domingo, 18 de abril de 2010

Festival Abril pro Rock 2010- 17/04/10










Mais um ano (18º) do maior festival independente do Brasil, o Abril pro Rock tenta se revigorar com uma grande grade neste dia que se denominou de mais pop, apostando suas fichas no novo, no desconhecido, como era no seu início. O ponto negativo foi o retorno do festival ao Pavilhão de eventos do Centro de Convenções de Pernambuco, um local inapropriado para a música, inóspito, feio, desconfortável e com uma péssima acústica, que por mais que tentem, nunca conseguem melhorar, é quase impossível entender o que se está cantando. O Chevrolet Hall, local dos últimos dois anos, é bem melhor acusticamente falando, parece-me que houve problemas de data, houve o show do Simply Red na sexta feira, espero que no próximo ano eles consigam voltar para lá.

Como já disse a grade deste dia era extensa, estava programado quatorze shows, iniciando as 17:30h, como já não tenho vinte anos e estava curioso para assistir ao Afrika Bambaataa, que seria um dos últimos, não cheguei no início e perdi os shows de Anjo Gabriel (PE), Mini Box Lunar (AP), Plástico Lunar (SE), Bugs (RN) e Zeca Viana (PE), nomes totalmente desconhecidos para mim, gostaria de ter visto, fica para uma próxima oportunidade.

Quando cheguei, o público ainda reduzido, talvez consequência das fortes chuvas caídas no Recife durante todo o dia, já havia iniciado o show da Vendo 147, vindo da Bahia, sem tocar Axé (ainda bem), com uma formação inusitada, duas guitarras, um baixo e uma bateria com dois bateristas, isto mesmo, dois bateristas que tocam juntos uma mesma bateria, um de frente pro outro, não há revezamento, eles chamam de "clone drum" e até que funciona bem, principalmente para o som instrumental pesado que eles tocam, sem vocalista, eles investem no virtuosismo dos seus integrantes, sem serem chatos, mostram que os dominam muito bem, o som flui agradável, rock sem pretensão, sem preciosismos, uma grata surpresa, guardem este nome.

Em um sistema non-stop (haja profissionalismo), eles engataram a próxima atração, mau deu tempo de respirar, tudo bem que é necessário agilidade entre uma atração e outra, mas não precisava ser tão ágil, podia-se esperar pelo menos uns cinco minutinhos para o ouvido descansar. A atração engatada na anterior foi o Nevilton, power trio do Paraná, que não acrescentou muito, o vocalista, o tal do Nevilton, um pouco afetado, foi prejudicado pela acústica, e só se conseguiu entender o refrão "pó, pó, pó, pó, pó, pó" que ele insistia em cantar em quase todas as músicas, já que o sistema era non-stop, essa era a hora de ir no bar pegar uma cerveja. Ponto positivo: cerveja bem gelada, ponto negativo: só tinha Nova Schin e já que só tem tu, vai tu mesmo, afinal aguentar tanta barulheira totalmente sóbrio, é dose.

O Nevilton ainda esperava pelos aplausos e uma nova engatada, começa a tocar no outro palco a banda pernambucana The River Raid, que está despontando na nova geração do circuito musical pernambucano, tocando um rock competente e cantado em inglês, o que lhe trouxe oportunidade de se apresentar com relativo sucesso no circuito alternativo americano e canadense, fez uma apresentação correta, mostrando que tem um potencial muito grande, indie rock com identidade com o rock brasileiro, no telão um clipe bem legal da música "Alright" dirigido pelo cineasta pernambucano Pedro Severien, a apresentação agradou ao já mais numeroso público.

Provavelmente por problemas técnicos, o sistema non-stop foi prejudicado, nossos ouvidos agradeceram, a bexiga também, deu tempo pro xixi e pra cerveja, surge a Plastique Noir, lá das bandas do Ceará, não deixa de ser estranho uma banda com este nome, quando se está acostumado com os bizarros nomes das bandas de forró, oriundos da terra de Fagner. Com o seu som gótico com uma levada mais soturna, serviu como uma queda de pressão em relação as três atrações anteriores, e uma "viagem" aos anos oitenta, uma apresentação que se não empolgou muito, não deixou a desejar, próprio para os fãs do Depeche Mode e The Mission.

De Alagoas veio a grata surpresa do festival, Wado, com seu samba rock cheio de malemolência, destilando sua MPB roqueira, suingada e funkeada, totalmente seguro de si, com um alto astral explícito, transformou sua apresentação numa celebração do samba em palcos roqueiros, arriscando até uma batida diferente pro samba, agariando uma legião de fãs que já cantavam suas músicas de cor, resultado dos diversos shows já realizados aqui em Recife, mais um ponto positivo do festival.

Com um som refinado e delicioso, o 3 na Massa, projeto paralelo de dois integrantes da Nação Zumbi, o baterista Pupillo e o baixista Dengue, mais o programador Rica Amabis e com a ajuda da "confraria das sedutoras", ótimas cantoras, que se revezavam no palco, fizeram uma das apresentações mais elegantes da noite, a primeira sedutora a seduzir foi a sensual Marina de La Riva que fez da romântica canção dos anos 70 "Loving you" um prazer total, seguiram-se a ela, as também ótimas e sensuais Nina Becker, Lurdes da Luz e Karine Carvalho´tornando constante o alto nível sonoro, cada qual com seu estilo, mostrando a dimensão que a MPB de qualidade pode chegar, um show para ficar registrado nos anais do festival.

Depois do requinte, nada melhor que uma música animadinha para agitar a agora já numerosa plateia, e a escolha do Instituto Mexicano Del Sonido foi acertada, capitaneado pelo piradão e agitadíssimo Camilo Lara com sua mistura de eletrônica com ritmos tradicionais, até a "Macarena" entrou no meio, fez grande parte do público rebolar, aumentando novamente a "pressão" e um bom preparo para a próxima atração. O mexicano deve mesmo ter se encantado com Recife, estava animadíssimo no palco, na certa fazendo cena para a namorada recifense, a plateia entusiasmada, agradeceu.

A atração mais esperada da noite, talvez tenha sido a decepção do festival, não totalmente, claro, afinal o cara sabe o que faz, mas a espera foi tão grande, por diversas vezes cancelada, que Afrika Bambaataa tinha que ter feito melhor, entrou reclamando do som, ficou quase estático e sem muita inspiração, mostrando uma antipatia total, apelou para o funk "Tá tudo dominado" para levantar a plateia, no restante o set list não foi dos melhores, com exceção de "Stand by me" e uma pontinha ´da sempre onipresente "Sex Machine" do extraordinário James Brown, era visível o esforço que os dois MC´s faziam para não deixar a peteca cair, acho que pelo nome dele e em respeito ao festival ele deveria ter sido mais profissional, deixou muito a desejar.

Para encerrar a maratona sonora, o acerto final, Pato Fu comandada pela docinho de coco Fernanda Takai fez um show impecável, tudo deu certo, conseguiu até afastar o cansaço de mais de sete horas ininterruptas e deixando nós brasileiros de alma lavada, depois do fiasco do show anterior. Apesar de ter tocado poucos sucessos, destilando canções menos conhecidas, a empatia com o festival do qual participa pela quarta vez, deu um certo ar de intimidade ao grupo, o que transformou sua apresentação numa leveza só, a versão correta de "Ando meio desligado" teve como resposta o público cantando junto. Apresentação irrepreensível, para quem esperava tudo de Bambaataa, adorou terminar a noite com Fernandinha.......e grupo.

O Abril pro rock na sua décima oitava edição, demonstra folego para muitas outras, para isso é necessário que o público compareça em um número maior, festival sem público não existe, o local tem que ser mudado urgentemente, as atrações são sempre muito bem escolhidas.

VIDA LONGA PARA O ABRIL PRO ROCK.

2 comentários:

  1. Que beleza heim? Só faltou você dizer que horas chegou e que horas saiu. Pela quantidade de bandas, não deve ter sido pouco tempo, nem deve ter tomado poucas Nova Schin. Aposto que já está até gostando.

    Aqui em Petrolina teve o "Abril Pró-Forró", já ouviu falar? Não tenho idéia de como foi, mas o contraponto com Recife é claro. Disputa de metrópoles...

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  2. Fala Marcão,
    pois é o "Abril" chegou a maioridade, mas continua uma beleza, quanto ao horário, cheguei às 19:30h com o som já rolando e saí às 2:50H, quase oito horas de som, uma boa overdose.

    Abril pro forró? se o conceito for o mesmo do daqui, mereceria uma visita.

    Abraços
    Robson

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