domingo, 29 de novembro de 2009

Festival JAZZ PORTO 2009 - 27/11/09




O segundo dia do JAZZ PORTO 2009, começou com uma presença maior de público do que na noite anterior, não como merecia o festival, afinal shows gratuitos, em um local aprazível, era para ter mais gente, a noite mais uma vez estrelada, com aquela brisa agradável, começou com a apresentação do Trombonada (foto), grupo de música instrumental formado por um quinteto de trombones acompanhado por base harmônica e rítmica (guitarra, baixo, teclado e bateria) que surgiu em 2005, com a proposta de difundir a música para o trombone e popularizar o mesmo. O repertório apresentado foi totalmente voltado para a música de Pernambuco com influências e fusões com vários ritmos (rock, pop, jazz, jazz latino, funk, samba etc), o resultado deste caldeirão sonoro é uma música contagiante, vibrante, totalmente balançada e que agradou em cheio o público presente, a quantidade de cds comprados durante o show comprovava a aceitação do grupo. Cinco ótimos trombonistas que se revezavam nos solos e numa interação perfeita entre eles, alegria ao tocar juntos, esta foi a tônica da apresentação. Com os pé fincados na música pernambucana e os olhos e ouvidos voltados para outras culturas musicais, a Trombonada prova que é possível ser regional dialogando com o mundo. E como não poderia deixar de ser, finalizaram o show tocando um frevo que levantou a já animada e feliz plateia, com todo mundo continuando a dançar, bela apresentação.


A outra atração da noite foi o guitarrista argentino Danny Vincent, e como a rivalidade Brasil - Argentina é só no esporte, principalmente futebol, ele foi bem recebido, apesar de algumas gracinhas que pelo visto ele tirou de letra. Com um estilo mais elétrico e com nítidas e velada influência do extraordinário Carlos Santana, Danny começou o show já elétrico tentando animar a um pouco mais numerosa plateia, sem muito sucesso, alguns poucos já acima do teor etílico é que se dispuseram a acompanhá-lo em sua agitação. Com músicas próprias pouco conhecidas, apesar do seu virtuosismo e de ótimos acompanhantes, ele não conseguia empolgar a plateia, mesmo quando tocou Santana, foi preciso a entrada do peso pesado Big Joe Manfra para agitar a plateia, mas ele parecia não estar numa noite muito inspirada, deu o seu recado, tocou duas músicas, empolgou, e foi embora, para o seu tamanho foi uma apresentação relampago.


Quando a apresentação seguia morna, Danny com seus solos de guitarra, sem entusiasmar muito, ele caiu na besteira (besteira pra ele, claro) de chamar ao palco o Karl Dixon, é, aquele negão, opsss, afro decendente que arrasou na noite anterior, subiu ao palco com sua roupa branca e hoje com o mesmo chapéu estiloso só que na cor roxa e óclinhos escuro combinando com o chapéu, com um figurino deste e com sua malemolência, o resultado não poderia ser outro, foi só soltar a voz que a plateia caiu em delírio e literalmente não deixou o negão sair mais do palco, o coitado do Danny ficou em segundo plano, só dava Karl, quando ele atacou de "I Feel Good", a festa foi geral, ninguém ficou parado, engatou com "Happy Days" e a celebração foi total, se a noite anterior ficou na história, esta ultrapassou, o Karl comandando tudo, subiu todo mundo no palco a dançar, a galera embaixo extasiada com aquele som todo, Karl e companhia voltaram duas vezes ao palco, exigência do público, ninguém queria que terminasse o show, Porto de Galinhas viveu um momento único, uma noite mágica, quem presenciou se deleitou, aqueles que ficaram nos chiques resorts acumulando calorias, novamente perderam uma oportunidade de celebração da vida, através da música.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Festival JAZZ PORTO 2009 - 26/11/2009




Realizar um festival de Jazz em uma das mais badaladas e visitadas praias do litoral Pernambucano, em pleno começo do verão, hotéis lotados, resorts idem, turistas a dar no pau, noite estrelada, palco montado quase a beira mar, no meio do agito, brisa agradável, esta conjunção de fatores leva a crer que o público lotaria a praça para os shows gratuitos, certo? nada, errado, turista quer mesmo é passear durante o dia nas belas praias e a noite se enclausurar nos restaurantes chiques dos chiques resorts e acumular calorias. Isto, é o que pode-se deduzir do reduzido público que compareceu ao 1º dia do 3º Festival de Jazz e Blues de Porto de Galinhas, aberto pelo veterano grupo de Jazz Pernambucano Contrabanda (foto), que vem se destacando no cenário musical recifense desde o seu início em 1987, apresentando em seu trabalho uma mistura de clássicos do jazz, bossa-nova, MPB e canções originais.


Em seu show, neste JAZZ PORTO 2009, a "Contrabanda" utilizou como sempre a linguagem jazzística, imprimindo um forte conteúdo emocional que, aliado à constante improvisação, levou o pequeno público a aventuras musicais inusitadas e excitantes. Comandados pelo excelente maestro e saxofonista Edson Rodrigues, figura das mais expressivas no meio musical do Recife e com ajuda dos ótimos integrantes do grupo, desfilaram desde composições próprias até standards dos mestres do jazz como Duke Ellington, foi uma apresentação bastante competente que agradou em cheio a plateia ali presente e como não poderia deixar de ser, como um bom conjunto pernambucano, encerrou sua apresentação com um frevo que botou todo mundo para dançar.

A outra atração da noite foi o blueseiro e gaitista Flávio Guimarães, já reconhecido nacionalmente e com uma carreira consolidada, um dos fundadores do ótimo "Blues Etílico", Flávio não decepcionou, com uma banda enxuta, baixo, guitarra e bateria, desde a primeira música ele ganhou a plateia, seu show, calcado num repertório do blues tradicional, mostrou todo seu virtuosismo com suas inúmeras gaitas, quando a levada era mais para o blues elétrico a empolgação era geral, principalmente quando convidou a subir ao palco os integrantes da Contrabanda o saxofonista Edson Rodrigues e o trompetista Fábinho Costa que simplesmente arrasaram com seus solos de improviso arrancando aplausos entusiasmados do infelizmente pequeno público, a satisfação estampada no rosto do Flávio, demonstrava que ele estava curtindo muito estar ali tocando em Porto de Galinhas.


Logo após subiu ao palco, como convidada, a cantora e também blueseira Taryn Szpilman, com sua figura exótica, encantou a todos com sua performance no palco, sua bela e envolvente voz, moldada para o estilo blues, agitou a galera, principalmente a masculina, pena que ela cantou só uma música.

A apresentação continuava num estilo informal, pequeno público junto ao palco, transformava aquela apresentação quase num encontro de amigos, sem formalidade nenhuma, todos totalmente leves, soltos e contentes a música fluia agradando aos ouvidos de todos. Aí o Flávio chama para o palco um tal de Karl Dixon, levanta da mesa vizinha a minha no Budega Bar, um negão, opsss, afro decendente, que eu jurava que era mais um pai de santo do que um músico, todo vestido de branco, corpo atlético, um chápeu estiloso preto e uns óclinhos escuros a la Lennon, sobe ao palco com a malemolência dos baianos, apesar de ser de Nova York, amigos, quando este negão soltou a voz, não teve mais pra ninguém, acho que o cara era espírita, uma hora via o James Brown, outra o Wilson Picket, enfim, o cara simplesmente arrasou, botou todo mundo pra dançar, pular, cantar junto, transformando a Praça das piscinas naturais, numa verdadeira celebração da boa música. Para terminar, subiram todos ao palco em uma Jam Session para ficar na história daquele lugar, um transe total, um momento único que aqueles que acumulavam calorias nos chiques restaurantes perderam, pior pra eles.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

LP e CD Minas - Milton Nascimento


Minas, sempre foi um berço muito pródigo em artistas, de tempos em tempos surgem levas deles que ganham projeção nacional, um dos maiores exemplos são o pessoal do Clube da Esquina, grupo de músicos que apareceram no final dos anos 60 e início dos anos 70, para dar uma renovada na MPB, nada mais justo que o maior expoente deste grupo lançasse um disco, homenageando no seu título o seu Estado, mesmo que a intenção fosse a junção das primeiras letras de seu nome, nada mais amplo para exprimir a grandiosidade deste disco. Muito se fala do "Clube da Esquina" disco seminal e um verdadeiro divisor de águas na sonolenta MPB da época, mas na minha modesta opinião, o disco mais completo de Milton Nascimento é este, se no Clube ele plantou sementes da evolução de sua música, com "Minas" ele bateu a porta da perfeição, numa demonstração da capacidade dele e de sua turma em se aperfeiçoar, se aprimorar, nenhum disco, depois deste, nem os de nosso maestro maior Tom Jobim, nestes últimos trinta e cinco anos, conseguiram uma simbiose tão perfeita entre músicos, composição, arranjo, letras, voz, resultando numa força de interpretação e sensibilidade de deixar atônitos a quem o escuta.

O disco começa de maneira surpreendente em sua faixa título com um coral de crianças e um vocalise de Milton e o violão de Nadim Othemicson, é de quase fazer você chorar de tão bonito. A incerteza do início de carreira nos versos da excelente "Travessia", "Solto a voz nas estradas, já não quero parar, meu caminho é de pedras, como posso sonhar......vou fechar o meu pranto, vou querer me matar", deu lugar a certeza de que a travessia deu certo, nos versos de "Fé cega, faca amolada", "agora não pergunto mais aonde vai a estrada, agora não espero mais aquela madrugada" cantada em duo com o ainda pouco conhecido integrante do Clube da Esquina Beto Guedes e pontuada pelo sax de Nivaldo Ornelas, brilha que nem uma faca amolada.

"Beijo partido" de Toninho Horta, outro integrante do Clube, talvez seja a música onde há o mais perfeito casamento entre a voz de Milton e arranjo, muitos cantores e cantoras tentaram cantar esta música, mas nenhum conseguiu chegar perto desta belíssima interpretação, com seu andamento mais lento, consegue-se sentir todas suas nuances, mais uma vez brilha o sax de Nivaldo Ornelas para complementar a voz de Milton. "Saudades dos aviões da Panair" é uma daquelas músicas com uma força que ao escutá-la, dá uma saudade danada de alguma coisa, ela é tão envolvente, tão agradável que me lembro que ao ouvi-la, sentia uma saudade dos aviões da Panair, mesmo sem nunca ter voado neles, aliás nem sabia de sua existência, ainda dizem que não há magia na música.

Segundo o próprio Milton, o circo sempre lhe fascinou, apesar de uma arte sinônimo do popular, a refinada "Gran Circo" é a homenagem de Milton aos mestres dos picadeiros, é engraçado como uma música bastante complexa, antítese da simplicidade do popular, possa tão bem expressar aquela arte, poucos conseguiram, Chico Buarque e Edu Lobo são um exemplo. A música seguinte "Ponta de areia" é carregada de mineirice, o coral ao fundo nos remete a chegada e partida de um trem, ouvi-la é como passear num daqueles antigos vagões que cruzam matas da ferrovia entre Ouro Preto e Mariana, uma saborosa viagem aos sons da terra do "tutu", mais uma vez o excelente Nivaldo Ornelas arrasa com seu sax.

Com um ótimo time de músicos, quase todos mineiros, que o acompanha desde os tempos do Clube da Esquina, poderia se ter um resultado satisfatório na difícil "Trastevere" onde acordes atonais da orquestração de Wagner Tiso dão beleza a excelente letra de Ronaldo Bastos, logo engatada na vibrante "Idolatrada" bem mais fluída, num verdadeiro contraponto a música anterior. "Leila (Venha ser feliz)" é uma homenagem instrumental, praticamente só com vocais, a uma das mulheres brasileiras mais fascinantes que se tem notícias, Leila Diniz, um verdadeiro furacão que revolucionou o sentido de ser mulher neste País, isso em plena ditadura militar, qualquer uma, hoje em dia, é fichinha na frente dela, a justa homenagem de Milton está a altura da homenageada, uma música vibrante, alegre feliz, pra frente, como Leila.

Uma parceria entre Milton e Caetano Veloso é sinal de qualidade musical, como se vê em "Paula e Bebeto", ninguém consegue falar do amor com tanta inteligência quanto Caetano, talvez só Chico, temos a certeza disto com esta música, os seus versos ampliam o sentido do relacionamento entre duas pessoas, sejam elas quem forem, "qualquer maneira de amor vale amar, qualquer maneira de amor valerá", é isso aí. Qual músico teria coragem de terminar um disco com uma melodia lenta, principalmente após uma, belamente acelerada e totalmente assobiável? só Milton com "Simples" uma simples canção com arranjos de cordas e mais uma vez com uma força interpretativa de arrepiar, pra fechar com chave de ouro.

No cd há dois "bonus track", uma irreconhecível "Norwegian Wood" dos Beatles, com um arranjo mais rebuscado, cantada em duo novamente com Beto Guedes e mais uma vez o sax de Nivaldo Ornelas se destacando e "Caso você queira saber" também em duo com Beto Guedes.

A belíssima capa, assinada por Cafi, Noguchi e Ronaldo Bastos, com um papel laminado diferenciado era um destaque a mais deste excepcional disco, prova da maturidade de um músico que canta, nos encanta e nos emociona até hoje.

Ano de Lançamento: 1975

Ano de aquisição do LP: 1975

Ano de aquisição do CD:07/1998

Nota: Uma das maiores lembranças que tenho deste disco, remete a uma notícia que vi no programa "Sábado Som" com apresentação do Nelson Mota que já comentei aqui no blog, a notícia lida por ele, dizia que o Milton estava totalmente falido antes do lançamento deste disco, por problemas com seu empresário à época, felizmente não seguiu a linha de Simonal. Fiquei bastante sensibilizado com a notícia e fui correndo comprar o LP para assim poder ajudá-lo, estava começando a descobrir a grandeza do Milton. Não sei se fui responsável pela recuperação financeira do Milton, só sei que adquiri um excepcional disco, isto, devo ao Nelson.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

LP e CD Novo Aeon - Raul Seixas


Ainda sob a égide da Sociedade Alternativa, Raul Seixas lança seu terceiro álbum solo, já com projeção nacional, conseguida pela música "Ouro de Tolo" e pelo disco anterior "Gita", com isso a espera e cobrança com o novo lançamento aumentaram e Raulzito não decepcionou. Na época a MPB passava por uma fase ruim, poucos lançamentos expressivos, salvavam-se Ney Matogrosso e Milton Nascimento, o pop rock nacional ainda não havia decolado, engatinhava tropeçando nas suas próprias fraldas, coube a Rita Lee e o próprio Raul com suas músicas darem alento para que saíssem do fraldário, foram fundamentais para isso.

Continuando sua parceria com o hoje místico e escritor platinado Paulo Coelho, que nos brindou com grandes pérolas do nosso cancioneiro, inventivas que oxigenaram a letrada letargia por que passavam os compositores nacionais, principalmente no pop rock, é impensável acreditar que ele tenha ficado assustadoramente conservador, o dinheiro fala mais alto.

O disco começa com a ótima "Tente outra vez" que virou nos dias de hoje "hino de tudo", só que na época não foi assim, passou meio que despercebida, provando que Raul estava a frente de seu tempo, a letra é um primor, merece o sucesso que tem hoje. "O Diabo é o pai do rock" já diria ele em "Rock do Diabo", alguém duvida? um rock meio anos sessenta, em plena ditadura e conservadorismo falar abertamente sobre o diabo, haja coragem. Raul era daqueles que batiam e assopravam, é o que se vê logo após na açucarada balada "A Maçã" uma bela e rasgada canção de amor, haja ecletismo, e novamente a letra se sobressai "Amor só dura em liberdade, o ciúme é só vaidade" este é o Raul romântico, só que logo depois ele se considera egoísta em "Eu sou egoísta" com direito a referência a Caetano Veloso. E tome mistura de baião e embolada em "Caminhos" quando isto era impensável.

É em "Tu és o MDC da minha vida" que a dupla mostra toda a verve e visão da sociedade da época, espécie de continuação de "Ouro de Tolo" só que num ritmo mais balançado, talvez o prenúcio do tecno brega, eles descrevem de maneira perspicaz acontecimentos da vida urbana citando personagens polêmicos como o o ultra conservador e radical apresentador de TV Flávio Cavalcanti, mostrando mais uma vez que estava se lixando com qualquer tipo de patrulhamento ideológico, afinal para os descolados da época era uma heresia falar deste personagem, quem conseguiria rimar bode com Pink Floyd? só Raul mesmo e tudo isto numa levada brega, demais.

Outra música que causou estranhesa foi "É fim do mês" com sua diversidade de estilos musicais, mais uma vez Raul mostra sua qualidade como letrista e cronista do dia a dia, suas letras merecem um estudo sociológico. Fechando o disco a música que lhe dá título começando com sons de uma toada, para logo cair num rock em mais um manifesto da sociedade alternativa.

Célebre por suas frases feitas e polêmicas, cito apenas duas que exprimem muito bem a faceta de Raul e mostram porque ele foi taxado de Maluco Beleza.


"A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal"

"O sonho do careta é a realidade do maluco"

Alguém aí, pode contradizê-lo?


Ano de lançamento: 1975
Ano de aquisição do LP: 1975
Ano de aquisição do CD: 04/2000

domingo, 15 de novembro de 2009

LP Milagre dos Peixes Ao Vivo - Milton Nascimento

Gravado ao vivo no fabuloso Theatro Municipal de São Paulo, nos dias 7 e 8 de maio de 1974, durante a turnê de lançamento do disco de estúdio "Milagre dos Peixes", acompanhado do excepcional "Som Imaginário" grupo seminal da música instrumental brasileira, composto apenas de feras, como Luis Alves, Robertinho, Toninho Horta, Nivaldo Ornelas e Wagner Tiso, que até hoje continuam sendo o supra sumo do instrumental feito no Brasil, além de Orquestra que contava nos seus quadros com o jovem e até então desconhecido Mauro Senise, hoje, um dos grandes nomes dos sopros no País. Como se não bastasse, as orquestrações foram fitas por Wagner Tiso, Paulo Moura e Radamés Gnatalli que considero juntamente com Heitor Villa lobos e Tom Jobim os três maiores nomes da Música Brasileira, coube a regência ao espetacular Paulo Moura.

Com a excepcionalidade destes músicos, o resultado só poderia ser um álbum duplo primoroso, Milton Nascimento já desfrutava de um certo prestígio, proveniente de um trabalho sofisticado e de alta qualidade, composições refinadas e dono de uma voz cristalina, considerada uma das mais perfeitas deste País. O disco começa com uma belíssima suite instrumental "A Matança do Porco/Xá-Mate" interpretada pelo Som Imaginário, oriunda de um dos clássicos álbuns do grupo, eles plantaram a semente da música instrumental brasileira que é feita até hoje. O disco segue com músicas que viraram clássicos e são tocadas e estudadas hoje em dia, como composições de um estilo que primam pelo bom gosto, "Milagre dos Peixes", "Outubro", Sacramento". A interpretação da música que é sinônimo de positividade "Nada será como antes" parece transparecer o alto astral do show, Milton alegre, solto e de bem com a vida e com a carreira, torna a música mais bonita do que é. Ataca de bossa nova em "Sabe você" de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, com sotaque mineiro num arranjo cheio de nuances, mostrando uma nova faceta da bossa.

Arranjos ainda mais sofisticados para as já sofisticadas músicas, fazem este álbum diferenciado, Milton optou por dar um tratamento diferenciado as suas composições, sem distorcê-las, privilegiando a parte instrumental, dando asas ao maravilhoso time que lhe acompanhava, "Viola Violar" ganhou um solo de sax que só a abrilhantou, o show vai desfilando sucessos atrás de sucessos, "Cais", "Clube da esquina", "San Vicente". Com um arranjo magistral de Radamés Gnatalli, "Tema dos Deuses" só no vocalise, ganha a erudição que precisava, tornando-a quase uma peça clássica, perfeita. O show finaliza como começou, privilegiando o lado instrumental e vigoroso de "Pablo" levando ao delírio a plateia.

Foram duas noites mágicas, como pode ser verificado pela audição de um álbum que se tornou referência de qualidade musical. Milton, um músico cantor, sempre primou pelo requinte no seu trabalho musical, nos brindando com composições elaboradas que elevaram a MPB ao status de música de primeira grandeza e isto ele estava ainda nos princípios da carreira, muita coisa boa ainda estava por vim, este show já adiantava a boa fase que ele se encontrava, que pôde ser ratificada com o próximo e extraordinário LP "MINAS"

Ano de lançamento: 1974
Ano de aquisição:1975

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Recife Jazz Festival 2009 - 08/11/09


Em seu terceiro e último dia, o Recife Jazz Festival, continuou com o intercâmbio cultural, principalmente com os franceses. Chegando atrasado, consegui assistir o último número da apresentação do clarinetista francês Jean Charles Richard, pela recepção calorosa da já numerosa plateia, acho que perdi um belo show.

A próxima atração foi um hermano Latino-americano, vindo do País Andino, o Chile, o baterista Nacho Mena e grupo, que com um português sem sotaques, segundo ele, aprendido quando morou em terras brasileiras, mostrou que não só incorporou o sotaque, mas também o ritmo e o balanço brasileiros que estão presentes em sua música, com um time de primeira linha, onde se destacava o saxofonista também chileno Paulo Guimarães, o grupo desenvolvia temas bem próximos a nós, com um balanço que lembrava o irrepreensível Milton Banana, conquistou logo a plateia com um som que fluia muito bem aos ouvidos, transmitindo toda euforia e alegria por estar ali se apresentando, um show bastante competente.

O duo de guitarras Bahiambuco, totalmente desconhecido, pelo menos por mim e acho que a grande maioria, foi a grata surpresa do dia, formado, como o próprio nome faz supor, por um bahiano e um pernambucano, que neste caso deixaram a rivalidade de lado. A primeira impressão foi de que ali estaria se apresentando uma destas horrendas duplas sertanejas, mas, como as aparências enganam, quando os dois soltaram os primeiros acordes em suas guitarras elétricas, percebeu-se que dali, sairia frutos muito bons, e a cada música a percepção ia se concretizando, com um domínio técnico excelente, uma sonoridade ímpar e um entrosamento que ia além das palhetas, eles iam desfilando composições próprias que foram conquistando a plateia, poderíamos dizer que eles beberam da fonte dos ótimos Jim Hall e Lenny Gordin, que poderiam fazer uma dupla memorável. Ao final com o público totalmente na mão, após vários improvisos, eles fecharam o show tocando um frevo, resultado, foi o único show que teve um rápido bis, grata surpresa.

Para fechar o festival, outro músico francês também clarinetista, pra lá de elétrico, Emile Parisien, num estilo FREE, com uma performance de palco que as vezes lembrava uma gazela se preparando para copular, Emile tocou um fusion jazz acelerado, mais parecendo um daqueles cabeludos guitarristas de heavy metal, tal sua performance. Tocar Free Jazz é para poucos, pois seus acordes atonais podem descambar para o irritante, mas Emile e grupo conseguiram segurar a onda, mostrando que a ousadia da produção em terminar um festival com uma música, por assim dizer, difícil, foi bem aceita pela ainda numerosa plateia, valeu a pena.

O Recife Jazz Festival 2009, com seu intercâmbio e diversidade cultural, e apoiado numa excelente escolha das atrações, mostrou mais uma vez que o formato está acertadíssimo, vida longa para o festival, os nossos ouvidos agradecem.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Recife Jazz Festival 2009 - 07/11/09


Recife tem sido generoso com os amantes da música, a quantidade de atrações que se espalham pela cidade principalmente nos finais de semana são incontáveis, nem sempre foi assim, houve épocas, há alguns anos atrás, que a vinda de uma atração nacional, era motivo de festas e uma atração internacional, esta nem pensar, só aportavam por aqui as já decadentes, que faziam show em qualquer lugar, fazia-se pouca música em Recife, como resultado, ouvia-se pouca música. Muito desta mudança deve-se ao movimento mangue beat, a agitação cultural promovida pelos caranguejos com cerébro contaminou a todos, independente de estilo.

Tem-se como resultado deste contínuo crescimento cultural, festivais de todos os estilos e sempre com sucesso de crítica e público. Em seu sexto ano o "Recife Jazz Festival" nos brindou com música da melhor qualidade, aproveitando o mote do ano França-Brasil, o festival promoveu um intercâmbio com artistas franceses, se não muito conhecidos, mas de ótima qualidade. Infelizmente não pude comparecer ao primeiro dia no Pátio de São Pedro, fui só a partir do segundo, aí já instalado, como nos anos anteriores, na Torre Malakof. A apresentação do duo francês de piano/bateria com Pierre Alain Goualch e Remi Vignolo foi recheada de improvisos só possível pelo entrosamento dos dois ótimos músicos, o que poderia soar estranho com um duo não muito comum, soou bem agradável pelas composições que privilegiavam com maestria cada instrumento, um espetáculo que bem aceito pela plateia. Outra surpresa foi o ótimo trio Finlandês Jaska Lukkakurian Trio, desconhecido por mim e pelo grande público, afinal, pensava que na Finlândia só tinha gelo e frio. O baterista Jaska Lukkakurian, com sua batida rápida e vigorosa é uma mistura de Gene Krupa, Art Blakey e Ginger Baker, não com a mesma qualidade dos mestres, mas chega próximo, fez uma apresentação competente, com belas canções, além da bateria, baixo e sax completavam o trio, ótimos músicos que desenvolviam composições de estilo tradicionais mostrando que o jazz não precisa sempre de inovações, bastante bem recebido pela calorosa plateia. Fechando a noite o grupo Uruguaio El Toque de Candombe, que apresentaria um espetáculo com o "Candombe" uma espécie de ritmo carnavalesco uruguaio, se o carnaval de lá for o reflexo deste ritmo, é melhor ficarem por aqui que é bem mais contagiante, o grupo fez uma apresentação mediana, é meio fusion, meio tradicional, nada de novo, deve ser estranho este carnaval do Uruguai.

domingo, 8 de novembro de 2009

LP A Arte de Caetano Veloso


Gerald Thomas certa vez, disse que na área cultural, só existiam dois gênios na concepção da palavra, um era o dramaturgo e escritor Irlandês, criador do teatro do absurdo, Samuel Beckett, o outro era o nosso compositor, escritor, cantor Caetano Veloso. Exageros a parte, a verdade é que analisando o conjunto de sua obra, podemos afirmar que Caetano está sim, num patamar superior em relação a grande maioria dos artistas nacionais e internacionais, evidente que não está na companhia de um só, mas está acima de muita gente.

Esta coletânea inicialmente lançada em 1975, se mantêm até hoje em relançamentos atualizados, provando que deu certo desde o início. Como já falei aqui em outros posts, naquela época era muito difícil encontrar os discos de carreira dos artistas, mesmo os consagrados, raramente se mantinham em catálogo, tínhamos que se contentar com as coletâneas.

Com um repertório muito bem escolhido, que abrangia desde o início da carreira, todas as mais importantes músicas estão presentes. Caetano já surgiu no mercado fonográfico de maneira diferenciada, composições inspiradíssimas, este baiano de Santo Amaro da Purificação tornava sua letras cheias de referências, citações e metáforas, num verdadeiro jogo de entendimento, a cada composição lançada, abria-se discussões salutares sobre ela, em "Alegria, Alegria" por diversos anos não consegui entender os versos "O sol nas bancas de revista, me enchem de alegria e preguiça quem lê tanta notícia, eu vou..." principalmente porque na mesma música ele fazia outras citações ao astro-rei, só que nessa, ele se referia a um jornal/revista "O SOL" que fez muito sucesso na época entre a turma descolada do Rio e São Paulo, que terminou sendo fechado pela ditadura, coisa realmente de gênio, para entender Caetano é ncessário estar antenado. Associado a isto a vocação para polemizar e nisto ele é mestre.

"Tropicália", "Super Bacana", "Soy Loco por ti América" e "Alegria, Alegria" refletem a excelente fase inicial de Caetano, um compositor que instigava, além da busca por novos sons. Outro destaque é a faixa denominada "Ambiente de festival" onde Caetano profere um irado discurso, no festival da Record, contra o público que vaiava quando ele apresentava a música "Proibido proibir", sobrou até para os jurados, a raiva era explícita, mesmo em época de contestação é impressionante como um artista jovem enfrenta um público desta maneira, poucos teriam a coragem que Caetano teve.

Está presente "London, London" música em inglês que muitos anos depois viria a ser um mega sucesso com o RPM, há também esquisitices como "Júlia/Moreno", mas como dizem, gênio pode tudo. Para mim este disco serviu como uma descoberta da obra de Caetano, que considero um gênio, não com a dimensão do Gerald.

Ano de lançamento: 1975
Ano de aquisição: 1975

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

FLIPORTO - Fernanda Takai

Acontece no aprazível balneário de Porto de Galinhas no litoral sul de Pernambuco, uma das praias mais visitadas por turistas no Brasil, a 5ª FLIPORTO - Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas. Em meio a palestras, lançamento de livros, discussões literárias, presenças ilustres como o escritor Uruguaio Eduardo Galeano, uma pausa na escrita e na leitura para também dar a vez a boa música, num show ao ar livre, com palco montado quase a beira mar e sob o auspício luxuoso e iluminado da lua cheia, a docinho de coco, a meiguinha, a bonequinha de porcelana Fernanda Takai de voz aveludada tanto quando canta quanto fala, desfilou o seu repertório solo, quase cool, num show intimista, devido a proximidade da pequena plateia ali presente.

Acompanhada apenas de violão, baixo e bateria, Fernanda cantou diversos estilos musicais com levada bossa novista, dando uma nova roupagem a músicas de Eurythimcs e Jorge Benjor. Um momento que emocionou a todos foi a homenagem que ela fez a Michael Jackson, cantando um dos seus primeiros sucessos "Ben" que ela deixou claro que já cantava nos seus shows muito antes da morte do artista. Outro destaque foram as duas músicas do repertório do Rei, que foram acompanhadas pela plateia, é impressionante o fascínio que as músicas de Roberto Carlos exercem sobre qualquer plateia, seja em velhos, jovens, em Porto, no Irajá ou em Ceilândia, todos cantam juntos.

Ela passou um "pito" em alguns da plateia que insistiam em gritar "Toca Pato Fu" em alusão ao "Toca Raul" ouvido em quase todos os shows de qualquer artista, só que Pato Fu não teve vez. Fernanda tem uma voz agradável, sem muita extensão, e ela sabendo disso escolhe muito bem o seu repertório, não é a toa que ela é considerada a sucessora da ótima Nara Leão, de cujo repertório ela tocou várias músicas, oriundas do seu cd em homenagem a ela, que compensava sua pouca extensão vocal com uma musicalidade inigualável, o mesmo acontecendo com a Takai.

Assistir a um show ao ar livre no "Na rua Bistrô" tomando uma ótima caipifruta de lima da pérsia, ouvindo "Insensatez" na voz de Fernanda Takai, convenhamos, é um privilégio.




QUEDA DO MURO - 20 ANOS


Comemora-se esta semana, 20 anos da passagem do último acontecimento relevante da história social mundial, do século passado, a queda do muro de Berlim. Uma barreira fruto da insanidade psíquica de alguns poucos que interferiram na vida de muitos, ceifando-as da convivência salutar entre os povos.

  • Nunca consegui entender muito o porque deste muro, nem socialmente nem fisicamente, quando tive a oportunidade de ir a Berlim um ano após a queda do muro, se fazia imperioso visitar tal aberração para poder tentar entender tudo aquilo.

Como estava de férias, o horário passa ao largo, cheguei ao Portão de Brandeburgo, um pouco antes da hora do almoço, era outubro e nesse dia fazia um calor insuportável, nada como matar a sede com uma genuina cerveja alemã, só que os vendedores insistiam em vender a cerveja na temperatura ambiente e eu com meu inglês macarrônico insistia em pedir uma cerveja estupidamente gelada, quase que provoquei um incidente diplomático e terminei me contentando em tomar quente a genuina cerveja alemã, horrível. Me senti no Brasil quando vi diversos camelôs tentando vender pedaços do muro, convenhamos, um ano depois, ainda existia gente que comprava, imagina o lucro que essa turma teve logo após a queda.

Saímos eu, minha esposa (na época, apenas namorada) e mais duas amigas no périplo pelas ruas da antiga Berlim Oriental, atrás do verdadeiro muro para que pudessemos arrancar um pedaço para levarmos como recordação. Seguindo orientações começamos a andar pela cidade e em vez de aproximarmos do muro, cada vez nos afastávamos mais dele, pois diziam que mais na frente era mais fácil de acessá-lo, com a determinação de um Leopardo atrás de sua caça, seguiamos nós pelas ruas de Berlim Oriental atrás do verdadeiro muro, só que a cada esquina uma nova descoberta, a prova de que turista só conhece o lugar quando passeia a pé, a cidade se mostrava cada vez mais pitoresca, um verdadeiro contraste com a parte Ocidental, fiquei a tergiversar sobre o quanto surpreendente foi para aquelas pessoas transpor aquele muro, a descoberta de um novo mundo, tão perto e tão longe.

A cidade de construções muito antigas, mal conservadas e uma arquitetura praticamente igual, quem não conhecesse, com certeza se atrapalharia naqueles prédios semelhantes, apenas os monumentos históricos eram de uma beleza ímpar, os carros então, eram de dar pena de tão velhos.


Me lembro que entrei em uma loja de discos que praticamente ainda só vendia cds clássicos das ótimas Orquestras do Leste Europeu, eram muitas variedades, fiquei meio abestalhado com tanta opção, mas a pressão das meninas era grande e deixei passar a oportunidade, mais a frente encontramos a praça "Berlim Alexanderplatz" que era o reflexo dos padões Orientais, uma praça enorme, muito grande, toda de lajota, sem nenhuma árvore, com apenas pouquíssimos bancos e uma estátua de Marx e Engels no meio da praça, o nada no meio do nada. Ao pisar na praça, me lembrei logo do extraordinário filme de mesmo nome da praça, com 10 horas de duração, do magnífico Fassbinder e ali andando por aquelas frias lajotas, consegui entender melhor o sentido do filme que fala justamente da época imediatamente anterior ao surgimento do Nazismo.

Só que já quase anoitecendo, em pleno centrão da Berlim Oriental, com quase seis horas initerruptas andando a pé, eis que finalmente, próximo a estação central de trem, localizamos o verdadeiro muro, o local era esquisito, a noite já caía, mas aquele esforço não poderia ser em vão, tínhamos que chegar bem próximo ao muro, tocá-lo e se possível trazer-lhe um pedaço, ao chegarmos lá, o sentido de perigo aumentou, éramos só nós ali próximo ao muro, nenhum alemão por perto, como se eles quisessem evitar aquela aberração para sempre, eis que para minha surpresa, descobri que historicamente, meus conhecimentos em relação ao muro eram mínimos, pois verifiquei que na verdade eram dois muros que separavam as duas Berlins, havendo um espaço entre eles que mesmo a noite com todo o perigo me atrevi a adentrá-lo, confesso que a sensação que senti foi terrívelmente desconfortante, como se os fantasmas que ali habitam não me deixassem ver a vergonha que era aquilo, nunca a sensação de perigo e medo foram tão afloradas em mim, cheguei a ir até o meio, mas voltei correndo.


Com a satisfação do dever cumprido e ainda de ter conhecido uma cidade totalmente desconhecida, vimos que aquelas quase sete horas batendo pernas, valeram a pena, pegamos um trem de volta e fomos direto tomar um chopp bem gelado, na fascinante, efervecente e alegre noite da Berlim Ocidental.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

LP e CD Physical Graffiti - Led Zeppelin







Para a postagem de nº 100, um disco de cotação também 100. Há discos que entram para história por algum motivo, uma bela capa ou a inspiração de seus músicos ou algumas músicas geniais ou talvez por uma polêmica. Eu diria que este disco do Led, tem pelo menos 20 motivos para entrar na história, vejamos quais, uma excelente capa, quatro músicos geniais e 15 músicas inspiradíssimas.

Falar do Led Zeppelin, um dos grupos mais consistentes do rock mundial, que serviu de inspiração para o surgimento de zilhões de conjuntos mundo a fora, chega a ser banal, assim como Beatles e Rolling Stones, qualquer adjetivo ou superlativo é puro pleonasmo. Apesar de sua curta discografia, já que a banda se desfez após a prematura morte do melhor baterista da história do rock em todos os tempos, John Bonham (seria muito difícil encontrar um a altura, em reuniões comemorativas o Led toca com dois bateristas ao mesmo tempo e não conseguem a mesma sonoridade), nunca um conjunto de discos teve tanta unidade e tanta qualidade quanto os do Led.


O primeiro LP, deste álbum duplo, começa de maneira enérgica com "Custard Pie" levando o ouvinte a entrar no clima, seu riff na introdução nos leva a crer que Jimmy e Keith foram os melhores neste departamento, transformou-se num clássico, aliás todas as músicas do LP 1 se tornaram clássicas, "Kashimir" a maior de todas, com seus toques orientais, o teclado pegajoso e inconfundível e segurando tudo a batera do Bonham (como o cara era bom). "The Rover", "Houses of the Holy" são puro peso, a guitarra, a voz, o baixo e a bateria num uníssono nunca vistos em um grupo de rock.

É impressionante como o Led consegue colocar em um caldeirão, sons mais dispares como blues, rockabily, jazz, folk americano, folk com raízes celtas e liquidificá-los, resultando no mais puro rock'n'roll, a dupla Page & Plant conseguiram a simbiose perfeita na arte musical, tendo como escudeiros John Paul Jones e John Bonham, elevaram o rock a um patamar acima do conceito já estabelecido até então.

O LP 2, mais acústico, menos pesado, mas, não menos excelente, começa com sons orientais que remetem a um passado distante e a uma cultura desconhecida, numa sensação mágica de sonho, para logo em seguida, através de Bonham nos trazer de volta a realidade, ao presente e ao futuro, que a música do Led tão bem representava. Na instrumental "Bron-Yr-Aur" Jimmy Page prova que na mão dele, solos de violão podem ser equiparados aos de guitarra. Se no LP1 eles pegavam os diversos estilos musicais e transformavam no mais autêntico rock, neste, eles retiram do caldeirão cada estilo, e numa versão própria mostram como deve ser tocado cada estilo, com resultados excelentes, o rockabily "Boogie with Stu" é o exemplo máximo, "Black Country Woman" um blues como só Janis Joplin saberia cantar, taí um encontro que seria interessante, Janis e Led tudo a ver.

Outra qualidade a parte deste álbum é sua excelente capa que se transformou junto com a do "Abbey Road" dos Beatles como as capas mais marcantes da história do Rock, sua arte grafica permitia que tivessemos pelo menos quatro diferentes capas, devido as janelas dos apartamentos do prédio serem vazadas, permitindo que ao trocarmos as capas internas aparecessem fotos do cotidiano dos integrantes do Led, como de pessoas comuns (conforme fotos), artificio este que infelizmente foi enterrado com o advento do CD.

Acreditem ou não, mas este ainda não é o melhor disco do grupo, é a pura verdade.

Ano de lançamento: 1975
Ano de aquisição LP: 1975
Ano de aquisição CD: 01/1999

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

LP Venus and Mars - Paul McCartney & Wings


Dos quatro, Paul McCartney foi o que mais manteve em carreira solo, a sonoridade dos tempos dos Beatles, por ser um dos principais compositores dos Fab Four e talvez por não ter o temperamento contestador e inovador de John Lennon, ele tenha optado por continuar um trabalho que deu muito certo.

Este é o seu sexto álbum após a separação dos Beatles, muito do que se ouvia na época dos rapazes de Liverpool, ainda se ouve aqui, a linha melódica permanece a mesma, é claro que Paul como um grande melodista que é consegue sua identidade própria nas músicas.

Repleto de baladas elegantérrimas, como só ele mesmo é capaz de fazer, o disco é um prazer aos ouvidos, Paul em plena forma, consegue dar uma sonoridade toda especial as sua músicas, nunca descambando para o vulgar ou piegas, da introdução "Venus and Mars", passando por sucessos como "Rock Show" e "Medicine Jar" o conceito musical de McCartney sempre nas alturas.

O rock "Call me back again" como o próprio título deixa transparecer, talvez seja a música que mais se aproxime do tempo dos Beatles do "Álbum Branco", Paul canta com um vigor há muito não visto. A melhor canção do disco "Listen to what the man said" também poderia ter saído de um dos maravilhosos álbuns dos Beatles, melodia primorosa que encanta os ouvidos, poucos fazem tão bem este tipo de música.

Acompanhado da excelente banda "Wings", que emoldura com competência as encantadoras canções de Paul, tem-se um disco que após escutá-lo, sai-se facilmente assobiando suas melodias com aquela sensação de prazer que só os gênios nos oferecem.

Ano de lançamento: 1975

Ano de aquisição: 1975

Nota: Este foi o primeiro LP importado que comprei, naquela época, as vezes esperavamos de três a quatro meses para que os discos lançados nos EUA chegassem em versão nacional aqui no Brasil, principalmente Recife, um amigo, João Falcão, tinha ido fazer um intercâmbio nos EUA e me trouxe este disco que tinha sido lançado na semana que ele estava voltando para o Recife, por isto teve dificuldade em comprá-lo, além do ineditismo em terras recifenses, tinha o fato de o projeto gráfico dos discos importados serem sempre de melhor qualidade do que os aqui lançados, além de capa dura, continha dois posters e alguns adesivos, eu simplesmente vibrei quando o disco chegou, principalmente por ser de um ex-Beatle.

Esta sensação de espera ansiosa, com a globalização, ficou perdida no tempo, hoje os que ainda se arriscam em lançar cds, o fazem em escala mundial, com apenas segundos de diferença, que diferença, haja tempos modernos.

domingo, 1 de novembro de 2009

LP David Live - David Bowie




Lançado após o excelente "Diamond Dogs" e antes do ótimo "Young Americans" (ambos já comentados aqui no blog), neste disco "ao vivo" a capa já denunciava mudanças, em vez do andrógino, a cara limpa montado em um terno Armani.

Primeiro disco completamente gravado ao vivo, da discografia oficial do cantor, mostrava que o lado andrógino começaria a ser enterrado e se tornaria apenas história, só artistas do quilate de David Bowie teriam a coragem de mudanças tão radicais, principalmente quando estavam no topo do estrelato e isto sem perder a qualidade musical, nunca o estigma de "Camaleão do Rock" foi tão bem colocado quanto nesta virada musical.

Com uma introdução a la "Shaft" de Isaac Hayes, tem-se início o show e disco com "1984", Bowie e grupo estão mais moderados, a punjança e o peso das canções originais são deixados de lados, optando-se por arranjos mais leves, apesar da ótima guitarra de Earl Slick detonar em algumas músicas.

Apesar das visíveis mudanças, o vigor de outrora ainda é percebido nas ótimas "Suffragette City", "Rebel Rebel" e "Diamond Dogs" (sem os uivos da versão original), afinal, mudar clássicos como estes seria uma heresia até para o mais revolucionário dos ouvintes. "Aladdin Sane" outro clássico está com uma roupagem mais pop, mais dançante, continua ótima, o piano meio dissonante fez a diferença.

"When you Rock'n'Roll with me" é uma balada de arrasar, apropriada para se cantar com um terninho Armani, o duelo de guitarra e voz é para poucos. Outro destaque do disco é a guitarra do Earl Slick que conseguiu substituir a altura o excelente Carlos Alomar que na época estava brigado com Bowie, seus solos em "Jean Genie" é de dar inveja a Jimmy Page.

O Bowie cantor está numa ótima fase e estas versões privilegiam ainda mais sua excelente voz, este álbum duplo demonstra o quanto ele tem o domínio de palco, sendo tão bom "ao vivo" quanto em estúdio, o que é corroborado quando se assiste aos inúmeros vídeos e DVDs de shows do camaleão.

Naquela época os discos "ao vivo" não tinham a qualidade técnica de gravação dos discos de hoje, portanto raramente eram lançados, compensava-se pela qualidade e vigor das apresentações, como é o caso deste LP.


Ano de lançamento: 1974

Ano de aquisção: 1975