sábado, 2 de maio de 2009

Festival Cine PE (01/05/09) - Filme Alô Alô Terezinha






Tem certos personagens que são fáceis de falar sobre eles, são tão conhecidos que estão no subconsciente das pessoas, fazer um documentário sobre o excepcional Chacrinha poderia ser uma tarefa fácil, muito conhecido, muito adorado, muito odiado, desprezado por alguns, mas sempre com alguma opinião formada sobre ele, só que fazer um documentário sobre artistas excepcionais pode descambar para o simplório e com isso não se consegue transpor para a tela a excepcionalidade do artista documentado, vimos isto em dois exemplos recentes, os documentários sobre Vinicius de Moraes e Cartola que se não eram fracos, pelo menos não estavam a altura dos homenageados, no caso do "Alô Alô Terezinha", o diretor Nelson Hoineff acertou em cheio ao fazer um documentário que retrata Chacrinha como ele era, só se preocupando com o personagem e não com o seu criador, Abelardo Barbosa, que com certeza pode ser tema de um outro documentário. O diretor optou por fazer um documentário sem se preocupar com a biografia e sem seguir muito as regras, assim como o seu documentado o filme tem muito da irreverência e do improviso, características marcantes do Chacrinha, o que resultou em cenas impagáveis, como a do depoimento de Biafra e das várias ex-chacretes, onde o que mais importava era a espontaneidade. Depoimentos de uma sinceridade as vezes aterradora, mas quase sempre carinhosas com a figura do Chacrinha, ver hoje aquelas chacretes que povoaram o imaginário dos adolescentes da época, chega a ser um pouco chocante, o tempo é cruel, o diretor foi atrás não só das chacretes como dos anônimos calouros que na maioria recebiam um tratamento implacável do Chacrinha, que na época quase nunca eram compreendidos, alguns depoimentos poderiam ser tratados como trágicos se não fossem cômicos e como bem observou o ex-ministro Gilberto Gil (sempre ele) " o humorismo pode se tornar cruel, mas este é o papel do fazer humorismo e era o que Chacrinha fazia, humor com as pessoas mais humildes" e é da maioria destas pessoas que se vê depoimentos sem nenhum ressentimento, alguns poucos. O documentário segue com depoimento de famosos, sempre elogiosos, até o Rei Roberto Carlos, sempre tão econômico em suas palavras, tece elogios rasgadíssimos, alguns ácidos como o do grande e polêmico Agnaldo Timóteo, não contra Chacrinha, mas sim contra a elite musical que sempre o marginalizou, ele que tem uma das vozes mais bonitas e potentes deste País, o depoimento dele atacando o genial João Gilberto, se analisado pela ótica dele, pode ter até uma certa razão, Agnaldo merecia ter por todos a mesma consideração e respeito que Chacrinha tinha por ele, ele realmente é um grande artista.

Assistir a um filme como este com cenas dos programas da época, nos remete, para aqueles que assistiram, como o que aqui vos fala, a um tempo onde a alegria e a simplicidade reinavam, reflexo de uma época onde a competitividade não era sinônimo de perfeição, no programa dele o improviso e o despojamento reinavam e não se pode achar que improviso é falta de profissionalismo, Chacrinha provou que improvisar era só para profissionais com o espírito desarmado e ele tinha um estilo tão próprio que nunca teve seguidores, os que tentaram, desistiram logo, eles não conseguiram substituir o insubstituível.
Não se tem como assistir a este documentário e não sentir uma saudade danada daquele tempo.

O filme foi visto no festival por quase 2.500 pessoas, isso mesmo, público pagante e de convidados em uma única sessão de quase duas mil e quinhentas pessoas, com bastantes jovens na plateia, que pelos risos e aplausos durante a exibição, prenunciavam a verdadeira ovação recebida ao final do filme, final que de tão simples se mostrou tão grandioso, como o Chacrinha, simples e grandioso, uma justa homenagem, afinal "ELE MERECE".

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