sábado, 27 de março de 2010

LP e CD Station to Station - David Bowie


O som do trem no início da bela "Station to station" é o sinal de que o Camaleão está iniciando mais uma mudança no seu rumo musical e ele nos leva nessa nova viagem para beber na fonte dos primórdios do rythm blues, como já demonstrou no ótimo disco anterior "Young Americans", já comentado neste blog, só que desta vez Bowie reprocessa tudo e aponta para o futuro, reciclando e inovando o ritmo, o som da guitarra pode tranparecer que a viagem passa por local incerto e inóspito, para logo depois desaguar num pancadão sonoro, numa profusão de sons dançáveis. A música com dez minutos de duração, tempo suficiente para David Bowie desfilar um palavratório sobre totalitarismo, cocaína, esgotamento pessoal e flertar com o futuro de livros como "1984" (George Orwell) e "Admirável Mundo Novo" (Aldous Huxley).

Foi também em Station que mostrou um personagem controvertido, o "Thin White Duke", que causou revolta ao desembarcar em Londres e fazer a saudação nazista para os fãs. Era uma figura fria, sem emoção, calculista e sedutora, visualmente o personagem era uma extensão de Thomas Jerome Newton, seu personagem no filme de ficção científica "O Homem que caiu na Terra" dirigido por Nicholas Roeg, lançado em 1975, pouco visto aqui no Brasil, uma interessante história de um extraterrestre que vinha a Terra atrás de um líquido primordial para a sobrevivência de seus pares do seu Planeta e que já estava se esgotando por lá, a água, Bowie está muito bem neste papel. A capa deste disco é tirada de uma cena do filme.

Segue-se outra bem dançável e a mais bem sucedida comercialmente do disco, a funkeada "Golden Years", o baixão determinando o ritmo, irresistível numa pista de dança, versatilidade pura. "Word on a Wing" que fecha o lado 1, é uma das mais belas canções feitas por ele, uma balada pop bem apropriada para sua ótima voz, que ressalta versos como "Senhor, eu me ajoelho e ofereço minhas palavras ao vento/E estou tentando duramente me ajustar ao seu projeto", sobressai o piano de Roy Bittan oriundo da banda de Bruce Sprigsteen.

Já "TVC15", que abre o lado 2, fala de uma televisão holográfica que engole uma suposta namorada, mais uma vez a soul music predomina, nesta balada dançante, como não deixam negar o corinho e a levada do baixo e guitarra. "Stay" com sua batida fortemente influenciada da disco music, parecia ser uma forte candidata a fazer sucesso nas pistas de dança, mais uma vez Bowie inova em um ritmo da época, hoje, vê-se que foi pouco compreendido pela galera que "soltava suas asas", a disco music ficou, a sua música continuou. Encerrando o trabalho, uma versão magnífica de "Wild is The Wind", uma arrasadora balada, onde mostra toda sua versatilidade como cantor.

Outro grande disco deste inigualável artista, logo após este ele entraria em sua fase alemã, mas aí é uma outra história, que será comentada mais adiante.





No CD, além das músicas do LP, remasterizadas e evidentemente numa qualidade sonora melhor, principalmente em relação a ótima voz de Bowie, a foto da capa do LP foi colorizada (foto acima) e incluída duas versões ao vivo do "Station to station Tour", gravadas em 23/3/1976 no Nassau Coliseum em Long Island, USA. Na versão ao vivo de "Word on a Wing", nada de novo em relação a versão original, a não ser o destaque para a grande voz de Bowie. A outra versão do disco foi para "Stay", esta um pouco diferente da original, menos disco e mais rock, com a guitarra do excelente Carlos Alomar em destaque, mas o baixão continua lá.

Uma curiosidade: Bowie disse certa vez que se tornou artista ao ver um vídeo e depois uma foto de Little Richard com seus saxofonistas e se saiu com uma dessa, "Eu sabia que não podia ser Little Richard, mas pelo menos eu poderia ser um dos seus saxofonistas, pensei. Assim pedi a meu pai para emprestar dinheiro para comprar um sax. Foi assim que eu comecei."
Ainda bem que Little usava saxofone no seu grupo.


Ano de lançamento: 1976
Ano de aquisição do LP: 04/1976
Ano de aquisição do CD: 03/1992

2 comentários:

  1. Maravilhoso comentário referente a este grande LP do Camaleão do Rock !!!!

    G. Midler

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  2. G. Midler
    ótimo que você tenha gostado do comentário e do blog. Bowie é referência de uma qualidade eterna, viva o Camaleão do Rock.

    Apareça sempre.
    Abraços
    Robson

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