quarta-feira, 20 de maio de 2009

FILME - SIMONAL - NINGUÉM SABE O DURO QUE DEI

Assistir a este documentário de Cláudio Manoel, Calvito Leal e Micael Langer pode trazer muitas reflexões além do prazer de ver um filme dinâmico e muito bem estruturado. Primeiro, ele mostra a ascenção do Simonal e você já começa a refletir como isto foi possível numa época em plena ditadura militar e preconceitos raciais em voga, um preto rico?

Um dos grandes méritos do filme sobre Wilson Simonal está na quantidade e na qualidade do material de arquivo. É a partir dele que podemos tomar uma certa dimensão do que foi o fenômeno que, segundo Nelson Motta, chegou a emparelhar com Roberto Carlos em nível de popularidade e se consagrou como o primeiro e talvez o maior popstar negro da música brasileira até os dias de hoje. Se a insígnia de "melhor cantor de todos os tempos" pode ser questionável, ninguém tira dele o status de ser o intérprete com maior empatia e capacidade de comunicação com o público, um verdadeiro regente das massas e grandes platéias e isto o filme mostra bem.

A segunda reflexão é como tudo isso pode ter sido praticamente banido da história da MPB, enquanto assistia a este excelente documentário, tentava puxar da memória, alguma informação ou fato ocorrido na tela ou fora dela que me remetesse ao Simonal e simplesmente não conseguia me lembrar de nada, isto para quem acompanha e se interessa pela música desde o já longínquo ano de 1974.

As informações apresentadas chegam quase sempre como novidades e os depoimentos são sempre esclarecedores, o filme segue informando sempre de maneira imparcial os fatos mais relevantes de sua vida, inclusive a fatídica passagem envolvendo o seu contador, o início de sua derrocada, e outra reflexão pode ser feita, o que leva uma pessoa que veio do nada, consegue subir tanto, vir a tratar a vida com uma certa arrogância e depois meter os pés pelas mãos, mas ele não está só, temos vários exemplos deste tipo.

O fato que praticamente acabou com a vida artística do Simonal, a nunca bem explicada "delação" que determinou a alcunha de "dedo-duro" é mostrado também de maneira imparcial dando voz aos depoentes dos dois lados, só que os únicos que tiveram a coragem de falar do lado dos detratores do Simonal, o Ziraldo e o Jaguar que foram impiedosos na época com o jornal "O PASQUIM" não conseguiram ser convincentes em seus depoimentos e no caso do Jaguar ainda foi pior, pois tentou se justificar zombando da situação criada, deprimente.

Mais deprimente e beirando o patético foi ver as cenas de Simonal pouco antes de morrer e depois de quase vinte anos, ainda tentando se explicar em programas televisivos inexpressivos, a exceção de Hebe, que ele não foi dedo duro, imaginem vocês, alguém passar vinte anos com este carma, que crueldade e ainda tem gente que zomba disto.

Este filme tenta de uma maneira correta, suprir um imenso vazio na história da MPB trazendo a luz principalmente para a turma jovem o artista sensacional que foi Simonal e com isso resgatar e reparar um erro histórico.
Aos fãs de Simonal (antigos ou feitos agora) resta o consolo de que, se o cantor saiu de cena, certamente não foi apagado, ao final do filme, uma outra reflexão pode ser feita, sobre as atitudes do ser humano, o que leva nós seres humanos a execrar pessoas de uma maneira tão cruel e por tanto tempo, será algum tipo de satisfação?.
Assistam ao filme ele merece ser visto.

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