segunda-feira, 13 de julho de 2009

Encurralado - Steven Spielberg

Como já disse, uma outra grande paixão é o cinema, hoje menos, mas já fui um grande devorador de filmes, teve épocas que cheguei a assistir três filmes por dia e isso no cinema, nada de DVD, em uma semana assisti 10 filmes do Hitchcock e em outra toda a cinematografia do Nelson Pereira dos Santos. Acredito que todo este fervor começou cedo.


O ano era 1974, existia aqui em Recife um cinema pertencente a Aeronáutica que chamavamos de cinema da Base (não tenho a menor ideia porque), frequentei demais este cinema, durante alguns anos pelo menos duas vezes na semana, ele tinha uma peculiaridade, era um cinema onde os filmes que ali passavam, não tinham censura por idade, explicando melhor, qualquer menor de idade podia assistir a filmes com censura 18 anos, naquela época nos cinemas do centro os bilheteiros eram bem rigorosos em relação a idade.


Vejam que incogruência, estavamos em plena ditadura militar, onde a censura imperava e em um cinema gerido pela Aeronáutica, qualquer fedelho desacompanhado poderia assistir a filme com censura 18 anos, dá pra entender?


Eu, com 14 anos, em pleno desabrochar da testosterona, não podia perder esta chance, assim que descobri, passei a listar e ir a todos os filmes com censura de 18 anos, com a esperança de poder ver alguma mulher nua (naquela época não tinha revista de mulher pelada e muito menos internet), filmes de sexo só muito nas escondidas e nesta idade, raramente, quando conseguia assistir algum filme com muitas cenas de mulheres peladas era um deleite, motivo de galhardia entre os amigos do colégio, dizer que vi os seios da atriz tal, era o máximo.

O cinema era um pouco longe de casa, um certo dia no meio da semana, me programei para assistir a um filme com censura 18 anos, prenúncio de mulher pelada, peguei carona com meu irmão mais velho, tudo combinado ele me deixaria lá e me apanharia no final da sessão, só que ao chegar ao cinema, a decepção, eles tinham cancelado o filme e colocado outro no lugar, meu irmão já tinha ido embora, naquela época não existia celular, não tinha como falar com ele e como estava acertado dele me apanhar, tinha que esperá-lo, não tive outra coisa a fazer se não assisitir ao filme programado.

A minha decepção aumentou quando verifiquei que se tratava de um filme com censura 10 anos, o diretor tinha um nome esquisitíssimo que nunca tinha ouvido falar. Totalmente triste, adentrei ao cinema para forçosamente assistir ao filme. A história era sobre um caminhão, que nunca víamos o motorista, perseguindo um carro em uma auto estrada, convenhamos, para quem queria assistir a um filme de mulher pelada, isto era o fim da picada, só que, o filme era tão bem narrado e filmado que fui me interessando e a cada minuto que passava o suspense e o interesse ia aumentando, com cenas de tirar o folêgo, fui cada vez mais me envolvendo com o desenrolar da história, ver aquele motorista sofrer com a incapacidade de se desvenciliar daquele caminhão e tentar entender o motivo daquela perseguição, fazia com que a tensão e a adrenalina subissem as alturas, um verdadeiro triller de suspense para se assistir com os olhos grudados na tela e o coração palpitando.

Terminado o filme, que achei ótimo, fiquei com a sensação de que substituiram a altura e até me esqueci do filme de dezoito anos, fui ler novamente o nome do diretor, era muito esquisito para poder decorar, meu irmão chegou e fui para casa.

Passado um ano, foi lançado nos cinemas, com estrondoso sucesso, o filme de um jovem diretor, com nome esquisito, apontado como uma grande promessa, que causou furor na área cinematográfica, o filme era "Tubarão", realmente excelente. Ao me interessar e ler sobre ele, percebi que o jovem diretor, com o nome esquisito de Steven Spielberg (hoje, soa bastante familiar, mas na época, não) tratava- se ser o mesmo do filme "Encurralado" que assisti um ano atrás e que tinha gostado muito.

Foi desta maneira que fui apresentado a um dos maiores gênios do cinema mundial, dentro de sua especialidade, o entretenimento, ninguém consegue suplantá-lo, sua filmografia está sempre acima da média, assistir aos seus filmes é sempre um prazer, até quando você não sabe que é dele.

4 comentários:

  1. Grande cinema da base! Eu também era frequentador e as lembranças dessa época são realmente deliciosas. Nunca me esqueço da noite de lua cheia em que a lua, ela própria, aparecia na tela do cinema, que devia ser semi-transparente e desprovida de parede por trás. Lua e filme compunham assim, uma relação insólita, que era usufruída apenas espectadores privilegiados. Eventualmente, morcegos voando dentro da sala do cinema davam o toque final naquele ambiente nada heterodoxo e muito apropriado para a exibição de filmes de terror.

    Tenho certeza que alguém, algum dia, ainda vai reunir fotos e histórias e publicar um livro sobre este local ermo e cult, que marcou a adolescência de jovens como eu e o Robson.

    Quanto ao filme do Sipelberg, tenho muita vontade de assiti-lo, porém nunca o vi para vender em DVD. Mas imagino que a sensação de ser surpreendido por um filme como este deve ter sido realmente impagável.

    Mudando de assunto: eu esperava por comentários sobre o Virtuosi de Gravatá, mas ao invés disso você escreve sobre o cinema da base e o Spielberg. Será que o que você viu (e ouviu) por lá não foi merecedor de algumas notas neste nobre espaço? Fico no aguardo...

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  2. A Lua, como eu não me lembrava desta lua Marcus, sua lembrança me fez reacender na memória este fato e com certeza em alguns filmes ela se integrava como se fizesse parte da trama, bela recordação, com certeza muitas histórias ainda poderão vir a tona daquele cinema e daquela época.

    O Virtuosi de Gravatá foi muito bom, um sucesso, ainda falarei sobre ele.

    Um grande abraço.

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  3. Vou entrar nesta conversa, também assiti os filmes na "aeronáutica", filme de mulher pelada era certo, comendo pipoca de arroz... um dia entrei na enrrascada mas não tive a sorte de Robson, ao invés dos peitinhos esperados encontrei o "sangue do sangue de drácula". Foi um bom ruim, para dormir um horror, era menino, mais ou menos 10 anos, 1970, era isso? Para dormir todos os apetrechos: luz de vela, alho, lenço branco e tremedeira.
    Valeu Robson, um bom lugar para se encontrar e reviver um outro tempo.

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  4. Aí Eduardo, também assisti muitos filmes de terror naquele cinema e na hora de dormir era aquele medo.
    Um grande abraço.

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