sábado, 23 de janeiro de 2010

LP The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars - David Bowie


O ano era 1972, o "sonho" tinha acabado, o rock estava sem rumo, os caminhos traçados por todos acabavam num mesmo lugar, a mesmice predominava nas artes, tudo inócuo, inóspito, a solução teria que vir dos céus, aqui na terra a estagnação era geral. Eis que surgindo quase do nada, numa rua deserta e sombria de Londres (como tem que ser a aparição dos extraterrenos, vide o Superhomem e o Exterminador do futuro), com seu visual andrógino e cores desbotadas, vindo do espaço empunhando uma guitarra, aquele que daria um novo sentido, um novo rumo ao rock, o capitão Ziggy Stardust. Com sua voz potente e melodias arrasadoras, ele mostrou um novo caminho a ser seguido, o rock depois dele nunca mais seria o mesmo, voltou a ser criativo e belo como antes.

Alter ego do extraordinário David Bowie, Ziggy Stardust foi um personagem criado pelo Camaleão do rock, criatura que ficou maior que o criador, assumindo identidade própria e catapultando Bowie para o superestrelato mundial, razões para isso não faltaram, este disco que de uma maneira conceitual mostra a passagem deste personagem pela Terra, é um primor de qualidade musical, ótimas música, todas elas quando escutadas separadamente já mostram qualidades individuais que teriam vida própria, quando escutadas num conjunto, beiram a perfeição, tornando o disco um dos maiores clássicos da história do pop rock mundial em todos os tempos, difícil é não encontrá-lo nas listas dos melhores de todos os tempos, seja de que maneira temática for, como recentemente encabeçou a lista dos cem melhores discos escolhidos pela turma GLS (mostrando que eles tem um ótimo gosto).

O disco começa com a desesperada "Five Years", Ziggy se assusta com o que vê na sua chegada a Terra, rock vigoroso com Bowie cantando como nunca, gritos de desespero, afinal só faltam cinco anos. O tom fica mais ameno em "Soul Love", o destaque é o sax de Bowie, na medida certa, em "Moonage daydream" quem se destaca é o excelente guitarrista Mick Ronson da banda "Spiders from Mars" solo ou duelando com os teclados ele prova que a solução tinha que vir do espaço, sensacional. "Starman" (que o brasileiro conhece bem através da terível e desvirtuada versão, "Astronauta de Mármore" pra lá de pop do grupo "Nenhum de Nós", nada a ver com a versão original), demonstra bem a apresentação de Ziggy ao novo planeta, melodia facilmente assobiável para os rumos a serem seguidos, fechando o lado A, "It ain't easy", com um vocal poderoso em contraponto com a voz dissonante de Bowie.

Com "Lady Stardust", Ziggy faz seu primeiro show, uma balada iniciada com um sutil piano para desembocar numa massa sonora emoldurando sua bela voz, os ares desesperados continuam só que mais amenos. "Star" um rockabilly digno dos grandes artistas onde o piano é o destaque e "Hang on to yourself" um apressado rock, que serviu de base para muita coisa feita nos anos 80, são a preparação para o grande finale do disco que começa com a ótima "Ziggy Stardust" com um riff de guitarra e vocalise confirmando os versos iniciais "Ziggy played guitar", ficou na história, a batida irresistível da bateria segurando tudo, os riff da guitarra e a voz de Bowie, formam um conjunto pouco visto, a guitarra como instrumento dos deuses, clássico incontestável, segue-se com a acelerada "Sufragette City" piano e guitarra ditando o ritmo, a mais dançante de todas, puro entusiasmo. O ritmo é quebrado com a introdução lenta só na base de violão de "Rock'n'Roll Suicide" que num crescendo chega ao ápice sonoro mostrando o mesmo desespero do início do disco, é o fim para Ziggy e seus seguidores, uma das mais belas, comoventes e desesperadas música da história do rock mundial. O trio de músicas finais deste LP é a tradução completa da grandiosidade do talento deste artista.

Um disco completo, da capa extraordinária, lembrada e reconhecida até hoje como símbolo das artes gráficas, a contra capa mostrando Ziggy dentro de uma cabine telefônica em referência ao Superhomem, formam um conjunto clássico. Um dos maiores clássicos já vistos no rock que mudou o seu rumo, ressurgindo-o das cinzas, mostrando ao mundo que o rock poderia ser revigorado. Insuperável até os dias de hoje, referência incontestável para os novos artistas, aqueles que não beberam desta fonte, se perderam no meio do caminho.

Ano de lançamento:1972
Ano de aquisição: 1976

Nota: É impressionante o fascínio que a música tem sobre as pessoas, como determinados momentos de suas vidas são marcados por esta ou aquela música, são lembranças que lhe seguem a vida inteira. Isto se aplica no meu caso de uma maneira ampliada, alguns discos marcaram a minha vida, quem acompanha este blog já deve ter percebido, "Killer" do Alice Cooper é um exemplo, "Close to the Edge" do Yes também, outro é este "Ziggy Stardust", garoto com dezesseis anos, eu já era fã do Bowie e tinha ouvido muito falar deste LP, mas aqui em Recife, na época, era uma raridade, não se encontrava em loja nenhuma, para consegui-lo o jeito foi apelar para uma tia minha, Nélia, que morava no Rio de Janeiro (compra pela internet, ainda nem era sonho), só que lá também estava difícil de encontrar, ela teve que apelar para a importação, pois sabia que eu iria passar as férias por lá, a cobrança pelo disco iria ser grande. Me lembro nitidamente da satisfação quando ela me entregou o LP em sua casa no bairro da Tijuca, ter aquele disco nas mãos e ainda por cima importado, os olhos brilhavam, não consegui fazer outra coisa a não ser abrir cuidadosamente o disco para escutá-lo, muitas e muitas vezes, lá mesmo na casa dela, ela e o marido saíam para trabalhar e eu ficava escutando as aventuras do Ziggy, fiz muitas outras coisas nestas férias no Rio, mas a que mais marcou foi o deleite de ouvir Ziggy num disco importado.

Será que a turma do MP3, consegue ter esta mesma satisfação? o que eles contarão daqui há alguns anos? Globalização é fogo.

Curiosidade: Segue abaixo, uma foto mais ou menos recente do local de "aparição" de Ziggy, imortalizado na capa do LP, notem que depois que Ziggy se foi, tudo ficou asséptico demais, meio sem graça, sem brilho, mas assim como a rua dos Beatles, virou um local eterno.


6 comentários:

  1. Este álbum é um dos que mais gosto e mais ouço, desde que conheci Bowie, um tanto tardiamente, nos inícios da década de 80. Seu texto me fez reviver a satisfação de ter nas minhas mãos este disco incomparável pela primeira vez.

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  2. Salve Robson!
    Esse disco é show de bola velho!
    Aqui, tu vai ser sempre bem vindo a Casa... e pelo jeito não sou só eu quem tem o gosto refinado heim?!


    Abraçoss

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  3. Valeu Miguel, sua passagem por aqui é sempre animadora. O Bowie é realmente excepcional.
    Abraços e visite sempre

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  4. Valeu pela visita Boka, espero que tenha gostado, é bom saber que ainda tem muita gente que cultua o prazer de ouvir uma boa música.
    Abraços

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  5. Olá Robson.
    Tenho 22 anos, e assim como você, conheci Bowie ainda menino... Acredito que tenho meu LP do Ziggy, desde 2000...Lançado pela Reedição da EMI em 1990... Com bônus...Eu Tinha 12 anos... heheheh Como o tempo passa !

    Maravilhoso comentário, mais uma vez, Parabêns !!!

    G. Midler

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  6. Poxa, G. Midler, já vi que você é um Bowiemaníaco como eu, afinal quem descobre tão cedo este músico maravilhoso é porque tem bom gosto musical. Ótimo que jovens como você admirem a boa música, é sinal que nem tudo está perdido.

    Abraços e apareça sempre.
    Robson

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