domingo, 12 de dezembro de 2010

Show Raul de Souza 55 anos - Teatro de Santa Isabel - 05/12/10


Comemorando seus 55 anos de estrada e 45 anos do lançamento de seu primeiro disco, Raul de Souza esbanjou vitalidade neste show realizado no também belo Teatro de Santa Isabel, como parte integrante da turnê nacional que passou pelas cidades de Curitiba (onde nasceu), São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro, acompanhado pelo grupo "Na Tocaia", um quarteto de primeira qualidade, onde desponta o excelente pianista Jeff Sabbag, os outros componentes, todos de grande qualidade artística, são, Glauco Sölter no baixo, Endrigo Bettega na bateria e Mário Conde na guitarra.

Não deixa de ser um privilégio que nossa cidade tenha sido contemplada com o show deste monstro sagrado do trombone, que já tocou com nomes como Sérgio Mendes, Airto Moreira, Flora Purim, Sarah Vaughan, Cal Tjader e Sonny Rollins, tocou e filmou com Roberto Carlos no filme "Em ritmo de aventura", o cara é realmente muito bom.

Com um repertório que abrangia todas as épocas de sua vasta carreira, incluindo sua primeira composição "A Vontade Mesmo" e belos momentos como "Lamento" de Pixiguinha e Benedito Lacerda e a maravilhosa versão para "Inútil Paisagem" do eterno Tom Jobim, um show digno dos grandes mestres. A vitalidade juvenil de Raul de Souza é invejável, a espontaneadade, a técnica e naturalidade com que ele toca é de impressionar, é a naturalidade de quem sabe o que faz, aliado a técnica de quem tem " a música como o real alimento da alma". Infelizmente, por motivos técnicos, ocorridos no transporte durante o voo, ele não pôde utilizar o instrumento que ele criou, o "Souzabone", teve que adaptar algumas músicas criadas especialmente para este instrumento, utilizando o trombone de vara, mas, como quem sabe sabe, não se notou muita diferença.

O quarteto que o acompanha, dando o molho necessário para o mestre, não podia estar áquem do seu acompanhante, instrumentistas afinadíssimos com um total entrosamento entre si e com o Raul, o som fluia como água em cachoeira.

Como se não bastasse o ótimo repertório apresentado, o melhor ficou para o bis, com um arranjo pra lá de balançado, eles fecharam a noite com "Bananeira" pepita musical de João Donato e Gilberto Gil, outros dois grandes mestres. Os nossos ouvidos agradeceram muito.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Show - Brad Mehldau - Theatro Municipal do Rio de Janeiro - 02/10/10




















Há quem diga que ir ao Rio de Janeiro e não visitar o Maracanã, é o mesmo que não ter ido ao Rio. É inquestionável o simbolismo deste monumento que rege a paixão pelo esporte mais popular do País, como é inegável que assistir a um FLA x FLU em decisão de campeonato é um espetáculo digno de emocionar até o mais gélido dos corações Russos, difícil é ficar impassível com tanta adrenalina.


Há quem ache (eu, incluso) que ir ao Rio de Janeiro e não ir ao Theatro Municipal, é o mesmo que não ter ido ao Rio, principalmente agora, depois de uma reforma estruturadora neste templo da cultura carioca, o que já era belo, tornou-se esplendoroso, tal o rebuscamento e o cuidado em recuperar pinturas antes "escondidas" pela ação do tempo, nuances afloraram o que tornou mais prazeiroso uma ida a este teatro, que na minha modesta opinião é o mais belo do Brasil. Quando morei no Rio, o Municipal era quase uma segunda casa, tal a frequência que ia lá, assisti espetáculos maravilhosos, Baryshinikov, Marcel Marceu, Tom Jobim, João Gilberto, Nelson Freire, Momix, Pilobolus, diversas óperas e muitos outros. Ir ao Rio e não visitar o Municipal é o mesmo que comer um sonho de valsa sem o seu delicioso recheio.



Este preâmbulo, foi para falar sobre o espetáculo a parte que foi visitar o Theatro Municipal no dia do show Piano Solo Improvisations do pianista Brad Mehldau. Como o próprio título diz, o show não teve um programa a ser seguido, Brad ia tocando, na maioria suas composições e ia improvisando em cima delas, e tudo sempre com uma qualidade sensacional, daí se entende o texto do release, "A personalidade musical de Mehldau forma uma dicotomia. Ele é, acima de tudo, um improvisador, e curte muito a surpresa e deslumbramento que podem ocorrer a partir de uma ideia musical espontânea expressa diretamente, em tempo real".

Surpresa e espontaneadade é o que não faltaram neste show, com uma técnica apuradíssima, Brad ia desfilando suas composições, sempre com uma bela competência. Se a sua mão esquerda não conseguia a mesma desenvoltura que um McCoy Tyner, era compensada pela agilidade demonstrada na mão direita, o que necessitava de alguns contorcionismos que juntamente com grunhidos lembravam outro excepcional pianista Keith Jarret, evidente, que em técnica musical, ainda existe uma certa distância entre eles.

Brad Mehldau tem uma vasta discografia, como líder, co-líder e participante, inclusive com diversas premiações, Grammy incluso, ele tem gravado e se apresentado constantemente desde o início dos anos 90, a maior parte das vezes com seu trio.

Após quase uma hora e meia de improvisos de qualidade e depois de calorosos aplausos, Brad volta ao palco no bis e toca Tom Jobim para o delírio da plateia que lotava o Municipal, infelizmente já no segundo bis, um fato lamentável, um espectador nas primeiras filas da plateia, insistia em deixar o seu celular ligado e o qual não parava de tocar, o mesmo teve o disparate de atender o telefone e sair falando, em um total desrespeito ao artista e público em geral, aí o Brad deu uma de João Gilberto e interrompeu a música e saiu do palco, não voltando mais, uma pena que isto acontecesse no mais belo teatro do País. Imaginem se este fato acontecesse aqui no Nordeste, o que será que os twiteiros do sul iriam falar?