quinta-feira, 8 de outubro de 2009

LP e CD Fruto Proibido - Rita Lee & Tutti Frutti


"Levava uma vida sossegada, gostava de sombra e água fresca" nunca uns versos me trouxeram tantas recordações boas como estes, primeiro por me remeter a uma época em que a responsabilidade inerente aos adultos ainda passava ao largo e que vida sossegada eu levava, segundo, por que os versos pertencem a uma das músicas mais brilhantes do rock brasuca de todos os tempos, nunca se conseguiu uma integração entre arranjo, composição, letra e musicalidade quanto nesta pepita sonora, nunca uma letra conseguiu resumir tão bem um estado emocional, perfeição, na concepção da palavra, digna de um Chico Buarque, só que era Rita desabrochando toda sua excepcional musicalidade e percepção musical, que solo de guitarra, encanta até hoje, além de tudo, a mais expressiva capa para descrever uma música, ela é a própria ovelha negra, despojada, com um olhar fulminante de quem pouco tá se lixando com alguma coisa, como ela sempre foi e é até hoje.

Como se não bastasse, se fosse a única música do disco, já seria o bastante, ainda há muita coisa boa, começa com "Dançar para não dançar" clássico até hoje entre as músicas dançantes, aquele tecladinho inicial ficou na história, como Isadora, depois vem "Agora só falta você" outro clássico instantâneo, tem coisas como "Um belo dia vou lhe telefonar, pra dizer que aquele sonho cresceu" numa afirmativa mais otimista que a proferida pelo mais contestador dos Fab Four, ela deve ter telefonado para muita gente.

"Fruto Proibido" é um blues elétrico numa época em que Blues era algo tão distante quanto conseguir uma música com apenas um toque no teclado de um computador. "Este tal de Roque Enrow" sua parceria com o hoje platinado e místico Paulo Coelho, pode ser considerada como a música que mais expressa o que é este tal de rock'n'roll, de uma maneira até certo ponto humorada, o que demonstra a verve de Rita, descrevia a aflição de uma mãe vendo sua filha se "perder" dela, é a cara do rock'n'roll.

Acompanhada de uma banda azeitadíssima a Tutti Frutti que muito contribuiu para que este disco se tornasse um clássico eterno, com músicos competentes como Lee Marcucci que compôs outra pepita "Pirataria" com uma flauta digna de Ian Anderson, uma maravilha. "Luz Del Fuego" se confundiu com o personagem de tão expressiva que é, ninguém pensa na própria personagem sem pensar na música e vice e versa, a guitarra de Carlini é tudo de bom.

Este foi um disco marcante para a história do Rock Nacional, ainda hoje, o melhor de Tia Rita, não só pelas suas belas canções, mas porque Rita depontou como uma excelente artista que se mantém até hoje, quebrou as amarras que ainda a ligavam como apenas uma integrante do ótimo MUTANTES, mostrou que ela sabia muito, que tinha um futuro brilhante, comprovado pela história.

Ano de lançamento: 1975
Ano de aquisição LP: 1975
Ano de aquisição CD: 10/03


Nota: Eu como bom roqueiro só tinha ouvidos para o que vinha de fora, o que era quase uma unanimidade entre os garotos da época. Este disco foi o responsável a me fazer perceber que existia algo de muito bom em terras brasileiras, eu simplesmente me encantei com esta mulher maravilhosa, vi que o rock poderia falar minha língua e nada mais encantador para um garoto aficcionado por música do que perceber isto. Ela estava inspiradíssima e iluminada, fez um disco para ficar na história, perdi a conta das vezes que ouvi este LP, na época eu amava os Beatles, Os Rolling Stones e a Rita Lee.

4 comentários:

  1. Viva a Rita!!! E viva o seu texto, que de tão bom me fez recordar bons tempos sempre presentes...

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  2. Ah, esqueci de falar na capa do disco... Eu acho algo meio David Bowie, não sei por quê... O que você acha?

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  3. Valeu Miguel,
    a Rita e o Bowie são dois expoentes do rock contemporâneo, apesar de cada um no seu lugar, convergem para um mesmo ponto, e você acertou em cheio em relação a capa do disco, me despertando para uma coincidência(?) que até hoje não tinha notado, há uma versão da capa do disco "The man who sold the world" (1970) do Bowie que se não é muito parecida, lembra a da Rita (ou vice e versa). Eles são demais.
    Bela percepção.
    Abraços e obrigado.

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  4. Olha só, Robson: tenho esse disco do Bowie e nem reparei na semelhança. É verdade. Leio seu textos sempre com muito prazer. Abraço.

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