sábado, 29 de agosto de 2009

LP e CD Molhado de Suor - Alceu Valença

Alceu Valença é daqueles artistas que são logo indentificados como a marca de uma região, inegável que ele seja a cara de Olinda e consequentemente de Pernambuco, ele surgiu numa época de entressafra de grandes talentos, Nelson Ferreira, Capiba e Luiz Gonzaga já estavam totalmente consolidados, a música pernambucana necessitava de uma renovação e Alceu, junto com Geraldo Azevedo e Quinteto Violado vieram para suprir esta lacuna.

Neste seu segundo LP, primeiro totalmente solo, ele destila toda sua verve nordestina, aprendida na sua cidade natal, São Bento do Una, na zona da mata pernambucana, uma música com pitadas do estilo armorial mais voltada para o rock, um estilo que fez escola nos anos 70 em Recife e Olinda.

Cocos, emboladas embaladas por solos de flauta, craviola e guitarra eram constantes na sua música que emolduravam os versos inteligentes descrevendo principalmente sobre o nordestino.

É deste disco dois grandes sucessos da época que permanecem até hoje no repertório de Alceu, "Papagaio do futuro" e "Punhal de prata".

Música moderna, um frescor de renovação para a época, que permanece atual até hoje. Um vitorioso que lutou contra todas as adversidades que era lançar um disco de artista desconhecido e principalmente nordestino, muito bem ilustrado na dedicatória do disco "Dedico este trabalho a mim mesmo, que convivi com deuses e comi o pão que o Diabo amassou para realizá-lo". Uma grande estreia.

Ano de lançamento: 1974
Ano de aquisição do LP: 1975
Ano de aquisição do CD: 03/2008


Nota: Sempre fui admirador de Alceu Valença, desde os primórdios, quando ele apareceu no festival ABERTURA da Rede Globo, defendendo a música "Vou danado pra Catende", aquela música impregnada de regionalismo e raízes nordestinas, me encantou logo.


Teve uma passagem interessante, no ano de 1975, ele estava lançando este disco em uma temporada de shows no Teatro de Santa Isabel, aqui em Recife, era de quinta feira ao domingo e naquela época os preços eram diferenciados por datas e também por local no teatro, garoto com quinze anos vivendo de mesada, claro que comprei para a quinta feira e na galeria (o popular puleiro), era o primeiro show que iria assistir dele, estava ansioso, por isso fui comprar os ingressos antecipadamente, para não correr o risco de eles se esgotarem e eu ficasse sem assistir ao show.


Com os ingressos já comprados, saímos eu, um primo, Silvio e um amigo que não me recordo o nome, pegamos um ônibus cedo para que não enfrentassemos fila, pois não sabíamos direito a localização da poltrona, portanto daria tempo para descobri-la sem sobresaltos, o show estava marcado para às 21:00h, chegamos lá por volta das 20:00h e ainda não havia ninguém, fomos os primeiros a chegar.


Já perto das 21:00h, notamos que o teatro permanecia com pouca gente, nós lá no "puleiro", olhando para baixo e a plateia praticamente vazia, começamos a perceber que havia algo errado, não acreditavamos que não fosse lotar, será que iria começar às 22:00h? pensamos, não, estava confirmado o horário inicial e alguns minutos depois das 21:00h, eis que fomos liberados pelo pessoal do teatro a assistir ao show na plateia, descemos correndo e nos colocamos na terceira fila, resultado, pouquissima gente naquele dia, não conseguiu encher nem as quatro primeiras filas do teatro.

Mesmo com o teatro praticamente vazio, Alceu mostrou o seu profissionalismo e fez um show impecável, arrasador, me lembro como se fosse hoje, Paulo Rafael, Zé da Flauta, Lula Cortes, os músicos que o acompanhavam e numa participação especial no violão e guitarra um músico que ele apresentou como uma das grandes promessas da MPB, "um nome que vocês ainda vão ouvir falar muito dele" nas palavras de Alceu quando apresentou o até então totalmente desconhecido Zé Ramalho.

Algum tempo depois quando fui assistir a um show dele no Centro de Convenções lotado, acho que mais de seis mil pagantes, me lembrei deste fato e fiquei super contente em ver que ele tinha tido o seu talento reconhecido.

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