quarta-feira, 18 de novembro de 2009

LP e CD Novo Aeon - Raul Seixas


Ainda sob a égide da Sociedade Alternativa, Raul Seixas lança seu terceiro álbum solo, já com projeção nacional, conseguida pela música "Ouro de Tolo" e pelo disco anterior "Gita", com isso a espera e cobrança com o novo lançamento aumentaram e Raulzito não decepcionou. Na época a MPB passava por uma fase ruim, poucos lançamentos expressivos, salvavam-se Ney Matogrosso e Milton Nascimento, o pop rock nacional ainda não havia decolado, engatinhava tropeçando nas suas próprias fraldas, coube a Rita Lee e o próprio Raul com suas músicas darem alento para que saíssem do fraldário, foram fundamentais para isso.

Continuando sua parceria com o hoje místico e escritor platinado Paulo Coelho, que nos brindou com grandes pérolas do nosso cancioneiro, inventivas que oxigenaram a letrada letargia por que passavam os compositores nacionais, principalmente no pop rock, é impensável acreditar que ele tenha ficado assustadoramente conservador, o dinheiro fala mais alto.

O disco começa com a ótima "Tente outra vez" que virou nos dias de hoje "hino de tudo", só que na época não foi assim, passou meio que despercebida, provando que Raul estava a frente de seu tempo, a letra é um primor, merece o sucesso que tem hoje. "O Diabo é o pai do rock" já diria ele em "Rock do Diabo", alguém duvida? um rock meio anos sessenta, em plena ditadura e conservadorismo falar abertamente sobre o diabo, haja coragem. Raul era daqueles que batiam e assopravam, é o que se vê logo após na açucarada balada "A Maçã" uma bela e rasgada canção de amor, haja ecletismo, e novamente a letra se sobressai "Amor só dura em liberdade, o ciúme é só vaidade" este é o Raul romântico, só que logo depois ele se considera egoísta em "Eu sou egoísta" com direito a referência a Caetano Veloso. E tome mistura de baião e embolada em "Caminhos" quando isto era impensável.

É em "Tu és o MDC da minha vida" que a dupla mostra toda a verve e visão da sociedade da época, espécie de continuação de "Ouro de Tolo" só que num ritmo mais balançado, talvez o prenúcio do tecno brega, eles descrevem de maneira perspicaz acontecimentos da vida urbana citando personagens polêmicos como o o ultra conservador e radical apresentador de TV Flávio Cavalcanti, mostrando mais uma vez que estava se lixando com qualquer tipo de patrulhamento ideológico, afinal para os descolados da época era uma heresia falar deste personagem, quem conseguiria rimar bode com Pink Floyd? só Raul mesmo e tudo isto numa levada brega, demais.

Outra música que causou estranhesa foi "É fim do mês" com sua diversidade de estilos musicais, mais uma vez Raul mostra sua qualidade como letrista e cronista do dia a dia, suas letras merecem um estudo sociológico. Fechando o disco a música que lhe dá título começando com sons de uma toada, para logo cair num rock em mais um manifesto da sociedade alternativa.

Célebre por suas frases feitas e polêmicas, cito apenas duas que exprimem muito bem a faceta de Raul e mostram porque ele foi taxado de Maluco Beleza.


"A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal"

"O sonho do careta é a realidade do maluco"

Alguém aí, pode contradizê-lo?


Ano de lançamento: 1975
Ano de aquisição do LP: 1975
Ano de aquisição do CD: 04/2000

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