domingo, 20 de setembro de 2009

Filme LOKI - Paulo Henrique Fontenelle


A safra de documentários brasileiros tem ultimamente ganhado em quantidade e qualidade, depois dos ótimos "Simonal - Ninguém sabe o duro que dei" e "Alô, Alô Terezinha", surge o excelente "Loki" sobre a vida de Arnaldo Batista, líder dos Mutantes, banda seminal do rock brasileiro.

Dirigido por Paulo Henrique Fontenelle, que nos brinda com uma completa síntese de um dos mais brilhantes e esquecido musico deste país, chega a ser incomôda a verdadeira franqueza com que se trata assuntos pessoais do biografado, com declarações as vezes desconcertantes de tão verdadeiras, principalmente quando toca na ferida aberta com a tentativa de suicidio que quase afastou em definitivo da cena musical o criador de músicas essenciais para o rock brasuca.

Entremeados com depoimentos de artistas, produtores musicais, incluindo seu irmão e fundador do grupo Sérgio Dias (ausência extremamente notada foi da Rita Lee ex-parceira sentimental e musical) que descorrem sobre a importância de Arnaldo no contexto da criação da Tropicália, um dos mais importantes movimentos musicais surgidos nos anos 60, e consequentemente da música brasileira, registre-se a participação de Kurt Cobain (deve ter-se identificado) e do incrivelmente parecido com o pai, Sean Lennon, em altos e rasgados elogios.


Retratando de forma poética e comovente o auge do grupo, "Loki" toca nas feridas que surgiram na vida do artista, como as drogas a depressão e a tentativa de suicídio, mas sempre com um tom despretensioso, sem adotar o melodrama em sua linguagem simples e dinâmica.



Esse senso de humanidade de Arnaldo Batista é revelado em seus depoimentos e na pintura de suas telas (uma grande paixão do musico), convidando o espectador a uma jornada que intercala imagens e vídeos de apresentações, sobrepondo passado e presente.

Aprende-se muito sobre a vida e sobre Arnaldo, assistindo-se a este documentário, visto que após a tentativa de suicidio, praticamente ele foi esquecido pela grande mídia, é animador verificar como foi a sua luta para voltar a uma vida produtiva, principalmente quando se sabe das sequelas deixadas no seu cerébro, resultado da perserverança, dedicação e do amor de sua atual esposa que o acompanha desde o acidente, a vitória não é apenas do músico, mas também do homem, do ser humano, fica-se a certeza de que o cerébro do ser humano tem uma capacidade de regeneração inestimável, é só lutar e contribuir para tal.

Outra ferida mexida é a separação dos Mutantes, sempre nebulosa desta vez é passada a limpo pelo menos por parte do grupo, já que Rita não aparece, depoimentos esclarecedores são colocados por Arnaldo, mais uma vez com uma franqueza assustadora.

Outro ótimo aspecto do filme são as cenas das apresentações, rever e ver a alegria infantil com que ele se apresenta é comovente. O filme é comovente e vale a pena ser assistido mais de uma vez, a essencia do artista está toda lá, esta é a função de um documentário.

Não acompanhei a trajetória do grupo na época, era pequeno, tenho vaga lembrança deles ainda juntos com a Rita, me lembro um pouco mais quando lançaram seus discos mais progressivos, depois de um tempo descobri o quão excelentes eles eram e não consegui mais deixar de ouvi-los e conhecer mais sua história, tenho todos os LPs dos Mutantes e o "Loki" e "Sing alone" comprados na época, portanto foi um prazer enorme poder assistir a volta do Arnaldo e dos Mutantes em dois shows no Abril pro Rock aqui em Recife, o primeiro a cerca de quatro anos atrás, quando Arnaldo fez uma participação em um show do Lobão, era inacreditável a alegria com que ele se apresentou, ainda muito tímido e um pouco preso as amarras do passado, no outro show, há dois anos atrás, aí já na volta dos Mutantes, agora muito mais solto, a música novamente dando sentido e alegria a sua vida. O show foi um espetáculo inesquecível, mas aí é uma outra história.

2 comentários:

  1. Cara, assisti a este documentário com um nó na garganta. É difícil ver uma vida tão sofrida, criativa e atormentada quanto a do Arnaldo. Este filme, ao lado do documentário sobre o Simonal, mostra que, ao menos no terreno do documentário, o Brasil aprendeu a fazer cinema...

    ResponderExcluir
  2. É isso Luís, o filme realmente emociona, também, o cara é de uma sinceridade que já não se vê. O do Simonal também é ótimo, ele foi muito injustiçado, postei um comentário sobre o filme no dia 20/05, vá lá e dá uma olhada.
    Um grande abraço.
    Robson

    ResponderExcluir