segunda-feira, 1 de março de 2010

LP Nashville Skyline - Bob Dylan



Segundo disco lançado após o grave acidente de motocicleta, até hoje nunca explicado, que virou um mistério de sua biografia, que quase vitimou o astro, deixando-o de molho por uns dois anos. Muitos acreditaram, na época, que sua carreira estivesse acabada, tendo em vista o mistério que envolvia o acidente, Bob Dylan virou um recluso nestes dois anos de inatividade artística. Após o molho, um novo Dylan surgiu, mostrando que o acidente não tinha deixado sequelas, ele estava compondo como nunca, os fãs mais ardorosos estranharam quando ele lançou o excelente "John Wesley Harding" numa versão acústica e mais contido, ele envereda para a Country Music, mostrando que sua genialidade estava afeita a qualquer tipo de música, principalmente quando aquela era a sua praia.

Com o espírito de seu público já preparado, Dylan lança este LP que virou um marco na história da música americana e da Country Music em particular, de onde saiu um dos grandes sucessos do compositor, a hoje clássica "Lay Lady Lay". Neste disco, Dylan mudou de rumos artísticos, afastando-se do movimento folk de protesto e voltando-se para canções mais pessoais, instrospectivas, ligadas a uma visão muito particular de mundo. As questões sócio-políticas de seu tempo: racismo, guerra fria, guerra do Vietnã, injustiça social, cedem espaço para a temática das desilusões amorosas, amores perdidos, vagabundos errantes, liberdade pessoal, viagens oníricas e surrealistas, embaladas pela influencia da poesia.

Se Dylan havia surpreendido por lançar um disco mais "conservador" em uma época em que todas as bandas apostavam alto na psicodelia e em drogas, aumentaria ainda mais o espanto ao lançar este "Nashville Skyline", Dylan estava realmente cantando, com uma voz mais empostada, em alguns momentos até de maneira irreconhecível, quem ouviu pela primeira vez "Lay Lady Lay", grande sucesso do álbum custou a crer que era Bob Dylan. O álbum abre com uma das mais belas parcerias da história: Dylan e a lenda viva da música americana Johnny Cash cantam uma canção que Bob havia gravado em seu segundo álbum, "The Freewheelin' Bob Dylan", "Girl from the North Country", quando dois gênios se encontram, só pode resultar em uma pepita sonora, poderia ser o grande sucesso do disco se não fosse ofuscada por "Lay Lady Lay".

"Nashville Skyline Rag" um country western instrumental, com banjo, guitarra havaiana e a indefectível harmônica de Dylan brilhando na música. Com sua voz anasalada, mais empostada e mais grave, ele vai desfilando canções que nos fazem esquecer que a Country music não pode estar atrelada ao chatérrimo do Willie Nelson e que há sim coisas boas e que pode ser um estilo musical agradável de se ouvir, canções curtas que mostram a genialidade do artista. O lado B começa com a excepcional "Lay Lady Lay", a música havia sido composta para a trilha do filme "Midnight Cowboy", grande sucesso na época e um dos clássicos do cinema mundial, mas perdeu o prazo de inclusão por atraso nas gravações. Os produtores acabaram usando "Everybody’s Talking", de Fred Neil. Pior pra eles, o disco segue com alguns rocks com uma levada country que podem ser considerados como os precursores do country rock, os destaques são "Tell Me That It Isn’t True" e "Tonight I’ll Be Staying Here With You" que fecha o disco, o início da letra já diz tudo, “Jogue minha passagem pela janela / Jogue minha maleta por lá também / Jogue meus problemas pela porta / Eu não preciso mais deles / Porque essa noite vou ficar com você!" Dylan afugentando suas neuroses, numa balada bem leve com um certo ar alegre.

Com este disco e suas belas canções, ficou a certeza que o talento extraordinário de Bob Dylan não foi afetado pelo misterioso acidente, provado por tantos e tantos outros discos excepcionais lançados até hoje.

Ano de lançamento: 1969
Ano de aquisição: 1976

Nota: Este foi mais um disco importado que comprei na "Modern Sound", junto com a leva anterior comentada aqui no blog, lembro-me que queria um disco do Dylan que não estava mais em catálogo aqui no Brasil, na dúvida de muitos optei por este que pouco conhecia, talvez mais pela capa e pela música "Lay Lady Lay", o disco estava lacrado e só o escutei quando cheguei ao Recife, confesso que estranhei a sonoridade do Bardo revolucionário, deixei-o encostado por muitos anos, para redescobri-lo depois com muito prazer, só gênios proporcionam isso.

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