quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

FESTIVAL FEIRA MÚSICA BRASIL 2009


O Brasil é um País com uma diversidade cultural impressionante, sem paralelo no mundo, talvez por suas dimensões continentais, a miscigenação dos povos, o que provocou o surgimento de diferentes culturas, a música, talvez seja, dentre todas as artes, a de maior apelo popular, a maior aglutinadora de pessoas. Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, pode-se dizer que sejam os Estados com os maiores expoentes da música feita neste País, é só ouvir Luiz Gonzaga, Dorival Caymmi e Tom Jobim, para se ter certeza disto, isto sem falar nos incontáveis grandes artistas que povoam este País.

O prefácio acima é para mostrar a importância que foi a Feira de Música Brasil 2009, ocorrida aqui em Recife entre 9 e 13 de dezembro, sediada no Armazem 12, um armazem todo reformado no Porto do Recife, ao lado do "marco zero" local considerado como o de início da cidade. Além dos stands de gravadoras e produtoras, muitas rodadas de negócios, debates e conferências marcaram a feira deste ano, nestes locais, mais voltados para os profissionais da música, se conseguia alguns cds de cortesia, o que fazia a alegria dos não profissionais e apenas admiradores desta cultura que faz bem aos ouvidos, como o que aqui vos escreve, mas não era só isso, muitos, mas muitos shows fizeram a festa de todos os amantes da música.

Infelizmente por compromissos fora do Estado, só pude ir aos shows do Marco Zero nos dois últimos dias, no sábado, China abriu os shows substituindo a Zabé da Loca que por motivos de saúde não pôde se apresentar, China é um cantor compositor Pernambucano que fazia performances elétricas num palco, mas que ultimamente tem se apresentado de maneira mais "light", sem interferir, nem diminuir a intensidade e força de suas performances. Angariado de última hora para a grade do festival, ele e sua banda se apresentaram para uma ainda tímida e pequena plateia, num show competente e agradável, meio bossa, meio rock, meio mangue beat, como é peculiar ao som feito no Recife, uma mistura que transforma-se num som próprio. China foi muito bem. A próxima atração é um dos símbolos da música de raiz de Pernambuco, Aurinha do Coco, com seu compasso bem marcado e letras sempre bem humoradas, Aurinha desfilou canções de seu novo cd, lançado este ano, com músicas mais antigas, todas recheadas de uma pernambucanidade impressionante, a marcação do som com os pés é de contagiar qualquer espectador, o figurino alegre das pastoras, com suas bonitas vozes, que a acompanham, embelezam mais ainda a apresentação. Infelizmente depois deste show, por causa de outros compromissos, não assisti ao restante, se bem que tinha uma tal de Fresno, que me poupe.

No domingo, cheguei com a apresentação do "Duo Gisbranco" já começada, duo composto pelas pianistas, Claudia Castelo Branco e Bianca Gismonti (filha de peixe, peixinho é), para um show ao ar livre, um palco enorme e a plateia em pé, foi estranho a inclusão delas neste evento, um show intimista requer um teatro fechado, necessita-se de mais concentração, tanto para o artista quanto para o espectador, mas as meninas não fizeram feio, apesar da enormidade do local e o contratempo da chegada dos pianos minutos antes do início, conforme elas disseram. Bastantes competentes e integradas a situação, elas desfilaram perólas do cancioneiro popular para piano ou não, explorando ao máximo a sonoridade do piano na fronteira entre a música popular e erudita, mesclando material étnico diverso e estruturas complexas, bem recebidas pelo, infelizmente, pequeno público, aliaram segurança ao interpretar com um bom repertório. Perto do final, chamaram ao palco o cantor e compositor Paraibano Chico César, que além de mostrar sua competência como músico, se mostra também bastante competente como produtor capilar, cada aparição do Chico vem com uma surpresa no seu visual, fez sucesso, com sua malemolência e ótimas músicas, Chico acompanhado de violão e das meninas, roubou a cena, animando a plateia, fechando o show com chave de ouro.

Luiz Gonzaga é um daqueles artistas completo na concepção da palavra, criador de um estilo musical, o Baião, isto por si só, já o definiria como um dos mais respeitáveis músicos deste País, mas como se isto não bastasse, ele era um ótimo interprete, dando personalidade as músicas que interpretava, transformando uma penca delas em verdadeiros clássicos da MPB, dificil não se emocionar ouvindo Luiz cantar. Citado entre onze de dez artistas nacionais como referência, nada mais justo que no dia de aniversário de seu nascimento a Feira Música Brasil o homenageasse, principalmente em seu Estado natal Pernambuco. Bastante querido e admirado pelos Pernambucanos, Luiz Gonzaga ainda desfruta, apesar da concorrência do terível forró estilizado, de uma certa popularidade, percebido no aumento da plateia para este show de homenagem a ele. Com uma banda formada por músicos oriundos do movimento Mangue Beat, o show consistia na apresentação de diversos artistas cantando com arranjos próprios músicas imortalizadas pelo Rei do Baião. Iniciou-se com a apresentação emocionada do sanfoneiro Camarão, contemporâneo de Luiz, e tão bom quanto ele, logo seguido por Siba, ex-Mestre Ambrósio, quando tocaram juntos, a pernambucanidade do Siba cai como uma luva em suas interpretações, ficando-se a impressão que para cantar forró e baião, precisa-se do sangue nordestino, constatado nas apresentações dos outros pernambucanos, Junio Barreto, Isaar (num bonito duo com Vitor Araújo), Lirinha com sua legião de fãs e Otto fizeram as apresentações mais elétricas, a alegria por estar ali no palco contagiou a já numerosa plateia que respondia com uma felicidade estampada no rosto e cantando e dançando a maioria das músicas. Marina de La Riva, competente cantora da nova geração, escorregou um pouco em sua apresentação, faltou-lhe a nordestinidade e sobrou cubanidade. Vocês podem se perguntar o que fazia Arnaldo Antunes, um artista totalmente comprometido com a vanguarda paulistana, em um show em homenagem a Luiz Gonzaga? nada a ver, correto? enganaram-se, quando um artista é verdadeiramente talentoso, é bom em qualquer lugar, se lembram da questão da nordestinidade, que precisa ter no sangue? pois é, o Arnaldo fez cair toda esta teoria e ele simplesmente arrasou, cantou com um alto astral, demonstrando uma felicidade por estar ali no palco que contagiou o público que o ovacionou, perfeito, um grande artista. Já o mesmo não se pode dizer de Seu Jorge, o músico que tem a essência do samba no sangue derrapou na interpretação do forró, mesmo assim, agradou a plateia. Para fechar a noite todos se reuniram no palco e com um alto astral pra lá das nuvens, comandados pelo elétrico Otto, cantaram o "Pagode Russo", acompanhados pela efusiante e feliz plateia.

Show digno do artista homenageado, que deve ter acompanhado tudo lá de cima com a mesma felicidade vista nos artistas e grande público. Noite histórica.

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