quinta-feira, 11 de junho de 2009

LP - Brasil Trombone /CD - O Som da Gafieira - Raul de Barros









Uma triste notícia, morreu na segunda feira (08/06/09) aos 93 anos em decorrência de um efisema pulmonar e insuficiência renal, um dos maiores instrumentistas brasileiro, considerado um dos melhores trombonistas do País.
Raul de Barros morreu quase no ostracismo e esquecido, sem o reconhecimento a altura do seu talento, desde 1980 morava na cidade de Maricá/Rj, alternando momentos de ostracismo com aparições episódicas.
Ele iniciou sua carreira nos anos trinta, apresentando-se em clubes do suburbio do Rio, trabalhou nas rádios Tupi, Nacional e Globo, foi da orquestra do Copacabana Palace, sob regência do Maestro Carioca, tocou na orquestra RCA Victor com Pixinguinha, teve sua própria orquestra e gravou 48 discos, a maioria na década de 60. Inventou um estilo chamado "hot samba" e foi referência para inúmeros trombonistas brasileiros, inclusive Raul de Souza, que em sua homenagem, tomou-lhe emprestado o nome artístico.

Descobri o som da gafieira através deste LP "Brasil, Trombone" quando morei no Rio de Janeiro, um som maravilhoso que exprimia despojamento e leveza, associado a isto e por consequência descobri e passei a frequentar o "Estudantina", um reduto boêmio no centro do Rio, localizado na praça Tiradentes, famoso pelo espaço de dança, um local simples e frequentado por pessoas simples que tinham na gafieira um estilo de vida e que ainda preservava uma ambiência antiga e romântica como dos velhos tempos do Rio, bem diferente do que hoje encontramos no festejado bairro da Lapa, um local felizmente recuperado, onde fervilham bares e casas de show. Na Estudantina tive o prazer de assistir os melhores instrumentistas e cantores do som de gafieira deste País, eram noites indescritíveis, lá de tanto ver aqueles senhores vestidos de terno de linho branco com sapatos e chapéu idem, verdadeiros pé-de-valsas, eram dançarinos não de passos de dança contados, mas dançavam com a alma, sentimento puro e num sincronismo com a música quase perfeitos, alguns com estatura mediana que nunca se intimidavam com as mulheres maiores e davam verdadeiros shows, vendo estes senhores consegui assimilar e aprender um pouco a dançar gafieira e foi quando percebi que a dança tem um poder psicanalítico em sua mente, lhe tornando mais solto e leve e quando associado a um teor etílico mais elevado, transformava a sua vida num prazer total, era uma festa só, sempre me lembro com carinho daquele lugar.

Estes LP e CD demonstram a qualidade do instrumentista que era Raul De Barros, um verdadeiro desfile de pérolas do cancioneiro popular em ritmo de gafieira, impossível ficar parado ao ouvi-los e sempre fica a sensação de que escutar e dançar gafieira tem o efeito de deixar as pessoas mais alegres e de bem com a vida, a despreocupação e simplicidade dos músicos contagia qualquer um, discos eternos recheados de músicas eternas.

Raul de Barros e tantos outros instrumentistas excepcionais que temos (Hélio Delmiro, Heraldo do Monte, Théo de Barros, Canhoto da Paraíba, etc...) são o exemplo do descaso que se têm neste País com a cultura e com músicos de qualidade, só Raul tem 48 discos gravados que simplesmente nunca foram relançados, culturalmente isto é inadimissível.

Ano de lançamento LP: 1975
Ano de aquisição: 1986
Ano de lançamento CD: ?
Ano de aquisição: 2000

Um comentário:

  1. Infelizmente o que tem valor nesse paíseco, é esquecido e abandonado. Povo inculto, medíocre.

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