domingo, 12 de dezembro de 2010

Show Raul de Souza 55 anos - Teatro de Santa Isabel - 05/12/10


Comemorando seus 55 anos de estrada e 45 anos do lançamento de seu primeiro disco, Raul de Souza esbanjou vitalidade neste show realizado no também belo Teatro de Santa Isabel, como parte integrante da turnê nacional que passou pelas cidades de Curitiba (onde nasceu), São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro, acompanhado pelo grupo "Na Tocaia", um quarteto de primeira qualidade, onde desponta o excelente pianista Jeff Sabbag, os outros componentes, todos de grande qualidade artística, são, Glauco Sölter no baixo, Endrigo Bettega na bateria e Mário Conde na guitarra.

Não deixa de ser um privilégio que nossa cidade tenha sido contemplada com o show deste monstro sagrado do trombone, que já tocou com nomes como Sérgio Mendes, Airto Moreira, Flora Purim, Sarah Vaughan, Cal Tjader e Sonny Rollins, tocou e filmou com Roberto Carlos no filme "Em ritmo de aventura", o cara é realmente muito bom.

Com um repertório que abrangia todas as épocas de sua vasta carreira, incluindo sua primeira composição "A Vontade Mesmo" e belos momentos como "Lamento" de Pixiguinha e Benedito Lacerda e a maravilhosa versão para "Inútil Paisagem" do eterno Tom Jobim, um show digno dos grandes mestres. A vitalidade juvenil de Raul de Souza é invejável, a espontaneadade, a técnica e naturalidade com que ele toca é de impressionar, é a naturalidade de quem sabe o que faz, aliado a técnica de quem tem " a música como o real alimento da alma". Infelizmente, por motivos técnicos, ocorridos no transporte durante o voo, ele não pôde utilizar o instrumento que ele criou, o "Souzabone", teve que adaptar algumas músicas criadas especialmente para este instrumento, utilizando o trombone de vara, mas, como quem sabe sabe, não se notou muita diferença.

O quarteto que o acompanha, dando o molho necessário para o mestre, não podia estar áquem do seu acompanhante, instrumentistas afinadíssimos com um total entrosamento entre si e com o Raul, o som fluia como água em cachoeira.

Como se não bastasse o ótimo repertório apresentado, o melhor ficou para o bis, com um arranjo pra lá de balançado, eles fecharam a noite com "Bananeira" pepita musical de João Donato e Gilberto Gil, outros dois grandes mestres. Os nossos ouvidos agradeceram muito.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Show - Brad Mehldau - Theatro Municipal do Rio de Janeiro - 02/10/10




















Há quem diga que ir ao Rio de Janeiro e não visitar o Maracanã, é o mesmo que não ter ido ao Rio. É inquestionável o simbolismo deste monumento que rege a paixão pelo esporte mais popular do País, como é inegável que assistir a um FLA x FLU em decisão de campeonato é um espetáculo digno de emocionar até o mais gélido dos corações Russos, difícil é ficar impassível com tanta adrenalina.


Há quem ache (eu, incluso) que ir ao Rio de Janeiro e não ir ao Theatro Municipal, é o mesmo que não ter ido ao Rio, principalmente agora, depois de uma reforma estruturadora neste templo da cultura carioca, o que já era belo, tornou-se esplendoroso, tal o rebuscamento e o cuidado em recuperar pinturas antes "escondidas" pela ação do tempo, nuances afloraram o que tornou mais prazeiroso uma ida a este teatro, que na minha modesta opinião é o mais belo do Brasil. Quando morei no Rio, o Municipal era quase uma segunda casa, tal a frequência que ia lá, assisti espetáculos maravilhosos, Baryshinikov, Marcel Marceu, Tom Jobim, João Gilberto, Nelson Freire, Momix, Pilobolus, diversas óperas e muitos outros. Ir ao Rio e não visitar o Municipal é o mesmo que comer um sonho de valsa sem o seu delicioso recheio.



Este preâmbulo, foi para falar sobre o espetáculo a parte que foi visitar o Theatro Municipal no dia do show Piano Solo Improvisations do pianista Brad Mehldau. Como o próprio título diz, o show não teve um programa a ser seguido, Brad ia tocando, na maioria suas composições e ia improvisando em cima delas, e tudo sempre com uma qualidade sensacional, daí se entende o texto do release, "A personalidade musical de Mehldau forma uma dicotomia. Ele é, acima de tudo, um improvisador, e curte muito a surpresa e deslumbramento que podem ocorrer a partir de uma ideia musical espontânea expressa diretamente, em tempo real".

Surpresa e espontaneadade é o que não faltaram neste show, com uma técnica apuradíssima, Brad ia desfilando suas composições, sempre com uma bela competência. Se a sua mão esquerda não conseguia a mesma desenvoltura que um McCoy Tyner, era compensada pela agilidade demonstrada na mão direita, o que necessitava de alguns contorcionismos que juntamente com grunhidos lembravam outro excepcional pianista Keith Jarret, evidente, que em técnica musical, ainda existe uma certa distância entre eles.

Brad Mehldau tem uma vasta discografia, como líder, co-líder e participante, inclusive com diversas premiações, Grammy incluso, ele tem gravado e se apresentado constantemente desde o início dos anos 90, a maior parte das vezes com seu trio.

Após quase uma hora e meia de improvisos de qualidade e depois de calorosos aplausos, Brad volta ao palco no bis e toca Tom Jobim para o delírio da plateia que lotava o Municipal, infelizmente já no segundo bis, um fato lamentável, um espectador nas primeiras filas da plateia, insistia em deixar o seu celular ligado e o qual não parava de tocar, o mesmo teve o disparate de atender o telefone e sair falando, em um total desrespeito ao artista e público em geral, aí o Brad deu uma de João Gilberto e interrompeu a música e saiu do palco, não voltando mais, uma pena que isto acontecesse no mais belo teatro do País. Imaginem se este fato acontecesse aqui no Nordeste, o que será que os twiteiros do sul iriam falar?

domingo, 7 de novembro de 2010

FESTIVAL MIMO - Wagner Tiso - 06/09/10
















Um dos mais importantes músicos brasileiros, o compositor, maestro e arranjador Wagner Tiso, foi escolhido como "Compositor Residente" desta edição do Festival MIMO - Mostra Internacional de Música em Olinda, onde teve sua obra trabalhada na Etapa Educativa do Festival, desenvolvendo uma integração com os jovens que formam a Orquestra MIMO na montagem de uma de suas suite sinfônica, apresentada nesta noite na Igreja da Sé.

Para quem acompanha sua carreira, como eu, desde o tempo do grupo "Som Imaginário" foi um prazer assisti-lo, me lembrei da primeira vez que o vi, acompanhando Gal Costa, no longínquo ano de 1977 no show "Caras e Bocas" no Teatro do Parque aqui em Recife, ele estava despontando no meio musical brasileiro, ainda pouco conhecido, fiquei embasbacado com sua performance, um show irretocável, Gal estava Divina e Maravilhosa.

Voltando ao espetáculo do MIMO, Wagner dividiu o palco com o Brasil Ensemble, Victor Biglione e Márcio Malard em interpretações primorosas, em conjunto ou em duos, principalmente com o Victor, presença mais constante no palco, os dois se entrosaram perfeitamente, era nítida a cumplicidade entre eles, com performances irretocáveis.
Fechando o espetáculo, todos se juntaram no gran finale, com a Orquestra MIMO, sob a regência do maestro Guilherme Berstein, onde tocaram Villa-Lobos e uma suíte tendo como tema principal o frevo, composto por Tiso especialmente para a ocasião, a plateia aplaudiu calorosamente. Mais um ponto positivo para o festival.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

FESTIVAL MIMO - Leo Gandelman e Novo Quinteto - 6/09/10





















Leo Gandelman é um instrumentista, arranjador e compositor dos mais bem sucedidos da cena instrumental brasileira e como tal foi recebido neste quinto dia do Festival MIMO - Mostra Internacional de Música em Olinda, acompanhado do grupo "NOVO QUINTETO", comandado pelo excelente Henrique Cazes e tendo como integrantes os não menos excelentes músicos, Maria Teresa Madeira (piano), Marcos Nimrichter (acordeon), Omar Cavalheiro (contrabaixo) e Jurim Moreira (bateria), sob os olhares atentos da plateia que lotou o Seminário de Olinda.

Leo Gandelman em sua já extensa carreira, oscila entre a mais pura burocracia instrumental até o mais palatavel som extraído do seu saxofone, neste dia, talvez inspirado pela companhia do Novo Quinteto, ele deixou o som burocrático de lado se entregando a fluidez sonora de obras de exímios compositores, tais como Radamés Gnattali e Tom Jobim e aí é ingável a qualidade técnica e artística deste músico, ouvi-lo tocar composições destes e outros mestres é sempre um prazer, principalmente quando ele improvisava, o que sabe fazer muito bem.

Poucos são os músicos que podem contar com o auxílio luxuoso de um grupo como o Novo Quinteto, uma retomada do antigo Quinteto Radamés Gnattali, eles por si só já poderiam ser um espetáculo a parte, devido a excelência dos seus músicos. Henrique Cazes pode ser considerado um dos mais perfeitos instrumentistas deste País, além de guitarrista, violonista, produtor, ele também é um dos maiores historiadores musicais do Brasil, sua contribuição a memória cultural brasileira é inestimável. Com um repertório afinadíssimo, só com pérolas musicais brasileiras, o show desenrolou com uma sonoridade ímpar, trazendo uma satisfação geral, tanto da plateia quanto dos músicos.

No Bis, uma surpresa que abrilhantou mais ainda o já brilhante show, Léo chamou ao palco, um saxofonista que vem consolidando sua carreira como uma das melhores surgidas em Pernambuco nos últimos anos, o Maestro Spok, que vem entre outras coisas, dando uma renovada no frevo, o legítimo som Pernambucano, e que tem provado que é um músico versátil, passeia por vários estilos musicais, sempre com a mesma competência. Evidentemente que nada melhor para fechar um show em Olinda do que tocar dois frevos o que levantou os espectadores, tornando a festa ainda melhor, a alegria aumentou na bela igreja de Olinda.

sábado, 25 de setembro de 2010

FESTIVAL MIMO - TOM ZÉ - 05/09/10




















Depois de levitar no Alto da Sé, assistindo ao show de McCoy Tyner (ver post anterior), desci ladeira abaixo (correndo) para chegar a tempo do outro show mais do que esperado deste quarto dia do Festival MIMO - Mostra Internacional de Música de Olinda, o sempre irreverente, polêmico e extraordinário Tom Zé, um dos mais inquetos artistas da música brasileira, ele é exemplo de vitalidade e renovação. Experimentalista, fez parte do movimento tropicalista, estudou música com a orientação teórica de Koellreuter, incorporando a sua música conceitos modernistas.

Tom Zé tem uma grande relação de amor com Recife e Olinda e a recíproca é verdadeira, foi aqui, no Festival Abril pro Rock de 1999 na sua 7ª edição que Tom Zé "renasceu" para o grande público, com sua performance irreverente e praticamente desconhecida na época, ele entrou na grade do festival como atração mediana e saiu do show, simplesmente consagrado pelo público de mais de cinco mil pessoas, ao final do show, este público gritava insistentemente e sem parar "Tom Zé! Tom Zé!" enquanto a produção já preparava o palco para a próxima atração, só depois da grande vaia e da plateia exigir sua volta, a produção deixou Tom Zé, já totalmente consagrado, voltar ao palco, então, ele exorcizou as décadas de incompreensão e maldição num discurso emocionado "Eu já fui enterrado duas vezes. Uma em 1940, porque um lado de minha família não queria que eu tivesse nascido. Outra em 1970, pelas circunstâncias comerciais do tropicalismo. Eu tinha medo que este ciclo se repetisse de 30 em 30 anos. Vocês acabaram de me salvar".

Palavras proféticas, hoje, Tom Zé é reconhecido mundialmente como um dos compositores mais inventivos da atualidade, o que pode ser comprovado nos seus discos e shows, neste, ocorrido na praça do Carmo em Olinda não foi diferente dos demais que ele já fez por estas bandas de cá, após o já longínquo ano de sua "redenção". Com uma praça totalmente lotada, um público de aproximadamente cinco mil pessoas que se expremiam para chegar o mais próximo do palco, Tom Zé fez um show irretocável, auxiliado por uma banda azeitadíssima, que o acompanha há longos anos, ele desfilou a música irreverente e inventiva que sempre fez. Inspiradíssimo, alegre, contente por estar ali, mais uma vez entregue nos braços de uma plateia que sempre lhe acolheu bem, desta vez não foi diferente, a numerosa plateia, devolvia com aplausos entusiasmados e alegria estampada nos rostos a satisfação de estar ali assistindo um grande artista que um dia já foi considerado "maldito", mas, que artista maldito é este que consegue colocar tanta gente numa praça pública e prender sua atenção até o final?. Mais uma vez ele foi ovacionado e o público exigiu sua volta, teve o "bis" do "bis" por exigência da plateia.

Lançando o seu novo disco "Pirulito da ciência", Tom Zé estava extasiado, parecia uma criança, ao final do show, tamanha a sua alegria. Brincava sempre com a plateia, enquanto mostrava suas músicas maravilhosas. Assistir a um show de Tom Zé é sempre um deleite, e quando ele está numa noite inspiradíssima, este deleite é maior ainda, mais um gol de placa da organização do Festival MIMO.

Assistir, em um mesmo dia, a Cristina Braga, Dado Villa-Lobos, McCoy Tyner e Tom Zé, e isto tudo de graça, eu só posso dizer uma coisa, "sorry, periferia".

sábado, 18 de setembro de 2010

FESTIVAL MIMO - McCoy Tyner Trio - 05/09/10
























Covenhamos, caros leitores, que assistir a uma lenda viva do jazz mundial, dentro de uma igreja secular, vá lá que a acústica não é das melhores, com uma ambiência alto astral, propícia a improvisos geniais, e isto tudo de graça, é um enorme privilégio. Como diria o criador das crônicas banais de costumes, "sorry, periferia", este privilégio foi para os que lotaram a Igreja da Sé, no show mais esperado e concorrido do Festival MIMO - Mostra Internacional de Música de Olinda.

Para aqueles que lá compareceram, McCoy Tyner proporcionou momentos mágicos, mostrando porque é considerado um dos mais importantes pianistas da história do jazz. Apesar do avançado da idade, 72 anos, e da aparência um tanto quanto magra, o dedilhar de seu piano continua com a mesma elegância e sofisticação de sempre. Acompanhado por um time de primeira, Gerald Cannon no baixo e Eric Kamau Gravatt na bateria, dois negões que dignificam e mantém vivo o som criado por seus ancestrais. Contando ainda com o auxilio luxuoso do veterano e excelente saxofonista Gary Bartz, que tem no currículo participações nos grupos de Miles Davis, Max Roach, Charles Mingus e Art Blakey, além de ter gravado mais de trinta discos próprios, mas ele não se destacou só pela excelência musical, o cara, com sua cabeleira, é literalmente uma figura, de dar inveja, aos estilosos cabelereiros da galeria do rock.

A tão propalada mão esquerda do McCoy Tyner, funcionou muito bem, emitindo acordes mágicos em uma noite mágica, a simbiose entre os quatro músicos beirou a perfeição, o entrosamento era nítido com o Gary improvisando em cima de temas de Duke Ellington e John Coltrane, velho conhecido de ambos, já que os dois tocaram com o mestre do saxofone. A música fluia de uma maneira tão leve e agradável que o tempo nem seria notado se eles passassem a noite toda tocando. Jazz da mais alta categoria, um espetáculo para elevar as alturas o prazer de ouvir uma boa música, a plateia de privilegiados agradecia encantada, como podia-se ver no rosto de gente como Léo Gandelman, Dado Villa-Lobos e o pianista Jean Louis Steuerman, gente de peso que aplaudia e pedia bis, uma noite que não deveria ter terminado, um ponto positivo para o MIMO, um verdadeiro gol de placa.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

FESTIVAL MIMO - Cristina Braga e Dado Villa-Lobos - 05/09/10






















A curiosidade era grande para ver o encontro inusitado entre Harpa e Guitarra, e qual seria o resultado desta mistura. Cristina Braga e Dado Villa-Lobos se apresentaram no quarto dia do Festival MIMO - Mostra Internacional de Música de Olinda, ela, primeira harpista da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, que já tocou sob a batuta do grande maestro Mistilav Rostropovich, e ele, guitarrista, ex-integrante do supergrupo Legião Urbana.

Apesar de esperar um duo de harpa e guitarra, o que não aconteceu, o show não decepcionou, a Cristina Braga que se apresentou primeiro, tem um trabalho paralelo ao sinfônico, mais voltado para a MPB, onde ela mostra não só sua qualidade como harpista, como também mostra seus dotes vocais, já com alguns discos lançados. Acompanhada de teclado, baixo e bateria, Cristina desfilou composições próprias, intercalando com releituras para clássicos da MPB, sobressaindo-se o som da harpa, tornando-as diferentemente belas. Com uma voz suave, adaptando-se bem aos arranjos apresentados. A sua versão para "Melodia sentimental" da obra prima de Heitor Villa-Lobos "Floresta do Amazonas" é um primor, principalmente apresentada dentro de uma igreja.

Após algumas músicas, Dado Villa-Lobos entrou para dividir duas canções com Cristina e depois seguir sozinho com a mesma banda, em seu trabalho pós Legião, Dado arrisca-se a cantar, já que na época da superbanda não tinha muita vez como cantor, não decepciona, nem quando canta alguns hits do Legião Urbana, quando convida a plateia que lotava a igreja do Seminário de Olinda, a cantar junto, o que é prontamente atendido, principalmente com "Geração Coca Cola" e "Será", ou seja rock e MPB num mesmo show, intercalando músicas próprias que falam do amor, com sucessos do Legião, Dado fez um show competente, mostrando o grande músico que ele é. Com a volta de Cristina para dividir o palco, eles apresentam mais algumas músicas, inclusive uma versão que a harpista fez para a célebre "Índios" do Legião, que por sinal ficou muito boa.

Para quem esperava um show com apenas harpa e guitarra, não foi decepcionante ouvir belas canções interpretadas por ótimos músicos.


Detalhe: Após o show de Tom Zé, neste mesmo dia (que comentarei posteriormente), fui a uma festa oferecida pela organização do MIMO, no Mercado da Ribeira lá em Olinda, onde através de um amigo em comum, conheci o Dado Villa-Lobos e num bate papo prolongado, pude verificar que o cara é gente finíssima, super dado (desculpem o trocadilho), bastante simpático e sem estrelismo, conversamos sobre diversos assuntos, mas não pude resistir a ocasião para tietar, e claro, falamos sobre o Legião, principalmente sobre o histórico show que eles fizeram no Jockey Club do Rio de Janeiro que tive o privilégio de assistir na época, mais de 60.000 pessoas se aglomeraram nas dependências do Jockey, no dia que Cazuza morreu. Durante a manhã e tarde caía um diluvio no Rio e havia a possibilidade até de cancelamento do show, algumas horas antes do início, a chuva parou, as nuvens se dissiparam, abrindo um céu estrelado com lua cheia, onde poderia-se ver de lá o Cristo Redentor abençoando todos. Renato iniciou o show com a seguinte frase, "Assim como eu, ele tinha trinta anos. Assim como eu, ele gostava de meninas e..... meninos" recebendo uma ovação da plateia, ficando com ela na mão, já no início do show e aí foi só desfilar todos os sucessos do Legião, eles estavam numa noite inspirada. Já no final, quando tocaram o mega hit "Faroeste caboclo" houve uma catarse total, parecia uma celebração tribal ou celebração de fanáticos, disse ao Dado que nesta hora tive medo, que se perdesse o controle da situação, haja visto a adrenalina no ar, realmente um show histórico. Lembramos tudo isso e o Dado me disse que aquele show foi no dia 7 de julho de 1990, quase não acreditei que já faziam vinte anos, é, parece que o tempo está passando rápido demais.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

FESTIVAL MIMO - SELMER #607 - 04/09/10























Para aqueles que desconheciam este grupo (eu incluso), vale a pena a transcrição do realese do programa do festival.

"Se Django Reinhardt fosse vivo, estaria fazendo cem anos e provavelmente ainda tocaria seu violão Selmer #503. A sonoridade do instrumento é semelhante à do Selmer #607, modelo que inspirou estes seis franceses a montarem um coletivo de jazz manouche, também conhecido como jazz cigano. Com menos de 30 anos (os músicos) e dois discos gravados, esses seis garotos da França já se consagraram por seu virtuosismo. Em seus concertos, fazem releituras de Miles Davis, John Coltrane, Richard Galliano e, claro, Django Reinhardt."

Encerrando o terceiro dia e como a grande aposta do Festival MIMO - Mostra Internacional de Música de Olinda, na Igreja da Sé, o virtuosismo deu a tônica da apresentação do Selmer #607. Apesar de o grupo contar com seis integrantes, o espetáculo se desenrola com apenas quatro no palco, um contrabaixo e três violões, sendo um deles o tal do Selmer #607, e três dos integrantes se revezam tocando o violão que empresta o nome ao grupo. Segundo explicação dos próprios integrantes, este modelo é um dos remanescentes dos 900 violões fabricados entre as decadas de vinte e trinta do século passado, quando deixaram de ser fabricados e tinham como um de seu maior divulgador o lendário cigano Django Reinhardt.

Para os fãs do gênio cigano belga, como eu, foi fácil se encantar logo de primeira com a sonoridade vibrante, peculiar ao jazz cigano, apresentada pelo quarteto. Com releituras de clássicos do jazz, os jovens músicos, demonstravam um virtuosismo que as vezes impressionava devido a pouca idade, principalmente os que tocavam no violão principal. O Selmer #607, esmerou-se em composições de Reinhardt, mas também passearam por Tom Jobim (aplaudidíssimo), Coltrane e Miles Davis. Apesar de franceses, um povo muito contido, eles esbanjavam alegria e demonstravam estar felizes por estarem se apresentando ali, o que cativou logo a plateia que quase lotou a Igreja da Sé e retribuiam em aplausos calorosos.

Um grupo que pelo virtuosismo dos seus integrantes (no bis, todos se revezavam em todos os instrumentos, numa jam session sensacional) e pela qualidade musical, deram uma renovada no jazz manouche e garantiram uma sobrevida a este estilo, que andava meio esquecido ultimamente. Mais uma grata surpresa deste festival, um show que valeu a pena ter assistido.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

FESTIVAL MIMO - Fernando Portari, Rosana Lamosa e Jean Louis Steuerman - 04/09/10


O Festival MIMO - Mostra Internacional de Música em Olinda deste ano, estava pródigo em espetáculos de qualidade, era necessário um pouco de malabarismos e muita correria para quem quizesse assistir a programação completa do dia. Neste segundo dia, depois de perder o show do Egberto Gismonti (sim, ele mesmo e de graça), apesar da correria, quando cheguei a Igreja já estava lotada e com uma fila enorme do lado de fora, corri então para a Igreja do Seminário de Olinda, para assistir o recital dos cantores líricos Fernando Portari e Rosana Lamosa, acompanhados pelo pianista Jean Louis Steuerman, que apesar do nome, é brasileiro, mas com uma sólida carreira internacional.

Com um programa composto de Lieder do gênio alemão Robert Schumann em celebração aos 200 anos de seu nascimento, iniciado pela soprano Rosana Lamosa que mostrou muita segurança na sua interpretação e um ótimo entrosamento com o pianista Steuerman. O compositor Schumann era um mestre na Lieder romântica alemã, que não foi obstáculo para se entender o seu sentimento, apesar da barreira linguística.

O tenor Portari, foi a grande sensação do recital, com sua voz potente e afinadíssima que ecoou em todos os cantos da igreja, transformando as canções do mestre alemão num encantamento puro, tornando prazeirosa a sua audição, impregnada de sentimento aflorado em cada nota musical. Piano e voz em um duo beirando a perfeição. Portari, que para mim era um desconhecido, impressionou com sua voz cristalina e interpretação cheia de emoção, ficou fácil entender o sentido romântico da Lieder. Lendo o programa do festival, verifiquei que ele começa a ter uma carreira internacional em ascendência, sendo ovacionado no Teatro Scala de Milão, quando da sua interpretação na ópera "Fausto". Ovação por certo merecida, grata surpresa.

O pianista Jean Louis Steuerman, foi um acompanhante a altura dos cantores e das composições. Em uma Lieder, um mal pianista pode transformar o recital em um desastre, seguro de si e de sua interpretação, Steuerman conduziu muito bem os cantores, principalmente no bis, quando soprano e tenor cantaram juntos canções de Richard Strauss, estas mais vibrantes que empolgaram a plateia, sendo muito aupladidos, fechando com chave de ouro este belo e encantador recital.

domingo, 12 de setembro de 2010

FESTIVAL MIMO - Mario Canonge Trio - 03/09/10















Pianista virtuoso, Mario Canonge é considerado um elemento central e essencial na atual música caribenha, dedicando-se ao intercâmbio musical com países como Cabo Verde, Haiti, Cuba e, em especial à música de sua terra natal, Antilhas Francesas (Martinica). Mario apresentou-se com seu trio, como a atração principal do dia do Festival MIMO, no concerto de encerramento, na bela Igreja da Sé, no Alto da Sé em Olinda, que ficou cheia, mas não lotada, para ver o irreverente pianista misturar jazz com ritmos latinos. O músico surpreendeu ao pedir para o público se levantar e ensaiar alguns passos, pedido este, prontamente atendido, devido a vibrante música interpretada pelo trio.

Mario Canonge fez sua primeira apresentação no Brasil, apesar de já estar com 20 anos de carreira e cinco álbuns lançados. O repertório apresentado foi baseado nos seus cinco discos, acompanhado de dois excelentes músicos, Linley Marthe no baixo e Chander Sardjoe na bateria que arrasou num solo arrebatador, conquistando logo no início a plateia.

O Trio fez um show bastante vibrante com sua mistura de ritmos como o jazz, o zouk, salsa latina, bolero e até um reggae, contagiando o público.

sábado, 11 de setembro de 2010

FESTIVAL MIMO - DUOFEL - 03/09/10


Cada vez mais se torna inegável a constatação da importância e influência dos Beatles na música mundial, seja no pop, no rock, no jazz ou na música instrumental, eles serviram de influência para tudo, isto mostra a grandeza de suas canções.

Este prólogo é para descrever a satisfação que foi assistir a apresentação deste ótimo duo de violões, interpretando os sucessos dos Fab Four em mais um Festival MIMO - Mostra Internacional de Música de Olinda.

Eles, que podemos considerar um patrimônio da música instrumental brasileira, com mais de trinta anos de carreira, nos surpreende com releituras de clássicos do quarteto britânico, algumas até inusitadas. O show todo baseado no disco lançado recentemente "Plays The Beatles", encantou a plateia que lotou a igreja localizada no Seminário de Olinda, a cada nova canção apresentada, podia-se verificar a satisfação no rosto dos espectadores. A alquimia apresentada por Fernando Melo e Luiz Bueno transcendia o clássico e o popular, o virtuosismo dedilhado nos violões, deram uma nova "cara" a canções como "Across the universe", "Here, there and everywhere" e principalmente a fantástica "Eleanor Rigby" uma das mais aplaudidas no show.

O Duofel fez uma apresentação irrepreensível, quando acha-se que já se esgotaram-se todas as possibilidades de releitura para as músicas dos rapazes de Liverpool, eis que aparece um duo de violões e nos mostram que ainda existem novas possibilidades de ouvi-las, isto é decorrente da grande admiração dos violonista pela música do grupo, conforme próprio depoimento deles, aliás eles não se cansavam de deixar bem claro o quanto os Beatles influenciaram as suas formações musicais.

O show apresentado aqui em Olinda foi o mesmo que eles fizeram no "Cavern Club", templo Beatlemaníaco, ganhando inúmeros elogios, bastante merecidos, uma apresentação realmente encantadora.

domingo, 9 de maio de 2010

Joplin In Concert - Janis Joplin (LP e CD)




Com sua voz inconfundível, Janis Joplin surgiu na cena musical como um diamante bruto, que com o tempo foi sendo lapidado até se transformar numa gigante pérola de voz rascante e emoção a flor da pele, pena que quando esta "pérola" desabrochou, ela encurtou o seu caminho e foi desbundar no "andar de cima", pior pra nós.

A cada nova audição, o seu canto penetrava nas entranhas e fazia vibrar cada nervo, sua força bruta e eletricidade eram terríveis. Sua aparência rude e terrena escondia um ego vulnerável, sensível, ambos em luta e interação constantes.

Janis viveu como uma chama ao vento, sempre na maior intensidade. A flama era, naturalmente, seu talento brilhante, ele próprio uma coisa viva sempre visível e audível na execução. Não um talento plácido, mas um fulgor robusto, vigoroso, explosivo de criatividade.

Seu som foi essencial para a formação do Rock'n'Roll, com sua voz inigualável, com sua sensualidade e seu estilo hippie de ser, Janis Joplin conquistou o público com sua forma passional, enérgica e intensa de interpretar especialmente temas do blue (um som que era praticamente dominado pelo sexo masculino, principalmente os negros americanos).

Este álbum duplo, lançado após a sua morte é uma coletânea de gravações ao vivo, onde ela melhor sabia se expressar, com performances antológicas, dos anos de 1968 e 1970 com suas bandas "Big Brother & The Holding Co." (1968) e "Full Tilt Boogie Band" (1970), se em estúdio Janis já soltava a voz, colocando a emoção acima de tudo, nos shows a sua força interpretativa simplesmente transcendia ao simples cantar, a sua entrega era total, foi assim que ela no lendário Festival Monterrey Pop em 1967 surgiu para o mundo, aproveitando uma oportunidade que ela sabia que seria única. O disco começa com um de seus grandes sucessos "Down on me", onde o ouvinte já percebe toda a sua força interpretativa, seguem-se blues com levadas rock, que ela tão bem sabia cantar, até chegar em uma das mais belas canções cantadas por Janis, "Piece of my Heart", poucas canções conseguiram ter uma entrega total de seu interprete quanto esta com Janis, chega a impressionar a força e emoção com que ela solta a voz. Maior representante da geração "Flower Power", Joplin transformava obscuras canções em verdadeiros clássicos, além de reverter completamente sucessos dando-lhe uma nova roupagem, fazendo surgir uma nova canção, o maior exemplo disto é sua versão para a famosíssima "Summertime", depois de sua versão, ficou impossível escutá-la de outra maneira, o duelo entre guitarra e voz é de arrepiar, os versos de Heyward e George Gershwin, receberam uma nova conotação com a sensualidade interpretativa de Janis, um lamento blues de arrasar.

É no disco 2 que surgem os maiores sucessos na voz de Janis, a "pérola" já estava praticamente lapidada, aí o show era maior, o balanço de "Half Moon" com seu piano e órgão, "Kozmic Blue" um blue composto por ela, de arrasar quarteirão, onde é visível a emoção na sua voz, cantava blues como nenhuma outra cantora branca havia feito até então. "Mover One" também composta por ela, um rock psicodélico com guitarras distorcidas e intervenções do órgão Hammond. "Try" mais outro clássico na voz de Janis, rock básico, puro, eletrizante como deve ser. "Get it while you can" mais um blues elétrico cantado com todo o sentimento e incríveis solos de guitarra, exalava-se alma no seu canto, fechando o disco um dos grandes sucessos de Janis "Ball and Chain" um rock onde desponta a sua interpretação.

Na versão do disco em CD, nenhuma novidade, tratamento gráfico de péssima qualidade, um total desrespeito, nem a qualidade técnica da gravação foi bem cuidada, não houve nenhuma melhora em relação ao LP.

Abaixo uma das frases de Janis que podia sintetizar todo o sentimento de sua vida.

"Posso não durar tanto quanto as outras cantoras, mas sei que posso destruir-me agora se me preocupar demais com o amanhã".

Ano de lançamento: 1972
Ano de aquisição do LP: 1976
Ano de aquisição do CD: 11/1992

Nota: Com a descoberta deste disco eu praticamente pirei com a força bruta e emocional desta cantora, foi na mesma época que lançaram um excelente documentário nos cinemas chamado "Janis" dos diretores Howard Alk e Seaton Findley, que assisti incontáveis vezes, até três sessões em um mesmo dia, naquela época, entrava-se no cinema com um ingresso e podia-se assistir quantas sessões quisesse. Li o livro "Enterrada Viva", uma ótima biografia escrita por Myra Friedman, que só fez aumentar a minha admiração por esta deusa da emoção. Admiração esta que trago até hoje, depois de sua morte, muitas cantoras já surgiram, mas nenhuma com a força emotiva, carisma, determinação e postura de Janis, nem Amy Winehouse que mais se aproxima dela, mas falta-lhe o vigor interpretativo a emoção a flor da pele, cantar com sentimento é para poucos.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Aconteceu em Woodstock - Ang Lee (Filme)


"A sensação que todos tem é que neste momento, isto é o acontecimento mais importante do Universo" é com este sentimento que um dos personagens, uma das namoradas de Michael Lang, o produtor bicho grilo do festival, expressa, enquanto rola os shows, ao atordoado personagem central Elliot, o significado de tudo aquilo.

Este talvez seja o sentimento que o diretor Ang Lee queira passar em suas quase duas horas de projeção, hoje, vê-se que considerando o sistema solar, seja um exagero, mas no universo da música, sim, nada naquele momento, naquele ano e naquela década, foi tão ou mais importante do que aquele festival, os mais entusiastas alongam este prazo por pelo menos mais duas décadas, a verdade é que até hoje, nunca se fez um festival como Woodstock.

Acreditando nesta premissa é que Ang Lee quis mostrar como tudo começou e a movimentação necessária para fazer acontecer o festival, os distúrbios causados na pacata cidade interiorana americana e como isto afetou os costumes de sua população, afinal, um bando de conservadores americanos, vê sua cidade invadida de uma hora pra outra por um bando de hippies em busca de sexo livre, drogas e rock’n’roll, colocando por terra todos os conceitos de moral e bons costumes vigentes.

O Filme além de mostrar como por acaso o festival foi parar na pacata cidade de White Lake, no interior do Estado de Nova York, através da história do personagem central, o tímido e enrustido Elliot, que tenta salvar da bancarrota o pulguento hotel da sua tirana mãe e do seu desolado pai, também é uma espécie de making of do extraordinário documentário, ganhador do Oscar, “Woodstock” de Michael Wadleigh, síntese do festival, que possibilitou ao mundo curtir e conhecer o festival, impossível desassociá-lo do mega evento. Porém, mais do que uma narrativa sobre os bastidores de Woodstock, o filme se propõe a examinar os efeitos benéficos, libertadores, que o evento teve sobre a vida do próprio Elliot – um homossexual enrustido que, oprimido pela mãe dominadora, encontrou ali forças para abraçar a própria identidade.

Oferecendo um olhar periférico sobre o inesquecível evento que, durante três dias em 1969, celebrou a “paz e a música” ao atrair meio milhão de pessoas para uma enorme fazenda. No decorrer das duas horas do filme, Ang Lee, faz inúmeras homenagens ao documentário, a tela repartida em duas cenas e as vezes três é completamente chupada do documentário, ele de uma maneira sutil mostra como algumas cenas antológicas do documentário foram filmadas, tornando um prazer no decorrer do filme associar estas cenas com as cenas do documentário, são muitas, o banho naturista no lago, as freiras indo ao festival, o tobogã de lama e muitas outras, um verdadeiro deleite para quem, como eu, assisti incontáveis vezes o documentário.

Um ponto negativo é o fato de não aparecer nenhuma cena dos shows, ele passa ao largo, enquanto Lee mostra a movimentação off show, nem as músicas aparecem na trilha sonora, a não ser uma citação de Ravi Shankar, na ótima cena do ácido, e o áudio, já nos créditos finais, da música “Motherless Child” interpretada por Richie Havens que abriu o festival, cuja palavra "Freedom" ele de improviso repetia diversas vezes, pois já não tinha mais músicas para tocar e que terminou tendo um enorme sucesso quando do lançamento do documentário.

Vale salientar a excelente interpretação da mãe de Elliot, a atriz inglesa Imelda Staunton, que por si só já valeria o filme, é impressionante como certos artistas tem a capacidade de incorporar um personagem, ela está perfeita, isto é só para os grandes atores. Outro ponto positivo é a incrível semelhança dos atores que fizeram o já citado produtor Michael Lang e o proprietário da fazenda onde aconteceu o festival, Max Yasgur, parece até que são os próprios.

Este é um filme para os amantes do rock setentão e que entendam a fundamental importância que este festival teve na mudança de comportamento de toda uma sociedade, quebrando barreiras e mudando os costumes. Como já disse antes aqui neste blog, que inveja danada daquele pessoal que foi ao festival.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Show Nouvelle Vague - 01/05/10

Denominado de projeto Mercado da Música, que já trouxe Pedro Luís e a Parede no mês de março e fincado no desconfortável, mas alto astral, Mercado Eufrásio Barbosa em Olinda/PE, desta vez a atração principal foi a banda francesa, ou projeto coletivo, como eles preferem ser chamados, Nouvelle Vague, a abertura coube a simpática banda pernambucana Bande Ciné que revisita clássicos do cancioneiro Francês.


Marcado para iniciar às 22:00h, o primeiro show só começou com hora e meia de atraso, o que já se tornou uma rotina neste local, já incorporado pela plateia composta em sua maioria de jovens entre os 18 e 25 anos, que estavam ali com interesses outros além do show, a garotada alegre, bonita e saudável, não se preocupou muito com o atraso, queriam mais era paquerar, beber e beijar. Os jardins do Mercado era o mais procurado, afinal no local do show o calor era insuportável, mesmo com pouca gente.


A pernambucana Banda Ciné, encarregada de esquentar a plateia, abrindo o show, dedica-se a releituras das músicas do País, cujo presidente é aquele cara, marido da Carla Bruni, principalmente das decadas de sessenta e setenta, com uma vocalista Tati Monteiro bem simpática e de voz agradável, eles fazem um som dançante, cheio de balanço e pitadas de jazz, bossa nova, iê-iê-iê e chachacha, agradaram em cheio a plateia que se predispos a ir tomar uma sauna perto do palco, o diferencial foram algumas rumbas que colocaram todos a bailar. O público esquentou as turbinas para o próximo show.

Um intervalo para o temaki, a cerveja o xixi e invariavelmente muitos beijos, ao som bem legal de um dj.

Vendida como uma banda francesa que fazia versões bossa nova dos sucessos pop rock dos anos 80, elevou a curiosidade e lá fui eu achando que iria encontrar um Mercado com poucas pessoas, afinal, eu nunca tinha ouvido falar desta banda (quem manda ficar fazendo resenha de LPs antigos), ledo engano, na hora que as duas beldades femininas, encarregadas do vocal do grupo adentraram ao palco, o local já estava totalmente lotado, e não era só de curiosos feito eu, a garotada já conhecia a banda e cantava com ela algumas músicas. Com o repertório todo de covers de grupos cults e não-cults, na maioria dos anos oitenta, elas logo logo estavam com a plateia na mão, principalmente os marmanjos, as duas, além de bonitas, tem voz possante e bela, o que ajuda a realçar os arranjos potentes do grupo, se aquilo que eles tocaram no show é versão bossa nova, fico imaginando eles tocando uma versão metal de um Megadeth, não ia ter tímpano que aguentasse.

Com a plateia no bolso, devido a fácil comunicação da vocalista brasileira Karina Zeviani, foi fácil levar o show, apesar do calor, a vocalista para ser simpática, apenas comentava sobre o calor, apesar de seu vestido ficar totalmente suado e transparentes, os marmanjos adoraram, algumas menininhas também. A outra vocalista, a belga, Helena Nogueira, além do rosto e corpo bonitos, também tinha uma voz possante, mas como bailarina, parecia o Robocop de tão desingonçada, enquanto isso a Karina dava um show de leveza, ah..... a mulher brasileira, sempre ela.

Nesta era do "recorte" e "cole", quando reina o pastiche, A Nouvelle Vague se tornou o arquetípico projeto-referência, explodiu sabe-se lá porque - embora pistas levem a crer que foi no festival "No ar: Coquetel Molotov" lá no já longínquo ano de 2007, quando lotou o teatro da UFPE. As versões executadas neste show, ganham aspectos, digamos, bossa rock, pois do estilo criado por Tom Jobim, só mesmo a versão de "God save the Queen" do Sex Pistols com banquinho e violão. O show satisfez em cheio a garotada e os poucos já rodados como eu, um grupoque em nada lembra a tranquila música francesa, mas cheio de gás e com ótimas versões de clássicos e não clássicos. Valeu suportar o calor.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Filme Amor sem escalas - Jason Reitman

Fui assistir a este filme no recém-restaurado Cine São Luiz, único sobrevivente no Recife do chamado cinema de bairro, inaugurado com toda pompa e circustância em 1952 em estilo Néo Clássico, o cinema foi referência por muitos anos na área cultural da sociedade Recifense e viveu seu apogeu nas decadas de cinquenta e sessenta, quando o traje obrigatório era terno completo, quando comecei a frequentá-lo esta obrigatoriedade já não existia, assisti muitos filmes lá, antes do advento dos multiplexs, era o point de badalação cultural. Pertencia ao grupo Luiz Severiano Ribeiro, mas a partir do final dos anos 90 entrou em decadência e fechou suas portas em 2006, cheguei a frequentá-lo até pouco antes de seu fechamento, estava realmente deprimente, totalmente entregue, doía no coração.

Houve um movimento forte da cena cultural recifense contra o seu fechamento, era o último baluarte, uma parte importante da história cultural do Recife, muitas tentativas foram feitas até que o Governo Estadual assumisse o controle do espaço e depois de três anos fechado, conseguiu reabri-lo no final do ano passado, só que para o público a partir de fevereiro deste ano. Fui no sábado e confesso que me emocionei ao ver a imponência do espaço de volta, me veio à lembrança os muitos e muitos filmes que ali assisti, naquele escurinho do cinema, passarem-se diante dos olhos, muita alegria, tristesa, fantasia, esperança, desilusão, amores, desamores, volúpia, infidelidade, sexo, amor, música, ação, adrenalina, enfim a verdadeira magia do cinema.

Inevitável a comparação com os cinemas multiplex e neste caso tenho que concordar com os saudosistas, aquele belo espaço, com um bonito e grande mural na sala de espera do pintor pernambucano Lula Cardoso Ayres, seus vitrais, cortina de veludo vermelha na tela e paredes revestidas com mosaicos também de veludo, nem pode ser comparado com os espaços inóspitos e sem vida dos multiplex.

Seja bem vindo de volta Cine São Luiz.



Depois de se encantar com o belo espaço, nada como assistir a um filme leve e solto numa ensolarada tarde de sábado, filme estrelado por George Clooney e dirigido por Jason Reitman, mesmo diretor do despretensioso e ótimo "Juno". Talvez Reitman esteja sem especializando em filmes despretensiosos, este também é, o enredo é sobre um executivo que viaja os EUA com a função de demitir funcionários de grandes empresas, lendo assim, pode-se imaginar um filme muito chato e funesto, afinal demitir pessoas não deve ser lá uma profissão das melhores, é aí que se engana-se, pois o interesse do filme é exatamente contrapor noções básicas de humanidade e o sistema vigente (desumano) que faz a sociedade existir. A aparição de uma personagem tipo jovem profissional recém-formada, fruto da sociedade hi-tech e globalizada, propõe na empresa que Clooney trabalha, um método revolucionário de demissão via teleconferência via net que irá economizar dinheiro em passagens e hotéis. Palco para o embate entre o velho e o novo, entre o contato e o virtual, talvez esta também seja a luta entre os cinemas de bairro e os multiplex, nada mais sugestivo assistir a este filme num cinema de bairro.

O filme desenrola sem muita ação, no sentido de adrenalina, mas com um roteiro agradável, onde se sobressai as ótimas conversas entre os personagens, num estilo próximo aos de Woody Allen, em tempos de adrenalina pura, nada mais prazeiroso do que ouvir bons diálogos em um filme, se compara a ler um bom livro.

George Clooney convence como o executivo que aprofunda o conceito do indivíduo adepto de refeições e amigos descartáveis, aliás, ele cada vez mostra que não é apenas mais um rosto bonito, principalmente depois que o seu conceito foi elevado, após o excelente "Bom dia, boa noite".

Um filme agradável de se assistir, principalmente num agradável e belo espaço nada hi-tech.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

LP Alucinação - Belchior

"Se você vier me perguntar por onde andei
no tempo em que você sonhava,
de olhos abertos lhe direi:
- Amigo, eu me desesperava"

Nove entre dez jovens adolecentes ou pós adolecentes foram influenciados por estes versos nos idos de 1976, a ditadura militar ainda imperava, apesar da já prometida abertura, mesmo que "lenta e gradual", estar a vista, o medo do recrudescimento era latente, e esta incerteza no futuro político do País, na falta de perpectiva econômica, afinal o "milagre econômico" tinha virado "pesadelo econômico", batia um certo desespero nas pessoas, na mesma música "A Palo seco", Belchior ainda era mais direto e incisivo, "Eu quero é que esse canto torto feito faca, corte a carne de vocês". Ouvir "Alucinação" e ler "As Veias abertas da América Latina" do ótimo Eduardo Galeano, era para fazer qualquer jovem ir as ruas lutar contra o establishment.

Este foi o segundo disco deste cantor e compositor cearense, que chegou como um verdadeiro vendaval, na letárgica MPB da época, se nada de novo havia nos arranjos, tudo era compensado pela qualidade extraordinária de suas composições, suas letras eram o reflexo fiel da incerta sociedade da época, medo, solidão, humilhação, segregação, violência, fantasias, delírios, costumes, juventude, certezas e incertezas, desespero, esperanças, romances, tudo passava pelo caldeirão sonoro de Belchior, sem ser piegas, contestatório ou chato, ele detonava e alertava, principalmente para os jovens, que o destino a eles pertenciam, "Mas eu não estou interessado em nenhuma teoria, em nenhuma fantasia, nem no algo mais. Longe o profeta do terror que a Laranja Mecânica anuncia! Amar e mudar as coisas me interessa mais" ensina ele na faixa título.

"Velha Roupa Colorida" e "Como nossos pais", duas das músicas mais emblemáticas deste trovador nordestino, a primeira, cheia de referências e saudosismos, tentava mostrar as mudanças pela qual a sociedade passava e a necessidade de seguir em frente com novos desafios, "Você não sente nem vê, mas eu não posso deixar de dizer meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer" (politicamente profético), para depois apontar os caminhos para o futuro "No presente a mente, o corpo é diferente e o passado é uma roupa que não nos serve mais", na segunda, o alerta para a necessidade dos jovens procurarem novos caminhos e irem a luta "Viver é melhor que sonhar", a sociedade estava meio que paralisada devido ao estrago cultural e político ocasionado pela ditadura, era preciso um grito de alerta "Porisso, cuidado, meu bem! Há perigo na esquina. Eles venceram e o sinal esta fechado para nós, que somos jovens.". Estas músicas tiveram projeção nacional devido a magistral interpretação da superlativa Elis Regina, viraram sucesso instantâneos e entraram para o rol das melhores músicas do cancioneiro popular brasileiro, até hoje a interpretação de Elis não foi superada.

Com a força dada por esta grande descobridora de talentos (que falta que ela faz), é que o restante do País pôde descobrir músicas como "Apenas um rapaz Latino Americano" que virou hino de todos os jovens que tivessem alguma preocupação com si próprio, com seu destino e o destino do País, os tempos eram dificeis e Belchior soube como ninguém expressar o sentido de vida dos jovens da sociedade da época, não tinha como não se identificar com os seus versos, assim como Chico Buarque refletia os jovens nos anos sessenta e Renato Russo nos anos oitenta, Belchior foi quem melhor expressou as aventuras e desventuras dos rapazes latino americanos no final dos anos setenta, sempre numa linguagem muito próxima, como se ali estivesse um grande amigo dando-lhe conselhos, alertas, "Mas não se preocupe, meu amigo, com os horrores que eu lhe digo. Isto é somente uma canção. A vida realmente é diferente. Quer dizer: ao vivo é muito pior."

Este disco é um verdadeiro tratado sociológico dos costumes sociais da época, um marco histórico da MPB, poucos discos mexeram tanto com os jovens quanto este, talvez só tenha paralelo apenas nos discos da Legião Urbana do já citado Renato Russo. O alvoroço causado na época do seu lançamento catapultou Belchior ao estrelato nacional, é verdade que depois deste, ele nunca mais conseguiu versos tão contundentes, apesar de lançamentos posteriores acima da média, pena que tenha literalmente desaparecido da mídia nacional.

Uma curiosidade: no enorme encarte com as letras do disco, em uma das faces, uma cópia de uma nota de dez dolares, com a foto central de Belchior e a sarcástica frase "IN GOLD WE TRUST".

Ano de lançamento: 1976
Ano de aquisição: 1976

quinta-feira, 29 de abril de 2010

SHOW LAETITIA SADIER (27/04/10)


Fundadora e vocalista do cultuado grupo Franco-Britânico "Stereolab", que está em período de recesso, Laetitia Sadier, apresentou seu projeto solo, voz e violão e guitarra, no Teatro Barreto Júnior no Recife.

Cantora de voz açucarada, ela que é responsável pelas letras intensas da banda, mostrou composições autorais para este projeto solo. Passeando pelo folk, trip hop e indie pop, ela não chegou a empolgar a plateia composta de maioria de jovens, por certo, fãs da banda que esperavam algo na linha mais agitada e dançante. A apresentação seguiu morna do início ao fim, nada muito diferente das inúmeras cantoras e cantores de barzinho que povoam todos os recantos deste imenso País, alguns até melhores do que ela.

Nada de novo a apresentar, frustou a tímida plateia presente. Com sua voz suave, ela estava mais para ninar o público que respondeu com cansadas palmas, talvez percebendo isto, ela se apressou em terminar o espetáculo, o que foi muito bem recebido por boa parte do público (incluindo o que aqui vos escreve).

Espero que ela retome logo com sua bem bacana banda.

domingo, 25 de abril de 2010

Esta Mulher é Proibida e New York, New York

Dois grandes filmes, duas histórias comoventes, dois casais de atores de primeiríssima linha com interpretações fantásticas e dois finais abolutamente tristes. Ainda não estou conformado. Alguém pode explicar isso?

Alva Starr (Natalie Wood) e Owen Legate (Robert Redford) estão em "This Property in Condemned", ou "Esta Mulher é Proibida", 1966, de Sidney Pollack, uma adaptação da peça de teatro homônima de Tennessee Williams . Eles são, respectivamente, a personificação da sensualidade e da elegância, e fizeram o diabo para estar juntos e passar por cima de tantas adversidades durante a Grande Depressão norte-americana (1930). Só não conseguiram passar por cima da maldade da mãe dela e da penumonia que atingiu a moça depois de uma chuva em New Orleans. E o que dizer da adorável Willie? Que fim terá levado aquela doçura?

Já Francine Evans (Liza Minelli) e Jimmy Doyle (Robert de Niro) estão em "New York, New York", 1977, Martin Scorcese. Eles são estrelas emergentes cumprindo o seu destino numa década de muito swing (1940), comeram o pão que o diabo amassou para chegar onde chegaram, nas estradas e nos subempregos da vida, após o Dia da Vitória norte-americano, e tinham de tudo para comemorar um dos finais mais felizes da história do cinema. Mas o botão do elevador mudou o curso da estória e o jantar no restaurante chinês deu lugar a uma caminhada solitária pela mesma chuva do outro filme.

Assistir a esses dois filmes, em dias consecutivos, alimenta a alma de qualquer cinéfilo. Mas também faz a indagação soar mais forte: afinal de contas, o que se leva de tudo isso mesmo? Haja coração...

Postado por Marcus Vinícius Midena Ramos.

LP Metamorphosis - The Rolling Stones

Depois de uma sessão de discos do movimento psicodélico, nada como voltar com um disco da maior banda de rock de todos os tempos, que terminou virando lenda, por não constar da discografia oficial dos Rolling Stones. Vendido à época como um disco contendo 16 músicas inéditas do grupo, apesar de serem sobras de estúdio que nunca tinham sido lançadas anteriormente, ficando à margem, virando peça dos aficionados dos pedras rolantes. Para se ter uma ideia de como este disco ficou escanteado, só recentemente foi lançado em CD, o que tornou por muito tempo o LP numa raridade disputada a tapas pelos fãs do grupo.

Apesar de conter sobras de estúdio, o disco é puro rock’n’roll bem ao estilo dos RS, praticamente composto por composições da dupla Mick Jagger / Keith Richard, há pelo menos uma curiosidade, a canção “I’D Much rather be with the boys” tem a assinatura de Andrew Oldham, produtor dos RS com Richard, é, Mick não permitiria ser lançado em disco oficial do grupo.

O lado 1 começa com a ótima “Out of time” com sua sessão de cordas e um balanço incrível, pura soul music, a guitarra é substituída pelo violão que se integra as cordas, uma das grandes músicas dos “rebeldes” ingleses. Segue-se “Don’t lie to me” com um piano anos cinquenta na introdução e cadência musical, homenagem aos grandes mestres fundadores do rock. “Somethings just stick in your mind” com uma introdução no violão numa levada folk, para amenizar os ânimos. “Each and everyday of the year” com ares da música cigana, com castanholas e tudo, segue num ritmo mais calmo, o trompete ao fundo reforça o ritmo cigano. “Heart of stone” é um blues como só Mick sabe cantar, bem ao estilo stoneano, uma das melhores do disco, emoção e prazer puros, em seguida a já citada “I’D Much...” sem a parceria de Jagger, lembra o estilo dos grupos vocais dos anos 60. “Sleepy city” remete a sonoridade inicial do grupo, mesmo que menos acelerada, a introdução de sons de sinos no decorrer da música é o diferencial, “We’re wastin’ time” deve ter sido sobra da sobra, não acrescenta nada, para fechar o lado 1, “Try a little harder” com o pandeiro ditando o ritmo, dando sustância a este “folk rock”.

O Lado 2 começa com uma composição de Stevie Wonder & Cia, da turma da Motown, “I don’t know why”, uma soul music para arrasar, os RS foram os branquelos com mais alma negra de que se têm notícias, os caras sabiam interpretar como ninguém, um verdadeiro petardo sonoro. “If you let me” mais um “folk rock” ao estilo “Crosby, Stills, Nash & Young”, prova que eles dominavam todos os estilos. “Jiving sister Fanny” inicia com mais um dos grandes riffs de Keith, se estivesse na discografia oficial, com certeza teria feito grande sucesso, não dá para entender como uma canção como esta, com todo o apelo pop entranhado, ficou de fora dos discos oficiais, o bom e velho Keith estraçalha com sua guitarra, a próxima é uma composição de Billy Wyman, “Downtown Suzie” um esquisito blue, levado ao violão, palmas e coro, fugindo totalmente do estilo stoneano, é compreensível que tenha ficado de fora, mas não deixa de ser interessante. “Family” uma soturna balada, também fora dos padrões dos Stones, tendo como base principal o violão e piano. “Memo from turner” com uma guitarra arrepiante do grande Keith e Mick com uma ótima interpretação, fazem este acelerado blue se juntar as melhores do disco. Para fechar com chave de ouro “I’m going down” com mais uma vez Keith dominando tudo com sua guitarra.

Mesmo sendo sobras de estúdio, é mais um grande disco da maior banda de rock’n’roll de todos os tempos. Segue abaixo, foto da contra capa do disco.




Ano de lançamento: 1975
Ano de aquisição: 1976

Nota: Lembro-me que comprei este disco como realmente sendo um lançamento oficial, ainda iniciado dos Rolling Stones, as informações à época eram escassas, não havia internet, e as gravadoras faziam de tudo para vender tudo como novidade. Confesso que por muitos anos fiquei na dúvida se era realmente um disco oficial ou não, até verificar, muito tempo depois que ele não fazia parte da discografia oficial dos Stones, talvez por isso tenha deixado de lado da minha coleção. Só vim a perceber que tinha nas mãos uma raridade, quando um amigo de um amigo meu, perguntou se eu tinha este disco, e com a maior naturalidade do mundo, respondi que sim, este cara, que era maníaco pelos Stones, fez um estardalhaço tão grande, pois há anos ele tentava descobrir alguém que possuísse esta raridade, ele estava se correspondendo, nos primórdios da internet, tentando conseguir com alguém do Japão, e eu aqui, praticamente do lado dele com o disco. Das duas uma, ou ele conhecia pouca gente, ou este disco era uma grande raridade mesmo.

sábado, 24 de abril de 2010

LP Magic People - The Paupers



Banda Canadense, formada na cidade de Toronto que conseguiu um relativo sucesso em terras americanas, antes de lançar este seu primeiro disco, excursionou pela terra de TIO SAM, abrindo shows para uma das principais bandas do rock psicodélico "The Jefferson Airplane", após o lançamento deste disco o The Paupers, sobe de patamar e faz mais uma excursão, desta vez abrindo os shows do "creme de la creme" do rock psicodélico, o extraordinário grupo CREAM. Apesar da exposição, eles gravaram apenas dois LPs, este "Magic People" lançado em 1967 e "Ellis Island" lançado no ano seguinte.

Lançado em plena era psicodélica, a sonoridade deste disco segue a linha melódica peculiar ao movimento chamado “Flower Generation” desenvolvido por uma enormidade de grupos, o diferencial é que eles procuravam uma identidade própria sem se preocupar em ser a cópia dos grupos de primeira linha, é certo que o cadenciamento musical, lembrava muito o som da época, com tendências ao “Folk Rock”. As comparações são inevitáveis nestes casos, ao escutá-los difícil não se lembrar do Jethro Tull, devido à semelhança do timbre vocal do seu vocalista Adam Mitchell, com Ian Anderson, principalmente na música que inicia o disco, a sua faixa título, os mais incautos pensariam se tratar do endiabrado flautista.

O que diferenciavam eles dos outros grupos é que não havia em suas músicas excesso de virtuosismo entre os integrantes do grupo, nada de solos intermináveis de guitarra, o som bem coeso, tinha seus arranjos bem divididos, sem muito destaque para aparições individuais, claro que a guitarra ditava o ritmo, sem excessos, acompanhada de órgão e bateria, nada mais psicodélico, o que pode ser visto na canção “It’s your mind”, final dos anos sessenta puro.

Disco honesto e despretensioso que devido à falta de excessos, seu som não ficou datado, o exemplo é “Tudor Impressions” a indefectível balada, uma constante em quase todos os discos de rock até hoje, uma folk music, que nos dias de hoje, poderia passar como uma composição saída do forno.

Ano de lançamento: 1967
Ano de aquisição: 1976

quarta-feira, 21 de abril de 2010

LP Listening - Listening

Há grupos que passam na cena musical de uma maneira meteórica, gravam poucos discos e neles mostram o grande potencial musical de seus integrantes, surgem com novas ideias lançando tendências, definem estilos, dão uma renovada no conceito musical vingente, trazem um sopro novo na arte musical, pegue-se um excelente guitarrista, um exímio baixista e um baterista que arrasa tudo, juntem todos e eles podem mostrar um novo caminho a seguir.

Não, o preâmbulo acima, não é para definir o som do grupo americano Listening de que trata este post, mas sim do extraordinário e meteórico CREAM, o melhor Power Trio que existiu até hoje, mas o que um tem haver com o outro? é que o obscuro Listening deste LP é todo calcado no estilo psicodélico do famoso trio de Eric Clapton e Cia, praticamente uma cópia do que os "cremosos" tocavam, é claro que a distâncias luz, a despeito de eles terem um ótimo guitarrista Peter Malick, que convenhamos, não chega nem perto de quem já foi chamado de GOD.

O disco lançado em 1969, portanto em plena era psicodélica, não é ruim, os caras tocavam direitinho, o problema é que eles queriam ser o "Cream" e este deve ter sido a causa da sua obscuridade, não dava pra competir com eles, tinham que ficar ofuscados, se procurassem uma identidade própria poderiam ter alçado voos maiores, a canção "9/8 Song" é uma prova disto, é quando eles se afastam do creme e tocam um Jazz meio fusion de uma ótima qualidade, bem balançada e um solo de piano digna de um Dave Brubeck, som de primeira. Eles arriscam uma rumba em "Cuando", como uma, vamos dizer, bonus track, dá pro gasto.

O resto são apenas rocks psicodélicos com muito órgão e solos de guitarra, uma ou outra música com a sonoridade próxima dos Byrds, no mais é só "Ah, como eu queria ser o CREAM", talvez por isto este disco nunca tenha sido lançado no Brasil.

Ano de lançamento:1969
Ano de aquisição: 1976

domingo, 18 de abril de 2010

Festival Abril pro Rock 2010- 17/04/10










Mais um ano (18º) do maior festival independente do Brasil, o Abril pro Rock tenta se revigorar com uma grande grade neste dia que se denominou de mais pop, apostando suas fichas no novo, no desconhecido, como era no seu início. O ponto negativo foi o retorno do festival ao Pavilhão de eventos do Centro de Convenções de Pernambuco, um local inapropriado para a música, inóspito, feio, desconfortável e com uma péssima acústica, que por mais que tentem, nunca conseguem melhorar, é quase impossível entender o que se está cantando. O Chevrolet Hall, local dos últimos dois anos, é bem melhor acusticamente falando, parece-me que houve problemas de data, houve o show do Simply Red na sexta feira, espero que no próximo ano eles consigam voltar para lá.

Como já disse a grade deste dia era extensa, estava programado quatorze shows, iniciando as 17:30h, como já não tenho vinte anos e estava curioso para assistir ao Afrika Bambaataa, que seria um dos últimos, não cheguei no início e perdi os shows de Anjo Gabriel (PE), Mini Box Lunar (AP), Plástico Lunar (SE), Bugs (RN) e Zeca Viana (PE), nomes totalmente desconhecidos para mim, gostaria de ter visto, fica para uma próxima oportunidade.

Quando cheguei, o público ainda reduzido, talvez consequência das fortes chuvas caídas no Recife durante todo o dia, já havia iniciado o show da Vendo 147, vindo da Bahia, sem tocar Axé (ainda bem), com uma formação inusitada, duas guitarras, um baixo e uma bateria com dois bateristas, isto mesmo, dois bateristas que tocam juntos uma mesma bateria, um de frente pro outro, não há revezamento, eles chamam de "clone drum" e até que funciona bem, principalmente para o som instrumental pesado que eles tocam, sem vocalista, eles investem no virtuosismo dos seus integrantes, sem serem chatos, mostram que os dominam muito bem, o som flui agradável, rock sem pretensão, sem preciosismos, uma grata surpresa, guardem este nome.

Em um sistema non-stop (haja profissionalismo), eles engataram a próxima atração, mau deu tempo de respirar, tudo bem que é necessário agilidade entre uma atração e outra, mas não precisava ser tão ágil, podia-se esperar pelo menos uns cinco minutinhos para o ouvido descansar. A atração engatada na anterior foi o Nevilton, power trio do Paraná, que não acrescentou muito, o vocalista, o tal do Nevilton, um pouco afetado, foi prejudicado pela acústica, e só se conseguiu entender o refrão "pó, pó, pó, pó, pó, pó" que ele insistia em cantar em quase todas as músicas, já que o sistema era non-stop, essa era a hora de ir no bar pegar uma cerveja. Ponto positivo: cerveja bem gelada, ponto negativo: só tinha Nova Schin e já que só tem tu, vai tu mesmo, afinal aguentar tanta barulheira totalmente sóbrio, é dose.

O Nevilton ainda esperava pelos aplausos e uma nova engatada, começa a tocar no outro palco a banda pernambucana The River Raid, que está despontando na nova geração do circuito musical pernambucano, tocando um rock competente e cantado em inglês, o que lhe trouxe oportunidade de se apresentar com relativo sucesso no circuito alternativo americano e canadense, fez uma apresentação correta, mostrando que tem um potencial muito grande, indie rock com identidade com o rock brasileiro, no telão um clipe bem legal da música "Alright" dirigido pelo cineasta pernambucano Pedro Severien, a apresentação agradou ao já mais numeroso público.

Provavelmente por problemas técnicos, o sistema non-stop foi prejudicado, nossos ouvidos agradeceram, a bexiga também, deu tempo pro xixi e pra cerveja, surge a Plastique Noir, lá das bandas do Ceará, não deixa de ser estranho uma banda com este nome, quando se está acostumado com os bizarros nomes das bandas de forró, oriundos da terra de Fagner. Com o seu som gótico com uma levada mais soturna, serviu como uma queda de pressão em relação as três atrações anteriores, e uma "viagem" aos anos oitenta, uma apresentação que se não empolgou muito, não deixou a desejar, próprio para os fãs do Depeche Mode e The Mission.

De Alagoas veio a grata surpresa do festival, Wado, com seu samba rock cheio de malemolência, destilando sua MPB roqueira, suingada e funkeada, totalmente seguro de si, com um alto astral explícito, transformou sua apresentação numa celebração do samba em palcos roqueiros, arriscando até uma batida diferente pro samba, agariando uma legião de fãs que já cantavam suas músicas de cor, resultado dos diversos shows já realizados aqui em Recife, mais um ponto positivo do festival.

Com um som refinado e delicioso, o 3 na Massa, projeto paralelo de dois integrantes da Nação Zumbi, o baterista Pupillo e o baixista Dengue, mais o programador Rica Amabis e com a ajuda da "confraria das sedutoras", ótimas cantoras, que se revezavam no palco, fizeram uma das apresentações mais elegantes da noite, a primeira sedutora a seduzir foi a sensual Marina de La Riva que fez da romântica canção dos anos 70 "Loving you" um prazer total, seguiram-se a ela, as também ótimas e sensuais Nina Becker, Lurdes da Luz e Karine Carvalho´tornando constante o alto nível sonoro, cada qual com seu estilo, mostrando a dimensão que a MPB de qualidade pode chegar, um show para ficar registrado nos anais do festival.

Depois do requinte, nada melhor que uma música animadinha para agitar a agora já numerosa plateia, e a escolha do Instituto Mexicano Del Sonido foi acertada, capitaneado pelo piradão e agitadíssimo Camilo Lara com sua mistura de eletrônica com ritmos tradicionais, até a "Macarena" entrou no meio, fez grande parte do público rebolar, aumentando novamente a "pressão" e um bom preparo para a próxima atração. O mexicano deve mesmo ter se encantado com Recife, estava animadíssimo no palco, na certa fazendo cena para a namorada recifense, a plateia entusiasmada, agradeceu.

A atração mais esperada da noite, talvez tenha sido a decepção do festival, não totalmente, claro, afinal o cara sabe o que faz, mas a espera foi tão grande, por diversas vezes cancelada, que Afrika Bambaataa tinha que ter feito melhor, entrou reclamando do som, ficou quase estático e sem muita inspiração, mostrando uma antipatia total, apelou para o funk "Tá tudo dominado" para levantar a plateia, no restante o set list não foi dos melhores, com exceção de "Stand by me" e uma pontinha ´da sempre onipresente "Sex Machine" do extraordinário James Brown, era visível o esforço que os dois MC´s faziam para não deixar a peteca cair, acho que pelo nome dele e em respeito ao festival ele deveria ter sido mais profissional, deixou muito a desejar.

Para encerrar a maratona sonora, o acerto final, Pato Fu comandada pela docinho de coco Fernanda Takai fez um show impecável, tudo deu certo, conseguiu até afastar o cansaço de mais de sete horas ininterruptas e deixando nós brasileiros de alma lavada, depois do fiasco do show anterior. Apesar de ter tocado poucos sucessos, destilando canções menos conhecidas, a empatia com o festival do qual participa pela quarta vez, deu um certo ar de intimidade ao grupo, o que transformou sua apresentação numa leveza só, a versão correta de "Ando meio desligado" teve como resposta o público cantando junto. Apresentação irrepreensível, para quem esperava tudo de Bambaataa, adorou terminar a noite com Fernandinha.......e grupo.

O Abril pro rock na sua décima oitava edição, demonstra folego para muitas outras, para isso é necessário que o público compareça em um número maior, festival sem público não existe, o local tem que ser mudado urgentemente, as atrações são sempre muito bem escolhidas.

VIDA LONGA PARA O ABRIL PRO ROCK.

sábado, 17 de abril de 2010

Carta a Macrina


Acompanho há quase um ano, um blog super legal o Vitrola Encantada (vitrolaencantada.blogspot.com) escrito pelo Luís Valcácio lá de Brasília, apesar de focado na música, ele, com sua escrita ao mesmo tempo despojada e refinada, tece comentários sobre os mais variados assuntos, sempre com uma visão própria sobre os mesmos, dentre os muitos que já li, um, me chamou mais ainda a atenção, foi o postado em 13/04/10, sob o título “Carta a Noemia“ onde ele de uma maneira sublime falava do tempo em que, ainda criança, escrevia cartas para uma empregada doméstica, assim como o personagem Dora que Fernanda Montenegro tão bem personificou no excelente filme “Central do Brasil”, pois bem, este post me trouxe recordações que nem o próprio filme me trouxe e consegui resgatar a lembrança já um pouco embaçada de uma época em que eu também tive a minha fase “Dora” de ser, foi quando ajudava a empregada, ou melhor, para ser politicamente correto, a secretária lá de casa, a senão escrever, pelo menos corrigir as cartas que mandava para o namorado. Portanto Luís, influenciado e inspirado no seu post, e como uma homenagem a você e a todas(os) as(os) Doras, é que resolvi também escrever uma carta para Macrina, a minha ex-secretária.

Querida Macrina,

com certeza você deve se lembrar de mim, sim eu sou o terceiro dos irmãos, filhos de Narly e Wilson Calado, que você ajudou a nos criar, o mais novo e mais gordinho dos três. Sei que apesar do longo tempo que separa aquela época para agora, é difícil não se lembrar da maneira dedicada e carinhosa com a qual você nos tratava, um complemento ao profundo amor demonstrado por nossos pais e que até hoje ainda é demonstrado por nossa mãe, acho que você deve estar feliz ao saber que Dona Narly ainda continua firme e forte, como sempre foi, já seu Wilson encurtou o seu caminho e hoje está no “andar de cima” fazendo muitos amigos, como era do seu feitio. Pois bem Macrina, resgato esta lembrança, daquele tempo em que você com seu arranhado português, pedia ajuda para as devidas correções para alguém, como eu, que ainda nem sabia direito qual era a diferença entre predicativo e adjetivo, só sei que naquele quarto, com você expondo os seus amores, me sentia soberano. Esta recordação puxa outras vividas com você, tinha dez, onze anos e me lembro da felicidade que era ir ao teatro do Jornal do Comércio assistir ao programa de auditório “Jorge Chau Show” comandado pela figura ímpar do carismático e performático apresentador Jorge Chau, performático para os padrões da época, início dos anos 70, plena ditadura, anos de chumbo, o pau comendo lá fora, só que para mim isto tudo passava ao largo, o Brasil tinha se sagrado Tri campeão mundial de futebol, o que era uma glória, hoje, estou pouco me lixando se ele vai ser Hexa ou não, tudo o que se passava fora da minha redoma pouco me interessava, um dos poucos fatos que me lembro bem, acho que foi em 1968, quando minha mãe foi nos buscar no colégio Marista, pois as aulas tinham sido suspensas por causa de umas bombas que tinham explodido em algum lugar, tive a mesma sensação que o menino do ótimo “Esperança e Glória” do John Badam, quando na cena final, em plena 2ª Guerra Mundial, ele numa sala de aula, acuado pela aterrorizante professora e prestes a ter que responder oralmente uma pergunta a qual não sabia a resposta e podia ser castigado, toca a sirene de alerta para que todos se dirigissem aos abrigos anti-bombas, e ele ao sair da escola em meio à correria e do alto de sua santa inocência grita a todos os pulmões “Thank you Adolph”.

Pois é, hoje vejo que a coisa foi feia, como diria o mestre Chico “Num tempo página infeliz da nossa história”, muitos dos que lutaram se perderam (Geraldo Vandré, Torquato Neto, Taiguara), outros, mais espertos, conseguiram usar em causa própria os ideais de outrora e hoje se locupletam e mamam nas tetas do governo, trocaram as armas por ótimos charutos cubanos e taças de vinho Romanné Conti ao custo de 5.000,00 dólares a garrafa, com os pés atolados no lamaçal de corrupção que virou Brasília, alguns podem até virar Presidentes, mesmo que para isso seja necessário esquecer os seus ideais, como diria Millor, “então, não era revolução e sim um investimento”.

Bom, Macrina, que papo mais careta, não?, você deve estar pensando, “e quem são todos estes? que eu me lembre nenhum deles se apresentava nas tardes de sábado no Jorge Chau Show”, Ah como eu me sentia recompensado quando você me levava quase que semanalmente ao programa, foi lá, naquele ambiente festivo, quase todo composto de secretárias, que descobri que o povo necessita de muito pouco para ser feliz, mesmo com as adversidades que a vida lhes impunha, e ainda tem gente que com muito não consegue ser feliz.

Jorge Chau era uma espécie de Chacrinha do Recife, na irreverência, pois sempre se apresentava de smoking, lá no seu programa, passavam os mais diversos artistas, todos da linha dita popular, me lembro vagamente de Fernando Mendes por causa do seu cabelo e Waldick Soriano, por causa do seu chapéu, do vozeirão e do sucesso que fazia com as moçoilas, talvez pela sua maneira máscula de ser, e por saber cantar, como ninguém, a paixão e o amor destas pessoas, nisto ele era um mestre, ele cantava o que vivia com o sentimento aflorando a pele. Frequentava também os artistas nacionalmente conhecidos, eram a atração principal a cada sábado, mesmo que estes artistas já estivessem em baixa, como os do segundo escalão da Jovem Guarda, que já definhava em seu sucesso, ver gente como Jerry Adriani, Rosemary, Martinha era uma verdadeira delícia, mas o delírio era grande quando lá aparecia Wanderley Cardoso com o seu “O Bom Rapaz” e principalmente Ronnie Von, a gritaria era geral e todos cantavam (inclusive eu) os versos de “A Praça”, a satisfação daquelas meninas era enorme, talvez fosse a compensação maior pela labuta diária que travavam.

Macrina, talvez tenha surgido daí, este meu interesse pela música, o gosto, foi refinando, elitistamente falando, mas confesso que ainda me arrepio e me emociono ao ouvir este mestre da Paixão que é o Waldick, aqueles gritos de emoção ouvidos no auditório se entranharam nos meus poros.

Foram momentos ótimos, só não entendi Macrina, até hoje, porque você nos deixou tão repentinamente, sem uma explicação, da noite para o dia, você arrumou suas coisas e foi embora, provavelmente encontrar o seu amor, para mim foi duro, afinal você nunca me mandou uma carta.

Um beijo grande, espero que esteja bem feliz.

domingo, 11 de abril de 2010

LP Future - The Seeds



A Geração Flower Power, movimento de contestação surgido nos idos de 1967 e que durou até o início dos anos 70, dizem os céticos que o movimento começou a definhar logo após o festival de Woodstock, há quem discorde. Movimento este que teve seu começo na cidade Holandesa de Amsterdã e ganhou força nos EUA em cidades como São Francisco e San Diego, principalmente quando eclodiu a Guerra do Vietnã, quando os hippies levantaram a bandeira contra esta guerra absurda. O Flower Power foi marcado, entre outras coisas, pelo figurino exótico usado por quem aderiu ao movimento e no campo da música, o destaque eram artistas ou grupos que se destacavam por executar um determinado tipo de música livre e com aspectos “viajantes”, onde os grandes expoentes foram Janis Joplin e Jimi Hendrix que misturavam figurinos exóticos a um rock pesado, cheio de referências psicodélicas. Outros grupos também foram significativos para o movimento, tais como The Byrds e The Mamas and The Papas e em determinada época o cantor de voz rascante Joe Cocker, mas, como em todo movimento muitos outros grupos aderiram e tentavam seguir a linha dos grandes expoentes, alguns com relativo sucesso (Country Joe and the Fish) e outros nem tanto, como é o caso do The Seeds.

Autoproclamado como um grupo da “Flower Generation”, eles até que tentaram um lugar a......... flores, mas o que conseguiram foi a obscuridade, liderados por um tal de Sky Saxon, vocalista e baixista, que até hoje não tenho a menor ideia de quem seja, até que tentam se enquadrar no som feito na época, este disco foi lançado em 1967, mas se perdem nesta tentativa, sem uma identidade própria, procurando seguir os voos dos Byrds, eles não conseguem decolar, o disco não é de todo ruim, salvam-se algumas músicas, como “A Thousand shadows” com um ótimo pianinho e “Flower Lady & Her Assistant” com tons orientais, em contraponto há aberrações como “Two fingers pointing on you” e “Where is the entrance way to play” (com um vocal horrendo) que nunca deveriam ter sido gravadas.

Deveriam ter ficado no compacto, talvez fizessem algum sucesso, pesquisando na internet, vejo que chegaram a gravar mais dois discos, há gosto para tudo. Neste caso o melhor a fazer é buscar o original e ter um “voo” mais tranquilo.
A "semente" plantada pelo The Seeds não germinou "Flores" e o seu "Futuro" foi bastante incerto.

Ano de lançamento: 1967
Ano de aquisição: 1976

sábado, 10 de abril de 2010

LP Laid Back - Gregg Allman


Fundador e líder junto com o irmão Duanne da lendária e até hoje cultuada banda de rock The Allman Brothers Band, em seu voo solo Gregg Allman não desaponta os fãs do grupo, sem se desvirtuar muito do estilo que encanta gerações há várias decadas, aglutinando uma legião de admiradores. Com um ritmo mais lento do que seu grupo de origem e numa levada mais blues, seguindo sua formação inicial, Gregg mostra competência nas suas composições.

Nascidos em Nashville, berço da música country americana e com uma sólida formação musical os irmãos se criaram ouvindo muito jazz, o que explica muita coisa, com Duanne se entupindo de Kenny Burrel, Django Reinhardt, Coltrane etc... e Greeg ouvindo muito Jimmy Smith, tudo isso misturado com muito blues tradicional tipo B.B.King, Muddy Waters, Howlin Wolf e toda aquela gama de sujeitos que faz a gente sofrer como se estivesse num campo de algodão ao ouvi-los. É latente perceber ao escutar este LP, a tendência mais intimista de Gregg, mais voltada para o blues e baladas, sem o auxílio da ferina e ótima guitarra do irmão Duanne, morto num trágico acidente de moto em 1971, ele baseava suas composições no violão e órgão hammond, dando um tratamento mais acústico e mais sereno.

O que se ouve neste disco é uma outra faceta de Gregg, sem o estilo agitado e o rock pesado do seu grupo, surge um baladista de primeira linha, com refinadas melodias. A comparação é inevitável entre sua fase solo e com os Brothers Band, esta sai perdendo, ele rendia mais quando se completava com o irmão, mas não deixa a desejar, segura a peteca e não decepciona os fãs.

Até onde sei, este disco nunca foi lançado no Brasil, nem em LP, nem em CD, o que é de se estranhar devido a enorme legião de fãs do Allman Brothers.

Ano de lançamento: 1973

Ano de aquisição: 1976

quinta-feira, 8 de abril de 2010

LP Sallom, Sinclair and the Mother Bear - Sallom, Sinclair and the Mother Bear


Há certos artistas ou grupos que não alcançaram o sucesso, ou não se destacaram no cenário musical, são praticamente ignorados, as vezes até merecidamente devido a baixa qualidade musical, só que as vezes imerecidamente, pois seu conteúdo musical está acima da média, mas mesmo assim lançam discos mas caem na obscuridade, isto pode ser aplicado ao grupo Salloom, Sinclair and the Mother Bear, liderados pelo guitarrista e vocalista Roger Salloom e pela vocalista Robin Sinclair.

Primeiro de tudo, fora a extraordinária Janis Joplin, nunca vi uma cantora com um vozeirão e uma força interpretativa como esta Robin Sinclair, de voz limpida, cristalina e uma extensão nos agudos de deixar Maria Callas boquiaberta. A comparação com a já citada Janis é inevitável e talvez seja daí que se compreenda o fato de ela não ter despontado, elas são da mesma época, este LP foi lançado em 1968, e a estrela de Janis brilhou demais não dando chance as demais.

O disco desta banda americana de Chicago, berço do blues, é rock bem típico do final dos anos sessenta início dos setenta, pesado com tons psicodélicos, muito órgão ditando o ritmo, acompanhado de uma guitarra pesada. Se o lado 1 é todo dominado pela voz de Robin e um estilo que lembra o Jefferson Airplane, o lado 2 é todo do Roger, num estilo musical bem próximo do ótimo Van Morrison, com toques de blues, como deveria ser de alguém vindo de Chicago, a mistura de blues e rock em "Florida Blues" é bem convincente. A não ser o deslize da música final, um interminável discurso sem efeito de mais de oito minutos, só salvo pela participação vocal da Robin, o LP traz o melhor do que foi produzido à época, um time de músicos que não faria feio em nenhum dos grandes grupos que tanto sucesso fizeram na fase de ouro do rock'n'roll. Apesar da longevidade, continua atualíssimo.

Ano de lançamento: 1968
Ano de aquisição: 1976

Nota: Ganhei este disco, junto a outros, de um grande amigo que infelizmente nos deixou precocemente e hoje deve estar fazendo suas estripulias no andar de cima, Severino Cavalcanti Júnior, mais conhecido como o "Grande Júnior Bala", o adjetivo não tem nada haver com o projétil usado em armas de fogo, a denominação era para expressar a agitação e a loucura, no bom sentido, que ele ditava sua vida, um verdadeiro "aloprado", mas de um coração sem tamanho, de uma bondade sem igual e com um sentido de amizade pouco visto. Para os ligados em política, filho do ex-deputado, o controverso Severino Cavalcanti, mas nossa amizade, inclusive entre as familias, nada tinha haver com política, iniciada na infância e prolongada até a sua morte, tivemos todos, irmãos e irmãs incluso, muitos momentos de farras homéricas, a alegria tomava conta quando nos juntavamos, deixou saudades. Pois bem, Júnior que não era muito ligado em música, ao voltar da uma viagem aos EUA, me deu alguns discos que lá comprou, e por certo não deve ter gostado, este foi um deles. Confesso que na época não dei muita importância, pois não tinha o menor conhecimento de quem se tratava, e deixei o disco encostado este tempo todo. Ouvi-lo agora, foi uma grata surpresa, continuo sem saber de quem se trata, de lá para cá nunca ouvi falar deles, é uma pena, são ótimos músicos.