sexta-feira, 7 de maio de 2010

Aconteceu em Woodstock - Ang Lee (Filme)


"A sensação que todos tem é que neste momento, isto é o acontecimento mais importante do Universo" é com este sentimento que um dos personagens, uma das namoradas de Michael Lang, o produtor bicho grilo do festival, expressa, enquanto rola os shows, ao atordoado personagem central Elliot, o significado de tudo aquilo.

Este talvez seja o sentimento que o diretor Ang Lee queira passar em suas quase duas horas de projeção, hoje, vê-se que considerando o sistema solar, seja um exagero, mas no universo da música, sim, nada naquele momento, naquele ano e naquela década, foi tão ou mais importante do que aquele festival, os mais entusiastas alongam este prazo por pelo menos mais duas décadas, a verdade é que até hoje, nunca se fez um festival como Woodstock.

Acreditando nesta premissa é que Ang Lee quis mostrar como tudo começou e a movimentação necessária para fazer acontecer o festival, os distúrbios causados na pacata cidade interiorana americana e como isto afetou os costumes de sua população, afinal, um bando de conservadores americanos, vê sua cidade invadida de uma hora pra outra por um bando de hippies em busca de sexo livre, drogas e rock’n’roll, colocando por terra todos os conceitos de moral e bons costumes vigentes.

O Filme além de mostrar como por acaso o festival foi parar na pacata cidade de White Lake, no interior do Estado de Nova York, através da história do personagem central, o tímido e enrustido Elliot, que tenta salvar da bancarrota o pulguento hotel da sua tirana mãe e do seu desolado pai, também é uma espécie de making of do extraordinário documentário, ganhador do Oscar, “Woodstock” de Michael Wadleigh, síntese do festival, que possibilitou ao mundo curtir e conhecer o festival, impossível desassociá-lo do mega evento. Porém, mais do que uma narrativa sobre os bastidores de Woodstock, o filme se propõe a examinar os efeitos benéficos, libertadores, que o evento teve sobre a vida do próprio Elliot – um homossexual enrustido que, oprimido pela mãe dominadora, encontrou ali forças para abraçar a própria identidade.

Oferecendo um olhar periférico sobre o inesquecível evento que, durante três dias em 1969, celebrou a “paz e a música” ao atrair meio milhão de pessoas para uma enorme fazenda. No decorrer das duas horas do filme, Ang Lee, faz inúmeras homenagens ao documentário, a tela repartida em duas cenas e as vezes três é completamente chupada do documentário, ele de uma maneira sutil mostra como algumas cenas antológicas do documentário foram filmadas, tornando um prazer no decorrer do filme associar estas cenas com as cenas do documentário, são muitas, o banho naturista no lago, as freiras indo ao festival, o tobogã de lama e muitas outras, um verdadeiro deleite para quem, como eu, assisti incontáveis vezes o documentário.

Um ponto negativo é o fato de não aparecer nenhuma cena dos shows, ele passa ao largo, enquanto Lee mostra a movimentação off show, nem as músicas aparecem na trilha sonora, a não ser uma citação de Ravi Shankar, na ótima cena do ácido, e o áudio, já nos créditos finais, da música “Motherless Child” interpretada por Richie Havens que abriu o festival, cuja palavra "Freedom" ele de improviso repetia diversas vezes, pois já não tinha mais músicas para tocar e que terminou tendo um enorme sucesso quando do lançamento do documentário.

Vale salientar a excelente interpretação da mãe de Elliot, a atriz inglesa Imelda Staunton, que por si só já valeria o filme, é impressionante como certos artistas tem a capacidade de incorporar um personagem, ela está perfeita, isto é só para os grandes atores. Outro ponto positivo é a incrível semelhança dos atores que fizeram o já citado produtor Michael Lang e o proprietário da fazenda onde aconteceu o festival, Max Yasgur, parece até que são os próprios.

Este é um filme para os amantes do rock setentão e que entendam a fundamental importância que este festival teve na mudança de comportamento de toda uma sociedade, quebrando barreiras e mudando os costumes. Como já disse antes aqui neste blog, que inveja danada daquele pessoal que foi ao festival.

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