segunda-feira, 31 de agosto de 2009

LP e CD Close to the Edge - Yes


O som languido e tranquilizante do início pode fazer crer que este seria mais um daqueles discos xaropes típicos para relaxamento, na verdade esconde-se atrás deste inicio uma montanha sonora de uma qualidade excepcional difícil de ser suplantada, como não o foi até hoje.

"Close to the Edge" é um daqueles discos que foi feito para ficar na história, longe e disparado o melhor do intitulado rock progressivo, mas que também pode figurar em qualquer lista de melhores de qualquer rótulo musical, este foi o grande disco do YES, a evolução musical de um grupo que contabilizou uma mudança positiva com a entrada do multi tecladista Rick Wakeman, já sentida no trabalho anterior "Fragile" que com seu sucesso deu a liberdade necessária para que Jon Anderson, ajudado pelo restante do grupo, colocasse sua imaginação e criatividade a favor da excelência musical.

O disco é dividido em três faixas, todas extensas, uma das características do grupo, subdivididas em movimentos, a primeira é a faixa título e é aí que encontamos o melhor do disco, a integração dos musicos é total, destacando-se a guitarra de Howe, a bateria de Bruford e principalmente Wakeman que como um mago enfeitiça a todos com o som do seu teclado, adicione-se a isso a peculiar e linda voz de Anderson o que torna impossível de esquecermos ele a soltando em "I Get up I Get down" duelando com os teclados, maravilhoso.

A viagem musical continua com "And you and I", também dividida em quatro movimentos, uma verdadeira "sinfonia pop", com movimentos alegro e lento, este, num duelo fantástico entre o violão e o teclado servindo de fundo para emoldurar a bela voz de Anderson, pop na medida certa.

Para fechar o disco "Siberian Khatru", rock progressivo na concepção da palavra, ritmo acelerado, onde mais uma vez funciona a integração entre os músicos, uma sonoridade que encanta os ouvidos, tudo na mais perfeita ordem sonora.

Este disco entrou para a história do rock progressivo — um estilo que levou o gênero ao paroxismo da perfeição formal em matéria de criatividade, textura sonora, harmonias, complexidade, concepção temática e, principalmente arranjo musical.

Um disco que sobreviveu ao passar do tempo, não ficou datado, continua fascinante e atual nos dias de hoje, esta é uma das características das obras primas.

Infelizmente sua versão para CD não trouxe nenhuma novidade, para a importância deste disco merecia um lançamento mais apurado.

Ano de lançamento: 1972

Ano de aquisição LP: 1975

Ano de aquisição CD: 07/1991


Nota: Este talvez tenha sido o LP que eu mais tenha escutado, já conhecia o disco através de um primo, Silvio, e fiquei simplesmente fascinado, mas não conseguia encontrá-lo nas lojas, esperei o seu relançamento para comprá-lo e não parava de escutar, quase que a agulha furava o disco, grande música, grandes recordações.

domingo, 30 de agosto de 2009

LP Relayer - Yes



Último grande sopro de criatividade do grupo de rock progressivo YES, este álbum foi lançado após a delirante viagem musical "Tales from topographic ocean", já sem o mago dos teclados Rick Wakeman que alçou voo solo e foi substituído pelo tecladista Patrick Moraz, mais rock do que o sinfônico Rick, com esta troca, a mudança do som é visível (ou escutável), uma tendência a ser irregularmente mantida pelo grupo, alternando-se discos com alta e baixa qualidade.

Apesar deste não ter a mesma criatividade dos seus discos anteriores, curiosamente, foi com este álbum que o YES conseguiu seu grande sucesso, pelo menos em terras brasileiras, o final da música "The Gates of Delirium" que tinha 21m55s na sua totalidade, os seus últimos 4min foi pinçado e exaustivamente tocada nas rádios brasileiras no ano de 1975, não sei por que cargas d'aguas, as rádios começaram a tocar apenas a parte final que resolveram denominá-la de "Sun", por ser a palavra que iniciava a tal "música" que de tão lenta não expressava de maneira nenhuma o som do grupo, o que causava um certo espanto e estranheza para os não iniciados no YES quando tentavam conhecer algo do grupo, vai entender a mídia.

Ano de lançamento: 1975
Ano de aquisição: 1975

sábado, 29 de agosto de 2009

LP e CD Molhado de Suor - Alceu Valença

Alceu Valença é daqueles artistas que são logo indentificados como a marca de uma região, inegável que ele seja a cara de Olinda e consequentemente de Pernambuco, ele surgiu numa época de entressafra de grandes talentos, Nelson Ferreira, Capiba e Luiz Gonzaga já estavam totalmente consolidados, a música pernambucana necessitava de uma renovação e Alceu, junto com Geraldo Azevedo e Quinteto Violado vieram para suprir esta lacuna.

Neste seu segundo LP, primeiro totalmente solo, ele destila toda sua verve nordestina, aprendida na sua cidade natal, São Bento do Una, na zona da mata pernambucana, uma música com pitadas do estilo armorial mais voltada para o rock, um estilo que fez escola nos anos 70 em Recife e Olinda.

Cocos, emboladas embaladas por solos de flauta, craviola e guitarra eram constantes na sua música que emolduravam os versos inteligentes descrevendo principalmente sobre o nordestino.

É deste disco dois grandes sucessos da época que permanecem até hoje no repertório de Alceu, "Papagaio do futuro" e "Punhal de prata".

Música moderna, um frescor de renovação para a época, que permanece atual até hoje. Um vitorioso que lutou contra todas as adversidades que era lançar um disco de artista desconhecido e principalmente nordestino, muito bem ilustrado na dedicatória do disco "Dedico este trabalho a mim mesmo, que convivi com deuses e comi o pão que o Diabo amassou para realizá-lo". Uma grande estreia.

Ano de lançamento: 1974
Ano de aquisição do LP: 1975
Ano de aquisição do CD: 03/2008


Nota: Sempre fui admirador de Alceu Valença, desde os primórdios, quando ele apareceu no festival ABERTURA da Rede Globo, defendendo a música "Vou danado pra Catende", aquela música impregnada de regionalismo e raízes nordestinas, me encantou logo.


Teve uma passagem interessante, no ano de 1975, ele estava lançando este disco em uma temporada de shows no Teatro de Santa Isabel, aqui em Recife, era de quinta feira ao domingo e naquela época os preços eram diferenciados por datas e também por local no teatro, garoto com quinze anos vivendo de mesada, claro que comprei para a quinta feira e na galeria (o popular puleiro), era o primeiro show que iria assistir dele, estava ansioso, por isso fui comprar os ingressos antecipadamente, para não correr o risco de eles se esgotarem e eu ficasse sem assistir ao show.


Com os ingressos já comprados, saímos eu, um primo, Silvio e um amigo que não me recordo o nome, pegamos um ônibus cedo para que não enfrentassemos fila, pois não sabíamos direito a localização da poltrona, portanto daria tempo para descobri-la sem sobresaltos, o show estava marcado para às 21:00h, chegamos lá por volta das 20:00h e ainda não havia ninguém, fomos os primeiros a chegar.


Já perto das 21:00h, notamos que o teatro permanecia com pouca gente, nós lá no "puleiro", olhando para baixo e a plateia praticamente vazia, começamos a perceber que havia algo errado, não acreditavamos que não fosse lotar, será que iria começar às 22:00h? pensamos, não, estava confirmado o horário inicial e alguns minutos depois das 21:00h, eis que fomos liberados pelo pessoal do teatro a assistir ao show na plateia, descemos correndo e nos colocamos na terceira fila, resultado, pouquissima gente naquele dia, não conseguiu encher nem as quatro primeiras filas do teatro.

Mesmo com o teatro praticamente vazio, Alceu mostrou o seu profissionalismo e fez um show impecável, arrasador, me lembro como se fosse hoje, Paulo Rafael, Zé da Flauta, Lula Cortes, os músicos que o acompanhavam e numa participação especial no violão e guitarra um músico que ele apresentou como uma das grandes promessas da MPB, "um nome que vocês ainda vão ouvir falar muito dele" nas palavras de Alceu quando apresentou o até então totalmente desconhecido Zé Ramalho.

Algum tempo depois quando fui assistir a um show dele no Centro de Convenções lotado, acho que mais de seis mil pagantes, me lembrei deste fato e fiquei super contente em ver que ele tinha tido o seu talento reconhecido.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

LP 1990 - Projeto Salva Terra - Erasmo Carlos


Erasmo sempre viveu na sombra do parceiro e Rei Roberto Carlos, mesmo quando lançava seus discos solo, nunca conseguia ter a visibilidade que seu talento merecia, este LP é mais uma prova disto. Um disco que demonstra toda a qualidade musical deste bardo do rock nacional, com uma sonoridade bem mais roqueira que a do seu parceiro, mas que não obteve o sucesso que merecia, Erasmo em seus discos solo também sabia fazer baladas de primeira, como no caso de "A Experiência", que conta com a ajuda de seu inseparável parceiro.

O disco é rock brasuca puro, com algumas ótimas músicas pop que viraram clássicos como "Sou uma criança não entendo nada", vários estilos se confundem no disco, do country americanizado de "A Lenda de Bob Nelson" ao baião eletrificado de "Haroldo, o Robot Doméstico". Com uma visão futurista até certo ponto ingênua, de um futuro que passou ao largo, "1990 Projeto Salva Terra" a música, mostra uma preocupação com o planeta, em matéria de futuro Erasmo era uma criança e não entendia nada, como músico entendia tudo.

Para muitos este disco virou clássico do rock brasileiro em um tempo em que ainda se engatinhava neste campo, que deu o status de pai do rock Nacional para Erasmo pelo menos no meio artístico.

A versão para "Negro Gato" de Getúlio Cortes é demolidora e está ótima, "Bolas azuis" é um rockabily a la Jerry Lee Lewis, outro destaque do disco é a excelente "Cachaça Mecânica" um samba-rock em parceria com o eterno Rei (sempre ele), totalmente inspirada na excepcional "Construção" do genial Chico Buarque, aliás poderia até ter sido escrita por ele.

1990 já passou há muito tempo, o disco não, continua atual como nunca.

Ano de lançamento: 1974
Ano de aquisição: 1975

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

DVD As Filhas de Drácula - John Hough


Assisti a este filme pela primeira vez quando tinha 14 anos, o ano era 1974, foi no cinema da Base, um cinema que já comentei aqui, que podía-se entrar em filmes com censura de dezoito anos, mesmo não tendo, não me lembrava muito bem do filme, só que tinha gostado, que o filme era aterrorizante e que tinha cenas de nu das tais filhas de Dácula do título.

Naquela época, quando a ingenuidade era bem maior, um garoto de 14 anos enfrentar um filme sobre vampiros, numa sala escura de cinema, era um desafio, um misto de medo e coragem, só que poder contar para os amigos da escola no dia seguinte que assisti incólume a um filme de vampiros, conseguir dormir a noite e ainda por cima ver cenas de nudez, era a glória.


Foi interessante assisti-lo mais de trinta anos depois neste DVD, que ele se tornou um clássico, mais um produzido pela produtora HAMMER, é fato, e verificar que ele não é tão aterrorizante como antes, é outro fato, o que me levou a tergiversar sobre o assunto, será que o filme é que realmente não era tão aterrorizante? ou será que a minha percepção do medo é que diminuiu muito? é certo que vivemos tempos bem diferentes, a explosão da violência cada vez mais próxima de nós, a própria banalização da violência que vivenciamos dia a dia pelos meios de comunicação, principalmente na TV, está diminuindo nosso instinto emocional, dando lugar a racionalidade extremada, que faz com que a nossa capacidade de sentir medo também diminua e aquela cena que causava calafrios, hoje já é assistida sem sobresaltos, o que nos faz crer que infelizmente estamos nos tornando seres sem emoção? e não há como não fazer um paralelo com o filme, uma das características fundamentais dos vampiros era sua total falta de emoção, será que estamos nos tornando vampiros da era moderna? espero que não.

Deixando de lado as tergiversações filosóficas e voltando ao filme, os dentes afiados, a cruz, as cenas e o enquadramento característicos dos filmes realizados pela Hammer estão lá, não com a mesma força dos filmes mais antigos da própria produtora, eles já estavam passando por dificuldades e poucos anos depois fecharam definitivamente. Peter Cushing como sempre desempenha o seu papel com maestria, filmes com ele e o Christopher Lee eram marca registradas da produtora, fiquei o tempo todo esperando as cenas de nudez, que apesar de não me lembrar delas, ficou registrada num cantinho da minha memória, as tais filhas de Drácula, que por sinal nem aparece no filme, resultado da adaptação desastrada da tradução do título original "Twins of Evil" (Gêmeas do mal) eram Mary e Madeleine Collinson, muito populares na época por serem as primeiras gêmeas a aparecer na capa da revista Playboy, elas como atrizes eram ótimas coelhinhas, a tal cena de nudez aparece só quase no final do filme e não demora mais do que um minuto, o que me fez pensar sobre a libido de um pré-adolescente, pois me lembro que fiquei extasiado com esta puritana cena de sexo, libido associado com tempos repressivos só dava nisso. Viva a liberdade.

domingo, 23 de agosto de 2009

LP It's Only Rock and Roll - The Rolling Stones



EU SEI. É APENAS ROCK'N'ROLL, MAS EU GOSTO.

SUPIMPA.

E ainda tem "Time waits for no one" (é preciso um adjetivo maior que genial), "Luxury" e "Dance little sister".

Nada mais pode ser dito deles, a não ser que são A MAIOR BANDA DE ROCK'N'ROLL DOS ÚLTIMOS 40 ANOS.


Ano de lançamento: 1974
Ano de aquisição: 1975


Nota: Descobri os Stones quando assisti ao "vídeo clipe" (era assim que se chamava) da música "It's only rock'n'roll" no "Sábado Som" programa televisivo comandado pelo sempre descolado Nelson Motta, que passava na Rede Globo, nos sábados a tarde, o ano era 1974, este programa com vídeos clipes de diversos artistas, foi provavelmente o precursor da MTV e de tantos programas de clipes musicais que ora abumdam a TV brasileira, principalmente a cabo. Neste programa desfilavam a nata do rock mundial e alguns brasucas, clipes que hoje parecem toscos, pois tinham como métrica, os artistas tocando em um plano único, não obstante a ótima qualidade musical, poucos inovavam. Mick & companhia, se não inovaram com este clipe, pelo menos procuraram ser diferentes do que se fazia à época, o que pode ter sido o começo de uma mudança, nada comparado ao extraordinário, e aí sim, divisor de águas "Thriller" do Michael Jackson. O clipe tinha como cenário um brinquedo que fez muito sucesso entre a garotada de todo o mundo na primeira metade dos anos setenta, era uma espécie de pula pula dentro de uma bolha de ar, onde o piso era uma espécie de colchão cheio de ar, onde podíamos pular sem se machucar, dentro fazia um calor insuportável, mas pular lá junto de outras crianças, era o máximo, os bacterologistas deviam abominar, as crianças adoravam, voltando ao clipe, Mick & cia tocavam vestidos de marinheiros e do meio para o fim da música, enquanto eles continuavam a tocar, a tal bolha começava a se encher de espuma, começando aos poucos e ia num crescendo até encobrir todos no final da música, ver a cara impávida de Charlie Watts, como se nada ali estivesse acontecendo, era demais.


Hoje, este clipe pode até parecer sem muita imaginação, mas na época, fiquei simplesmente maravilhado com o que via, talvez estivesse contida a vontade de participar de um pula pula que se enchesse de espuma, além é claro da excelente música. Foi desta maneira que descobri o Rolling Stones, graças a Nelson Motta que me apresentou, depois, nunca mais me desliguei deles sempre considerando a melhor banda de rock do mundo, aliás, tendo sempre a salutar dúvida entre os Stones e os Beatles, qual a melhor? enquanto persistir a dúvida, ficarei com ambos.

sábado, 22 de agosto de 2009

OS DEZ MELHORES DO INÍCIO


Todo colecionador de discos tem como fetiche a elaboração de listas dos melhores, meio que pegando carona no "vitrola encantada" um blog superlegal, apresento a minha lista dos dez melhores do início (anos 1973 e 1974) para diminuir um pouco o trabalho que dá para elaborá-las.
- Journey to the centre of the Earth - Rick Wakeman - A melhor trilha sonora de um livro já composta, ler o livro sem ouvir a música perdeu a graça.
2º - Diamond Dogs - David Bowie - Clássico do Rock, a visão futurista do camaleão, ao mesmo tempo soberbo e desolador.
- Get on the Good Foot - James Brown - Clássico da soul music, Funk e soul elevados a status de arte.
4º - Brain Salad Sugery - Emerson, Lake & Palmer - Prova incontestável que o rock progressivo plantou suas raízes.
5º - Gita - Raul Seixas - O Rock Brasileiro mostrando a sua qualidade musical, precursor de tudo o que se fez até hoje.
6º - Loose Ends.... - Jimi Hendrix - Disco dele não pode ficar de fora de nenhuma lista, mesmo que seja póstumo.
7º - Alladin Sane - David Bowie - Rock simples, sem firulas, banda azeitadíssima dando suporte a um excelente cantor, resultado: disco da mais alta qualidade.
8º - Mind Games - John Lennon - Rock filosófico, composições acústicas e baladas românticas sempre associados ao amor e ideologias pacifistas.
9º - School Days - Alice Cooper - Rock vigoroso e contestador, sua música principal virou hino dos rebeldes (com causa e sem causa).
10º - Secos e Molhados - Secos e Molhados - Provocador, polêmico, sensacional, disco de muitos adjetivos, marcou época e com ele surgiu um fenômeno vocal e artístico: Ney Matogrosso.

Projeto Observa e Toca - Cascabulho (Torre Malakof 22/08/09)



Assisti ao Cascabulho pela primeira vez há muitos anos atrás, quando ainda estava nos vocais o excelente Silvério Pessoa, fiquei impressionado com a qualidade sonora do grupo, como também com a presença de palco, desenvoltura e carisma do seu cantor. Com a saída de Silvério do grupo, partindo para uma carreira solo, meio que deixei de lado o Cascabulho, apesar dos elogios que escutava do trabalho deles sem o antigo vocalista. Acho o Silvério um grande artista, uma das grandes revelações musicais pernambucanas que vieram na esteira pós Chico Science e continuei apreciando seu trabalho solo.

O Cascabulho se apresentou hoje no interessante projeto "Observa e Toca" na Torre Malakof, projeto este que já comentei aqui no blog anteriormente, nunca tinha assistido ao grupo sem o seu antigo vocalista, era a oportunidade que faltava. Quando o show começou fiquei meio reticente quanto ao vocalista Kléber Magrão, ele mais parecia um jogador de tênis do que um cantor de banda de manguebeat, após a surpresa inicial e ainda com a imagem do Silvério na cabeça, demorei um pouco a me acostumar com o que estava vendo, mas logo a dúvida se dissipou, tanto o vocalista quanto o grupo se mostraram ótimos, a sonoridade apresentada não se distanciou do que apresentavam no início da carreira, mas tinha seu formato próprio, o vocalista não tem o mesmo carisma do seu antecessor, mas mesmo assim ele manda muito bem.

Eles completam em 2010, quinze anos de carreira artística e neste show mostraram que aprenderam bem e ainda tem muito a desenvolver, todos os músicos são de grande qualidade e a integração com o vocalista Magrão é muito boa, a mistura de ritmos, peculiar da maioria dos grupos pernambucanos, está na medida certa. Um show que agradou a plateia que não era muito numerosa, mas que recebeu muito bem o grupo.

A imagem de que o grupo tinha decaído foi desfeita com este show, o Cascabulho se junta a muitos dos grupos da cena pernambucana que fazem música de qualidade, sem conseções.

Pena que a imprensa e a rádio pernambucanas não deem o destaque necessário a excelente música produzida hoje em Pernambuco, nos jornais recifenses saiu apenas uma notinha do projeto "Observa e Toca" que seria apresentado hoje, eles preferiram dar destaque aos shows do Capital Inicial e Plebe Rude e Alcione que rolam por estas bandas, com uma chamada de quase meia página para eles, é certo que eles tem o seu valor, mas a música pernambucana merecia um espaço maior, uma pena.

LP Get on the Good Foot - James Brown




Não é a toa que James Brown era considerado o "Godfather" da soul music, apesar da extensa lista de lançamentos fonográficos, que poderia resvalar para a pouca qualidade, ele conseguiu fazer discos magistrais, este álbum duplo é um dos exemplos, desfilam músicas do mais alto calibre.

Brown foi o principal impulsionador da evolução do gospel e do rythm and blues para o soul e o funk, sendo a invenção deste último gênero creditada a ele. Além de um ótimo cantor e compositor, Brown era um exímio dançarino, ele criou para "Get on the good foot" música que abre este disco, uma dança espontânea e elétrica, baseada em subidas e descidas, giros e chutes.

A baladaça "Your love was good for me" é pra fazer com que Lenny Kravitz desista de cantar, tem de tudo neste disco, funk de não deixar ninguém parado, quem acha que Prince é o rei do funk é porque nunca ouviu James Brown, "Funky side of town" e "My part/ make it funky" são exemplos fiéis de que o cara sabia de tudo, irresistível, impossível ficar parado, e tem muito mais "Please, Please" é um pertado musical de mais de 12 minutos. "Dirty Harri" que fecha o álbum duplo, é uma faixa instrumental que começa sorrateira num órgão hammond e uma batida de baixo e vai num crescendo até incendiar tudo, genial.

E Brown dançava, como ninguém, talvez como o Diabo, Michael Jackson e seu "moonwalk" são tributários dos rodopios, parcerias com o pedestal do microfone e abertura de pernas dele, sem James Brown, nunca dançaríamos ao som do samba-rock brasileiro, o que já é por si só um dano sem reparação. Michael Jackson provavelmente não arriscaria seus passos de dança, seria apenas um ótimo cantor.

Ano de lançamento: 1973
Ano de aquisição: 1974


Nota: Este é um dos últimos discos da coleção de meu irmão, na época torci o nariz para este discaço, só ouvia rock'n'roll e nada que vinha de outros gêneros me interessava, por felicidade não joguei fora, estaria perdendo um disco excepcional, foi só abrir os ouvidos para perceber, ainda bem que sempre pensei duas vezes antes de tomar qualquer atitude, desta vez valeu a pena.


domingo, 16 de agosto de 2009

LPs Woodstock e Woodstock two - Vários




Neste fim de semana, comemora-se os 40 anos do mais importante festival de rock que se tem notícias, suas marcas são indeleveis, até hoje vivenciamos as mudanças ocorridas naquele tempo, nenhum outro festival de música teve tanta repercussão e tanta importância como esse. Apesar de suas outras edições e de outros grandes festivais de música, Woodstock permanece como o mais importante evento musical da história contemporânea.
O festival realizado em 1969, reuniu uma multidão de mais de 450 mil jovens para 3 dias de amor e música, e que música, praticamente todo o primeiro escalão do Rock da época apareceu por lá, mas o festival foi muito mais do que só música.
Os organizadores foram considerados loucos e pretensiosos por intencionarem realizar o maior festival de música já feito e reunir 100 mil pessoas. Mas Woodstock superou todas as expectativas e se revelou um verdadeiro fenômeno. Quase meio milhão de pessoas foram até lá aproveitar 3 dias de mentes abertas, amor livre, drogas liberadas e muito rock. O festival acarretou um dos piores engarrafamentos em Nova Iorque, mas não houve nenhum acidente ou violência durante o evento. Criou-se uma nação dentro de uma nação, reunida por seus ideais e sua vontade de se divertir, embaladas ao som de The Who, Jefferson Airplane, Jimmy Hendrix, Janis Joplin, Joe Cocker, Bob Dylan e todos os grandes nomes do rock da era, hoje verdadeiras lendas. O evento tornou-se um verdadeiro ícone da contracultura.
Muitos dizem que Woodstock foi o fim de toda a ingenuidade e utopia que cercavam os anos 60. Outros dizem que foi o apogeu de todas as mudanças e desenvolvimento na sociedade. Mas todos concordam que o festival foi um marco importante não só para a história da música, mas para a história do homem.
Descobri Woodstock em 1977 quando comprei o álbum triplo com a trilha sonora do documentário cinematográfico, que se confundiu com o registro do próprio festival, achei o disco sensacional musicalmente falando, mas o que mais me encantou foi quando assisti pela primeira vez o documentário no cinema, acho que o ano foi 1978, estava entrando na faculdade, novos horizontes e começava uma fase mais contestadora dos valores que tinha até então, o filme caiu como uma luva, assisti incontaveis vezes, sempre duas sessões seguidas, o que dava quase seis horas dentro do cinema, aquilo era tudo o que queria ter vivido, me dava uma inveja daquelas pessoas que estiveram lá, verificar que as pessoas ali presentes estavam concretizando o mais puro sonho da liberdade, colocando em prática seus ideais com a oportunidade também de poder combater e protestar contra uma guerra sem sentido (como todas) que era a guerra do Vietnan, corações e mentes abertos para todas as experiências boas de um ser humano, sei que houveram muitas reclamações, acho que pelos recalcados que estavam ali com outros propósitos, os que acreditavam nos seus ideais estavam de bem, devem ter aproveitado muito a celebração de três dias de paz, amor, sexo e música da melhor qualidade, além do que participar de um evento que entrou para a história da humanidade, o máximo, que inveja.
O álbum duplo "Woodstock two" não teve tanta repercussão quanto o álbum triplo inicial, aqui no Brasil ele só foi lançado muito tempo depois do festival, em 1978, talvez por isso tenha passado meio despercebido (hoje, virou um raro LP), registro do próprio festival, com músicas que não constavam da trilha sonora, bom, falar o que de um disco que registrou as apresentações de Jimi Hendrix, Jefferson Airplane, Joan Baez, Crosby, Stills, Nash & Young, Canned Heat e outros? é ouvir e se deliciar.
Ano da relançamento: 1977
Ano de aquisição: 1977
Ano de lançamento: 1978
Ano de aquisição: 1987

sábado, 15 de agosto de 2009

LP - Tales from Topographic Oceans - YES


Eles surgiram em 1969 em uma época onde todos diziam "NO", eles vieram com "YES", meio que na contramão da contra cultura, donde, se deduz que eles estariam na mão certa da cultura.
Este álbum foi lançado após o estrondoso sucesso de público e crítica do anterior "Close to the Edge" considerado um dos maiores marcos do rock progressivo de todos os tempos e imbatível até hoje, que deu ao grupo status de primeiro time o que facilitou as condições necessárias para a viagem musical proposta por Jon Anderson que escreveu as letras deste "Contos para oceanos topográficos", um verdadeiro épico sonoro que remete o ouvinte atento a uma "viagem espiritual progressiva" pelos caminhos da música e sinais luminosos.
"Tales from..." tem um conceito diferente do que até então o Yes tinha feito, pois o álbum se resume a uma suite dividida em quatro movimentos de aproximadamente 20 minutos cada, ocupando cada lado deste LP duplo. O grupo desenvolveu e ensaiou os quatro longos movimentos onde as composições exibiam uma liberdade estrutural inédita no rock até então, fato que se revelou uma experiência intensa e um desafio para a banda.
O disco abre com a bela e melhor música de todas "The Revealing science of God" na qual já é deixado bem claro o rumo do disco através das mudanças radicais de andamento, letras enigmáticas e muito solos de guitarra e teclado, só esta já vale o disco. Nos outros três movimentos, verifica-se altos e baixos em cada um deles, algumas partes muito longas, tornam a música um pouco cansativa, poderiam ter encurtado mais, conseguiriam um ótimo resultado, apesar de pertencer a este álbum as melhores atuações individuais dos músicos, que retratam essencialmente o rock progressivo sinfônico como nenhum outro já fez.
Jon Anderson, com sua voz peculiar, canta como nunca, este foi o último álbum que contou com a presença de Rick Wakeman nos teclados, depois ele retornaria ao grupo por diversas vezes.
Outro grande atrativo dos discos do Yes eram suas capas e esta não era diferente, enigmática como todo o disco.
"Tales from...." está longe do magnifico "Close to the edge", mas é um dos grandes discos de rock progressivo.
Ano de lançamento: 1974
Ano de aquisição: 1974
Nota: Este foi o primeiro álbum duplo que comprei, sempre nutri um grande fascínio pelos LPs duplos, principalmente quando se tratavam de álbuns conceituais, como este, naquela época não era muito comum os álbuns duplos, só os grandes grupos se arriscavam a lançá-los, mesmo assim houveram outros excelentes álbuns duplos que comentarei mais a frente.
Quando comprei este disco, foi na esteira do "Close to..." que um primo meu tinha e que fiquei simplesmente vidrado no disco, mas que infelizmente não se conseguia nas lojas daqui de Recife, tive que me contentar com este e esperar pelo relançamento que finalmente aconteceu no ano seguinte. Hoje, isto seria impensável, é só acessar a internet e tem mais de "trocentos" blogs disponibilizando qualquer disco. Sinais dos tempos.

Show - Naná Vasconcelos e Sa Grama - Teatro de Santa Isabel (12/08/09)




Qualquer superlativo, ou melhor, conjunto de superlativos seria muito pouco(!) para expressar a genialidade musical do percussionista Naná Vasconcelos. Acompanho sua trajetória musical desde o já longínquo ano de 1977, quando ele participou do merecidamente super elogiado álbum "Dança das cabeças" de Egberto Gismonti, sigo literalmente seus passos, tendo em vista que tive o prazer de desfrutar algumas caminhadas matinais na aprazível praia de Boa Viagem, cidadão do mundo por muitos anos, ele agora voltou ao lar doce lar das cidades de Recife e Olinda.
Durante estes anos, perdi a conta dos inúmeros shows que assisti deste grande artista, no âmbito da música popular, camerística ou erudita, só, em duo, trio ou dividindo o palco com outros artistas, como agora com o grupo instrumental Recifense "Sa Grama" e em todos os casos o prazer de assisti-lo é sempre inigualável, inovador, seus shows sempre repletos de improvisos nunca se repetem, mesmo quando apresenta músicas já conhecidas como "Vamos para a selva" e "Som da chuva na selva" que arrepia qualquer um que o assista, mesmo por mais de uma vez.
Este show fez parte das comemorações dos 79 anos do CPM - Conservatório Pernambucano de Música e mesmo sendo de música popular se justifica pois o "Sa Grama" é um grupo nascido dentro do CPM, seus integrantes foram alunos e alguns hoje são professores do Conservatório.
O "Sa Grama" tem suas raízes musicais na música armorial, estritamente instrumental e com levada do som feito nos anos 70, predominantemente nordestino recheado de baião, caboclinho e maracatus, sem esquecer do frevo, é um deleite para os ouvidos mais afinados e exigentes. A qualidade dos seus músicos e a unidade entre eles são uma grande característica do grupo.
O Show foi puro prazer, Naná dominou a plateia desde o início, tocando e envolvendo todos na já citada "Som da chuva na selva", depois de tocar mais quatro músicas só, passou a bola, com o jogo já ganho para o Sa Grama que mostrou músicas do seu novo cd "Chão batido, palco picadeiro" que não podia exprimir melhor o som lá ouvido, para terminar, Naná voltou ao palco e juntos tocaram mais três músicas, sendo uma um maractu de arrepiar e para o bis, claro, não poderia deixar de ser um frevo que animou a já entusiasmada e animada plateia que lotou o Teatro de Santa Isabel, na saída ficava claro na expressão e rosto de que todos desfrutaram de uma noite mágica e isso tudo com entrada gratuita. Recife tem algumas vantagens, essa é uma delas.