segunda-feira, 3 de maio de 2010

Filme Amor sem escalas - Jason Reitman

Fui assistir a este filme no recém-restaurado Cine São Luiz, único sobrevivente no Recife do chamado cinema de bairro, inaugurado com toda pompa e circustância em 1952 em estilo Néo Clássico, o cinema foi referência por muitos anos na área cultural da sociedade Recifense e viveu seu apogeu nas decadas de cinquenta e sessenta, quando o traje obrigatório era terno completo, quando comecei a frequentá-lo esta obrigatoriedade já não existia, assisti muitos filmes lá, antes do advento dos multiplexs, era o point de badalação cultural. Pertencia ao grupo Luiz Severiano Ribeiro, mas a partir do final dos anos 90 entrou em decadência e fechou suas portas em 2006, cheguei a frequentá-lo até pouco antes de seu fechamento, estava realmente deprimente, totalmente entregue, doía no coração.

Houve um movimento forte da cena cultural recifense contra o seu fechamento, era o último baluarte, uma parte importante da história cultural do Recife, muitas tentativas foram feitas até que o Governo Estadual assumisse o controle do espaço e depois de três anos fechado, conseguiu reabri-lo no final do ano passado, só que para o público a partir de fevereiro deste ano. Fui no sábado e confesso que me emocionei ao ver a imponência do espaço de volta, me veio à lembrança os muitos e muitos filmes que ali assisti, naquele escurinho do cinema, passarem-se diante dos olhos, muita alegria, tristesa, fantasia, esperança, desilusão, amores, desamores, volúpia, infidelidade, sexo, amor, música, ação, adrenalina, enfim a verdadeira magia do cinema.

Inevitável a comparação com os cinemas multiplex e neste caso tenho que concordar com os saudosistas, aquele belo espaço, com um bonito e grande mural na sala de espera do pintor pernambucano Lula Cardoso Ayres, seus vitrais, cortina de veludo vermelha na tela e paredes revestidas com mosaicos também de veludo, nem pode ser comparado com os espaços inóspitos e sem vida dos multiplex.

Seja bem vindo de volta Cine São Luiz.



Depois de se encantar com o belo espaço, nada como assistir a um filme leve e solto numa ensolarada tarde de sábado, filme estrelado por George Clooney e dirigido por Jason Reitman, mesmo diretor do despretensioso e ótimo "Juno". Talvez Reitman esteja sem especializando em filmes despretensiosos, este também é, o enredo é sobre um executivo que viaja os EUA com a função de demitir funcionários de grandes empresas, lendo assim, pode-se imaginar um filme muito chato e funesto, afinal demitir pessoas não deve ser lá uma profissão das melhores, é aí que se engana-se, pois o interesse do filme é exatamente contrapor noções básicas de humanidade e o sistema vigente (desumano) que faz a sociedade existir. A aparição de uma personagem tipo jovem profissional recém-formada, fruto da sociedade hi-tech e globalizada, propõe na empresa que Clooney trabalha, um método revolucionário de demissão via teleconferência via net que irá economizar dinheiro em passagens e hotéis. Palco para o embate entre o velho e o novo, entre o contato e o virtual, talvez esta também seja a luta entre os cinemas de bairro e os multiplex, nada mais sugestivo assistir a este filme num cinema de bairro.

O filme desenrola sem muita ação, no sentido de adrenalina, mas com um roteiro agradável, onde se sobressai as ótimas conversas entre os personagens, num estilo próximo aos de Woody Allen, em tempos de adrenalina pura, nada mais prazeiroso do que ouvir bons diálogos em um filme, se compara a ler um bom livro.

George Clooney convence como o executivo que aprofunda o conceito do indivíduo adepto de refeições e amigos descartáveis, aliás, ele cada vez mostra que não é apenas mais um rosto bonito, principalmente depois que o seu conceito foi elevado, após o excelente "Bom dia, boa noite".

Um filme agradável de se assistir, principalmente num agradável e belo espaço nada hi-tech.

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