sábado, 30 de janeiro de 2010

LP My God! / Nothing is Easy - Jethro Tull





A pirataria, como vemos hoje, é crime, e como tal deve ser tratada, a comercialização desenfreada de produtos principalmente ligados à arte de maneira geral e a música em particular, resultou num processo de desaceleração das vendas que empurrou de ladeira abaixo a indústria fonográfica, pelo menos como a conhecíamos, claro que não foi o único responsável por esta derrocada, mas ajudou muito.

Houve um tempo em que a pirataria, diferentemente da de hoje, era sinônimo de raridade, os grandes ídolos e campeões de vendas tinham seus shows gravados, as vezes de maneira tosca, para serem disponibilizados ao público em versões piratas, pelo simples fato de ter aquele show imortalizado em disco, como a indústria fonográfica, leia-se as grandes gravadoras, não tinham o interesse e evidentemente não podiam lançar discos de todos os shows de seu cast, alguns abnegados faziam isto por ela, no que apareceu os incontáveis "bootgles" que povoaram e fizeram a delícia dos amantes principalmente do rock.

O lançamento destes discos, apesar de comercializados de maneira proibida e "escondida" no mercado, eram divulgados meio que abertamente pelas revistas especializadas, motivo pelo qual transformava-os em objeto de disputa pelos fãs que quase chegavam aos tapas para poder adquiri-los, afinal, a sua tiragem era pequena, o que os transformavam em raridades instantâneas, os casos clássicos eram os discos do Led Zepellin, Bob Dylan e Rolling Stones, eles eram os mais pirateados e quanto mais tentavam combater, mais discos eram lançados, o deleite da galera era geral.

Este álbum duplo "My God / Nothing is Easy" do Jethro Tull, lançado pela gravadora(?) Trade Mark of Quality, na época uma das mais famosas desta área, traz momentos do grupo "ao vivo" e em estúdio, o disco além da capa minimalista (sem nenhuma foto), não continha nenhuma informação, o ouvinte que se virasse para saber quais músicas faziam parte do disco, como nunca tive muito saco para procurar e também o acesso àquela época as revistas especializadas era díficil e devido a raridade que estes discos se tornavam rapidamente, fiquei todo este tempo sem informações sobre ele, outra característica destes lançamentos era a pigmentação colorida dos LPs, como vemos na foto, era um verdadeiro barato.

Graças aos "desígnios" da Internet (santa tecnologia) consegui, depois destes anos todos, identificar que o lado 1 foi gravado, de maneira tosca, qualidade muito ruim, de um show em Long Beach, Califórnia em 19 de Abril de 1970, se a qualidade do som não era muito boa, o resultado era compensado pela excelente fase em que Ian Anderson & cia se encontravam, ele, como um deus endiabrado com sua flauta comandava uma massa sonora facilmente indentificável, o som do Jethro Tull é muito peculiar, com apenas três faixas que tomavam o lado inteiro do disco, destacava-se "My God" uma ótima música extraída do "Aqualung", até hoje, o melhor disco do Tull, numa versão extendida com muitos solos da flauta nervosa de Ian, a guitarra de Martin Barre, simplesmente arrasadora durante o show é o destaque de "Sossity: you're a woman" do disco Benefit, completa o lado 1 "Reasons for waiting".

O lado 2, já com uma qualidade sonora bem melhor, é composto de cinco sobras de estúdio, nunca antes lançadas em LP, algumas apenas em lados B dos compactos, os destaques são "Love story" e "Christmans song", nas outras três faixas, "17"; "Sweet Dream" e "Whitch's Promisse", escuta-se o grupo em experimentos musicais capitaneados pela flauta de Ian e a guitarra de Martin. O lado 3 também retirado de um show, desta vez no Anaheim Convention Centre, Califórnia com data de 19 de junho de 1971, tem uma qualidade técnica um pouco melhor que o anterior, mas nota-se que a gravação deve ter sido feita "as escondidas" e com aparelhos não muito confiáveis, só que musicalmente esta fase do Tull foi muito boa e o grupo improvisava muito em cima de suas músicas, transformando sua audição num prazer, mesmo com a deficiência técnica, provavelmente este deve ter sido um show para um público reduzido, são apenas duas músicas, começa com "Wind-up" só no violão e flauta de maneira bem amena e tranquila, com Ian conversando com a plateia, tudo começa a esquentar quando tocam "Locomoive Breath" onde Ian desembesta com sua flauta numa jam pra lá de enlouquecida, um solo magnífico, mais de sete minutos, digno de Hermeto Pascoal, a pequena plateia delira.

O lado 4 também com sobras de estúdio, onde o destaque é uma versão bem diferente da excelente "Aqualung". Pode-se perceber um grupo bem afiado e entrosado nas versões de "Nothing is easy" e "To cry you a song".

Raridade total, pois temos o Jethro Tull em sua melhor forma, um disco que passa ao largo da discografia oficial do grupo.

Ano de lançamento: 1975

Ano de aquisição: 1976

Nota: Nunca compactuei com a pirataria, sempre preferi o original, isto já desde pequeno, mas confesso que quando ganhei este disco, fiquei extasiado. Quem leu o post anterior, o do "Ziggy Stardust" tomou conhecimento de uma tia, Nélia, do Rio de Janeiro que me conseguiu o disco, pois foi esta mesma tia quem me deu este do Tull, não que ela entendesse de rock, não entendia e nem entende até hoje, mas ao comprar o do Ziggy, por um pedido meu, resolveu me presentear com um outro disco e seguiu a dica do vendedor, que indicou este, acho que ela deve ter comprado o disco por ser diferente dos demais, devido a sua pigmentação. Ao recebê-lo, simplesmente não acreditei, pelo inusitado da situação, não imaginaria nunca que uma tia me daria um disco pirata e do Jethro Tull, que nem era muito famoso pelas bandas de cá, fiquei numa felicidade só, previa que tinha nas mão uma raridade. Belo presente, tia.

sábado, 23 de janeiro de 2010

LP The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars - David Bowie


O ano era 1972, o "sonho" tinha acabado, o rock estava sem rumo, os caminhos traçados por todos acabavam num mesmo lugar, a mesmice predominava nas artes, tudo inócuo, inóspito, a solução teria que vir dos céus, aqui na terra a estagnação era geral. Eis que surgindo quase do nada, numa rua deserta e sombria de Londres (como tem que ser a aparição dos extraterrenos, vide o Superhomem e o Exterminador do futuro), com seu visual andrógino e cores desbotadas, vindo do espaço empunhando uma guitarra, aquele que daria um novo sentido, um novo rumo ao rock, o capitão Ziggy Stardust. Com sua voz potente e melodias arrasadoras, ele mostrou um novo caminho a ser seguido, o rock depois dele nunca mais seria o mesmo, voltou a ser criativo e belo como antes.

Alter ego do extraordinário David Bowie, Ziggy Stardust foi um personagem criado pelo Camaleão do rock, criatura que ficou maior que o criador, assumindo identidade própria e catapultando Bowie para o superestrelato mundial, razões para isso não faltaram, este disco que de uma maneira conceitual mostra a passagem deste personagem pela Terra, é um primor de qualidade musical, ótimas música, todas elas quando escutadas separadamente já mostram qualidades individuais que teriam vida própria, quando escutadas num conjunto, beiram a perfeição, tornando o disco um dos maiores clássicos da história do pop rock mundial em todos os tempos, difícil é não encontrá-lo nas listas dos melhores de todos os tempos, seja de que maneira temática for, como recentemente encabeçou a lista dos cem melhores discos escolhidos pela turma GLS (mostrando que eles tem um ótimo gosto).

O disco começa com a desesperada "Five Years", Ziggy se assusta com o que vê na sua chegada a Terra, rock vigoroso com Bowie cantando como nunca, gritos de desespero, afinal só faltam cinco anos. O tom fica mais ameno em "Soul Love", o destaque é o sax de Bowie, na medida certa, em "Moonage daydream" quem se destaca é o excelente guitarrista Mick Ronson da banda "Spiders from Mars" solo ou duelando com os teclados ele prova que a solução tinha que vir do espaço, sensacional. "Starman" (que o brasileiro conhece bem através da terível e desvirtuada versão, "Astronauta de Mármore" pra lá de pop do grupo "Nenhum de Nós", nada a ver com a versão original), demonstra bem a apresentação de Ziggy ao novo planeta, melodia facilmente assobiável para os rumos a serem seguidos, fechando o lado A, "It ain't easy", com um vocal poderoso em contraponto com a voz dissonante de Bowie.

Com "Lady Stardust", Ziggy faz seu primeiro show, uma balada iniciada com um sutil piano para desembocar numa massa sonora emoldurando sua bela voz, os ares desesperados continuam só que mais amenos. "Star" um rockabilly digno dos grandes artistas onde o piano é o destaque e "Hang on to yourself" um apressado rock, que serviu de base para muita coisa feita nos anos 80, são a preparação para o grande finale do disco que começa com a ótima "Ziggy Stardust" com um riff de guitarra e vocalise confirmando os versos iniciais "Ziggy played guitar", ficou na história, a batida irresistível da bateria segurando tudo, os riff da guitarra e a voz de Bowie, formam um conjunto pouco visto, a guitarra como instrumento dos deuses, clássico incontestável, segue-se com a acelerada "Sufragette City" piano e guitarra ditando o ritmo, a mais dançante de todas, puro entusiasmo. O ritmo é quebrado com a introdução lenta só na base de violão de "Rock'n'Roll Suicide" que num crescendo chega ao ápice sonoro mostrando o mesmo desespero do início do disco, é o fim para Ziggy e seus seguidores, uma das mais belas, comoventes e desesperadas música da história do rock mundial. O trio de músicas finais deste LP é a tradução completa da grandiosidade do talento deste artista.

Um disco completo, da capa extraordinária, lembrada e reconhecida até hoje como símbolo das artes gráficas, a contra capa mostrando Ziggy dentro de uma cabine telefônica em referência ao Superhomem, formam um conjunto clássico. Um dos maiores clássicos já vistos no rock que mudou o seu rumo, ressurgindo-o das cinzas, mostrando ao mundo que o rock poderia ser revigorado. Insuperável até os dias de hoje, referência incontestável para os novos artistas, aqueles que não beberam desta fonte, se perderam no meio do caminho.

Ano de lançamento:1972
Ano de aquisição: 1976

Nota: É impressionante o fascínio que a música tem sobre as pessoas, como determinados momentos de suas vidas são marcados por esta ou aquela música, são lembranças que lhe seguem a vida inteira. Isto se aplica no meu caso de uma maneira ampliada, alguns discos marcaram a minha vida, quem acompanha este blog já deve ter percebido, "Killer" do Alice Cooper é um exemplo, "Close to the Edge" do Yes também, outro é este "Ziggy Stardust", garoto com dezesseis anos, eu já era fã do Bowie e tinha ouvido muito falar deste LP, mas aqui em Recife, na época, era uma raridade, não se encontrava em loja nenhuma, para consegui-lo o jeito foi apelar para uma tia minha, Nélia, que morava no Rio de Janeiro (compra pela internet, ainda nem era sonho), só que lá também estava difícil de encontrar, ela teve que apelar para a importação, pois sabia que eu iria passar as férias por lá, a cobrança pelo disco iria ser grande. Me lembro nitidamente da satisfação quando ela me entregou o LP em sua casa no bairro da Tijuca, ter aquele disco nas mãos e ainda por cima importado, os olhos brilhavam, não consegui fazer outra coisa a não ser abrir cuidadosamente o disco para escutá-lo, muitas e muitas vezes, lá mesmo na casa dela, ela e o marido saíam para trabalhar e eu ficava escutando as aventuras do Ziggy, fiz muitas outras coisas nestas férias no Rio, mas a que mais marcou foi o deleite de ouvir Ziggy num disco importado.

Será que a turma do MP3, consegue ter esta mesma satisfação? o que eles contarão daqui há alguns anos? Globalização é fogo.

Curiosidade: Segue abaixo, uma foto mais ou menos recente do local de "aparição" de Ziggy, imortalizado na capa do LP, notem que depois que Ziggy se foi, tudo ficou asséptico demais, meio sem graça, sem brilho, mas assim como a rua dos Beatles, virou um local eterno.


domingo, 17 de janeiro de 2010

LP Courage - Milton Nascimento

Milton Nascimento é mesmo um artista diferenciado, qual artista, brasileiro ou não, praticamente desconhecido, seria chamado para gravar nos EUA (meca financeira) logo após o lançamento de seu primeiro disco? isto há mais de quarenta anos atrás, o resultado é este belo disco, praticamente desconhecido na discografia do Bituca.

O seu debut americano foi pelas mão do excelente Eumir Deodato, que já desfrutava de um certo prestígio na comunidade musical americana e convidou Milton para gravar um disco americano, inclusive com arranjos do próprio Eumir, com o auxilio luxuoso de excelentes músicos que despontavam à época e que consolidaram suas carreiras ao longo do tempo, tais como Airto Moreira (percussão), Herbie Hancock (piano) e Hubert Laws (flauta).

O LP inicia com uma das melhores músicas já compostas por Milton até hoje e que o lançou nacionalmente "Travessia", cantada em inglês e português, esta dualidade linguística em nada prejudica sua qualidade, composição digna de gênio. "Vera Cruz" e "Três Pontas" tem suas qualidades instrumentais ressaltadas pelos arranjos de Deodato, um jazz fusion com molho brasileiro, balanço puro, o piano no final de Três Pontas é a marca do Hancock. "Outubro" com um arranjo mais clássico sobressaindo-se as cordas, não deixa de ter também o balanço típico do início dos anos 70, apesar de mais sóbria. "Courage" outra cantada em inglês e português, tem um estilo mais lento, o destaque é a percussão de Airto em contraponto as cordas.

O lado 2 do LP começa com "Rio Vermelho" com uma vocalise de Milton num balanço suingado, bem ao estilo sambalanço, mais uma vez a percussão de Airto predomina. "Gira Girou" composição de Milton e Márcio Borges tem uma intervenção de Herbie Hancock no piano simplesmente maravilhosa, puro jazz da melhor qualidade. "Morro Velho" é uma daquelas músicas que ficam na história da MPB por serem completas, letra, música, arranjo inigualáveis, a história dos amigos de infância indiferentes a diferença social entre ambos, e que na fase adulta esta diferença é desabrochada, tem uma força social muito maior do que muita tese de mestrado de sociólogo de plantão, coisa de gênio. "Catavento" é a única música que não tem acompanhamento de orquestra e por isso mesmo é a melhor do disco na parte instrumental, a flauta de Hubert Laws dialogando com o piano de Hancock, mostram a sutileza do lindo arranjo do Eumir. Para fechar o disco, mais uma suingada do Milton, "Canção do Sal" num arranjo mais acelerado que o habitual.

Este disco é um primor instrumental, com excelentes arranjos e músicos que ajudam a destacar a cristalina voz de Milton. Isto é uma prova de que grandes artistas já começam e continuam com grandes discos.

Ano de lançamento: 1969
Ano de aquisição: 1976

LP Before the Flood - Bob Dylan & The Band


Os "live album" podem tanto manchar uma discografia respeitável quanto assumir status de clássico, é o que se pode dizer deste LP de Bob Dylan, que na época chamou seu antigo grupo, The Band, para que juntos fizessem uma turnê, relembrando antigos sucessos. Hoje, além de verdadeiro clássico, este álbum duplo é um deleite para os ouvidos e é constantemente lembrado nas listas de melhores de todos os tempos no formato "ao vivo".

Para que este formato dê certo é necessário que haja uma simbiose entre plateia e artista, quando isto acontece tudo flui com mais facilidade, transformando o show numa verdadeira celebração artística. Depois de trabalharem por um bom tempo juntos, Bob Dylan e The Band já trilhavam separadamente caminhos próprios quando resolveram se juntar novamente para esta série de shows, eles estão em grande forma, ótimos instrumentistas que seguram a barra para a voz meio gutural de Dylan, é notório o entrosamento entre os músicos, como se eles nunca tivessem deixado de tocar juntos, com novas versões para antigos sucessos, sem modificá-los muito, vê-se uma levada mais funk para um dos clássicos de Dylan "Lay Lady, Lay", outro clássico contemplado com uma versão modificada com um andamento um pouco mais rápido, foi "Knockin' on heaven's door" símbolo da música de protesto nos anos 60.

Mesclando sucessos antigos com músicas menos conhecidas, inclusive dando oportunidade para que a The Band apresentasse composições próprias, o show/disco vai num crescendo até o seu final, quando é apresentada os maiores sucessos de Dylan, numa performance digna de grandes artistas, estão lá "All along the watchtower", "Highway 61 revisited" e as mais conhecidas "Like a rolling stone" e "Blowin' in the wind", transformando o seu final numa verdadeira apoteose.

Shows com uma mística diferenciada se transformam em shows (disco) históricos

Ano de lançamento: 1974

Ano de aquisição: 1976

DVD O CORPO - José Antônio Garcia






"Esse Marlon Brando é safado demais", reza Xavier no Cine Marabá, no centro de São Paulo, durante uma sessão de "O Último Tango em Paris". Depois de uma "noite do último tango" em casa, é Bia quem dispara: "você faz numa única noite o que o Marlon leva o filme inteiro para fazer"...

Que prazer rever "O Corpo", produção de 1991, ano em que ainda se voava de VASP pelos céus desse Brasil, como na cena final em que Carmem (Marieta Severo) e Bia (Cláudia Jimenez) se sentam nas poltronas de um avião, com nada menos do que um Daniel Filho posicionado entre elas e "recebendo o espírito" de um Xavier (Antônio Fagundes), que já virou rosas no quintal da sua própria casa...

Dirigido por José Antônio Garcia e baseado numa estória de Clarice Lispector, o filme é recheado de fantásticos momentos da mais pura e sofisticada tragicomédia urbana, daquela que só os grandes artistas - autores e intérpretes - podem nos oferecer, sem resvalar no vulgar, no óbvio ou no sem graça. E o filme é justamente o contrário de tudo isso.

Trata-se da estória de Xavier, um dono de farmácia mulherengo e boa pinta que vive, e muito bem, com as suas duas esposas na mesma casa. Depois da missa de domingo, por exemplo, que ele frequenta assiduamente com as duas companheiras, para escândalo geral, ele é alertado pelo delegado em vésperas de aposentadoria (Sérgio Mamberti) sobre as inconvêniencias do seu comportamento público, e dispara sem pestajenar: "Eu faço às claras o que os outros fazem escondido".

Tudo vai muito bem até o dia em que Xavier, desafiando não os padrões morais da sociedade, mas os padrões estabelecidos nos limites do seu lar e das suas companheiras, resolve arrumar uma amante, na verdade a prostituta Monique (Carla Camurati), que atende sempre com hora marcada e lhe proporciona momentos de extremo prazer quando verbaliza, no auge das suas atividades proibidas, o famoso "Goza, seu Filho da Puta"

Estória e interpretações de primeiríssima linha são completadas com nada mais nada menos do que a música de Paulo Barnabé e a coreografia de Leni Dale. O que dizer de um filme que tem participações especiais de Guilherme de Almeida Prado, Walter Hugo Khouri, Carlos Reichenbach e Arrigo Barnabé?

O filme é repleto de cenas antológicas, como por exemplo aquela do café da manhã tomado na cama à três, em que Carmem saboreia uma coxa de frango assado mergulhada numa lata de condensado. Ou quando Carmem, estimulada por Bia ("você merecia ser escritora... você já foi datilógrafa, para escritora é um pulo...") se investe de filósofa e propõe que "a saudade é um pouco como a fome, só passa quando se come a presença". Ou, ainda, quando Bia e Carmem confessam a noite de amor juntas ("o tempo custa a passar e a gente fica sem fazer nada...") e fazem o Xavier exprimir o seu mais puro sentimento de surpresa e admiração, seguido da curiosidade que não se realiza. "Felizmente ainda temos o Cauby", dispara uma Carmem vestida de preto sentada no sofá, enquanto o outro embala os corações da dupla ao som de "Blue Gardenia" pela TV preto-e-branco...

Apesar de não considerar que o filme seja datado, é fato que as cenas da viagem do trio ao Rio de Janeiro definitivamente deixaram uma marca ao incluir imagens dos letreiros dos locais mais badalados da época, como é o caso do Scala, do Oba-Oba e até mesmo da boate Help. Esse era exatamente o Rio de Janeiro do final dos anos 80 e início dos 90.

Sensual, colorido, passional, divertido, urbano e surpreendente, o filme faz parte inquestionável do grupo dos grandes clássicos do cinema nacional. Para se lamentar, apenas a qualidade da transcrição do filme para o DVD. Mereceria uma telecinagem de muito melhor qualidade.

Postado por Marcus Vinicius Midena Ramos