg mostra competência nas suas composições.

Nascidos em Nashville, berço da música country americana e com uma sólida formação musical os irmãos se criaram ouvindo muito jazz, o que explica muita coisa, com Duanne se entupindo de Kenny Burrel, Django Reinhardt, Coltrane etc... e Greeg ouvindo muito Jimmy Smith, tudo isso misturado com muito blues tradicional tipo B.B.King, Muddy Waters, Howlin Wolf e toda aquela gama de sujeitos que faz a gente sofrer como se estivesse num campo de algodão ao ouvi-los. É latente perceber ao escutar este LP, a tendência mais intimista de Gregg, mais voltada para o blues e baladas, sem o auxílio da ferina e ótima guitarra do irmão Duanne, morto num trágico acidente de moto em 1971, ele baseava suas composições no violão e órgão hammond, dando um tratamento mais acústico e mais sereno.

O que se ouve neste disco é uma outra faceta de Gregg, sem o estilo agitado e o rock pesado do seu grupo, surge um baladista de primeira linha, com refinadas melodias. A comparação é inevitável entre sua fase solo e com os Brothers Band, esta sai perdendo, ele rendia mais quando se completava com o irmão, mas não deixa a desejar, segura a peteca e não decepciona os fãs.

Até onde sei, este disco nunca foi lançado no Brasil, nem em LP, nem em CD, o que é de se estranhar devido a enorme legião de fãs do Allman Brothers.

Ano de lançamento: 1973

Ano de aquisição: 1976

quinta-feira, 8 de abril de 2010

LP Sallom, Sinclair and the Mother Bear - Sallom, Sinclair and the Mother Bear


Há certos artistas ou grupos que não alcançaram o sucesso, ou não se destacaram no cenário musical, são praticamente ignorados, as vezes até merecidamente devido a baixa qualidade musical, só que as vezes imerecidamente, pois seu conteúdo musical está acima da média, mas mesmo assim lançam discos mas caem na obscuridade, isto pode ser aplicado ao grupo Salloom, Sinclair and the Mother Bear, liderados pelo guitarrista e vocalista Roger Salloom e pela vocalista Robin Sinclair.

Primeiro de tudo, fora a extraordinária Janis Joplin, nunca vi uma cantora com um vozeirão e uma força interpretativa como esta Robin Sinclair, de voz limpida, cristalina e uma extensão nos agudos de deixar Maria Callas boquiaberta. A comparação com a já citada Janis é inevitável e talvez seja daí que se compreenda o fato de ela não ter despontado, elas são da mesma época, este LP foi lançado em 1968, e a estrela de Janis brilhou demais não dando chance as demais.

O disco desta banda americana de Chicago, berço do blues, é rock bem típico do final dos anos sessenta início dos setenta, pesado com tons psicodélicos, muito órgão ditando o ritmo, acompanhado de uma guitarra pesada. Se o lado 1 é todo dominado pela voz de Robin e um estilo que lembra o Jefferson Airplane, o lado 2 é todo do Roger, num estilo musical bem próximo do ótimo Van Morrison, com toques de blues, como deveria ser de alguém vindo de Chicago, a mistura de blues e rock em "Florida Blues" é bem convincente. A não ser o deslize da música final, um interminável discurso sem efeito de mais de oito minutos, só salvo pela participação vocal da Robin, o LP traz o melhor do que foi produzido à época, um time de músicos que não faria feio em nenhum dos grandes grupos que tanto sucesso fizeram na fase de ouro do rock'n'roll. Apesar da longevidade, continua atualíssimo.

Ano de lançamento: 1968
Ano de aquisição: 1976

Nota: Ganhei este disco, junto a outros, de um grande amigo que infelizmente nos deixou precocemente e hoje deve estar fazendo suas estripulias no andar de cima, Severino Cavalcanti Júnior, mais conhecido como o "Grande Júnior Bala", o adjetivo não tem nada haver com o projétil usado em armas de fogo, a denominação era para expressar a agitação e a loucura, no bom sentido, que ele ditava sua vida, um verdadeiro "aloprado", mas de um coração sem tamanho, de uma bondade sem igual e com um sentido de amizade pouco visto. Para os ligados em política, filho do ex-deputado, o controverso Severino Cavalcanti, mas nossa amizade, inclusive entre as familias, nada tinha haver com política, iniciada na infância e prolongada até a sua morte, tivemos todos, irmãos e irmãs incluso, muitos momentos de farras homéricas, a alegria tomava conta quando nos juntavamos, deixou saudades. Pois bem, Júnior que não era muito ligado em música, ao voltar da uma viagem aos EUA, me deu alguns discos que lá comprou, e por certo não deve ter gostado, este foi um deles. Confesso que na época não dei muita importância, pois não tinha o menor conhecimento de quem se tratava, e deixei o disco encostado este tempo todo. Ouvi-lo agora, foi uma grata surpresa, continuo sem saber de quem se trata, de lá para cá nunca ouvi falar deles, é uma pena, são ótimos músicos.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

LP e CD Aftermath - The Rolling Stones


O que mais impressiona nos discos iniciais dos Rolling Stones, além da sonoridade jovial, era o vigor de suas composições, este foi o primeiro lançamento do grupo em que todas as músicas foram compostas pela dupla Mick Jagger e Keith Richards e convenhamos é de uma unidade impactante, mesmo quando em meio ao som vigoroso, entra baladas espetaculares como “Lady Jane” com seu solo de harpiscord de fazer você levitar em conjunto com a voz suave de Mick, o que a torna uma das mais bonitas baladas da história do rock, que o grupo canta até hoje em seus shows. O estilo inconfundível dos Stones começava a tomar forma, o que pode ser visto mesmo em músicas pouco conhecidas como a ótima “Doncha Bother me”, onde a mistura de blues e rock é perfeita, inclusive com solos de harmônica de Mick, merecia uma melhor atenção.

Este é um álbum com poucos clássicos stoneanos, “Under my thumb” que dispensa comentários e a já citada “Lady Jane”, mas recheado de canções com um alto padrão musical, o que demonstrava a excelência dos rivais dos rapazes de Liverpool, principalmente porque ao inverso dos Fab four, o som deles era mais cru, mais sujo, com pose de rebeldes.

Foi neste disco que os Stones começaram a experimentar novos instrumentos, o piano na introdução de “Flight 505”, outra pouco conhecida, era pouco usual no som deles. Há canções mais conhecidas como “Take it or leave it” e Mother’s Little Helper” e coisas como “Think” que os “muderninhos” de hoje adorariam fazer se tivessem competência para tal.

Mais um disco que vem se somar na prova de que esta realmente é a maior banda de rock de todos os tempos, basta escutar desde seus discos iniciais, como este, até os seus mais recentes.

No lançamento do CD uma surpresa, foi acrescida três novas canções, inclusive uma curiosidade, “Goin’ Home” com seus mais de onze minutos de duração, o que na época era incomum, devido à quase obrigação mercadológica de músicas com a duração máxima de três minutos, nada muito relevante. As outras duas a balançada “Out of time” digna de figurar entre as melhores do disco, e a descartável “I am waiting” que se vê agora, não fez falta no LP.

Ano de lançamento: 1966
Ano de aquisição do LP: 1976
Ano de aquisição do CD: 02/1996

domingo, 4 de abril de 2010

01 ANO DE BLOG


E assim se passaram 365 dias, e o blog está fazendo seu primeiro aniversário, muito poderia ter sido escrito, mas infelizmente o tempo é curto.

Para mim tem sido bastante prazeroso escrever sobre os discos de minha vida, além de redescobrir alguns discos que fazia anos que não os escutava, tem servido para reviver situações que só trazem grandes recordações, afinal a vida também é feita das lembranças do passado e nada mais marcante para estas lembranças do que a música, como se diz "recordar também é viver".

O surpreendente nisto tudo é ver e descobrir que existe uma legião de adoradores do vinil, e eles estão voltando, como constatei hoje, indo a Livraria Cultura aqui de Recife, me surpreendeu a quantidade de relançamentos dos discos de vinil e já há alguns lançamentos fabricados aqui no Brasil, vida longa para ele.

Espero poder compartilhar com vocês este blog por muitos e muitos outros aniversários.

sábado, 3 de abril de 2010

LP Gil & Jorge (Ogum Xangô) - Gilberto Gil e Jorge Ben

Quando dois músicos de excepcional qualidade e no auge de suas criatividades artísticas se encontram em um estúdio e com toda a liberdade possível gravam um disco, só com seus violões e ajuda de um contrabaixista (Luís Wagner) e um percussionista, o ótimo Djalma Correa, só poderia ter um excelente produto final. Gilberto Gil e o ainda na época Jorge Ben (hoje, Jorge Ben Jor) assumem em "Gil & Jorge" a identificação musical existente entre ambos e que ganhou vida sob o título dos orixás Ogum e Xangô. Ninguém pode negar que colocar Gil e Jorge em um estúdio e deixá-los produzir livremente por tempo indeterminado deu um belo fruto. Ogum Xangô é mágico do início ao fim e cada canção literalmente estrangulada pela dupla tem sua particularidade que no conjunto da obra formam este disco belo, espontâneo e logicamente...sensacional.

Vejam o que Gilberto Gil falou na época do lançamento deste disco sobre Jorge Ben. “Eu vejo a música do Jorge como a que mantém elementos mais nítidos da complexidade negra na formação da música brasileira. Modos musicais diferentes vieram para o Brasil através de várias nações africanas. Jorge assume o que veio do norte da África, o muçulmano, como elemento básico do seu trabalho. Ele não gosta de perder a perspectiva primitivista, não deixa de se ligar no gege, ketu, iorubá. Mas ele tem um outro lado que inclui o moderno” .

O disco, apesar de um álbum duplo, tem poucas músicas, mas muito, muito improviso, gravado em apenas uma noite, que deve ter sido uma noite mágica, pelo resultado alcançado, provou o que já se sabia, que os dois são mestres na arte do improviso. O lado 1 do disco 1 tem apenas duas músicas, a suave “Meu Glorioso São Cristovão” de Jorge Ben, em um arranjo bem lento, como se eles estivessem no aquecimento para o que viria depois, só voz e violões, fechando o lado “Nega” de Gilberto Gil, aí já num ritmo um pouco mais acelerado, com a entrada da percussão, a base rítmica começa a possuir as características contagiantes e tradicionais da música popular brasileira, puro ritmo em mais de dez minutos de duração. O lado 2 do disco 1, também com duas músicas, começa com “Jurubeba” de Gil, diz à lenda que o disco todo foi gravado sob os efeitos do licor de jurubeba, dizem que esta era uma jurubeba “especial”, se há alguma verdade, o fato é que esta tal “jurubeba” dá uma ótima inspiração, diz a letra “Jurubeba, Jurubeba, planta nobre do sertão” o que serviu de inspiração para uma levada meio forró, meio baião, esta música é puro prazer, uma jam de mais de onze minutos pra lá de dançante. Fechando o primeiro disco, mais uma de Jorge “Quem mandou (pé na estrada)” numa levada mais de samba rock, bem ao estilo de Jorge, improvisos para balançar o esqueleto.

O disco 2 começa com a melhor música do disco e uma das mais férteis da fase inicial de Jorge Ben e consequentemente da MPB, a swingada “Taj Mahal” com seus mais de quatorze minutos de puro swing, improviso e balanço, é impressionante a força vibrante que esta música exerce, mesmo só com violões e percussão é impossível não se contagiar com seu balanço, é impossível passar incólume a um amor tão eterno. A segunda música deste lado Jorge é “Morre o burro fica o homem”, improviso, swing e balanço. O lado 2 é o lado Gil com as canções “Essa é pra tocar no rádio” e “Filhos de Gandhi” dois exemplos do estilo balançado e alegre de Gil, ritmo africano adaptado ao carnaval baiano, pré Axé Music (quando se tocava música de qualidade), numa levada mais compassada. Encerrando o disco uma parceria entre os dois, “Sarro”, quase uma vinheta, reflete bem o espírito do álbum, alegria pura, como se dizia antigamente para expressar algo muito bom, muito bem feito, um verdadeiro sarro.

Apesar da ótima qualidade sonora do disco, ele não teve uma receptividade muito boa de público na época, inclusive com algumas críticas negativas dos jornalistas especializados, tanto é que o disco passou pouco tempo nas lojas e nunca foi relançado em LP, só mais recentemente, portanto muitos anos depois de seu lançamento é que teve uma edição em CD, mesmo assim com cortes. Pela qualidade, merecia uma melhor atenção, obra prima da MPB, som apropriado para um sábado ou domingo à tarde, durante uma feijoada e tomando muita caipirinha.

Ano de lançamento: 1975
Ano de aquisição: 1976