domingo, 17 de janeiro de 2010

LP Courage - Milton Nascimento

Milton Nascimento é mesmo um artista diferenciado, qual artista, brasileiro ou não, praticamente desconhecido, seria chamado para gravar nos EUA (meca financeira) logo após o lançamento de seu primeiro disco? isto há mais de quarenta anos atrás, o resultado é este belo disco, praticamente desconhecido na discografia do Bituca.

O seu debut americano foi pelas mão do excelente Eumir Deodato, que já desfrutava de um certo prestígio na comunidade musical americana e convidou Milton para gravar um disco americano, inclusive com arranjos do próprio Eumir, com o auxilio luxuoso de excelentes músicos que despontavam à época e que consolidaram suas carreiras ao longo do tempo, tais como Airto Moreira (percussão), Herbie Hancock (piano) e Hubert Laws (flauta).

O LP inicia com uma das melhores músicas já compostas por Milton até hoje e que o lançou nacionalmente "Travessia", cantada em inglês e português, esta dualidade linguística em nada prejudica sua qualidade, composição digna de gênio. "Vera Cruz" e "Três Pontas" tem suas qualidades instrumentais ressaltadas pelos arranjos de Deodato, um jazz fusion com molho brasileiro, balanço puro, o piano no final de Três Pontas é a marca do Hancock. "Outubro" com um arranjo mais clássico sobressaindo-se as cordas, não deixa de ter também o balanço típico do início dos anos 70, apesar de mais sóbria. "Courage" outra cantada em inglês e português, tem um estilo mais lento, o destaque é a percussão de Airto em contraponto as cordas.

O lado 2 do LP começa com "Rio Vermelho" com uma vocalise de Milton num balanço suingado, bem ao estilo sambalanço, mais uma vez a percussão de Airto predomina. "Gira Girou" composição de Milton e Márcio Borges tem uma intervenção de Herbie Hancock no piano simplesmente maravilhosa, puro jazz da melhor qualidade. "Morro Velho" é uma daquelas músicas que ficam na história da MPB por serem completas, letra, música, arranjo inigualáveis, a história dos amigos de infância indiferentes a diferença social entre ambos, e que na fase adulta esta diferença é desabrochada, tem uma força social muito maior do que muita tese de mestrado de sociólogo de plantão, coisa de gênio. "Catavento" é a única música que não tem acompanhamento de orquestra e por isso mesmo é a melhor do disco na parte instrumental, a flauta de Hubert Laws dialogando com o piano de Hancock, mostram a sutileza do lindo arranjo do Eumir. Para fechar o disco, mais uma suingada do Milton, "Canção do Sal" num arranjo mais acelerado que o habitual.

Este disco é um primor instrumental, com excelentes arranjos e músicos que ajudam a destacar a cristalina voz de Milton. Isto é uma prova de que grandes artistas já começam e continuam com grandes discos.

Ano de lançamento: 1969
Ano de aquisição: 1976

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