domingo, 9 de maio de 2010

Joplin In Concert - Janis Joplin (LP e CD)




Com sua voz inconfundível, Janis Joplin surgiu na cena musical como um diamante bruto, que com o tempo foi sendo lapidado até se transformar numa gigante pérola de voz rascante e emoção a flor da pele, pena que quando esta "pérola" desabrochou, ela encurtou o seu caminho e foi desbundar no "andar de cima", pior pra nós.

A cada nova audição, o seu canto penetrava nas entranhas e fazia vibrar cada nervo, sua força bruta e eletricidade eram terríveis. Sua aparência rude e terrena escondia um ego vulnerável, sensível, ambos em luta e interação constantes.

Janis viveu como uma chama ao vento, sempre na maior intensidade. A flama era, naturalmente, seu talento brilhante, ele próprio uma coisa viva sempre visível e audível na execução. Não um talento plácido, mas um fulgor robusto, vigoroso, explosivo de criatividade.

Seu som foi essencial para a formação do Rock'n'Roll, com sua voz inigualável, com sua sensualidade e seu estilo hippie de ser, Janis Joplin conquistou o público com sua forma passional, enérgica e intensa de interpretar especialmente temas do blue (um som que era praticamente dominado pelo sexo masculino, principalmente os negros americanos).

Este álbum duplo, lançado após a sua morte é uma coletânea de gravações ao vivo, onde ela melhor sabia se expressar, com performances antológicas, dos anos de 1968 e 1970 com suas bandas "Big Brother & The Holding Co." (1968) e "Full Tilt Boogie Band" (1970), se em estúdio Janis já soltava a voz, colocando a emoção acima de tudo, nos shows a sua força interpretativa simplesmente transcendia ao simples cantar, a sua entrega era total, foi assim que ela no lendário Festival Monterrey Pop em 1967 surgiu para o mundo, aproveitando uma oportunidade que ela sabia que seria única. O disco começa com um de seus grandes sucessos "Down on me", onde o ouvinte já percebe toda a sua força interpretativa, seguem-se blues com levadas rock, que ela tão bem sabia cantar, até chegar em uma das mais belas canções cantadas por Janis, "Piece of my Heart", poucas canções conseguiram ter uma entrega total de seu interprete quanto esta com Janis, chega a impressionar a força e emoção com que ela solta a voz. Maior representante da geração "Flower Power", Joplin transformava obscuras canções em verdadeiros clássicos, além de reverter completamente sucessos dando-lhe uma nova roupagem, fazendo surgir uma nova canção, o maior exemplo disto é sua versão para a famosíssima "Summertime", depois de sua versão, ficou impossível escutá-la de outra maneira, o duelo entre guitarra e voz é de arrepiar, os versos de Heyward e George Gershwin, receberam uma nova conotação com a sensualidade interpretativa de Janis, um lamento blues de arrasar.

É no disco 2 que surgem os maiores sucessos na voz de Janis, a "pérola" já estava praticamente lapidada, aí o show era maior, o balanço de "Half Moon" com seu piano e órgão, "Kozmic Blue" um blue composto por ela, de arrasar quarteirão, onde é visível a emoção na sua voz, cantava blues como nenhuma outra cantora branca havia feito até então. "Mover One" também composta por ela, um rock psicodélico com guitarras distorcidas e intervenções do órgão Hammond. "Try" mais outro clássico na voz de Janis, rock básico, puro, eletrizante como deve ser. "Get it while you can" mais um blues elétrico cantado com todo o sentimento e incríveis solos de guitarra, exalava-se alma no seu canto, fechando o disco um dos grandes sucessos de Janis "Ball and Chain" um rock onde desponta a sua interpretação.

Na versão do disco em CD, nenhuma novidade, tratamento gráfico de péssima qualidade, um total desrespeito, nem a qualidade técnica da gravação foi bem cuidada, não houve nenhuma melhora em relação ao LP.

Abaixo uma das frases de Janis que podia sintetizar todo o sentimento de sua vida.

"Posso não durar tanto quanto as outras cantoras, mas sei que posso destruir-me agora se me preocupar demais com o amanhã".

Ano de lançamento: 1972
Ano de aquisição do LP: 1976
Ano de aquisição do CD: 11/1992

Nota: Com a descoberta deste disco eu praticamente pirei com a força bruta e emocional desta cantora, foi na mesma época que lançaram um excelente documentário nos cinemas chamado "Janis" dos diretores Howard Alk e Seaton Findley, que assisti incontáveis vezes, até três sessões em um mesmo dia, naquela época, entrava-se no cinema com um ingresso e podia-se assistir quantas sessões quisesse. Li o livro "Enterrada Viva", uma ótima biografia escrita por Myra Friedman, que só fez aumentar a minha admiração por esta deusa da emoção. Admiração esta que trago até hoje, depois de sua morte, muitas cantoras já surgiram, mas nenhuma com a força emotiva, carisma, determinação e postura de Janis, nem Amy Winehouse que mais se aproxima dela, mas falta-lhe o vigor interpretativo a emoção a flor da pele, cantar com sentimento é para poucos.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Aconteceu em Woodstock - Ang Lee (Filme)


"A sensação que todos tem é que neste momento, isto é o acontecimento mais importante do Universo" é com este sentimento que um dos personagens, uma das namoradas de Michael Lang, o produtor bicho grilo do festival, expressa, enquanto rola os shows, ao atordoado personagem central Elliot, o significado de tudo aquilo.

Este talvez seja o sentimento que o diretor Ang Lee queira passar em suas quase duas horas de projeção, hoje, vê-se que considerando o sistema solar, seja um exagero, mas no universo da música, sim, nada naquele momento, naquele ano e naquela década, foi tão ou mais importante do que aquele festival, os mais entusiastas alongam este prazo por pelo menos mais duas décadas, a verdade é que até hoje, nunca se fez um festival como Woodstock.

Acreditando nesta premissa é que Ang Lee quis mostrar como tudo começou e a movimentação necessária para fazer acontecer o festival, os distúrbios causados na pacata cidade interiorana americana e como isto afetou os costumes de sua população, afinal, um bando de conservadores americanos, vê sua cidade invadida de uma hora pra outra por um bando de hippies em busca de sexo livre, drogas e rock’n’roll, colocando por terra todos os conceitos de moral e bons costumes vigentes.

O Filme além de mostrar como por acaso o festival foi parar na pacata cidade de White Lake, no interior do Estado de Nova York, através da história do personagem central, o tímido e enrustido Elliot, que tenta salvar da bancarrota o pulguento hotel da sua tirana mãe e do seu desolado pai, também é uma espécie de making of do extraordinário documentário, ganhador do Oscar, “Woodstock” de Michael Wadleigh, síntese do festival, que possibilitou ao mundo curtir e conhecer o festival, impossível desassociá-lo do mega evento. Porém, mais do que uma narrativa sobre os bastidores de Woodstock, o filme se propõe a examinar os efeitos benéficos, libertadores, que o evento teve sobre a vida do próprio Elliot – um homossexual enrustido que, oprimido pela mãe dominadora, encontrou ali forças para abraçar a própria identidade.

Oferecendo um olhar periférico sobre o inesquecível evento que, durante três dias em 1969, celebrou a “paz e a música” ao atrair meio milhão de pessoas para uma enorme fazenda. No decorrer das duas horas do filme, Ang Lee, faz inúmeras homenagens ao documentário, a tela repartida em duas cenas e as vezes três é completamente chupada do documentário, ele de uma maneira sutil mostra como algumas cenas antológicas do documentário foram filmadas, tornando um prazer no decorrer do filme associar estas cenas com as cenas do documentário, são muitas, o banho naturista no lago, as freiras indo ao festival, o tobogã de lama e muitas outras, um verdadeiro deleite para quem, como eu, assisti incontáveis vezes o documentário.

Um ponto negativo é o fato de não aparecer nenhuma cena dos shows, ele passa ao largo, enquanto Lee mostra a movimentação off show, nem as músicas aparecem na trilha sonora, a não ser uma citação de Ravi Shankar, na ótima cena do ácido, e o áudio, já nos créditos finais, da música “Motherless Child” interpretada por Richie Havens que abriu o festival, cuja palavra "Freedom" ele de improviso repetia diversas vezes, pois já não tinha mais músicas para tocar e que terminou tendo um enorme sucesso quando do lançamento do documentário.

Vale salientar a excelente interpretação da mãe de Elliot, a atriz inglesa Imelda Staunton, que por si só já valeria o filme, é impressionante como certos artistas tem a capacidade de incorporar um personagem, ela está perfeita, isto é só para os grandes atores. Outro ponto positivo é a incrível semelhança dos atores que fizeram o já citado produtor Michael Lang e o proprietário da fazenda onde aconteceu o festival, Max Yasgur, parece até que são os próprios.

Este é um filme para os amantes do rock setentão e que entendam a fundamental importância que este festival teve na mudança de comportamento de toda uma sociedade, quebrando barreiras e mudando os costumes. Como já disse antes aqui neste blog, que inveja danada daquele pessoal que foi ao festival.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Show Nouvelle Vague - 01/05/10

Denominado de projeto Mercado da Música, que já trouxe Pedro Luís e a Parede no mês de março e fincado no desconfortável, mas alto astral, Mercado Eufrásio Barbosa em Olinda/PE, desta vez a atração principal foi a banda francesa, ou projeto coletivo, como eles preferem ser chamados, Nouvelle Vague, a abertura coube a simpática banda pernambucana Bande Ciné que revisita clássicos do cancioneiro Francês.


Marcado para iniciar às 22:00h, o primeiro show só começou com hora e meia de atraso, o que já se tornou uma rotina neste local, já incorporado pela plateia composta em sua maioria de jovens entre os 18 e 25 anos, que estavam ali com interesses outros além do show, a garotada alegre, bonita e saudável, não se preocupou muito com o atraso, queriam mais era paquerar, beber e beijar. Os jardins do Mercado era o mais procurado, afinal no local do show o calor era insuportável, mesmo com pouca gente.


A pernambucana Banda Ciné, encarregada de esquentar a plateia, abrindo o show, dedica-se a releituras das músicas do País, cujo presidente é aquele cara, marido da Carla Bruni, principalmente das decadas de sessenta e setenta, com uma vocalista Tati Monteiro bem simpática e de voz agradável, eles fazem um som dançante, cheio de balanço e pitadas de jazz, bossa nova, iê-iê-iê e chachacha, agradaram em cheio a plateia que se predispos a ir tomar uma sauna perto do palco, o diferencial foram algumas rumbas que colocaram todos a bailar. O público esquentou as turbinas para o próximo show.

Um intervalo para o temaki, a cerveja o xixi e invariavelmente muitos beijos, ao som bem legal de um dj.

Vendida como uma banda francesa que fazia versões bossa nova dos sucessos pop rock dos anos 80, elevou a curiosidade e lá fui eu achando que iria encontrar um Mercado com poucas pessoas, afinal, eu nunca tinha ouvido falar desta banda (quem manda ficar fazendo resenha de LPs antigos), ledo engano, na hora que as duas beldades femininas, encarregadas do vocal do grupo adentraram ao palco, o local já estava totalmente lotado, e não era só de curiosos feito eu, a garotada já conhecia a banda e cantava com ela algumas músicas. Com o repertório todo de covers de grupos cults e não-cults, na maioria dos anos oitenta, elas logo logo estavam com a plateia na mão, principalmente os marmanjos, as duas, além de bonitas, tem voz possante e bela, o que ajuda a realçar os arranjos potentes do grupo, se aquilo que eles tocaram no show é versão bossa nova, fico imaginando eles tocando uma versão metal de um Megadeth, não ia ter tímpano que aguentasse.

Com a plateia no bolso, devido a fácil comunicação da vocalista brasileira Karina Zeviani, foi fácil levar o show, apesar do calor, a vocalista para ser simpática, apenas comentava sobre o calor, apesar de seu vestido ficar totalmente suado e transparentes, os marmanjos adoraram, algumas menininhas também. A outra vocalista, a belga, Helena Nogueira, além do rosto e corpo bonitos, também tinha uma voz possante, mas como bailarina, parecia o Robocop de tão desingonçada, enquanto isso a Karina dava um show de leveza, ah..... a mulher brasileira, sempre ela.

Nesta era do "recorte" e "cole", quando reina o pastiche, A Nouvelle Vague se tornou o arquetípico projeto-referência, explodiu sabe-se lá porque - embora pistas levem a crer que foi no festival "No ar: Coquetel Molotov" lá no já longínquo ano de 2007, quando lotou o teatro da UFPE. As versões executadas neste show, ganham aspectos, digamos, bossa rock, pois do estilo criado por Tom Jobim, só mesmo a versão de "God save the Queen" do Sex Pistols com banquinho e violão. O show satisfez em cheio a garotada e os poucos já rodados como eu, um grupoque em nada lembra a tranquila música francesa, mas cheio de gás e com ótimas versões de clássicos e não clássicos. Valeu suportar o calor.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Filme Amor sem escalas - Jason Reitman

Fui assistir a este filme no recém-restaurado Cine São Luiz, único sobrevivente no Recife do chamado cinema de bairro, inaugurado com toda pompa e circustância em 1952 em estilo Néo Clássico, o cinema foi referência por muitos anos na área cultural da sociedade Recifense e viveu seu apogeu nas decadas de cinquenta e sessenta, quando o traje obrigatório era terno completo, quando comecei a frequentá-lo esta obrigatoriedade já não existia, assisti muitos filmes lá, antes do advento dos multiplexs, era o point de badalação cultural. Pertencia ao grupo Luiz Severiano Ribeiro, mas a partir do final dos anos 90 entrou em decadência e fechou suas portas em 2006, cheguei a frequentá-lo até pouco antes de seu fechamento, estava realmente deprimente, totalmente entregue, doía no coração.

Houve um movimento forte da cena cultural recifense contra o seu fechamento, era o último baluarte, uma parte importante da história cultural do Recife, muitas tentativas foram feitas até que o Governo Estadual assumisse o controle do espaço e depois de três anos fechado, conseguiu reabri-lo no final do ano passado, só que para o público a partir de fevereiro deste ano. Fui no sábado e confesso que me emocionei ao ver a imponência do espaço de volta, me veio à lembrança os muitos e muitos filmes que ali assisti, naquele escurinho do cinema, passarem-se diante dos olhos, muita alegria, tristesa, fantasia, esperança, desilusão, amores, desamores, volúpia, infidelidade, sexo, amor, música, ação, adrenalina, enfim a verdadeira magia do cinema.

Inevitável a comparação com os cinemas multiplex e neste caso tenho que concordar com os saudosistas, aquele belo espaço, com um bonito e grande mural na sala de espera do pintor pernambucano Lula Cardoso Ayres, seus vitrais, cortina de veludo vermelha na tela e paredes revestidas com mosaicos também de veludo, nem pode ser comparado com os espaços inóspitos e sem vida dos multiplex.

Seja bem vindo de volta Cine São Luiz.



Depois de se encantar com o belo espaço, nada como assistir a um filme leve e solto numa ensolarada tarde de sábado, filme estrelado por George Clooney e dirigido por Jason Reitman, mesmo diretor do despretensioso e ótimo "Juno". Talvez Reitman esteja sem especializando em filmes despretensiosos, este também é, o enredo é sobre um executivo que viaja os EUA com a função de demitir funcionários de grandes empresas, lendo assim, pode-se imaginar um filme muito chato e funesto, afinal demitir pessoas não deve ser lá uma profissão das melhores, é aí que se engana-se, pois o interesse do filme é exatamente contrapor noções básicas de humanidade e o sistema vigente (desumano) que faz a sociedade existir. A aparição de uma personagem tipo jovem profissional recém-formada, fruto da sociedade hi-tech e globalizada, propõe na empresa que Clooney trabalha, um método revolucionário de demissão via teleconferência via net que irá economizar dinheiro em passagens e hotéis. Palco para o embate entre o velho e o novo, entre o contato e o virtual, talvez esta também seja a luta entre os cinemas de bairro e os multiplex, nada mais sugestivo assistir a este filme num cinema de bairro.

O filme desenrola sem muita ação, no sentido de adrenalina, mas com um roteiro agradável, onde se sobressai as ótimas conversas entre os personagens, num estilo próximo aos de Woody Allen, em tempos de adrenalina pura, nada mais prazeiroso do que ouvir bons diálogos em um filme, se compara a ler um bom livro.

George Clooney convence como o executivo que aprofunda o conceito do indivíduo adepto de refeições e amigos descartáveis, aliás, ele cada vez mostra que não é apenas mais um rosto bonito, principalmente depois que o seu conceito foi elevado, após o excelente "Bom dia, boa noite".

Um filme agradável de se assistir, principalmente num agradável e belo espaço nada hi-tech.