sexta-feira, 6 de novembro de 2009

QUEDA DO MURO - 20 ANOS


Comemora-se esta semana, 20 anos da passagem do último acontecimento relevante da história social mundial, do século passado, a queda do muro de Berlim. Uma barreira fruto da insanidade psíquica de alguns poucos que interferiram na vida de muitos, ceifando-as da convivência salutar entre os povos.

  • Nunca consegui entender muito o porque deste muro, nem socialmente nem fisicamente, quando tive a oportunidade de ir a Berlim um ano após a queda do muro, se fazia imperioso visitar tal aberração para poder tentar entender tudo aquilo.

Como estava de férias, o horário passa ao largo, cheguei ao Portão de Brandeburgo, um pouco antes da hora do almoço, era outubro e nesse dia fazia um calor insuportável, nada como matar a sede com uma genuina cerveja alemã, só que os vendedores insistiam em vender a cerveja na temperatura ambiente e eu com meu inglês macarrônico insistia em pedir uma cerveja estupidamente gelada, quase que provoquei um incidente diplomático e terminei me contentando em tomar quente a genuina cerveja alemã, horrível. Me senti no Brasil quando vi diversos camelôs tentando vender pedaços do muro, convenhamos, um ano depois, ainda existia gente que comprava, imagina o lucro que essa turma teve logo após a queda.

Saímos eu, minha esposa (na época, apenas namorada) e mais duas amigas no périplo pelas ruas da antiga Berlim Oriental, atrás do verdadeiro muro para que pudessemos arrancar um pedaço para levarmos como recordação. Seguindo orientações começamos a andar pela cidade e em vez de aproximarmos do muro, cada vez nos afastávamos mais dele, pois diziam que mais na frente era mais fácil de acessá-lo, com a determinação de um Leopardo atrás de sua caça, seguiamos nós pelas ruas de Berlim Oriental atrás do verdadeiro muro, só que a cada esquina uma nova descoberta, a prova de que turista só conhece o lugar quando passeia a pé, a cidade se mostrava cada vez mais pitoresca, um verdadeiro contraste com a parte Ocidental, fiquei a tergiversar sobre o quanto surpreendente foi para aquelas pessoas transpor aquele muro, a descoberta de um novo mundo, tão perto e tão longe.

A cidade de construções muito antigas, mal conservadas e uma arquitetura praticamente igual, quem não conhecesse, com certeza se atrapalharia naqueles prédios semelhantes, apenas os monumentos históricos eram de uma beleza ímpar, os carros então, eram de dar pena de tão velhos.


Me lembro que entrei em uma loja de discos que praticamente ainda só vendia cds clássicos das ótimas Orquestras do Leste Europeu, eram muitas variedades, fiquei meio abestalhado com tanta opção, mas a pressão das meninas era grande e deixei passar a oportunidade, mais a frente encontramos a praça "Berlim Alexanderplatz" que era o reflexo dos padões Orientais, uma praça enorme, muito grande, toda de lajota, sem nenhuma árvore, com apenas pouquíssimos bancos e uma estátua de Marx e Engels no meio da praça, o nada no meio do nada. Ao pisar na praça, me lembrei logo do extraordinário filme de mesmo nome da praça, com 10 horas de duração, do magnífico Fassbinder e ali andando por aquelas frias lajotas, consegui entender melhor o sentido do filme que fala justamente da época imediatamente anterior ao surgimento do Nazismo.

Só que já quase anoitecendo, em pleno centrão da Berlim Oriental, com quase seis horas initerruptas andando a pé, eis que finalmente, próximo a estação central de trem, localizamos o verdadeiro muro, o local era esquisito, a noite já caía, mas aquele esforço não poderia ser em vão, tínhamos que chegar bem próximo ao muro, tocá-lo e se possível trazer-lhe um pedaço, ao chegarmos lá, o sentido de perigo aumentou, éramos só nós ali próximo ao muro, nenhum alemão por perto, como se eles quisessem evitar aquela aberração para sempre, eis que para minha surpresa, descobri que historicamente, meus conhecimentos em relação ao muro eram mínimos, pois verifiquei que na verdade eram dois muros que separavam as duas Berlins, havendo um espaço entre eles que mesmo a noite com todo o perigo me atrevi a adentrá-lo, confesso que a sensação que senti foi terrívelmente desconfortante, como se os fantasmas que ali habitam não me deixassem ver a vergonha que era aquilo, nunca a sensação de perigo e medo foram tão afloradas em mim, cheguei a ir até o meio, mas voltei correndo.


Com a satisfação do dever cumprido e ainda de ter conhecido uma cidade totalmente desconhecida, vimos que aquelas quase sete horas batendo pernas, valeram a pena, pegamos um trem de volta e fomos direto tomar um chopp bem gelado, na fascinante, efervecente e alegre noite da Berlim Ocidental.

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