quarta-feira, 23 de setembro de 2009

LP e CD Krig-ha, Bandolo - Raul Seixas



Como um Tarzan subnutrido, soltando seu grito de guerra, Raul Seixas aparece na capa do seu primeiro disco lançado com seu nome, a época era de ditadura braba, a censura imperava, tudo tinha de ser muito certinho, isto poderia valer para os outros, não para Raulzito, aparecer de peito aberto, torso nu e barba desengranhada também era uma maneira de contestar contra o sistema.

Polemista como só ele, uma virtude que o acompanhou durante toda sua vida, como um Glauber Rocha que com seus filmes desafiou o establishment cinematográfico e social, inovando e polemizando, Raul derrubou barreiras da sistemática métrica musical, sua "Ouro de Tolo" está em importância para a MPB, assim como "Deus e o Diabo na terra do Sol" está para o cinema brasileiro, quando do seu lançamento causou muita estranheza seus compassos dissonantes, a letra reproduzia as mazelas e desesperança de uma sociedade ceifada de sua liberdade e sem muito rumo pela frente, um contraponto ao estado "Pra Frente Brasil" que a ditadura queria impor a sociedade. Raul não dava a mínima e desafiava a censura e a ditadura. O Frisson causado pelo lançamento desta música só teve comparação anos depois com "Você não soube me amar" da Blitz, que desbravou o rock nacional nos anos 80.

Raul foi um dos maiores letristas deste país, foi com ele que as letras do rock brasileiro começaram a ter algum sentido, até então, salvo algumas exceções, a parte instrumental tinha mais importância do que as letras que as vezes eram incompreensíveis, este foi mais um do grande legado deixado por Raulzito, isto pode ser verificado neste álbum, em músicas como "Metamorfose Ambulante" que virou clássico do cancioneiro popular brasileiro, "As minas do Rei Salomão" e "Al Capone" que mostram toda a verve deste grande artista.

Quando queria, Raul sabia fazer ótimas baladas, sempre com arranjos belissímos, letras inteligentes e nada melosas, "A Hora do trem passar" é um exemplo, curta mas grandiosa. É deste disco uma das músicas mais irreverentes que se tem noticias, "Mosca na sopa" foi pouco compreendida na época, causou muita polêmica (lembrem-se que estavamos em pleno anos de chumbo), é simplesmente deliciosa, mesmo com meus quatorze anos, curtia muito esta música, não é a toa que Raul é eterno.

Ano de lançamento: 1973

Ano de aquisição LP: 1975

Ano de aquisição CD: 10/2002

2 comentários:

  1. Gostei do paralelo entre Raul Seixas e Glauber Rocha. Com certeza temos aí o esboço de um ensaio que poderia ir longe.
    Abraço!

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  2. Pois é Marcão, eles tinham tudo a ver, polêmicos e excelentes artistas.
    E aí? estamos aguardando novos posts.
    Abraços

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